Crítica – The Fall Guy

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The Fall Guy emerge como uma ode apaixonada aos corajosos e audazes duplos, durante tantas décadas negligenciados pela indústria cinematográfica.

Durante a última década, muito se discutiu sobre o departamento de duplos e o quanto as pessoas corajosas e talentosas que trabalham nesta área merecem mais reconhecimento na indústria. Desde vários movimentos para a criação da categoria respetiva em diversas cerimónias de prémios – infelizmente, os Óscares mantêm-se teimosos – a uma mudança de paradigma clara no género de ação – hoje em dia, quase que é obrigatório uma obra de ação possuir uma longa sequencia sem cortes -, os duplos têm sido mais valorizados a cada ano que passa, pelo que seria de esperar um filme que lhes prestasse a homenagem devida.

Com uma das vozes mais influentes do mundo das acrobacias e dos duplos ao comando, David Leitch (Deadpool 2), The Fall Guy é uma verdadeira carta de amor a um departamento frequentemente ignorado pela audiência geral. Num misto de mistério, amor e ação, Colt Seavers (Ryan Gosling), um duplo de cinema, regressa ao trabalho após um incidente que quase terminou com a sua carreira. Enquanto demonstra o seu talento inato para levar com tiros, murros, explosões e ser atirado através de janelas e prédios altos, Colt tenta também reconquistar o amor da sua vida, Jody (Emily Blunt), realizadora do filme em que participa, assim como resolver uma conspiração que envolve o ator principal, Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson).

É impossível não começar pelas acrobacias realizadas em The Fall Guy. Primeiro, porque Logan Holladay, um dos vários duplos de Gosling (Barbie) neste filme, quebrou o Guinness World Record de mais capotagens num carro – 8.5 voltas (!) – e, só por isto, já merece que muitos espetadores paguem o bilhete para ver a obra em IMAX. Segundo, porque Leitch não só evita ao máximo o uso de efeitos visuais, criando inúmeras sequências práticas e realistas, como a vasta maioria das cenas com mais trabalho de CGI possuem um contexto cómico propositado. E terceiro, o facto da premissa narrativa gerar um ambiente de filme-dentro-de-outro-filme leva a que o público possa assistir aos bastidores e à preparação meticulosa, nervosa e intensa das inúmeras acrobacias executadas na obra e em Metalstorm, o título do filme que a personagem de Blunt (Oppenheimer) realiza.

Em certos momentos, The Fall Guy vira um quase-documentário sobre a experiência de um duplo num projeto cinematográfico. O argumento de Drew Pearce (Hobbs & Shaw) brilha quando se foca em homenagear os homens e mulheres que arriscam as suas vidas todos os dias várias vezes para executar sequências insanas apenas e só para oferecer a melhor cena possível ao filme. Seja passar ao lado de explosões temporizadas ao milésimo de segundo, ser atiçado com fogo e atirado contra uma parede infinitas vezes, ou saltar de um helicóptero para um insuflável gigante – que acredito não parecer tão gigante assim visto de cima -, poder assistir a estes momentos e muitos mais tanto por detrás da câmara como a ‘versão de cinema’ tem tanto de entretenimento como de estupefação genuína.

Sendo assim, se o objetivo for ir ao cinema em busca de um filme que ofereça ação impressionante de forma constante, The Fall Guy ultrapassa tranquilamente essa expetativa. Se também desejarem uma componente cómica e divertida, Gosling e Blunt possuem uma química palpável que leva a imensos momentos românticos, mas ainda mais hilariantes. Neste último aspeto, o ator interpreta um personagem que permite uma maior improvisação e nível de exagero forçado que lhe assenta incrivelmente bem, levando a vários diálogos e até sequências de ação de deixar uma sala de cinema inteira a chorar de tanta gargalhada. São dois atores que simplesmente não são capazes de entregar más prestações.

The Fall Guy deixa também uma mensagem claríssima para a indústria sobre o envolvimento indevido de produtores e estúdios na liberdade criativa dos cineastas, assim como o comportamento tóxico de super-estrela atribuído a alguns atores. Apesar de considerar que o argumento de Pearce peca por algum cuidado na generalização de tal ponto temático, é uma linha narrativa que se mantém caraterizada pelo contexto leve e bem-humorado que marca o resto da obra, pelo que só se sentirá ofendido a quem realmente servir a carapuça. Afinal de contas, é uma história sobre segundas oportunidades, auto-confiança e valorização de todos os elementos que contribuem para a criação de um filme.

Ironicamente, The Fall Guy goza com o único problema que possui, provavelmente de propósito de forma a tentar diminuir o impacto negativo do mesmo. Com múltiplas linhas narrativas impactantes e importantes de se seguir, é fácil perder a atenção dos espetadores com tanto a acontecer no grande ecrã e a verdade é que, pessoalmente, senti imediatamente a diferença nos níveis de interesse sempre que se transitava de personagens e/ou enredos cativantes para outros mais guiados por exposição formulaica e pouca ou nenhuma conexão emocional.

Tecnicamente, em adição à cinematografia inerentemente fantástica de Jonathan Sela (Bullet Train) – sem o cuidado da câmara em oferecer o ‘palco’ às acrobacias, estas seriam ofuscadas – a banda sonora de Dominic Lewis (Violent Night) destaca-se pela adrenalina empregue nas sequências de ação e, principalmente, pelas escolhas musicais cujas letras contêm camadas dramáticas e cómicas extremamente eficientes.

VEREDITO

The Fall Guy emerge como uma ode apaixonada aos corajosos e audazes duplos, durante tantas décadas negligenciados pela indústria cinematográfica. David Leitch oferece uma experiência repleta de ação, comédia, romance e mistério, destacando-se pelas impressionantes proezas físicas realizadas pelo departamento de duplos, maioritariamente sem o auxílio de efeitos visuais. É uma homenagem necessária a quem arrisca a sua vida diariamente para elevar o poder de entretenimento do cinema. Embora ocasionalmente perca o foco devido a múltiplas linhas narrativas, a obra transmite uma mensagem clara sobre a importância da liberdade criativa e do respeito por todos os envolvidos na realização de um filme. Com performances carismáticas de Ryan Gosling e Emily Blunt, assim como uma banda sonora energética de Dominic Lewis, esta celebração do cinema e do trabalho árduo por trás das câmaras é uma das sessões IMAX obrigatórias deste ano.

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