Crítica – Trial of the Chicago 7

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The Trial of the Chicago 7 é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano.

Sinopse: “Em 1969, sete pessoas foram acusadas pelo governo federal de conspiração e muito mais, decorrentes dos protestos na Convenção Nacional Democrática de 1968 em Chicago.”

Aaron Sorkin já anda por estas redondezas há algum tempo. A Few Good Men, Moneyball, Steve Jobs, e, sem dúvida, um dos melhores filmes da última década, The Social Network, todos têm algo em comum: Sorkin como argumentista, mas não como realizador. Molly’s Game foi a estreia de Sorkin na realização, o que faz de The Trial of the Chicago 7 apenas a segunda vez que representa esse papel.

Adorei ou simplesmente gostei de todos os filmes anteriormente mencionados, logo as minhas expetativas já eram altas o suficiente apenas devido à sua presença. No entanto, com o anúncio de um elenco repleto de estrelas, é impossível não esperar que uma das melhores películas do ano saia deste projeto…

Expetativas cumpridas. Este é, de facto, um dos melhores filmes de 2020, sem sombra de dúvida. Baseado em eventos reais, o filme rapidamente salta para o ponto principal da ação: o julgamento. Em apenas vinte minutos, o espetador encontra-se dentro do famoso tribunal onde o esperado e o inesperado ocorrem simultaneamente. Sorkin adopta uma estrutura narrativa que me manteve cativado até aos créditos finais. As ações que levaram a este caso judicial são demonstradas ao longo do mesmo, ao invés de serem mostradas através de uma linha temporal linear, o que retiraria valor ao julgamento. É a principal razão pela qual uma premissa tão simples se transforma numa adaptação fenomenal do evento histórico.

Não consegui tirar os olhos do ecrã nem por um único segundo ou perder um dos inúmeros diálogos incríveis. Todas as conversas, argumentos, “objections”, “overrules” ou “motion denied” são transmitidos ao espetador de uma maneira excecionalmente cativante. É um daqueles filmes onde a “ação” pertence às palavras ao invés de punhos.

Trial of the Chicago 7

Senti-me tremendamente investido no julgamento. Nunca perde um grama de interesse, é 100% entusiasmante o tempo todo. Queria desesperadamente descobrir o resultado do caso (não tinha conhecimento da história real, mas abordarei isso mais adiante). Queria imenso testemunhar os eventos que colocaram os réus nas suas respetivas posições. Desejava muito ver o fim da situação.

Assim que o filme terminou, senti vontade de pesquisar imediatamente tudo sobre a história verdadeira. Passei quase 45 minutos a ler vários artigos sobre a Convenção Nacional Democrática de 1968, os protestos, os candidatos presidenciais… Tudo. Este é um dos critérios mais importantes que tenho para definir o quão bem sucedido um filme histórico realmente é: o quanto me obriga a pesquisar sobre ele. The Trial of the Chicago 7 convenceu-me a estudar os eventos reais com um impacto significativo. Baseando-me no que li, Sorkin altera alguns detalhes relacionados com a ordem dos eventos (algo bastante comum neste tipo de filmes), mas, no geral, é uma adaptação bastante precisa e realista.

Tecnicamente, todos os componentes são notáveis, como esperado de uma parceria Netflix-Sorkin. No entanto, a banda sonora desempenha um papel especial, uma vez que o volume em crescendo eleva diversas situações que escalam, tendo-me deixado na beira do sofá a morder as unhas. É uma conquista fantástica de Daniel Pemberton, que também foi compositor de Birds of Prey e Enola Holmes este ano. Além disso, este pode não ser um filme de apenas uma localilzação, mas Sorkin mantém a câmara tão focada no tribunal que parece que o espetador está “preso” com os réus.

Adicionalmente ao argumento de Sorkin, o elenco possui, obviamente, um papel crucial. Tal como mencionei acima, este é um filme onde a “ação” é demonstrada através de palavras. Dentro do tribunal, há argumentos constantes, inúmeros “contempts of court”, um “voir dire” (não faz mal dar uma vista de olhos na terminologia de tribunal antes do filme) e muito mais que leva o juiz a tomar decisões questionáveis com base em provas chocantes. Todos os atores são absolutamente excecionais. Senti tudo e mais alguma emoção durante este julgamento, mas tenho quatro destaques.

Trial of the Chicago 7

Sacha Baron Cohen (Abbie Hoffman) partilha os holofotes da gargalhada com Jeremy Strong (Jerry Rubin), mas acaba por ser o comic relief principal. A sua entrega e timing são ouro puro. Não posso negar que fiquei surpreendido com a sua prestação, visto que apenas assisti a Borat. É extremamente hilariante, mas não se deixem enganar pelas minhas palavras: Abbie prova ser um dos réus mais essenciais no julgamento, oferecendo um testemunho memorável e demonstrando o seu verdadeiro propósito. Eddie Redmayne agarra toda a qualidade que o fez vencer um Óscar para interpretar Tom Hayden. Uma personagem vital que permite ao espetador perceber que, embora não sejam todos completamente culpados, também não são todos propriamente inocentes. O discurso final de Hayden é uma das melhores cenas da carreira de Redmayne.

Mark Rylance representa o público em casa, retratando o advogado de defesa, William Kunstler. Partilha a frustração do espetador com as decisões do juiz, mas nunca desiste, tentando ao máximo trazer justiça ao caso. Se tivesse que apostar num ator para receber o burburinho habitual para as cerimónias de prémios no fim do ano, escolhia Rylance devido à sua exibição poderosa. O último destaque é Frank Langella como o juiz Julius Hoffman. Acredito que muitas pessoas darão crédito a todos os atores por interpretarem personagens que adoram, mas a maioria vai esquecer o ator que retrata a personagem que todos odeiam. Langella merece todos os elogios do mundo por me fazer desprezar um juiz tão injusto, racista e não-qualificado. A sua performance é simplesmente extraordinária.

Estes são os meus quatro destaques, mas todo o elenco é fenomenal. Estou um pouco desapontado por não ter visto mais de Yahya Abdul-Mateen II (Bobby Seale), mas, depois de pesquisar o envolvimento de Bobby nesta história, entendo a falta de relevância para a narrativa principal. Acaba por representar um paralelo moderno com os anos 60, no sentido em que o juiz discrimina-o fortemente durante o julgamento, transmitindo uma mensagem de que o comportamento da humanidade pode ter evoluído em relação ao racismo, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Um shoutout final para Joseph Gordon-Levitt, que também é excelente como Richard Schultz.

Trial of the Chicago 7

Só tenho um único problema. Em termos de entretenimento, o espetador entrar no palco principal após apenas 20 minutos é um movimento ousado, mas eficiente. No entanto, a introdução às personagens e à história em si passa tão rápido que só consegui entender quem é quem e o seu propósito durante o julgamento. Sorkin assume que as pessoas sabem tudo sobre quem são estas personagens, o que fizeram e para onde a narrativa se direciona, saltando alguns detalhes que (principalmente) o público não-americano terá dificuldades em compreender a tempo. Sorkin podia ter dado mais profundidade a estas personagens inicialmente, oferecendo ao espetador tempo para se familiarizar com os nomes e organizações.

Resumindo, The Trial of the Chicago 7 é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano, provavelmente o melhor à data deste artigo. A estrutura narrativa de Aaron Sorkin e o elenco brilhante são as duas razões principais pelas quais este filme é tão bem sucedido.

O argumento de Sorkin é organizado de uma forma que mantém o espetador extraordinariamente cativado durante todo o tempo de execução, seguindo uma estrutura não-linear. Manter o foco num único local é uma decisão excecional para um filme onde as palavras são a ação da história. Dentro do tribunal é onde todos os argumentos fascinantes ocorrem, nunca perdendo gás até ao final.

Também é muito mais engraçado do que esperava. Em relação ao elenco, Sacha Baron Cohen, Mark Rylance, Eddie Redmayne e Frank Langella destacam-se, mas todos os atores entregam prestações impressionantes. A banda sonora de Daniel Pemberton brilha num filme muito bem produzido. Os primeiros 20 minutos voam em favor do entretenimento, colocando rapidamente o espetador dentro do tribunal, mas é tão apressado que torna-se difícil para o público fixar os nomes e propósitos de todos. Supor que todos sabem a história verdadeira e as pessoas envolvidas é uma abordagem arriscada, especialmente para não-americanos. No entanto, este pequeno problema não afeta um filme praticamente sem falhas.

Obviamente, recomendo fortemente! Talvez ler um pouco sobre os eventos reais de antemão ajude a uma eventual visualização, mas não leiam demasiado devido aos spoilers habituais.

Acesso ao filme via Netflix. Trial of the Chicago 7 estreia esta sexta-feira, dia 16 de outubro, na conhecida plataforma de streaming.

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