O que não significa que tenham de ser obrigatoriamente os melhores filmes do ano.
Pessoalmente, as notas são o detalhe menos relevante ao fazer a minha lista. Em vez disso, baseio-me noutros critérios quando o meu coração não permite decidir: valor de repetição, entretenimento geral, o quão memorável é… A resposta para “o quanto desejo assistir a este filme novamente?” é, na maioria das vezes, o fator decisivo quando não consigo encontrar nenhum outro aspeto para me ajudar a tomar uma decisão final. Logo, não se surpreendam se observarem um filme com maior classificação debaixo de outro com menor.
Afinal de contas, é a MINHA lista. As MINHAS preferências pessoais em relação ao género, entretenimento e qualidade. O meu #1 não necessita obrigatoriamente de ser o melhor filme do ano. Pode ser simplesmente especial para mim e só esta razão é suficiente para garantir um lugar mais alto na minha lista do que outros filmes admitidamente “melhores”.
Primeiro, partilharei algumas menções honrosas (filmes que quase conseguiram entrar) e, depois, o meu Top 15. Aproveitem e lembrem-se: adoro todos os filmes que abordo aqui. Um filme ficar um lugar acima de outro não significa que seja melhor.
Também vale recordar que apesar de assistir a centenas de filmes por ano, é quase impossível ver literalmente tudo, o que significa que posso ter perdido algumas preciosidades ou até mesmo filmes muito aguardados que ainda não foram lançados onde vivo (Past Lives e Anatomy of a Fall, por exemplo).
Menções Honrosas:
- Fair Play
- One Life
- No One Will Save You
- Talk to Me
- Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One
- John Wick: Chapter 4
- Missing
- All of us Strangers
15. The Super Mario Bros. Movie
The Super Mario Bros. Movie entrega tudo aquilo que queria. Carregado de referências de encher o coração de quem viveu e ainda vive com a Nintendo e Mario de perto, estas fazem parte da ação energética, da animação e world-building deslumbrantes e ainda da música icónica – a banda sonora de Brian Tyler vai direta para a lista pessoal do Spotify. Mario e companhia marcaram a minha infância e, ainda hoje, continuam a oferecer-me memórias para a vida.
Enquanto espetador claramente pertencente ao público-alvo, não podia ter saído do cinema mais contente. Ya-hoo!
14. Guardians of the Galaxy Vol. 3
Guardians of the Galaxy Vol. 3 é uma “despedida” emotiva ao percurso de James Gunn e aos seus Guardians. O enredo agridoce de Rocket é a alma, coração e motor do melhor filme da MCU desde Spider-Man: No Way Home.
Visualmente deslumbrante com efeitos especiais excecionais. Banda sonora e músicas não podiam ser mais perfeitamente adequadas. Prestações soberbas desde os protagonistas aos cameos. Balanço entre drama e comédia melhor que no antecessor e entretenimento para dar e vender. Alguns problemas menores fazem com que a obra original se mantenha a minha favorita, mas era difícil entregar uma conclusão mais satisfatória desta trilogia tão apreciada.
13. Society of the Snow
Society of the Snow solidifica, sem qualquer dúvida, o estatuto de J.A. Bayona como um realizador injustamente subestimado. Uma das histórias de sobrevivência mais inacreditáveis e angustiantes de sempre é recriada através de um elenco verdadeiramente notável, uma cinematografia deslumbrante que capta as paisagens impressionantes mas traiçoeiras, uma banda sonora profundamente comovente que toca no fundo do coração e um despenhamento aéreo como nunca antes visto. A convergência destes elementos transforma uma peça de sobrevivência admitidamente previsível numa experiência visceral e emocionalmente ressonante, instigando o público a refletir sobre os temas cuidadosamente abordados de resiliência humana, crenças e perseverança.
Imperdível, especialmente no grande ecrã se possível.
12. Knock at the Cabin
Knock at the Cabin marca o regresso em grande de M. Night Shyamalan, com possivelmente a sua melhor obra do mesmo desde Signs! Aproveitando as prestações soberbas de um elenco liderado por um Dave Bautista fenomenal, o cineasta explora a complexidade emocional presente em dilemas morais profundos do ser humano quando confrontado com decisões de vida ou morte. Foco total numa só localização com cinematografia persistente e produção sonora imersiva, gerando uma atmosfera carregada de tensão excruciante.
Extraordinariamente hipnotizante de início ao fim. Nasceu o próximo clássico de culto.
11. Maestro
Maestro supera as expetativas, ao certificar Bradley Cooper como um cineasta com talento nato, tal como Leonard Bernstein, aqui representado brilhantemente. Uma biopic inspiradora com foco num romance exponencialmente cativante elevado por prestações emocionalmente genuínas recheadas de interações intensamente autênticas. Carey Mulligan junta-se ao ator/realizador na corrida aos prémios com uma performance arrebatadora de provocar lágrimas até em espetadores menos sensíveis.
Tecnicamente sublime, sendo que a música do maestro provoca imensos arrepios ao longo de uma história sobre amor, família, paixão artística e todos os obstáculos e dilemas que advêm dos mesmos.
10. Spider-Man: Across the Spider-Verse
Spider-Man: Across the Spider-Verse é o epítome de animação incrivelmente detalhada, belissimamente única e inegavelmente épica dentro deste meio. Não importa a opinião sobre o filme em si, todos os cinéfilos devem fazer uma vénia aos artistas e animadores ridiculamente talentosos por detrás desta pura obra de arte. Dito isto, os atributos e defeitos são praticamente os mesmos do original.
Os vários estilos de animação chegam a ser avassaladoramente deslumbrantes, mas também ao ponto de criarem momentos mais confusos. Gwen Stacy destaca-se do resto do grupo – tanto a personagem como Hailee Steinfeld -, mas todos os que aparecem no grande ecrã são impressionantemente cativantes. Elenco de voz é soberbo de uma ponta à outra. Uma história inacabada – relembrem-se, esta é a primeira de duas partes – sobre o que realmente significa ser um herói. As 2h20 não se sentem propriamente, mas a necessidade de recorrer a cenas de exposição é mais frequente que no filme anterior, apesar da complexidade narrativa o justificar.
9. Are You There God? It’s Me, Margaret
Are You There God? It’s Me, Margaret destaca-se como um triunfo no que toca a histórias coming-of-age. A recusa em evitar assuntos sensíveis, aliada a prestações brilhantes e a um argumento meticulosamente elaborado, resulta numa narrativa que não só entretém com humor perspicaz, mas também ressoa num nível profundamente pessoal. É um testemunho do compromisso de Kelly Fremon Craig com a autenticidade e narrativa que transcende as fronteiras da idade e género.
Uma representação comovente e relacionável das complexidades da adolescência, deixando uma impressão duradoura na sua audiência.
8. Elemental
Elemental pode ser simples e previsível, mas é tão tematicamente rico e apresenta personagens tão emocionalmente relacionáveis que, no fim, encontrei-me a lutar contra as lágrimas. Uma história de amor “inter-elemento” visualmente deslumbrante misturada com uma jornada bonita de auto-descoberta. O world-building notável volta a ser um destaque, assim como os inúmeros detalhes visuais excecionalmente informativos sobre a interação entre os diferentes elementos. Emigração, discriminação e ideais familiares são alguns dos vários temas essenciais abordados. Não entendo as críticas em redor da suposta “queda da Pixar”.
Vou continuar a desfrutar destas histórias e recomendo que os espetadores tentem fazer o mesmo, sem se preocuparem com a comparação incessante com o passado.
7. Godzilla Minus One
Godzilla Minus One atinge um equilíbrio excecional entre a construção envolvente de personagens, uma narrativa tematicamente rica e duas horas de entretenimento gigantesco, tornando-se ultimamente uma adição notável ao subgénero de filmes de monstros. A obra quebra as barreiras formulaicas dos filmes genéricos de criaturas, entregando uma história complexa que explora temas de redenção, perdão e as consequências da guerra. A banda sonora memorável, a produção sonora poderosa e os visuais imaculados contribuem para uma experiência cinemática emocionante e imersiva.
As ocasionais inclinações para o melodrama pouco afetam o impacto geral de um filme que, sem dúvida, conquistou o seu lugar no topo da respetiva franquia.
6. Barbie
Barbie é hilariantemente meta, recheado de números musicais espetaculares e engraçados engraçados e com um ótimo equilíbrio de tom entre os momentos de comédia exagerada e o comentário social rico e estimulante. Inevitáveis nomeações e prémios a caminho da brilhantemente colorida produção artística, guarda-roupa e maquilhagem.
A narrativa de Greta Gerwig e Noah Baumbach surpreendentemente aborda temas bastante sérios, desde tópicos político-sociais como patriarquia e assédio sexual a questões sobre crises existenciais, identidade pessoal, amor próprio e, claro, os papéis da mulher e do homem na sociedade. Margot Robbie estava destinada a interpretar Barbie, tal como Ryan Gosling nasceu com Kenergia nas veias. Absolutamente fantásticos, tal como o resto do elenco de Barbies e Kens.
5. The Zone of Interest
The Zone of Interest é uma das obras mais memoráveis e marcantes dos últimos anos. Jonathan Glazer consegue um dissociação fascinante entre o tom geral do filme e as ações mundanas da família protagonista, retratando a apatia global inacreditavelmente chocante perante o maior crime da história da humanidade. Uma adaptação cinematográfica extremamente complicada de se assistir, excruciantemente frustrante, recheada de emoções negativas e pouco acessível para o público geral.
A cinematografia atmosférica e estática, juntamente com a banda sonora poderosa e principalmente a produção sonora de atormentar qualquer espetador, justificam o uso do termo “obra-prima” para descrever o filme tecnicamente. Mas mais importante do que discutir tecnicismos e os temas abordados, é aprender com os erros do passado que teimam em desaparecer…
4. Killers of the Flower Moon
Killers of the Flower Moon é uma notável proeza cinematográfica do mestre Martin Scorsese, com contribuições excecionais de Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, bem como uma prestação impressionante e reveladora de Lily Gladstone. Uma narrativa angustiante promove uma reflexão profunda e comovente sobre o passado e o presente da humanidade. Tecnicamente, todos os departamentos brilham, mas a montagem de Thelma Schoonmaker é simplesmente perfeita. O compromisso com a autenticidade e o uso da língua Osage são caraterísticas adicionais louváveis. A sequência final é uma das conclusões mais poderosas dos últimos anos, um comentário memorável e instigante sobre a dessensibilização do entretenimento moderno.
Visualização obrigatória!
3. Oppenheimer
Oppenheimer é uma verdadeira masterclass de como construir tensão e suspense intensos através de diálogo rápido e detalhado, uma produção sonora extremamente poderosa e uma banda sonora de Ludwig Göransson igualmente explosiva. Sem palavras para a cinematografia belíssima de Hoyte van Hoytema. Uma história angustiante, perturbadora, traumática e genuinamente assustadora sobre como a obsessão de um homem e o poder da política mudaram o mundo. Cillian Murphy, Robert Downey Jr. e Emily Blunt dificilmente falham qualquer cerimónia de prémios… absolutamente soberbos, assim como o resto do elenco excecional.
Ritmo, estrutura e duração do filme, para além do formato quasi-documentário e complexidade narrativa, fazem desta obra uma visualização difícil e pesada que, com certeza, deixará uma parte do público desiludida, aborrecida ou simplesmente cansada. Justifica o uso da expressão “não é para todos”.
2. The Holdovers
The Holdovers deixou-me completamente incrédulo com o quão completo, intrigante, hilariante e emocionalmente poderoso se vai tornando a cada minuto que passa. Um argumento de David Hemingson surpreendentemente perfeito, exponencialmente atacando o coração dos espetadores através de um estudo verdadeiramente profundo e agridoce sobre a necessidade vital de conexão humana. Protagonistas retratados brilhantemente como pessoas reais e interpretados de forma soberba por um elenco merecedor de campanha séria para a temporada de prémios. Adicione-se um balanço tonal notável e execução exímia de Alexander Payne, e eis que surge um novo clássico de Natal.
1. Poor Things
Poor Things foi o meu filme favorito do ano, e também o favorito pessoal da carreira de Yorgos Lanthimos. Um argumento cheio de substância brilhantemente provocante e altamente hilariante focado numa jornada de auto-descoberta fascinante preenchida por camadas tematicamente ricas. Prestações estupendas por parte de todo o elenco, mas Emma Stone é uma força de expressividade impressionante que deverá arrecadar muitos prémios.
Uma masterclass técnica por parte de todos os departamentos coloca a cereja no topo do bolo praticamente perfeito.