Crítica – Army of the Dead

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Army of the Dead traz Zack Snyder de volta ao género de apocalipse zombie, apresentando uma história com muito entretenimento e guiada pela ação que irá agradar à maioria dos espectadores.

Sinopse: “Durante uma epidemia zombie em Las Vegas, um homem reúne um grupo de mercenários para levar a cabo um audacioso golpe: entrar na zona de quarentena para realizar o maior roubo de sempre.”

Zack Snyder está longe de ser um realizador consensual. Alguns espectadores realmente adoram o seu trabalho – Zack Snyder’s Justice League só foi possível devido a fãs extremamente apaixonados – enquanto outros não compreendem as razões por detrás do hype constante que rodeia os projetos do cineasta. Pessoalmente, apesar de não pertencer ao seu fandom enorme, aprecio imenso o seu trabalho fora da DCEU. Desde Dawn of the Dead a Watchmen, passando por 300, tenho estes filmes em grande consideração. No entanto, Batman v Superman: Dawn of Justice é inquestionavelmente uma das maiores desilusões cinematográficas da minha vida e é, sem dúvida, o filme que despoletou o início da opinião geral controversa sobre o realizador.

Normalmente, quando as pessoas se encontram numa fase de vida mais complicada, regressar às origens ajuda a voltar ao caminho mais saudável, que é precisamente o que Snyder faz aqui. O género de apocalipse zombie existe há décadas, mas, desde o início do novo século, o público testemunhou uma narrativa, que em tempos foi única e entusiasmante, tornar-se uma das peças de storytelling mais refeitas, genéricas e formulaicas atuais. Esta última afirmação não significa que algumas obras de arte não possam ser encontradas. Desde provavelmente o melhor filme de zombies de sempre, Train to Busan, até ao clássico cómico Zombieland, existem filmes verdadeiramente fantásticos dentro deste género. Sendo assim, qual é a posição de Army of the Dead?

Army of the Dead

Algures no meio, rotulado como “good fun”, que é tudo aquilo que antecipava deste filme da Netflix. Permitam-me retirar algo do caminho imediatamente: este filme parece, soa e sente-se como uma obra de Snyder. Inúmeros planos extra-estilizados, longas cenas em câmara lenta, uma quantidade avassaladora de sangue e gore, escolhas bizarras de música, uma duração de duas horas e meia… para o melhor e para o pior, ninguém se pode queixar de interferências do estúdio desta vez. Claramente, o famoso realizador teve total liberdade criativa, e tal é provado através de todos os aspetos positivos e negativos do filme. Felizmente, o estilo de filmmaking de Snyder não só se enquadra bem neste género, como também funciona para o argumento simples e guiado por entretenimento.

A grande maioria dos espectadores irá clicar em “play” na esperança de receber um filme de zombies com imensa ação, divertido e descomplicado, com todos os atributos que estas personagens canibais possuem. Com exceção de uma linha narrativa genuinamente interessante – embora vista em outras películas – sobre um tipo específico de zombies, tudo o resto é praticamente aquilo que se tem visto ao longo das últimas duas décadas, o que pode ser dececionante, mas ainda assim altamente desfrutável. Desde a forma como as pessoas os podem matar ao tempo que cada pessoa infetada demora para se tornar um zombie, todos os clichês conhecidos estão presentes neste filme. Honestamente, nenhum me incomoda realmente, a menos que sejam repetidos até à exaustão, o que não acredito que Army of the Dead faça assim tanto.

As sequências de ação são todas bem filmadas, mas admito que esperava maior qualidade. A maioria das cenas são simplesmente personagens a disparar aleatoriamente, conseguindo headshots insanos que os espectadores terão de aceitar como algo normal, o que não deve ser muito difícil, tendo em conta os filmes de ação de hoje em dia. Ocasionalmente, surgem combates um-para-um ou um-para-muitos, o que eleva os níveis de adrenalina ao focar naquela única personagem, mas depois retornam aos tiroteios algo cansativos. Snyder pede ao público para aceitar várias decisões absurdas tanto ao nível do enredo como das próprias personagens, por isso, vai ser sempre uma questão do quanto aguentam até começar a ser demasiado…

Pessoalmente, estas questões lógicas não me chateiam muito – o terceiro ato ridículo chega a testar os meus limites, admito. No entanto, a falta de desenvolvimento de personagens e de uma preocupação geral para com todos no filme será sempre um problema tremendo, especialmente quando os momentos supostamente emocionais e sinceros acabam por ter impacto nulo. Duvido que alguém fique surpreendido ao descobrir que morrem pessoas neste filme para além dos zombies, consequentemente trazendo equilíbrio de tom para a mesa. Obviamente, nem todas as personagens precisam de receber uma backstory profunda e motivações complexas, mas não custa nada contar aos espectadores um pouco sobre as pessoas que vão para a zona de perigo de forma a que as sequências de ação possam carregar mais tensão.

Army of the Dead

Sem quaisquer spoilers, existe um período no filme em que começa uma contagem decrescente mortal e tudo o que ocorre desde o início dessa contagem até ao momento climático não se diferencia de nenhuma outra sequência do filme. A falta de tensão e de sentido de urgência acaba por impedir esta obra de ser uma das melhores. No geral, é um blockbuster de zombies que oferece uma explosão de diversão, mas acredito firmemente que podia ter sido muito melhor. Dave Bautista (My Spy, Avengers: Endgame) é o destaque absoluto, interpretando a única personagem totalmente desenvolvida do filme. Ella Purnell (Wildlike), Omari Hardwick (Sorry to Bother You) e Nora Arnezeder (Origin) também entregam boas prestações.

Finalmente, uma observação que deve ser feita sobre a relação entre estúdios e cineastas. Embora seja a favor da liberdade criativa, deve haver sempre um compromisso entre ambas as partes. Snyder não ganhou fama por não editar eficientemente os seus filmes por acaso. Army of the Dead é, como a maioria da sua filmografia, desnecessariamente longo. As “deletes scenes” que vão em Blu-rays não existem por pura exibição. Não se encontra um único filme na história do cinema onde todos os segundos gravados sejam ouro cinematográfico. A duração perfeita é algo que os estúdios podem ajudar os cineastas a conseguir com mais precisão. No final, considero que este filme se move rapidamente através da sua história direta, logo o tempo de ecrã excessivo pode não ser um problema tão grande para outros espectadores.

Army of the Dead traz Zack Snyder de volta ao género de apocalipse zombie, apresentando uma história com muito entretenimento e guiada pela ação que irá agradar à maioria dos espectadores. Com o estilo de filmmaking distinto e divisivo completamente livre de restrições, para o melhor e para o pior, o destaque Dave Bautista e a sua equipa lutam contra clichês, falta de desenvolvimento de personagens e uma duração excessiva para ainda conseguir oferecer entusiasmo que chegue.

A falta de tensão e urgência prejudicam algumas das últimas sequências de ação, mas todas são bem filmadas e carregadas de energia. A produção artística e os efeitos visuais excecionais não são suficientes para compensar o argumento previsivelmente formulaico, especialmente quando o único enredo interessante relativo aos zombies é apenas parcialmente explorado.

No geral, é a definição de “good fun”, por isso, se o vosso fim-de-semana possuir duas horas e meia sem qualquer atividade, a Netflix tem o meu apoio.

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