Crítica – Guardians of the Galaxy Vol. 3

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Guardians of the Galaxy Vol. 3 é uma “despedida” emotiva ao percurso de James Gunn e aos seus Guardians.

Eis que chegamos ao 32° filme da MCU e ao fim da trilogia iniciada em 2014 por James Gunn, Guardians of the Galaxy. A franquia da Marvel tem vindo a levantar vários debates sobre quantidade vs. qualidade, mas a verdade é que a vasta maioria dos seus projetos continuam a ser bem recebidos tanto pelo público geral como por críticos. Dito isto, Guardians of the Galaxy Vol. 3 é das obras mais antecipadas desta nova saga e pode servir para revitalizar o entusiasmo de fãs mais desiludidos com as últimas apostas. Pessoalmente, fortaleceu ainda mais a minha paixão pelo universo cinemático.

A maioria dos espetadores não lê bandas desenha, pelo que quando saiu o primeiro Guardians of the Galaxy, ninguém esperava nenhuma obra-prima devido ao desconhecimento total dos heróis respetivos. Gunn trouxe aquilo que claramente é um projeto pessoal para a MCU e a verdade é que, 15 anos depois do início da mesma, o filme original mantém-se como um dos favoritos pessoais de muitos fãs da franquia, incluindo eu próprio. Já a sequela de 2017 abusa do humor que funciona na perfeição no antecessor e perde algum do balanço praticamente perfeito, apesar de ser uma história altamente satisfatória e repleta de entretenimento.

Sendo assim, Guardians of the Galaxy Vol. 3 leva aos ombros uma carga bem pesada. Por um lado, Gunn vai iniciar o seu percurso na DC, pelo que este será o último filme com o cineasta e os seus Guardians, logo é necessário fechar inúmeros arcos de personagem. Por outro lado, apesar de me encontrar do lado positivo com a Phase Four, admito que a MCU necessita daquela “bomba” de agradar a todo o tipo de audiências, logo Gunn tem de entregar um filme verdadeiramente impactante e que deixe os espetadores completamente rendidos.

Respondendo de forma curta e direta, Guardians of the Galaxy Vol. 3 dificilmente seria uma conclusão melhor para esta trilogia que agora se torna numa das mais completas e eficientemente contadas da MCU, apesar de conter alguns problemas menores. Costumo referir que os dois pilares do cinema são história e personagens. Os maiores elogios que tenho para oferecer a Gunn e companhia encontram-se precisamente relacionados com estes dois elementos de narrativa. É genuinamente notável como todos os Guardians conseguem receber uma atenção tão detalhada e cuidada ao ponto de cada um parecer ser o protagonista em determinadas fases do tempo de execução.

guardians of the galaxy vol 3 echo boomer 2

Guardians of the Galaxy Vol. 3 explora as motivações, desejos, dependências, traumas e arrependimentos dos heróis principais, sendo que a alma, coração e motor da narrativa é o passado triste, doloroso e trágico de Rocket (Bradley Cooper). Através de flashbacks, os espetadores vão acompanhando as origens daquele que Gunn sempre considerou o protagonista da trilogia e, após este filme, percebem-se agora muitas das declarações passadas do cineasta. Cooper (Nightmare Alley) volta a oferecer a sua voz incrível a Rocket – o ator é completamente irreconhecível -, mas são os visuais em volta do personagem que me deixam sem palavras.

Com os orçamentos elevados que a Marvel costuma ter, é de esperar um mínimo de qualidade na área dos efeitos visuais, mas Guardians of the Galaxy Vol. 3 é um exemplo fantástico de como misturar efeitos práticos com CGI pode produzir resultados extraordinários. Nestes flashbacks de Rocket, praticamente tudo no ecrã é criado digitalmente, mas o realismo é tal que alguns momentos mais negros do filme chegam a ser verdadeiramente perturbadores e facilmente emocionarão espetadores amantes de animais – de tal forma que o rating PG-13 é bastante puxado. Esforço excecional dos artistas de efeitos especiais, que merecem todo o crédito.

Voltando aos arcos de personagem, Peter Quill/Star-Lord (Chris Pratt) continua a lidar com a perda da “sua” Gamora (Zoe Saldana), mas contrariamente às presenças em outras obras, a abordagem a esta linha narrativa é mais séria, algo que demonstra o quanto Gunn se importa com os seus Guardians. O balanço entre comédia e drama volta ao equilíbrio da obra original, fazendo com que as piadas em menor número sejam ainda mais eficientes, sendo que algumas provocam gargalhadas bem audíveis. Quill e Gamora partilham um arco relacionado com os desafios em enfrentar um “novo mundo”.

Do lado de Quill, a vida nunca mais será a mesma sem o seu grande amor. Do lado de Gamora, esta tem literalmente de se adaptar a um universo inserido numa linha temporal diferente. Star-Lord atravessa as fases de luto conhecidas, ao passo que Gamora refugia-se naquilo que foi ensinada a acreditar, recusando quaisquer mudanças que impliquem uma nova interpretação da vida e de quem a rodeia. Guardians of the Galaxy Vol. 3 consegue desenvolver estes temas sem ceder a resoluções cliché que iriam, sem dúvidas, estragar muito daquilo que tinha sido construído nos últimos filmes.

Nebula (Karen Gillan), Mantis (Pom Klementieff), Drax (Dave Bautista) e Groot (Vin Diesel) podem não ter tanto tempo de ecrã como os anteriores, mas Gunn consegue alocar os holofotes principais a cada personagem em certos momentos da obra, permitindo a todos alturas para brilhar. Nebula sente-se cada vez mais próxima dos Guardians, criando laços familiares que enchem a personagem de emoções novas e positivas para a mesma. Mantis preserva a sua amizade bem-humorada com Drax, sendo que o duo continua a partilhar vários momentos memoráveis. E Groot… continua a crescer.

No entanto, Guardians of the Galaxy Vol. 3 deixa claro que praticamente todos desejam algo… novo. Uns querem assentar e criar uma comunidade de quem possam cuidar e proteger, outros gostavam de explorar ainda mais o vasto universo cheio de aventuras. Uns possuem ambições individuais, outros acreditam que pertencem a um grupo. Sem spoilers, apenas posso constatar que Gunn consegue subverter as expetativas mais previsíveis da forma mais convincente e poderosa possível. Evita conclusões básicas ao mesmo tempo que coloca as personagens num rumo incerto, mas interessante.

guardians of the galaxy vol 3 echo boomer 3

Família e amizade são temas muito abrangentes, mas são claramente os tópicos que englobam todo o filme. Guardians of the Galaxy Vol. 3 aproveita a química enorme do elenco, transformando todas as interações cativantes, entretidas e inevitavelmente emotivas. Não se deixem iludir pelas minhas palavras, o filme contém mais do que suficientes sequências de ação, incluindo uma espetacular mistura de CGI e stunts numa montagem especial de forma a parecer um único take. A banda sonora de John Murphy (The Suicide Squad), juntamente com as escolhas musicais inesquecíveis desta saga, voltam igualmente a ter destaque.

No entanto, nem tudo é perfeito. O build-up excessivo para a introdução de Adam Warlock (Will Poulter) faz com que a personagem seja uma das maiores desilusões da obra. Desconheço a sua história nas comics, mas mesmo dentro da MCU, a sua adição ao elenco de personagens era altamente esperada por fãs. A verdade é que, em Guardians of the Galaxy Vol. 3, Warlock não é nada demais que um dispositivo para progredir o enredo, aparecendo e desaparecendo ocasionalmente para gerar caos. O personagem é extremamente subdesenvolvido, mas vale a pena referir que Poulter está isento de culpas.

Do lado do mal, High Evolutionary (Chukwudi Iwuji) também peca por maior originalidade e criatividade. No fundo, é uma espécie de Thanos e Ego com ambições de criar o mundo perfeito, mas para além da crueldade extrema com animais, é um vilão muito menos cativante e até intimidador que os mencionados. Iwuji entrega uma prestação propositadamente exagerada que nem sempre assenta bem. Em relação ao resto das personagens, Guardians of the Galaxy Vol. 3 apenas surpreende negativamente pelo facto de não utilizar a revelação feita no especial de Natal sobre Quill e Mantis serem irmãos, assim como um problema alcoólico de Quill que é esquecido tão depressa quanto é apresentado.

Finalmente, os flashbacks sobre o passado de Rocket são usados diversas vezes ao longo das duas horas e meia. A maioria surgem quando Rocket aparenta estar a recordar-se dos seus traumas, mas outros são inseridos em alturas questionáveis, quebrando a “regra” criada pelo início do filme. Guardians of the Galaxy Vol. 3 não sofre muito por isto, mas a partir de um certo momento, os flashbacks passam a ser usados exclusivamente como dispositivo narrativo ao invés de serem justificados por algum evento ou ação.

Felizmente, tudo isto são pormenores sem grande impacto na obra. Gunn despede-se da MCU com um Guardians of the Galaxy Vol. 3 que acredito que trará de volta aquela ânsia global pelo próximo filme da franchise. Se Kevin Feige e companhia conseguem aproveitar esta onda positiva deixada por Gunn ou não, é uma questão de esperar para ver. Para já, fica um obrigado a Gunn por três filmes memoráveis e que, com certeza, marcarão para sempre as carreiras de todos os envolvidos.


VEREDITO

Guardians of the Galaxy Vol. 3 é uma “despedida” emotiva ao percurso de James Gunn e aos seus Guardians. O enredo agridoce de Rocket é a alma, coração e motor do melhor filme da MCU desde Spider-Man: No Way Home.

Visualmente deslumbrante com efeitos especiais excecionais. Banda sonora e músicas não podiam ser mais perfeitamente adequadas. Prestações soberbas desde os protagonistas aos cameos. Balanço entre drama e comédia melhor que no antecessor e entretenimento para dar e vender. Alguns problemas menores fazem com que a obra original se mantenha a minha favorita, mas era difícil entregar uma conclusão mais satisfatória desta trilogia tão apreciada.

Um aviso final para amantes de animais que poderão sentir mais dificuldades em desfrutar de um filme com tanta violência animal.

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