Ano novo, vida igual. Mas pelo menos há música nova!
Bem-vindos à rubrica de álbuns essenciais de cada mês. Este vai ser o meu segundo ano a escrever sobre música para o Echo Boomer, mas o entusiasmo continua a ser o mesmo. A verdade é que é difícil não ficar entusiasmado quando o tema abordado é música.
2021 começou a meio gás, mas já tivemos alguns álbuns aguardados lançados em janeiro. Destaca-se um disco muito agradável de Rhye, um bastante eletrizante dos You Me At Six e um regresso acima das expectativas dos Weezer. Novidades também as há, por isso aproveito para abrir com a que me mais me surpreendeu: Arlo Parks.
Arlo Parks – Collapsed In Sunbeams
Género: Neo Soul/Bedroom Pop
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O álbum de estreia de Arlo Parks (nome pelo qual Anaïs Marinho é conhecida profissionalmente) tornou-se num instant classic, adaptado a público de todas as idades, com a capacidade de se tornar intemporal. Um ótimo arranque que vem provar que estavam corretos todos aqueles que depositaram confiança nas capacidades da cantora enquanto songwriter.
Anaïs aborda temas sensíveis enquanto mantém a a sua música acessível ao público geral, num álbum introspetivo e com uma boa carga de reflexão. Após algum tempo a lançar singles, Arlo Parks subiu bastante a fasquia com este álbum. E nós cá estaremos para o que aí virá desta carreira promissora.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
- Hope
- Caroline
- Black Dog
- Just Go
- Eugene
Bicep – Isles
Género: Electronic
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Diretamente da Irlanda do Norte, surge um álbum que está a gerar algum discussão, produzido pela dupla que forma Bicep, Andrew Ferguson e Matthew McBriar.
Sabendo que a estreia deste duo foi bastante promissora, todas as atenções dos fãs estavam viradas para este álbum. E pode-se dizer que não desiludiu!
Isles é, como a capa do álbum indica, uma produção colorida, com sonoridades e batidas que rapidamente se entranham no ouvido, espalhando-se pelo corpo através de ondas de impulsos elétricos ao longo do sistema nervoso e se recusam a sair deste ciclo infindável de produção de serotonina.
Este álbum funciona melhor quando desconstruído em faixas do que como um álbum em si, mas os temas que valem a pena são realmente incríveis.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Atlas
- Apricots
- Saku (ft. Clara La San)
- Rever (ft. Julia Kent)
Celeste – Not Your Muse
Género: Soul/R&B
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Not Your Muse está recheado de músicas cheias de soul, com a capacidade de cativar facilmente. No entanto, peca por ser extenso demais, com alguma falta de critério nas músicas selecionadas para o integrar, diluindo um pouco o que o torna tão especial.
Ainda assim, é, no geral, um bom álbum de uma artista que veio para ficar e promete bastante, dada a sua capacidade de produzir melodias belíssimas, acompanhadas de uma voz densa e cativante. O facto de, neste álbum de estreia, ter conseguido faixas tão especiais sem grande esforço, só justifica ainda mais as expectativas que coloco nela.
Classificação do álbum: ★★★½
Músicas a ouvir:
- Tonight Tonight
- Stop This Flames
- Some Goodbyes Come With Hellos
- Strange
- In The Summer of My Life
Goat Girl – On All Fours
Género: Post-Punk
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On All Fours é o primeiro grande álbum do ano (dentro do punk), produzido por este quarteto que se dá pelo nome de Goat Girl e cuja evolução sonora desde o álbum de estreia se traduz em “sucesso”.
Ainda que não acredite que seja um álbum destinado às massas ou de consumo rápido, com a devida atenção de quem o está a ouvir, fica melhor a cada rodagem.
Esta produção de Goat Girl é a primeira estrela no currículo da banda e, mesmo que não reinvente a roda, vem dar um novo fulgor ao Post-Punk Revival com harmonias refinadas e bastante equilibradas que a fazem rodar de forma constante, sem devaneios a destoar da missão do álbum.
Costuma haver muita superstição com o número 13, mas as 13 faixas deste álbum são tudo menos produto de má fortuna.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Pest
- Badibaba
- P.T.S.Tea
- Sad Cowboy
- Anxiety Feels
- Bang
Jazmine Sullivan – Heaux Tales
Género: R&B/Hip-Hop
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A ascensão meteórica de Jazmine Sullivan já não é segredo para ninguém, muito menos depois de ter atuado no início do Super Bowl LV.
Ainda que a cantora norte-americana encare Heaux Tales como um género de EP, este tem mais ar de álbum que muitos outros que são lançados semanalmente. Heaux Tales é, como o nome indica, uma coletânea de contos da autoria de Jazmine, que tem uma capacidade admirável de storytelling.
Foram desenvolvidas personagens e cenários que, sem grandes adereços, tornam este trabalho em algo poético, capaz de transparecer todo o significado e simbolismo que a cantora lhe quis dar.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
- Pick Up Your Feelings
- Put It Down
- The Other Side
- Girl Like Me (ft. H.E.R.)
Rhye – Home
Género: Dance/Electronic
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Quase oito anos depois do lançamento do aclamado single “Open”, Rhye (nome do projeto de Mike Milosh) mantém toda a consistência e harmonia de início de carreira, o que é algum bastante positivo. E apesar deste Home já se aproximar um pouco do estatuto de “Pop album”, mantém algo que o torna especial: as ligações do cantor canadiano às suas raízes. Não há nada mais importante na indústria musical que a identidade e integridade artística.
Em 2018, tive o privilégio de assistir a um concerto de Rhye no NOS Primavera Sound, bastante prazeroso na altura. Com estas novas músicas, adicionadas ao repertório, tenho a certeza que o próximo que tiver oportunidade de assistir ainda será ainda mais especial. Ainda assim, sou da opinião que este álbum poderia estar melhor caso tivesse o devido tempo para maturar, embora esteja claramente superior aos últimos dois.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Come In Closer
- Beautiful
- Safeword
- Helpless
- Black Rain
Shame – Drunk Tank Pink
Género: Punk Rock/Post-Punk
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Vindos diretamente da Grã-Bretanha, esta banda de Post-Punk já havia avisado em 2018 sobre as suas intenções que conquistar o seu lugar ao sol no panorama Punk apesar da presença forte de Idles e Fontaines D.C.. Este ano, o grupo volta a dar cartas nesse sentido, reforçando a sua presença.
Pode-se dizer que o “Punk is not dead”, muito pelo contrário, visto que os Shame dão ar da sua graça num álbum que dá o correto uso ao Punk. Isto é, o Punk nasceu em garagens com o objetivo de contrariar o mainstream, sendo que a missão passava sobretudo em passar uma mensagem forte (muitas vezes polémica).
No final dos anos 90, o mundo pareceu começar a deixar de precisar do género musical, vivendo numa utopia colorida toldada pelo R&B, Folk e Pop. Com o panorama atual, a mensagem trazida pelo Punk Rock volta a ser uma necessidade e o álbum Drunk Tank Pink surge, nestes tempos conturbados, para colmatar essa necessidade.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
- Alphabet
- Nigel Hitter
- Water In a Well
- Snow Day
- Human, For A Minute
Still Corners – The Last Exit
Género: Dream Pop/Desert Noir
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Um álbum perfeito para relaxar e para momentos de introspeção, graças à sonoridade cósmica que acarta. Enquanto a maioria das músicas são dotadas de um som muito único, das quais a “Bad Town” capta o género Desert Noir no seu esplendor máximo de beleza, “A Kiss Before Dying” traz recordações do som de The XX.
A verdade é que The Last Exit é um álbum consistente, constantemente a arranhar o topo e a superar-se a si próprio. Um ponto forte é a capacidade representativa da cultura western em muitos momentos, naquele que é, sem dúvida, um disco perfeito para uma longa viagem de carro ao cair da noite. Nem a propósito, “White Sands” foi, de todas, a minha parte preferida da viagem.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Crying
- White Sands
- Mystery Road
- Bad Town
- Static
Weezer – Ok Human
Género: Pop Rock/Baroque Pop
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Os velhinhos Weezer desistiram de tentar recriar o produto que os levou ao auge há 20 anos e, atualmente, estão apenas a divertir-se sem compromissos. Houve uma grande aproximação da vertente Pop e a música não está tão refinada como seria de esperar (principalmente no que toca a escrita), mas houve uma melhoria face aos álbuns anteriores, de onde já não sai nada de jeito desde Everything Will Be Alright In the End (2014). E enquanto não é o produto com mais profundidade musical da banda, OK Human é melhor que muito pop mainstream que por aí anda, ficando com facilidade no ouvido. No fim de contas, é um bom álbum para entreter.
Classificação do álbum: ★★★½
Músicas a ouvir:
- All My Favorite Songs
- Aloo Gobi
- Numbers
- Playing My Piano
You Me At Six – Suckapunch
Género: Alternative Rock/Post Hardcore
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É irónico como os You Me At Six conseguem num álbum, de forma tão simples, a proeza que os Imagine Dragons andam a tentar fazer (e a falhar) há quase 10 anos. Lançar músicas com letras desafiantes e melodias poderosas, tendo como base um Rock híbrido. Neste álbum, somos presenteados com sons refrescantes e eletrizantes influenciados por traços de música eletrónica, econando com uma naturalidade admirável.
Depois de, seguramente, ter ouvido Suckapunch mais de 20 vezes, a sensação que fica é que a banda de Rock moderno britânica está, ao 7º álbum, no seu auge a nível de ideias.
Conclusão final? Temos aqui um álbum potente!
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
- Beautiful Way
- Kill The Mood
- Glasgow
- Adrenaline
- What’s It Like
Embora janeiro seja sempre um mês com poucos lançamentos a nível musical, este ano arrancou melhor que 2020. Veremos se em fevereiro a tendência se mantém.