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Normalmente preparo este tipo de artigo perto do final de cada ano com mini-críticas que fui guardando de alguns filmes para os quais não tive tempo de escrever uma opinião mais extensa.

2021 será um bocado diferente, de forma a que consiga publicar as minhas análises sobre todos os filmes que assistir durante este ano sem perder nenhum. Apesar da menor quantidade de películas em 2020, não deixei de ter dificuldades com o tempo, por isso, antecipo que 2021 seguirá pelo mesmo caminho, mais tarde ou mais cedo.

Sendo assim, este artigo contém as mesmas opiniões concisas que já leram em outros posts semelhantes. Pequenas críticas de alguns filmes aos quais não posso oferecer 800 palavras ou mais devido a situações externas que podem ocorrer na minha vida. Na maioria dos casos, estes serão filmes que não terão impacto na minha reflexão de fim de ano dos melhores/piores filmes que vi em 2021.

Esta secção será atualizada sempre que adicionar uma nova entrada, bem como sua data de publicação, para que essas opiniões compactas possam ser vistas por todos a qualquer momento.

Spencer

Sinopse: “O casamento da Princesa Diana (Kristen Stewart) e do Príncipe Charles (Jack Farthing) há muito se transformou numa relação gélida. Entre abundantes rumores de casos extraconjugais e divórcio, a paz é encomendada para celebrar as festividades de Natal na propriedade real de Sandringham House. Há comida e bebida, tiro ao alvo e caça. Diana conhece o jogo. Mas desta vez, as coisas vão ser muito diferentes.”

Crítica: Não sabia absolutamente nada sobre este filme de antemão. Ouvi/li reações extraordinariamente positivas que elevaram as minhas expetativas. Mas uma vez que o meu conhecimento geral sobre a Princesa Diana e a sua vida foi e ainda é extremamente básico, Spencer é um daqueles raros exemplos em que entrar completamente às cegas no cinema não funcionou em meu favor de forma alguma. Encontrei-me a tentar procurar algo a que me pudesse agarrar e, apesar de alguns atributos técnicos verdadeiramente notáveis, o argumento de Steven Knight (Locked Down) não oferece o suficiente para prender a minha atenção.

Spencer é, sem dúvida, um character piece fictício que só se mantém de pé devido a uma das prestações principais mais fascinantes do ano. Kristen Stewart (Underwater), uma atriz que ainda recebe muito ódio injusto apesar da sua clara evolução para um dos atores mais subvalorizados da atualidade, entrega um retrato da Princesa Diana que marcará a sua carreira para sempre e que os espetadores dificilmente esquecerão. Não me consigo recordar da última vez que testemunhei um ator desaparecer por completo no seu papel. Uma verdadeira masterclass digna de cada prémio que vai inevitavelmente receber. O resto do elenco também é excelente.

Tecnicamente, tenho muito pouco por onde reclamar. A realização distinta de Pablo Larraín (Jackie) encaixa-se adequadamente na história frustrante e claustrofóbica. Adoro como Claire Mathon (Portrait of a Lady on Fire) se move entre os close-ups íntimos e planos amplos deslumbrantes. Como esperado, o guarda-roupa e a produção artística parecem fabulosos, mas a banda sonora de Jonny Greenwood (You Were Never Really Here) não funcionou comigo. A mistura de jazz com sequências de alta tensão torna-se muito estranha, distraindo os espetadores da narrativa, o que me leva ao meu maior problema.

Para alguém com o meu conhecimento e expetativas, Spencer torna-se um daqueles filmes em que “nada acontece”, mas que geralmente surpreendem os espetadores com a sua abordagem narrativa única. Encontro-me sempre a favor de qualquer tipo de obra, mas tirando a exibição de Stewart, tive dificuldades em sentir-me cativado pelo que quer que estivesse a acontecer. Um estudo de personagem supostamente interessante e consistente transformou-se num espetáculo longo e repetitivo conduzido por uma só mulher, onde não consegui descobrir para onde se encaminhava. Entendo o propósito de fazer o público sentir como Diana se sentiu durante o seu casamento e a sua vida dentro da realeza britânica, mas a execução de Larraín não me deixou emocionalmente satisfeito.

Uma segunda visualização provavelmente melhorará e fortalecerá a minha opinião sobre o filme. Por enquanto, possuo poucas certezas sobre Spencer, mas vou deixar esta crítica como positiva, acreditando que irei gradualmente desfrutar mais do filme após cada visualização.

Nota: ★★★

Army of Thieves

Sinopse: “Neste prequela de Army of the Dead, o insignificante caixa de um banco Dieter (Matthias Schweighöfer) é atraído para uma aventura única quando uma mulher misteriosa o recruta para se juntar a um grupo de criminosos procurados da Interpol, que planeiam assaltar uma sequência de cofres-fortes lendários e impenetráveis por toda a Europa.”

Crítica: Army of the Dead esteve longe de superar quaisquer expetativas, mas no meio dos seus vários problemas, Zack Snyder realmente criou um mundo pós-apocalíptico algo interessante. Com Matthias Schweighöfer a assumir dois dos papéis mais significativos no cinema – realizador e ator principal – Army of Thieves parece mais um spin-off da sua personagem do que uma prequela em si de uma aparentemente nova franchise.

Nesse respeito, o protagonista apaixonado, Dieter, é convincente o suficiente para carregar a maior parte do filme estilizado. Matthias entrega uma prestação divertida e envolvente que, infelizmente, é parcialmente prejudicada pelas piadas excessivas e aborrecidas. O resto da equipa segue arquétipos incrivelmente clichês e esquecíveis, apesar de não conseguir atribuir culpas à interpretação de Nathalie Emmanuel (F9).

Realizar uma prequela a um filme de zombies original sem zombies instantaneamente diminui os níveis de entusiasmo, mas as sequências de assalto são razoavelmente cativantes. A banda sonora de Hans Zimmer e Steve Mazzaro definitivamente faz este filme parecer e soar muito mais épico e emocionalmente poderoso do que realmente é. No geral, Army of Thieves prolonga em demasia a sua estadia e as cenas de abertura dos cofres tornam-se cada vez menos excitantes com uma gradual falta de criatividade a tomar conta de cada roubo.

No final, admito que este universo tem algum potencial, mas, até agora, continuo à espera de um filme que possa genuinamente adorar e apoiar.

Nota: ★★½

Kate

Sinopse: “Meticulosa e hábil, Kate (Mary Elizabeth Winstead) é a perfeita assassina. Inesperadamente, falha uma missão contra um membro da Yakuza, em Tóquio. Pouco depois, descobre que foi envenenada, uma morte brutalmente lenta que lhe dá menos de 24 horas para se vingar dos seus assassinos. À medida que o seu corpo se deteriora, Kate estabelece uma improvável ligação com a filha adolescente de uma das suas vítimas anteriores.”

Crítica: Filmes de ação com sequências de luta longas, sem cortes e bem coreografadas protagonizadas por um par de atores conhecidos parecem ser uma das mais novas tendências de Hollywood. Kate é mais uma entrada na lista exponencialmente crescente de peças de ação com um trabalho de stunts extraordinário, mas sem personagens aprofundadas nem uma história original. Mary Elizabeth Winstead (Birds of Prey) prova o seu valor no departamento de combate, carregando o filme – que de outra forma seria maçador – aos seus ombros. Infelizmente, a notável atriz não é forte o suficiente para elevar o que é apenas mais uma narrativa derivativa de uma assassina que os espetadores já testemunharam inúmeras vezes.

Nota: ★★½

Candyman

Sinopse: “Nos dias de hoje, uma década após a derrocada das últimas torres de Cabrini, o artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II) e a sua namorada, Brianna Cartwright (Teyonah Parris), diretora de uma galeria de arte, mudam-se para um luxuoso condomínio no novo bairro gentrificado de Cabrini, agora habitado por millennials em ascensão. Com a carreira de Anthony estagnada, o encontro casual com um antigo habitante de Cabrini Green (Colman Domingo) expõe-no à natureza horrível da verdadeira história por detrás do Candyman. Ansioso por manter o seu estatuto no mundo da arte de Chicago, Anthony começa a explorar esses detalhes macabros com uma nova série de obras, sem saber que está a abrir uma porta para um passado complexo que coloca em risco a sua própria sanidade e desencadeia uma imparável onda de violência viral.”

Crítica: Reassisti Candyman, de 1992, em preparação para esta sequela direta de Nia DaCosta (Little Woods), de forma a poder retirar o máximo proveito do último sem ter que forçar a minha memória a entrar em ação. Apesar de me encontrar viciado na banda sonora de Philip Glass do filme original, a versão de Bernard Rose sobre o conto de Clive Barker não é exatamente um dos meus clássicos favoritos, embora o aprecie bastante. Em termos de expetativas, não conhecia a realizadora de antemão, mas estava curioso para ver o que DaCosta podia trazer para a famoso história.

Infelizmente, não sou a pessoa certa para abordar os temas pesados retratados neste segundo filme da carreira da cineasta. Desde uma opinião evidente e firme sobre a gentrificação às lentes brancas tendenciosas da crítica, a realizadora tem uma visão clara e mensagens fortes sobre a injustiça cultural. Como um jovem europeu branco, não vou fingir ter experiência ou mesmo conhecimento suficiente para desenvolver estes debates necessários e sensíveis, portanto deixarei outros críticos, nomeadamente autores negros, oferecerem as suas vozes.

No entanto, possui sentimentos mistos sobre esta sequela. Apesar de ser lindamente filmada (cinematografia por John Guleserian), editada (Catrin Hedström) e musicalmente composta (Robert A. A. Lowe), o argumento temático parece frequentemente forçado e ocasionalmente moralista. As personagens são pouco desenvolvidas durante o tempo de execução surpreendentemente muito curto. As recapitulações intermináveis através de silhuetas sobre o filme anterior são desnecessárias e, estranhamente, uma grande revelação desta sequela é parcialmente arruinada por simplesmente (re)assistir à obra de 1992. O gore extremo continua presente, embora ligeiramente reduzido, pelo menos da minha perspetiva.

Tecnicamente e visualmente, é realmente um dos filmes mais interessantes do ano. Infelizmente, não é capaz de transmitir a mesma qualidade para os dois pilares do cinema – história e personagens.

Nota: ★★½

Those Who Wish Me Dead

Sinopse: “Um adolescente testemunha de um homicídio e a especialista em fogos florestais que o tenta proteger são perseguidos por assassinos nas zonas remotas do Montana enquanto um incêndio ameaça consumi-los a todos.”

Crítica: Apesar de adorar a última tentativa de realização por parte de Taylor Sheridan (Wind River), este thriller de ação carece daquele elemento incrivelmente cativante dos seus argumentos anteriores (Hell or High Water, Sicario). Ostentando performances notáveis de Angelina Jolie (The One and Only Ivan), Nicholas Hoult (True History of the Kelly Gang) e Aidan Gillen (Bohemian Rhapsody), a narrativa bem dirigida peca pela falta de criatividade e energia necessárias para elevar o filme no geral. Uma história com menos suspense e tensão do que era expetável com demasiados altos e baixos para uma visualização que deveria ser constantemente envolvente.

Nota: ★★½

Nobody

Sinopse: “Um dócil homem de família lentamente revela o seu verdadeiro caráter depois da sua casa ser assaltada por dois ladrões mesquinhos, o que, coincidentemente, o leva a uma guerra sangrenta com uma máfia liderado por um chefe russo.”

Crítica: Com um trabalho de stunts excecional (Greg Rementer, Dan Skene) e uma realização notável (Ilya Naishuller), Nobody é um sucesso principalmente devido ao casting surpreendente de Bob Odenkirk (Little Women) como o protagonista durão e vulnerável. Derek Kolstad – criador da franchise John Wick – basicamente escreve o que pode ser facilmente caraterizado como um spin-off da popular saga de ação protagonizada por Keanu Reeves, algo que tem os seus prós e contras. Por um lado, a narrativa formulaica não é única, contendo um vilão desapontantemente cliché e uma falta de personagens convincentes para além da principal. Por outro lado, apresenta sequências de luta insanamente sangrentas, gory e bem coreografadas, onde Odenkirk brilha tremendamente – o ator realiza uma quantidade impressionante de stunts. Em termos de expetativas, oferece os altos níveis de entretenimento que o público deseja, logo não posso deixar de recomendar este filme de ação.

Nota: ★★★½

The Little Things

Sinopse: “O xerife adjunto do condado de Kern, Joe “Deke” Deacon (Denzel Washington) é enviado a Los Angeles para o que deveria ter sido uma simples recolha de provas. Em vez disso, envolve-se na perseguição a um assassino em série que aterroriza a cidade. O líder da busca, o sargento Jim Baxter (Rami Malek) do Departamento do Xerife de L.A., fica impressionado com os instintos de Deke e pede-lhe para o ajudar de forma oficiosa. Mas enquanto tentam descobrir o rasto do homicida, Baxter desconhece que a investigação está a desenterrar ecos do passado de Deke e a revelar segredos perturbadores.”

Crítica: Possuindo um dos piores trabalhos de montagem dos últimos anos, John Lee Hancock (The Highwaymen) entrega uma narrativa que imitia Se7en e que, naturalmente, carece do interesse e impacto geral do clássico. Apesar das boas prestações do elenco, a história supostamente misteriosa e tensa em torno de um serial killer é meramente uma variação da mesma fórmula que os espetadores já viram centenas de vezes. Personagens, relacionamentos e pontos de enredo encontram-se longe de ser convincentes, fazendo com que toda a obra se sinta extremamente forçada e um tanto previsível. Sem qualquer factor surpresa e desenvolvimento nada inovador, o tempo de execução sobrecarregado torna-se cada vez mais pesado… Um desperdício completo de atores notáveis.

Nota:½

Pig

Sinopse: “A viver sozinho na zona selvagem de Oregon, um caçador de trufas (Nicolas Cage) retorna a Portland para encontrar a pessoa que roubou o seu querido porco.”

Crítica: Não assistir a trailers tem vantagens infinitas. Desde entrar no cinema sem uma única pista visual sobre o que será projetado no grande ecrã até à capacidade de evitar clips com spoilers que estragam momentos supostamente surpreendentes, esta é uma metodologia que tenho empregue de forma estrita na minha vida. Até aos dias de hoje, apenas recebi sessões espetaculares. Ver um filme totalmente às cegas é uma experiência que recomendo a todos os amantes de cinema. Esta introdução serve para explicar as razões pelas quais fiquei tão impressionado com a narrativa calma, desprovida de ação e character-driven de Pig.

Sem observar nenhum trailer e apenas lendo a sinopse, é impossível não esperar um filme de vingança absurdamente louco protagonizado pelo lendário Nicolas Cage (Prisoners of the Ghostland). Bem, Michael Sarnoski entrega uma longa-metragem subversiva na sua primeira experiência cinematográfica enquanto realizador, focando-se no sempre pesado tema do luto. A personagem de Cage é um chef reformado que perdeu alguém que verdadeiramente amava, sendo que o (adorável) porco é o único ser vivo que associa à sua mais-que-tudo. Em vez de seguir um caminho sangrento e repleto de ação homicida para ajudar a lidar com a sua perda emocional como John Wick, Pig desvia o foco para os sentimentos do protagonista.

É um estudo de personagem maravilhosamente escrito, apresentando uma banda sonora comovente (Alexis Grapsas, Philip Klein) e diálogos incrivelmente cativantes e inesquecíveis que substituem as tais sequências de ação antecipadas. Cage oferece uma das prestações mais detalhadas e complexas da sua carreira, provando que é um dos atores mais talentosos da sua geração. É uma pena que a maioria das pessoas apenas o reconheça como a fonte infindável de memes de Hollywood. Alex Wolff (Hereditary) também é fantástico ao interpretar um jovem com problemas paternos, embora o seu enredo secundário não seja tão interessante quanto a narrativa principal, afetando ligeiramente o ritmo geral.

Apesar de antecipar imensas cenas de ação, a falta das mesmas não resultou numa desilusão, mas sim numa agradável surpresa. Recomendo vivamente a visualização, caso tenham oportunidade.

Nota: ★★★★

Fatherhood

Sinopse: “Um viúvo (Kevin Hart) tenta criar a sua filha bebé após a morte inesperada da mulher, um dia após ter dado à luz.”

Crítica: Existem muitos filmes sobre a parentalidade, mas Fatherhood chamou-me à atenção devido ao ator principal e ao realizador. Kevin Hart (Jumanji: The Next Level) é um dos rostos mais conhecidos e famosos do mundo da comédia, logo vê-lo reduzir a sua intensidade – por vezes, exagerada – para retratar uma personagem mais terra-a-terra lidando com um momento de vida emocionalmente devastador é, no mínimo, cativante. Para além disso, Paul Weitz, um dos realizadores de American Pie, lidera este filme da Netflix. Como é possível alguém não se sentir minimamente interessado em testemunhar o resultado final?

Fatherhood pode passar pelos desenvolvimentos de enredo e construção de personagem habituais do género, mas Hart oferece uma prestação brilhante como o protagonista convincente que irá atrair a atenção de todos os espectadores. O ator prova, mais uma vez, que não é um homem de um só instrumento, incorporando perfeitamente os sentimentos complexos da sua personagem. Desde perder a mulher que ama a criar uma filha sozinho, as emoções acumuladas fazem com que valha a pena investir no filme. Alfre Woodard (The Lion King) é excecional como sempre, mas Lil Rel Howery (Judas and the Black Messiah) não é capaz de superar os problemas de argumento no que toca às partes cómicas.

As piadas em si são aceitáveis, mas muitas vezes são inseridas no momento errado. Existem várias cenas em que uma piada até podia ajudar a aliviar o ambiente pesado e deprimente, mas estas são guardadas para diálogos que não precisam das mesmas. Howery é normalmente hilariante, mas neste filme, a sua personagem roça o irritante. Apesar de uma estadia extensa, é um filme que consigo imaginar a ajudar muitos pais e mães em situações semelhantes, ao mesmo tempo que é esclarecedor e entretido para outros espectadores.

Nota: ★★★

The Hitman’s Wife’s Bodyguard

Sinopse: “O par mais estranho e letal do mundo – o guarda-costas Michael Bryce (Ryan Reynolds) e o assassino profissional Darius Kincaid (Samuel L. Jackson) – estão de volta noutra missão em que correm perigo de vida. Ainda sem licença profissional e sob escrutínio, Bryce é obrigado a voltar à ação pela infame vigarista internacional Sonia Kincaid (Salma Hayek), mulher de Darius, e ainda mais volátil do que o marido. Enquanto Bryce é levado à beira do abismo pelos seus clientes mais perigosos, o trio envolve-se numa trama global e percebe rapidamente que é a única barreira que pode salvar a Europa do caos total. Para ajudar à diversão e à destruição letal, temos Antonio Banderas no papel de um vingativo e poderoso lunático, e Morgan Freeman no papel de… bem, só mesmo vendo.”

Crítica: Apesar de possuir um dos piores títulos de sequela da história do cinema, The Hitman’s Wife’s Bodyguard seria sempre um filme no qual teria interesse em assistir. O original foi uma comédia de ação simples e tonta, com um monte de estrelas de Hollywood ligadas ao projeto, por isso, seria inevitavelmente um sucesso financeiro. Atores cómicos, favoritos de muitos fãs, como Ryan Reynolds (Pokémon Detective Pikachu) e Samuel L. Jackson (Spiral) a trocarem bocas durante mais de uma hora e meia? É claro que os espectadores vão a correr para os cinemas…

Esta sequela segue praticamente as mesmas fórmulas do seu antecessor. Todos os momentos ou enredos remotamente emocionais são substituídos por piadas aleatórias ou sequências de ação sem sentido. A grande maioria dos diálogos tem uma vibe de comédia stand-up ou pura improvisação dos atores. Até o vilão retratado por Antonio Banderas (Dolittle) coloca o “certo” em todas as checkboxes caricaturais do “mau da fita”. Desde a escrita à realização de Patrick Hughes (The Hitman’s Bodyguard), tudo parece muito familiar e desinteressante.

O tempo de execução demasiado longo, a quantidade avassaladora de piadas e alguma linguagem mais violenta podem ser demasiado para alguns membros do público, mas a química fenomenal entre os elementos do elenco é suficiente para compensar um filme que seria, de outra forma, totalmente esquecível. É preciso ter esperança que um terceiro filme (mais do que certo) não adicione mais apóstrofos ao seu título…

Nota: ★★½

Awake

Sinopse: “O caos instala-se na sequência de um fenómeno global que afeta todos os equipamentos eletrónicos e retira aos seres humanos a capacidade de dormir. Apenas Jill (Gina Rodriguez), uma ex-militar com um passado conturbado, pode ter na sua filha (Ariana Greenblatt) a chave para a cura deste problema. Conseguirá ela entregar a filha em segurança e salvar o mundo, ou será atraiçoada pela sua mente antes de conseguir cumprir a missão?”

Crítica: Filmes de desastre são provavelmente o tipo de película mais próximo de ser um “guilty pleasure” pessoal. Defendo firmemente que todos os géneros têm filmes fenomenais e horríveis, os quais devem ser vistos pelo público. Frequentemente, as pessoas ignoram os ditos “maus filmes” como se não fossem necessários, mas sem os mesmos, cinéfilos não seriam capazes de realmente apreciar uma obra-prima quando esta aparecesse. Awake não se encaixa em nenhuma das categorias, mas apresenta uma ideia original que podia ter sido muito melhor explorada.

Gina Rodriguez (Kajillionaire) é excelente enquanto uma mãe preocupada, mas prestações só carregam um filme até certo ponto. O argumento de Joseph Raso e Mark Raso não é capaz de desenvolver um conceito de “fim do mundo” único de uma maneira surpreendente e cativante, seguindo os pontos de enredo genéricos e os resultados previsíveis. Apesar do curto tempo de execução, contém ainda alguns problemas de ritmo que arrastam desnecessariamente a obra. Tal como todos os outros filmes do género, ações e eventos questionáveis ​​devem ser aceites cegamente pelo público para evitar que fiquem a coçar a cabeça sobre problemas de lógica.

Não deixa de possuir algum entretenimento devido ao género em si, mas tudo parece desapontante em comparação com a premissa genuinamente interessante.

Nota: ★★

Infinite

Sinopse: “Um jovem perturbado, assombrado por memórias de duas vidas passadas, depara-se com uma antiga sociedade secreta de indivíduos semelhantes e ousa juntar-se a eles.”

Crítica: Aprecio bastante a carreira de Antoine Fuqua enquanto realizador. Desde o grande clássico Training Day à duologia cheia de entretenimento, The Equalizer, Fuqua tem demonstrado talento na abordagem a sequências de ação. Como era de esperar, Infinite oferece várias cenas de luta e perseguições de carros, sendo a maioria entusiasmante e bastante desfrutável. O terceiro ato é extremamente exagerado nestas mesmas set pieces, que só são toleráveis devido a um traço de personagem especial mas subdesenvolvido, acabando por justificar os momentos mais absurdos. O trabalho de câmara de Mauro Fiore e a edição de Conrad Buff IV são suficientemente decentes, mas o último ato contém demasiada shaky cam e cortes excessivos para o meu gosto.

Relativamente à história, as coisas complicam-se. O argumento de Ian Shorr apresenta uma premissa genuinamente interessante com um world-building excitante que a suporta. Contudo, o voice-over cansativo de Mark Wahlberg – que oferece uma boa prestação, tal como o resto do elenco – carrega exposição pesada que é depois repetida em diálogos ao longo do filme, esticando desnecessariamente o tempo de execução. Esta narração raramente acrescenta algo de relevante à história ou sequer tem impacto na opinião do espetador sobre o protagonista.

Adicionalmente, é um daqueles filmes que tem um enorme potencial de storytelling, mas que nunca o chega a atingir. Pessoalmente, considero o conceito verdadeiramente intrigante, mas o seu desenvolvimento não deixa a base da sua premissa. Na verdade, apenas assistindo ao trailer principal, a maior parte do world-building é entregue ao público nesses poucos minutos.

Honestamente, em mãos mais competentes, esta adaptação podia ter sido o início de uma nova franchise com infinitas possibilidades para produzir sequelas, prequelas, spin-offs, ou até mesmo desencadear o início de uma série.

Assim, Infinite não passa de um filme inofensivamente entretido que podia ter sido muito, muito melhor.

Nota: ★★½

The Woman in the Window

  • Realização: Joe Wright
  • Argumento: Tracy Letts
  • Elenco: Amy Adams, Gary Oldman, Anthony Mackie, Fred Hechinger, Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Jennifer Jason Leigh, Jeanine Serralles, Mariah Bozeman, Julianne Moore
  • Duração: 100 min

Sinopse: “Anna Fox (Amy Adams) é uma psicóloga infantil agorafóbica que anda com olho posto na imagem da família perfeita do outro lado da rua através das janelas da sua casa clássica de New York. A sua vida muda drasticamente quando inadvertidamente testemunha um crime brutal.”

Crítica: Quantas vezes já ouviram algo do género “este filme tem atores fenomenais, certamente deve ser muito bom”? Obviamente, inúmeros exemplos defendem ou contradizem esta última afirmação, mas, infelizmente, o espectador comum oferece frequentemente mais crédito ao elenco do que ao(s) realizador(es) e/ou argumentista(s). Isto significa que, quando um filme é verdadeiramente fantástico, os atores recebem os melhores elogios, mesmo que não tenham contribuído tanto como as outras duas posições de filmmaking. Contudo, quando uma longa-metragem acaba por ser uma grande desilusão, o elenco raramente recebe os piores comentários.

The Woman in the Window é o exemplo perfeito de um filme que nunca deveria ter criado altas expetativas. Ao contrário do que as pessoas possam pensar, este filme de Joe Wright passou por adiamentos constantes, mesmo antes da pandemia ter começado. A Netflix nem sequer era a distribuidora original, mas o público em geral não se preocupa com os problemas de produção. Se o elenco contém alguns atores bem conhecidos e favoritos dos fãs, a maioria dos espectadores antecipa imenso esse filme sem nunca pensar quem o realiza ou escreve. Portanto, não é nenhuma surpresa que esta adaptação do livro de A.J. Finn seja um forte candidato para os Razzies do próximo ano…

Desde o confuso trabalho de edição (Valerio Bonelli) – provavelmente devido às várias re-edições – aos diálogos tremendamente forçados, o argumento de Tracy Letts encontra-se repleto com problemas relacionados com praticamente todas as interações entre personagens. A narrativa geral é uma trapalhada total que nunca encontra o bom caminho, terminando num filme irregular, sem sentido e incrivelmente falso. Tudo parece demasiado dramático, extremamente ficcional e sem qualquer emoção. Amy Adams, Gary Oldman, Julianne Moore e todos os outros atores populares encontram tantas dificuldades com os seus guiões que alguns entregam genuinamente uma caricatura horrível de si mesmos.

Honestamente, a única razão pela qual esta obra não recebe a nota mais baixa possível deve-se, curiosamente, a um par de atores que realmente tentam tornar a história um pouco menos insuportável.

Nota:

Monster

  • Realização: Anthony Mandler
  • Argumento: Radha Blank, Cole Wiley, Janece Shaffer
  • Elenco: Kelvin Harrison Jr., Jennifer Hudson, Jeffrey Wright, Jharrel Jerome, Jennifer Ehle, Rakim Mayers, Nasir ‘Nas’ Jones, Tim Blake Nelson, John David Washington
  • Duração: 98 min

Sinopse: “A história de Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), um aluno distinto de 17 anos cujo mundo desaba quando se vê acusado de homicídio qualificado. O filme acompanha a viagem dramática de um amável estudante de cinema de Harlem que frequenta um liceu de elite e se vê forçado a enfrentar uma complexa batalha jurídica, correndo o risco de passar o resto da vida na prisão.”

Crítica: Já escrevi isto milhares de vezes, mas repito novamente: adoro filmes decorridos numa só localização. Não sei exatamente se a maioria das cenas de Monster é realmente desenvolvida dentro do tribunal, mas dá essa sensação. Na verdade, acredito que todas as cenas fora deste lugar são contadas através de flashbacks prolongados com narração de Steve Harmon sobre o que aconteceu antes e no dia do crime. Como o protagonista é um estudante de cinema, a sua narração contém descrições frequentemente vistas em argumentos, o que é agradável no início, mas depois torna-se exagerado.

O julgamento é, definitivamente, a parte mais cativante da história. Anthony Mandler (primeira longa-metragem) e a sua equipa de argumentistas demonstram perfeitamente alguns aspetos da vida real de como a lei funciona. Desde a conhecida desconexão emocional de (alguns) advogados com os seus clientes até ao tratamento preconceituoso de pessoas de cor, as sequências do tribunal mantêm o filme interessante até à sua conclusão um tanto previsível e pouco surpreendente. No entanto, apesar das prestações excecionais de todos os envolvidos, especialmente Kelvin Harrison Jr. (The Trial of the Chicago 7), o caso em si termina com perguntas sem resposta e algumas mensagens perdidas na transmissão.

Enquanto que os espectadores passam toda a duração do filme seguindo Steve a ser um bom filho, irmão e amigo, as outras personagens negras que estão a ser acusadas não recebem o mesmo tratamento. Em determinado momento do filme, alguém refere que “têm que considerá-lo inocente até que algo surja que o prove culpado”, mas tal só se aplica ao protagonista, visto que os restantes são considerados culpados desde o início sem que o público veja ou ouça o seu ponto de vista ou conheça as razões pelas quais se cometeu o crime.

Além disso, apesar de os espectadores conhecerem o veredito, o verdadeiro impacto de Steve no homicídio permanece questionável devido aos últimos flashbacks, o que levanta a questão: “é suposto torcermos por esta personagem?”

Nota: ★★½

Things Heard & Seen

  • Realização: Shari Springer Berman, Robert Pulcini
  • Argumento: Shari Springer Berman, Robert Pulcini
  • Elenco: Amanda Seyfried, James Norton, Natalia Dyer, Rhea Seehorn, Alex Neustaedter, F. Murray Abraham, Jack Gore
  • Duração: 119 min

Sinopse: “Um casal de Manhattan muda-se para uma casa histórica em Hudson Valley, onde acaba por descobrir que o seu casamento está envolto por uma penumbra tão sinistra quanto a que envolve a história da nova casa.”

Crítica: Horror é definitivamente um dos meus géneros favoritos. Considero este tipo de filme extremamente impactante quando realizado de forma eficiente. Desde noites sem dormir a imagens inesquecíveis, nunca me canso de horror. No entanto, tal como qualquer outro género popular, chegou a um ponto em que os estúdios se preocupam mais em construir franchises baseadas em argumentos formulaicos do que realmente entregar histórias originais, criativas e únicas. A Netflix não é conhecida por conteúdo de horror excecional, logo encontrava-me algo cético em relação a este filme.

Things Heard & Seen pode ter uma premissa genérica, mas Shari Springer Berman e Robert Pulcini são capazes de adicionar substância suficiente para o tornar minimamente interessante. Amanda Seyfried (Mank) e James Norton (Little Women) oferecem duas prestações notáveis, interpretando duas personagens distintas que, de alguma forma, acabaram juntas. Ambas têm as suas próprias falhas, mas o marido é retratado de uma maneira tão negativa que se torna desafiador acompanhar alguém tão desprezível. A narrativa principal contém um pequeno twist na história de fantasmas habitual, tornando-a mais do que apenas um festival de jumpscares previsíveis, para além de possuir uma cena particularmente violenta que não é nada menos do que surpreendente.

Apesar da atmosfera repleta de suspense, o ritmo lento arrasta um filme demasiado longo que, infelizmente, apresenta um final desapontante. O início do terceiro ato atinge o auge de entusiasmo através de decisões de personagem cativantes que certamente aumentam o valor de entretenimento. No entanto, a mistura de temas feministas com a narrativa sobrenatural está longe de obter o equilíbrio certo, terminando como mais um filme de horror que tinha tudo para ser muito, muito melhor.

Nota: ★★★

Stowaway

  • Realização: Joe Penna
  • Argumento: Joe Penna, Ryan Morrison
  • Elenco: Anna Kendrick, Daniel Dae Kim, Shamier Anderson, Toni Collette
  • Duração: 116 min

Sinopse: “Durante uma missão a Marte, um passageiro clandestino involuntário provoca danos graves aos sistemas de suporte de vida da nave. Com os recursos a esgotarem-se e confrontada com a possibilidade de um desfecho fatal, a tripulação é obrigada a tomar uma terrível decisão.”

Crítica: Sou um verdadeiro amante de todos os géneros de cinema, mas ficção científica é um dos meus favoritos absolutos. Dentro desta área de storytelling, considero filmes espaciais de uma só localização – geralmente dentro de uma nave de algum tipo – incrivelmente cativantes quando bem aproveitados. Joe Penna (Arctic) realiza e co-escreve o seu segundo filme num ambiente muito difícil para qualquer cineasta de topo, quanto mais para alguém que está a começar a construir a sua carreira. Criar uma história e desenvolvê-la pelos mesmos corredores, paredes e divisões por duas horas não é, com certeza, uma tarefa fácil se o objetivo passa por convencer os espetadores a ficarem até ao fim. Tanto em termos de entretenimento como a nível técnico, é um desafio tremendo.

Dito isto, Stowaway é a primeira grande surpresa de 2021. Penna e Ryan Morrison montam um argumento emocionalmente convincente, repleto de dilemas morais excruciantes e a melhor prestação da carreira de Anna Kendrick (A Simple Favor, Pitch Perfect). A atriz eleva o seu nível ao ser a protagonista de um filme que também tem Daniel Dae Kim (Raya and the Last Dragon, Hellboy) e Toni Collette (I’m Thinking of Ending Things, Knives Out), roubando os holofotes ao demonstrar o seu lado mais dramático em vez da sua zona de conforto mais cómica. Shamier Anderson (Destroyer, Love Jacked) também oferece uma exibição notável, que provavelmente o catapultará para fazer mais aparições com atores deste patamar ou superior.

Os trailers podem levar alguns espectadores a pensar que Stowaway tem uma narrativa acelerada e orientada para o entretenimento, mas a premissa interessante – apesar de genérica – é levada por uma perspetiva muito mais humana e fundamentada sobre as decisões mais complexas da vida. Com exceção do arco de personagem de Collette, todos os outros astronautas recebem um guião bem escrito que lhes dá uma personalidade totalmente desenvolvida com uma backstory completa e diálogos dinâmicos e autênticos. Infelizmente, apesar de Collette entregar uma interpretação fantástica como sempre, a sua personagem passa a maior parte do tempo conversando com um engenheiro aleatório e invisível do planeta Terra numa sala separada, quase como se a atriz tivesse sido mantida à parte do resto do elenco. O ritmo lento é impactado negativamente por esta decisão narrativa questionável.

Tecnicamente, enormes elogios ao design futurista da cenografia, que permitiu que a câmara se movesse através da estação espacial com facilidade, dando a Penna e Klemens Becker (diretor de fotografia) a oportunidade de empregar takes longos e de tracking que ajudam a tornar a atmosfera menos monótona. Os responsáveis pelos efeitos especiais também merecem nota muito positiva por tudo o que os espectadores veem fora da estação espacial. Imagens linda, dignas de papel de parede, encontram-se espalhadas por todo o tempo de execução do filme.

O último ato apresenta situações de suspense e extremamente nervosas, mas ainda mais importante, possui um final que desencadeará conversas mesmo após os créditos. É um argumento previsível e formulaico? Não se pode negar, mas é lindamente realizado por um cineasta extraordinariamente dedicado e talentoso que recomendo a todos que sigam de perto.

Nota: ★★★½

French Exit

  • Realização: Azazel Jacobs
  • Argumento: Patrick deWitt
  • Elenco: Michelle Pfeiffer, Lucas Hedges, Valerie Mahaffey, Imogen Poots, Susan Coyne, Danielle Macdonald, Isaach de Bankolé, Daniel Di Tomasso, Tracy Letts
  • Duração: 110 min

Sinopse: “O meu plano era morrer antes que o dinheiro acabasse”, diz a socialite falida de Manhattan, Frances Price (Michelle Pfeiffer), de 60 anos, mas as coisas não correram como planeado. O seu marido, Franklin, encontra-se morto há 12 anos e com a sua vasta herança desaparecida, ela levanta o equivalente monetário ao seu último pertence e resolve viver os seus dias de crepúsculo anonimamente num apartamento emprestado em Paris, acompanhada pelo seu filho desorientado, Malcolm (Lucas Hedges), e um gato chamado Small Frank – que pode ou não incorporar o espírito do marido morto de Frances.”

Crítica: Olho para comédia surreal como um dos subgéneros mais complexos de apreciar. Pela minha experiência, o humor deve ser perfeito para que realmente solte gargalhadas durante todo o tempo de execução de um filme propositadamente absurdo. Além disso, necessito de sentir algum tipo de conexão com o protagonista. Caso contrário, será extremamente complicado verdadeiramente desfrutar da diversão dentro de todo o caos. Nunca vi um filme de Azazel Jacobs (The Lovers, Terri), que traz o mesmo argumentista do seu último filme, Patrick deWitt.

Michelle Pfeiffer entrega uma prestação fenomenal, mostrando um enorme alcance emocional e uma experiência que lhe permite navegar perfeitamente qualquer guião atirado para cima dela. Em última análise, Pfeiffer prova que ainda tem o que é preciso para liderar os maiores filmes de cada ano. Infelizmente, French Exit é, de facto, um filme incrivelmente difícil de apreciar. Desde as performances restantes dececionantes – Lucas Hedges é frustrantemente irritante no seu papel – à falta de interesse na narrativa geral, é um daqueles filmes que os espectadores ou se conseguem deixar cativar imediatamente ou não será fácil de se assistir.

A comédia surreal implica um argumento sem sentido, o que pode deixar algumas pessoas de pé atrás logo à partida. É um tipo extremamente específico de humor que normalmente não atinge grandes grupos de espetadores. Azazel Jacobs traz a história de Patrick deWitt para o ecrã com um compromisso notável, mas, no final, é um filme lento que estica a sua duração desnecessariamente, sem muitos risos para oferecer.

Nota: ★★

The Dig

Sinopse: “Com o aproximar da Segunda Guerra Mundial, uma viúva abastada contrata um arqueólogo amador para escavar antigas estruturas funerárias na sua propriedade. Quando fazem uma descoberta histórica, os ecos do passado britânico enfrentam um futuro incerto‎.”

Crítica: Antes de assistir a este filme, não possuía absolutamente qualquer conhecimento sobre quem eram Basil Brown (Ralph Fiennes), Edith Pretty (Carey Mulligan) ou até Peggy Piggott (Lily James) e o que faziam. Enquanto engenheiro e entusiasta de ciência, raramente tenho dificuldades em encontrar algum tipo de desfrutação em filmes baseados em histórias verdadeiras sobre descobertas científicas, avanços tecnológicos ou eventos históricos impactantes. Portanto, apesar de uma premissa que não convence de forma imediata, Simon Stone faz um trabalho maravilhoso ao tornar esta peça bastante interessante.

A cinematografia de Mike Eley produz alguns dos planos mais deslumbrantes do ano, transformando The Dig num filme visualmente prazeroso. A narrativa principal concentra-se na própria escavação e na descoberta de um navio (Anglo-Saxónico) muito antigo, um enredo que acaba por ser mais cativante do que alguma vez antecipei. No entanto, o subplot romântico envolvendo Peggy Piggott parece deslocado e um tanto enfadonho, considerando o objetivo deste filme. Prejudica realmente o ritmo geral, arrastando um filme até bem equilibrado.

O já excelente argumento de Moira Buffini ainda é elevado pelo elenco notável. Fiennes (Harry Potter) e Mulligan (Promising Young Woman) partilham uma química de fazer aquecer o coração, encaixando-se na perfeição nas suas personagens. Lily James (Rebecca) também demonstra o seu impressionante alcance emocional novamente. No geral, recomendo para qualquer espetador que esteja interessado em saber mais sobre a história verdadeira ou que seja simplesmente um fã deste género em específico.

Nota: ★★★½

Locked Down

  • Realização: Doug Liman
  • Argumento: Steven Knight
  • Elenco: Anne Hathaway, Chiwetel Ejiofor, Stephen Merchant, Mindy Kaling, Lucy Boynton, Dulé Hill, Jazmyn Simon, Ben Stiller, Ben Kingsley
  • Duração 118 min

Sinopse: “Em Locked Down, assim que decidem em separar-se, Linda (Anne Hathaway) e Paxton (Chiwetel Ejiofor) descobrem que a vida tem outros planos quando ficam presos em casa num confinamento obrigatório. A co-habitação prova ser um desafio, mas alimentada por poesia e grandes quantidades de vinho, irá aproximá-los da maneira mais surpreendente.”

Crítica: Assistir a um filme que decorre durante uma pandemia global enquanto estamos ainda a tentar ultrapassar uma verdadeira pandemia global pode ter um impacto negativo significativo nos espectadores, dependendo de como estes últimos se sentem sobre o problema atual do nosso mundo. Honestamente, as minhas expetativas encontravam-se muito baixas, mas Locked Down é uma das surpresas mais agradáveis que tive a sorte de encontrar nos últimos meses.

O argumento de Steven Knight é bem-humorado, repleto com piadas sobre os comportamentos mais tolos da humanidade durante um confinamento. Desde a quantidade ridícula de rolos de papel higiénico à discussão sobre os temas domésticos mais irrelevantes e sem importância, Anne Hathaway e Chiwetel Ejiofor elevam profundamente uma narrativa simples, mas cheia de entretenimento, com duas prestações incrivelmente divertidas. A sua química está no ponto e as suas personagens são igualmente engraçadas.

Doug Liman criou uma história de duas horas agradável, inofensiva e mais realista do que antecipava sobre um casal que precisa de encontrar o que os fez apaixonarem-se… pelo menos até ao início do terceiro ato, que é totalmente absurdo. Sim, todo o filme segue uma fórmula genérica carregada de clichês, mas a última meia hora muda para uma ridícula missão de assalto que realmente não se adequa às personagens ou à história até esse ponto (e nem vou tocar nas dezenas de problemas lógicos que levanta).

No geral, recomendo a qualquer espectador que tenha algumas horas extras para assistir algo leve na sua televisão. Porém, se desejam escapar ou esquecer a situação global atual, então talvez seja melhor guardar esta peça para outra altura.

Nota: ★★★

Shadow in the Cloud

  • Realização: Roseanne Liang
  • Argumento: Max Landis, Roseanne Liang
  • Elenco: Chloë Grace Moretz, Taylor John Smith, Nick Robinson, Beulah Koale, Callan Mulvey
    Duração: 83 min

Sinopse: “No auge da Segunda Guerra Mundial, Captain Maude Garrett (Chloë Grace Moretz) junta-se à tripulação masculina de um bombardeiro B-17 com um pacote ultrassecreto. Apanhados de surpresa pela presença de uma mulher num voo militar, a tripulação testa todos os movimentos de Maude. Logo quando a sua inteligência rápida parece estar a conquistá-los, acontecimentos estranhos e buracos na sua backstory incitam paranóia em torno da sua verdadeira missão. Mas esta tripulação tem mais a temer… espreitando nas sombras, algo sinistro está a destruir o interior do avião. Presos entre uma emboscada aérea e um mal escondido dentro do avião, Maude tem que ultrapassar os seus limites para salvar a tripulação azarada e proteger a sua carga misteriosa.”

Crítica: Considero Chloë Grace Moretz (Greta) uma das melhores atrizes da sua geração. Ficaria surpreendido se não conseguisse, pelo menos, uma nomeação para os Óscares nos próximos 10 anos. Embora seja verdade que as suas escolhas nem sempre acabam por ser bons filmes, raramente é a culpada quando as coisas não dão certo. Neste filme de Roseanne Liang, ela é, sem dúvida, a cola que mantém tudo ligado. Moretz lida perfeitamente com o que está perto de ser um filme a solo – encontra-se literalmente presa dentro de um mini-cockpit – demonstrando um alcance emocional extraordinário.

Durante a maior parte do tempo de execução, os espectadores são colocados dentro de um lugar claustrofóbico, assistindo à protagonista a comunicar através do rádio com os outros membros da tripulação que, por acaso, são personagens masculinas extremamente sexistas e irritantes. Apesar de entender a intenção que origina este arquétipo de personagem, torna-se tão “chapado no ecrã” que quase faz a realizadora e o seu co-argumentista, Max Landis, parecerem pessoas que aparentemente nunca conheceram qualquer outro tipo de homens do exército. A narrativa contém tantas ideias distintas que vão de um filme de monstros a um drama de guerra e o equilíbrio de tudo está um pouco por todo o lado, tal como a banda sonora (Mahuia Bridgman-Cooper).

A partir do momento em que o mistério à volta do pacote confidencial é revelado e as sequências de ação começam a tomar o palco principal, a história dá um grande salto para o totalmente absurdo. Desde um dos usos mais chocantemente hilariantes de uma explosão de um avião à incredibilidade de tudo o que acontece no terceiro ato, não é fácil desligar o cérebro quando o filme até este ponto estava mais próximo da representação algo realista de como é ser uma mulher isolada na Força Aérea do que um filme de ficção científica/monstros/ação.

Independentemente de tudo isto, não consigo negar o valor de entretenimento e o desempenho principal excecional.

Nota: ★★★

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