Um ano de florescimento, após um 2020 cinzento, pautado por 100 músicas fantásticas.
Quem me conhece sabe que uma das coisas que mais feliz me faz é encontrar música nova de qualidade, mas sabe também que ter alguém com quem partilhá-la é, para mim, a cereja no topo do bolo. E não o comecei a fazer hoje, nem no ano passado…
Para ser preciso, tudo começou há uma década, quando em finais de 2011 decidi que, no ano seguinte, ia começar a filtrar todas a músicas novas que ouvia e compilá-las num top 50. Agora olho para trás e chego à conclusão que por não ter a cultura e conhecimento musical que tenho hoje, as minhas seleções não eram assim tão acertadas, mas isso já é assunto para outra altura. O importante é que não me deixei amedrontar com as críticas e dei ouvidos a muitas sugestões, bem como a muita música que me passou ao lado e me mandaram também (ainda hoje o faço, porque não sabemos tudo).
Em 2018, com o aumento de volume de músicas que ouvia anualmente, decidi arriscar subir a parada e investir em tops 100 (algo que muito poucos meios profissionais fazem). A verdade é que me senti imediatamente à altura do desafio e a experiência ainda foi mais sensacional, visto que com esse desafio veio a vontade de ouvir ainda mais músicas.
Faltava-me, no entanto, um meio para desenvolver uma infraestrutura mais sólida e organizada, para a seleção de melhores músicas do ano. Coisa que aconteceu no ano passado, quando me juntei ao Echo Boomer. Comecei logo em abril a fazer as compilações de álbuns essenciais, onde já filtrava “músicas a ouvir” e deixava uma pequena apreciação ao álbum em causa.
Chegamos a 2021 e, pela primeira vez em 10 anos, consegui ter o top selecionado antes do natal, sendo que o processo de elaboração do mesmo foi o mais tranquilo que alguma vez tive. Às vezes gostava de ter mais tempo para elaborar melhor as análises que faço aos álbuns ou justificar as minhas escolhas musicais, mas a verdade é que isto é apenas um hobby, logo não dá tempo para muito mais! Contudo, garanto-vos que dou sempre o meu melhor e e o faço de boa vontade (mesmo que por vezes falte inspiração para escrever).
Uma breve guideline: Deixei link abaixo de cada música cujo o álbum fiz análise este ano para o respetivo artigo. No final do artigo podem encontrar link link para a playlist deste Top 100, organizado do 100º para o 1º.
Sem mais a acrescentar, a sorrir vos deixo com as minhas 100 escolhas de 2021.
Top 100 de músicas de 2021
100. Yola – ‘Starlight’
[Análise do álbum “Stand For Myself”]
99. Cory Hanson – ‘Angeles’
[Análise do álbum “Pale Horse Rider”]
98. Lake Street Dive – ‘Hypotheticals’
[Análise do álbum “Obviously”]
97. Durand Jones & The Indications – ‘Witchoo’
[Análise do álbum “Private Space”]
96. King Gizzard & The Wizard Lizard – ‘Shanghai’
[Análise do álbum “Butterfly 3000”]
95. Sleigh Bells – ‘Locust Laced’
[Análise do álbum “Texis”]
94. Doss – ‘Strawberry’
93. Kings of Convenience – ‘Fever’
[Análise do álbum “Peace Or Love”]
92. Joy Crookes – ‘When You Were Mine’
[Análise do álbum “Skin”]
91. AJ Tracey – ‘West Ten’ (ft. Mabel)
[Análise do álbum “Flu Game”]
90. Rhye – ‘Come In Closer’
[Análise do álbum “Home”]
89. Half Waif- ‘Party’s Over’
[Análise do álbum “Mythopoetics”]
88. Julia Stone – ‘We All Have’ (ft. Matt Berninger)
[Análise do álbum “Sixty Summers”]
87. Shame – ‘Alphabet’
[Análise do álbum “Drunk Tank Pink”]
86. Nao – ‘Antidote’ (ft. Adekunle Gold)
[Análise do álbum “And Then Life Was Beautiful”]
85. Kanye West – ‘Off The Grid’
[Análise do álbum “Donda”]
84. Self Esteem – ‘You Forever’
[Análise do álbum “Prioritise Pleasure”]
83. Brandi Carlile – ‘Right On Time’
[Análise do álbum “In These Silent Days”]
82. Claud – ‘In Or In-Between’
[Análise do álbum “Super Monster”]
81. Bicep – ‘Atlas’
[Análise do álbum “Isles”]
80. Easy Life – ‘Daydreams’
[Análise do álbum “Life’s A Beach”]
79. Justin Bieber – ‘Peaches’ (ft. Daniel Caeser & Giveon)
78. Jane Weaver – ‘Solarised’
[Análise do álbum “Flock”]
77. James Blake – ‘Coming Back’ (ft. SZA)
[Análise do álbum “Friends That Break Your Heart”]
76. Squid – ‘Narrator’
[Análise do álbum “Bright Green Field”]
75. Django Django – ‘Glowing In The Dark’
[Análise do álbum “Glowing In The Dark”]
74. Adult Mom – ‘Berlin’
[Análise do álbum “Driver”]
73. Valerie June – ‘Why The Bright Stars Glow’
[Análise do álbum “The Moon and The Stars”]
72. Biffy Clyro – ‘A Hunger In Your Haunt’
[Análise do álbum “The Myth Of The Happily Ever After”]
71. Nas – ‘Death Row East’
[Análise do álbum “King’s Disease II”]
70. Elbow – ‘What Am I Without You’
[Análise do álbum “Flying Dream 1”]
69. Laura Mvula – ‘Safe Passage’
[Análise do álbum “Pink Noise”]
68. Iron Maiden – ‘The Writing On The Wall’
[Análise do álbum “Senjutsu”]
67. Ghetts – ‘10000 Tears’ (ft. Ed Sheeran)
[Análise do álbum “Conflict Of Interest”]
66. Sufjan Stevens & Angelo De Augustine – ‘Back To OZ’
[Análise do álbum “A Beginner’s Mind”]
65. Amyl and The Sniffers – ‘Maggot’
[Análise do álbum “Comfort To Me”]
64. Faye Webster – ‘Better Distractions’
[Análise do álbum “I Know I’m Funny Haha”]
63. You Me At Six – ‘Beautiful Way’
[Análise do álbum “Suckapunch”]
62. Mannequin Pussy – ‘Control’
61. Dave – ‘Clash’ (ft. Stormzy)
[Análise do álbum “We’re All Alone In This Together”]
60. The Killers – ‘Quiet Town’
[Análise do álbum “Pressure Machine”]
59. St. Vincent – ‘The Melting Of The Sun’
[Análise do álbum “Daddy’s Home”]
58. Tinashe – ‘Bouncin’
57. Still Corners – ‘White Sands’
[Análise do álbum “The Last Exit”]
56. Willow – ‘Transparent Soul’ (ft. Travis Barker)
[Análise do álbum “lately I feel EVERYTHING”]
55. Deafheaven – ‘Lament For Wasps’
[Análise do álbum “Infinite Granite”]
54. Vince Staples – ‘Are You With That?’
[Análise do álbum “Vince Staples”]
53. Dawn Richard – ‘Bussifame’
[Análise do álbum “Second Line”]
52. Floating Points – ‘Movement 1’ (with Pharoah Sanders & London Symphony Orchestra)
[Análise do álbum “Promises”]
51. serpentwithfeet – ‘Sailor’s Superstition’
[Análise do álbum “Deacon”]
50. girl in red – ‘Serotonin’
[Análise do álbum “If I Could Make It Go Quiet”]
49. Jungle – ‘Keep Moving’
[Análise do álbum “Loving In Stereo”]
48. Lorde – ‘Solar Power’
[Análise do álbum “Solar Power”]
47. Poppy – ‘Bloom’
[Análise do álbum “Flux”]
46. Kacey Musgraves – ‘Justified’
[Análise do álbum “Star-Crossed”]
45. Goat Girl – ‘Sad Cowboy’
[Análise do álbum “On All Fours”]
44. CHVRCHES – ‘Asking For A Friend’
[Análise do álbum “Screen Violence”]
43. Illuminati Hotties – ‘MMMOOOAAAAAYAYA’
[Análise do álbum “Let Me Do One More”]
42. Summer Walker – ‘Ex For A Reason’ (ft. JT & City Girls)
[Análise do álbum “Still Over It”]
41. Helado Negro – ‘Hometown Dream’
[Análise do álbum “Far In”]
40. For Those I Love – ‘I Have A Love’
[Análise do álbum “For Those I Love”]
39. Clairo – ‘Amoeba’
[Análise do álbum “Sling”]
38. Ray BLK – ‘Games’ (ft. Giggs)
[Análise do álbum “Access Denied”]
37. IDLES – ‘The Beachland Ballroom’
[Análise do álbum “Crawler”]
36. BROCKHAMPTON – ‘Buzzcut’ (ft. Danny Brown)
[Análise do álbum “Roadrunner: New Light, New Machine”]
35. Lana Del Rey – ‘White Dress’
[Análise do álbum “Chemtrails Over the Country Club”]
34. Arlo Parks – ‘Caroline’
[Análise do álbum “Collapsed In Sunbeans”]
33. Self Esteem – ‘Prioritise Pleasure’
[Análise do álbum “Prioritise Pleasure”]
32. Genesis Owusu – ‘Don’t Need You’
[Análise do álbum “Smiling With No Teeth”]
31. Remi Wolf – ‘Sexy Villain’
[Análise do álbum “Juno”]
30. Low – ‘Days Like These’
[Análise do álbum “Hey What”]
29. Doja Cat – ‘Kiss Me More’ (ft. SZA)
28. Pom Pom Squad – ‘Head Cheerleader’
27. Wolf Alice – ‘How Can I Make It Ok?’
[Análise do álbum “Blue Weekend”]
26. The War On Drugs – ‘I Don’t Live Here Anymore’
[Análise do álbum “I Don’t Live Here Anymore”]
25. Adele – ‘Easy On Me’
[Análise do álbum “30”]
24. Julien Baker – ‘Hardline’
[Análise do álbum “Little Oblivious”]
23. Little Simz – ‘I Love You, I Hate You’
[Análise do álbum “Sometimes I Might Be Introvert”]
22. Olivia Rodrigo – ‘Good 4 You’
[Análise do álbum “Sour”]
21. Mitski – ‘The Only Heartbreaker’
20. Lucy Dacus – ‘Thumbs’
[Análise do álbum “Home Video”]
19. The Weather Station – ‘Atlantic’
[Análise do álbum “Ignorance”]
18. Jazmine Sullivan – ‘Pick Up Your Feelings’
[Análise do álbum “Heux Tales”]
17. Cassandra Jenkins – ‘Hard Drive’
[Análise do álbum “An Overview On Phenomenal Nature”]
16. Wet Leg – Wet Dream
15. Dry Cleaning – ‘Scratchcard Lanyard’
[Análise do álbum “New Long Leg”]
14. Billie Eilish – ‘Happier Than Ever’
[Análise do álbum “Happier Than Ever”]
13. Silk Sonic – ‘Leave The Door Open’
[Análise do álbum “An Evening With Silk Sonic”]
12. Turnstile – ‘Blackout’
[Análise do álbum “Glow On”]
11. Nilüfer Yanya -Stabilise
10. Wolf Alice – ‘Smile’
[Análise do álbum “Blue Weekend”]
9. Tyler. The Creator – ‘Wusyaname’
[Análise do álbum “Call Me If You Get Lost”]
8. Snail Mail – ‘Valentine’
[Análise do álbum “Valentine”]
7. Sharon Van Etten & Angel Olsen – ‘Like I Used To’
6. Lil Nas X – ‘Montero (Call Me By Your Name)’
[Análise do álbum “Montero”]
5. Muna – ‘Silk Chiffon’ (ft. Phoebe Bridgers)
4. Caroline Polachek – ‘Bunny Is A Rider’
3. Japanese Breakfast – ‘Be Sweet’
[Análise do álbum “Jubilee”]
O que começou como uma música escrita para outrem com o objetivo de ser um pop hit para agradar às massas, passou a ser o segredo mais bem guardado de Michelle Zauner. “Be Sweet” tinha o potencial para ser maior do que grande e Zauner decidiu não “dar” a música a ninguém, refinando-a ao incluir elementos musicais que transpiram o melhor das harmonias dos anos 80.
Em contra-partida com a batida alegre e convidativa (como se de uma canção feliz se tratasse), as letras transpiram uma mensagem pouco alegre, “Be Sweet To Me Baby” surge com a entoação de quem quer amenizar um desentendimento. O resto da letra acompanha o refrão e mostra-nos um pouco mais sobre a problemática em causa.
A cereja no topo do bolo é mesmo a performance vocal de Zauner, que não deixa margens para dúvidas do seu potencial.
2. Self Esteem – ‘I Do This All The Time’
[Análise do álbum “Prioritise Pleasure”]
No artigo de melhores álbuns fiz uma pequena introdução a Prioritise Pleasure, que já vos deixou a saber um pouco do que esperar das músicas deste álbum, e não foi por acaso que incluí três delas nesta seleção. Contudo, não tenho dúvidas nenhumas que “I Do This All The Time” é o apogeu do álbum.
Esta faixa tem o poder de compilar tudo o que Rebecca Taylor tem a dizer sobre o que é para ela ser-se humano. A artista fá-lo de forma categórica, num carrossel de emoções com a capacidade de nos abstrair do que nos rodeia e ouvi-la a falar para nós, alto e em bom som.
Para além disto, há um placement perfeito para este tipo de mensagens, dado que em plena era da informação, surgem cada vez mais dúvidas existenciais e o sentimento de que somos um caso isolado.
Está mais que provado que isto não é verdade. Mais do que nunca, o importante é explodir, em vez de implodir, visto que certamente vai haver alguém que já passou pelo mesmo, podendo dar a tão necessária ajuda de empurrão para voltarmos ao nosso ser mais pleno e resolvido. A força da mudança tem, no entanto, de partir de nós.
1. Little Simz – ‘Introvert’
[Análise do álbum “Sometimes I Might Be Introvert”]
“Introvert” é a música de abertura de Sometimes I Might Be Introvert, mas a sua construção instrumental faz dela a música foco do álbum inteiro e é, de longe, o score instrumental mais impressionante que ouvi este ano.
Por detrás da música, temos Simbiatu Ajikawo, artista que decidiu encontrar força e ímpeto na sua introversão para se libertar e debitar tudo o que lhe vai na alma. Ao longo desta música podemos assistir a um exercício de crescimento pessoal e social de Simbiatu, através de perguntas honestas sucessivas dirigidas a si mesmo, a puxar pela reflexão.
Sem querer estar a dizer uma asneira, acredito que “Introvert” tenha acabado por ganhar uma densidade que nem a artista estava à espera, quando decidiu que ia criar esta música para usar como intro. Absolutamente magistral.