Tarde e a más horas, mas estou certo que muitos dos álbuns do mês de maio vão marcar 2022 pela positiva.
Nunca fiquei tão para trás desde maio de 2020, mas para tudo há um bom motivo. A razão para o atraso deste lançamento de essenciais? Música, no seu mais puro estado.
Desde que lancei o último artigo com os essenciais de abril, fui ver Kae Tempest e The Weather Station à Sala M.Ou.Co; The National, Liam Gallagher e Muse ao Rock In Rio; The Avalanches ao Hard Club e ainda passei três dias pelo Primavera Sound, onde pude ver muitos dos artistas sobre os quais já escrevi, tais como Nick Cave & The Bad Seeds, Tame Impala, Rina Sawayama, Helado Negro, Dinosaur Jr., Gorillaz, Dry Cleaning, Grimes, Little Simz, Earl Sweatshirt, entre outros.
Esta semana há NOS Alive e vou ter outros quantos para ver e mais para escrever. Posto isto, chega de adiar e embora lá tratar deste artigo de uma vez por todas!
Bad Bunny – Un Verano Sin Ti
Género: Reggaeton/Caribbean
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Desde o álbum X 100PRE, em 2018, que Bad Bunny se assumiu como a referência da música latina, mais concretamente no Reggaeton, pelo excelente trabalho que fez a revolucioná-lo.
Un Verano Sin Ti, musicalmente, reflete a capa do álbum num misto de uma panóplia de cores que advém de todos os elementos e géneros com quais o raggaeton se mistura, mais concretamente géneros típicos das Caraíbas, tais como reggae, bomba, Dominican dembow, Dominican mambo e bachata.
Apesar de YHLTQMDLG, álbum que entrou numa das minhas seleções de álbuns essenciais em 2020, ter surpreendido, tornando-se um dos melhores do ano para muitos meios, dois anos volveram e Bad Bunny, sem fazer muito esforço, conseguiu um trabalho igualmente bom.
Desta vez, Bad Bunny criou um álbum mais sazonal. Perfeito para o calor que começa a escalar por esta altura do ano e que pode muito bem ser o álbum de referência do verão de 2022, deixando uma marca tão profunda que, nos anos que se seguem, poderão haver músicas a tornarem-se eternizadas nas playlists dedicadas aos dias mais quentes.
Se vos agradar o que Bad Bunny tem para oferecer com Un Verano Sin Ti, estão com sorte, porque este conta 23 músicas que se estendem ao longo de 1 hora e 23 minutos – mais do que suficiente para cobrir um período de tempo considerável em qualquer festa de verão.
Quero aproveitar para fazer referência a “Neverita”, uma das músicas do álbum que, a meu ver, se destaca por quão inventiva é na forma como mistura elementos e faz contraste entre bpm’s em três momentos que se repetem durante a música. Segundo fontes, em Barcelona é uma das músicas que tem passado com frequência em discotecas e bares.
Agora resta apreciar este ótimo álbum e esperar para ver o que Bad Bunny vai fazer a seguir. Uma coisa é certa: veio para ficar e já começou a conquistar o seu espaço no universo da música latina, do qual continua a roubar atenção e a aumentar a sua fatia de protagonismo.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Después de la Playa
> Me Porto Bonito (ft. Chencho Corleone)
> Yo No Soy Celoso
> Tarot (ft. Jhay Cortez)
> Neverita
> Ojitos Lindos (ft. Bomba Estéreo)
> Andrea (ft. Buscabulla)
> Callaita (ft. Rainy)
Dehd – Blue Skies
Género: Post-Punk/Indie Rock
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Os Dehd marcaram maio como o mês em que regressam completamente rejuvenescidos, num álbum que mostra um lado mais jovial da banda. Blue Skies segue uma direção idêntica a trabalhos anteriores, no que toca a género, com o Post-Punk como pano de fundo. Todavia, a abordagem que o pauta está mais próxima da vivacidade do indie rock.
Blue Skies é uma colectânea de ideias soltas, sentimentos e vontades que se misturam sem regra ao longo de 33 minutos, num álbum cheio de energia e ritmos de aquecer o coração e esboçar um sorriso. Tudo isto faz com que facilmente agrade a um público maior do que álbuns prévios.
Não creio que a banda tenha atingido todo o seu potencial, mas para lá caminham, agora com uma visão mais ampla e positiva.
Sem mais a acrescentar, “Do-oo-oo, woo-oo, blue skies!”
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Bad Love
> Clear
> Window
> Empty in my Mind
> Stars
Ethel Cain – Preacher’s Daughter
Género: Dream Pop/Ethereal Wave
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Após três anos com algumas produções mais curtas de onde provieram faixas como “Crush”, cujo ritmo pop mostrava um outro lado de Ethel Cain, eis que, por fim, surge o álbum de estreia da cantora norte-americana. E é tudo o que podíamos esperar, mas em dose extra.
Numa mistura entre a beleza do dream pop e a aspereza de ethereal wave, que conjuga mensagens românticas mais pesadas, com guitarradas de tonalidade obscura e linhas de baixo entre down e mid-tempo, gera-se um resultado final muito único.
Do dream pop de “American Teenager”, ao folk inteligentemente adicionado já no último pedaço de “Thoroughfare” que aborda uma passagem pelo Texas, passando pela intensidade da guitarra já perto do fim de “A House In Nebraska” e a profundidade expansiva do misto entre o choro da guitarra e a melodia eletrónica em “Gibson Girl”, o grande ponto de união entre todas as músicas é a capacidade lírica que Ethel Cain aquando da produção deste álbum, aos 23 anos de idade.
A escrita da artista é transparente, nua, explícita, sem filtros, recheada de conteúdo e construção sólida. Para além disso, a composição instrumental que a aconchega é inventiva, imprevisível e elaborada.
Diria que, apesar de à primeira rodagem, Preacher’s Daughter não ser um álbum fácil de absorver, ainda menos por ter um determinado estado de espírito associado, é uma produção muito boa.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> American Teenager
> A House In Nebraska
> Hard Times
> Thoroughfare
> Gibson Girl
> Strangers
Florence + The Machine – Dance Fever
Género: Baroque Pop/Folk
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A inconfundível Florence Welch voltou às luzes da ribalta e algo mudou. Pela primeira vez, há a sensação que conseguiu sacar um álbum equilibrado com os singles contidos nele.
Dance Fever faz justiça ao seu nome, em parte, não só pelo instrumental folclórico, mas também por letras tais como a de “Choreomania”, que fecha o arco de abertura do álbum – o mais animado e com ritmo jovial e acelerado. A partir daí, apesar de haver um abrandamento, nem por isso a sequência musical perde fulgor, surgindo músicas como “Dream Girl Evil”, “Heaven Is Here” ou “My Love”, que vão mantendo o equilíbrio ao longo de todo o álbum.
Por falar em letras, à semelhança de trabalhos anteriores, toda a escrita das músicas foram da autoria de Welch.
A artista regressa a Portugal para atuar no NOS Alive no dia 7 de julho, e eu lá estarei para dançar com ela.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> King
> Free
> Dream Girl Evil
> My Love
Harry Styles – Harry’s House
Género: Pop/Soft Rock
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Tenho vindo a acompanhar o trabalho de Harry Styles já há uns anos e tenho a dizer que estou a adorar a evolução e constante crescimento do artista britânico, sendo que, em 2017, até teve uma faixa na minha seleção de melhores do ano, proveniente do seu álbum de estreia.
Apesar disso, os álbuns do mesmo nunca estiveram ao nível dos singles que os compunham, até agora. Diria que Harry’s House é o melhor e mais completo álbum do artista, dado que há mais atenção ao detalhe, que inevitavelmente acaba por colocar quase todas as músicas ao mesmo nível, conferindo-lhes um potencial semelhante de virar single.
Noutra instância, este é também um trabalho mais íntimo e menos espetacular que Fine Line, conferindo ao artista uma flexibilidade e faceta que desconhecia que tinha, até à data.
Harry Styles está lançado para uma brilhante carreira a solo, num dos maiores casos de sucesso “pós-banda” desde Justin Timberlake.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Music For A Sushi Restaurant
> Late Night Talking
> As It Was
> Little Freak
> Satellite
Just Mustard – Heart Under
Género: Noise Rock/Post-Punk
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Quando ouvi este álbum pela primeira vez, foi na viagem noturna de regresso a casa, depois do concerto de Kae Tempest. Numa noite amena de bom tempo, vinha feliz e tranquilo, com a janela semi-aberta, que deixava passar o barulho suave do ambiente externo, misturado com uma brisa ligeira, e todos estes fatores se alinharam-se com a música deste álbum de tal forma que nem dei pelo tempo passar.
Foi um álbum que fez todo o sentido para a viagem em causa, pois o meu foco apenas se repartia entre chegar a casa e a audição desde álbum. A certa altura dei por mim a conduzir de forma automática, dado que vinha completamente absorvido pela música intensa e hipnotizante da banda irlandesa. Em Heart Under, segundo álbum dos Just Mustard, nota-se bem que eles sabem exatamente o que estão a fazer.
Esta abordagem musical não é para o ouvido de todos, estou certo, mas se estão interessados na experiência que tive, a minha sugestão é que ouçam este álbum num ambiente silencioso que vos permita estarem concentrados e, assim, conseguirem esmiuçar todo o valor instrumental contido nele, que tem uma densidade e intensidade como já não ouvia há muito.
Os Just Mustard já me tinha surpreendido em 2018 com Wednesday, de onde surgiu a espetacular faixa “Deaf” num papel pivotal. No entanto, este ano rebentaram todas as barreiras que talvez nem os fãs da banda sabiam que existiam, sacando uma obra-prima do meio de um barulho constante que funciona a totalmente a favor deste projeto.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> 23
> Still
> I Am You
> Sore
> Mirrors
Kendrick Lamar – Mr. Morale & The Big Steppers
Género: Rap/Conscious Hip-Hop
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Corria o ano de 2017 quando Kendrick Lamar, insaciável na produção de música, lançava o álbum que viria a cimentar o seu estatuto enquanto rapper de classe mundial. Pouco depois disso, entrou num hiato que se viria a prolongar mais do que o planeado, sobretudo por culpa da pandemia, sendo que Kendrick estava confirmado para o NOS Alive em 2020, mas só dois anos depois é que voltou efetivamente aos palcos, com um novo álbum: Mr. Morale & The Big Steppers.
Pessoalmente, considero o rapper norte-americano um dos melhores rappers dos últimos 10 anos. Isto porque apesar de, por vezes, parecer não se esforçar muito para produzir músicas mais folclóricas apropriadas para a rádio, como fazem Drake, A$AP Rocky, Big Sean ou Kanye West, tudo o que produz tem todo um processo brilhante por detrás, no qual nada é criado para servir de palha e este álbum não é exceção. Mas para fazer uma análise mais fiel a este álbum, é preciso olhar para trás e analisar todo o percurso de Kendrick.
Depois de vários anos a viver uma vida de excessos oriundos de todo o tempo que passou em tour pelo mundo fora, após ter explodido a nível de popularidade com Good Kid, M.A.A.D. City (que mostrou ao mundo o que é crescer em Compton), Kendrick sentiu que precisava de parar e refletir sobre o que de relevante o rodeava e reencontrar-se, agora como adulto.
Por via desse isolamento, onde pôde dedicar-se mais à família e à sua saúde mental, Kendrick pensou, ouviu e escreveu, dias a fim, muitos deles sem sequer pegar no telemóvel, como se de um retiro espiritual se tratasse. No fundo de todo este processo, Kendrick Lamar olhou para para si próprio e deu-nos um vislumbre da sua visão pessoal sobre temas como a infância, trauma geracional, infidelidade, responsabilidade, terapia, religião, identidade de género, parentesco, notícias falsas, pressão da fama e o cancelamento da cultura. Temas esses que se espalham ao longo de um álbum de 18 faixas, divididas em duas partes de nove.
A beleza de Mr. Morale & The Big Steppers é que é um álbum que se suporta na visão e opinião de um indivíduo. Coisa que poucas pessoas respeitam no presente atual, constituindo uma ameaça à sobriedade da sociedade que cada vez mais de parte em extremos opostos, por falta de compreensão, respeito e sensibilidade. Ao longo de 1 hora e 18 minutos, somos presenteados com isso mesmo, com uma visão e opinião e, quer concordemos ou não, há que respeitar. O que torna esta exposição tão pessoal e vulnerável de Kendrick importante e relevante é a forma como este suporta o que diz e explica o porquê de se sentir ou pensar de determinada forma, muitas vezes reflexões de momentos que viveu, coisa que pouca gente faz quando discute.
Depois, instrumentalmente há poucos rappers a produzir temas tão profundos com este nível de construção. Ainda que haja uma linha rítmica muito característica do rapper, usando o seu truque mais usual, este nunca deixa de surpreender, produzindo mais uma excelente peça de Hip-Hop consciente.
Apesar de não considerar esta a produção instrumental mais impactante de Kendrick Lamar, não deixa de ser excelente e não tenho problemas absolutamente nenhuns em atribuir nota máxima a Mr. Morale & The Big Steppers, por todo seu desempenho lírico, que é absolutamente fabuloso e bate todos os álbuns anteriores.
Não sei se já pensaram nisto, mas somos uns afortunados por poder apreciar a carreira de Kendrick Lamar em primeira mão. Porque rappers deste nível, aparece um por década, se tanto.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Untitled In Grief
> N95
> Die Hard (ft. Blxst & Amanda Reifer)
> Father Time (ft. Sampha)
> Count Me Out
> Silent Hill (ft. Kodak Black)
> Auntie Diaries
> Mother I Sober (ft. Beth Gibbons of Portishead)
> Mirror
Kevin Morby – This Is A Photograph
Género: Americana/Indie Folk
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Ao 7º ano consecutivo a lançar álbuns e com 10 álbuns em nome próprio, Kevin Morby conseguiu. This Is A Photograph é a obra prima da carreira do músico do Texas.
Tenho perfeita noção que é difícil produzir álbuns excelentes anualmente quando se lançam duas mãos cheias de álbuns em apenas 12 anos, mas ainda assim é possível constatar que Morby tem vindo a amadurecer de forma constante. Neste álbum nota-se a certeza e calma do artista, que não parece estar com pressa em chegar a lado nenhum, mas também não fica mais tempo do que o necessário, para se fazer ouvir alto e em bom som. Para além disso, é um álbum aconchegante, relevante e pensado, que traz a sensação que nada é forçado, expondo o quão profunda é a dimensão artística de Morby.
This Is A Photograph assume uma abordagem mais pausada do género americana, dotada de um instrumental épico e extremamente agradável, acompanhado de uma escrita honesta, dotada de introspeção e, por sua vez, aceitação.
O facto de Kevin Morby lançar álbuns com tanta frequência acaba por diluir um pouco a perceção que se tem relativamente à qualidade do artista, mas verdade seja dita: quem produz um álbum assim, tão bom e equilibrado, não o faz por sorte.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> This Is A Photograph
> Random Act Of Kindness
> Bittersweet, TN
> A Coat Of Butterflies
> Rock Bottom
Porridge Radio – Waterslide, Diving Board, Ladder To the Sky
Género: Indie Rock/Sadcore
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Waterslide, Diving Board, Ladder To The Sky segue o guião do seu predecessor, Every Bad (2020), contudo consegue apresentar uma faceta ligeiramente diferente da banda. Metaforicamente falando, ao invés de se tentarem reinventar, os Porridge Radio cresceram juntos, brotando numa nova ramificação proveniente da árvore que nasceu há dois anos. Ainda que essa árvore vá crescendo sem propósito definido, só é natural que cresça e, eventualmente, floresça e dê frutos, coisa que parece evidente tendo como exemplo prático os dois primeiros álbuns da jovem banda britânica.
O som da banda é único, mas isso não se deve unicamente ao instrumental desarrumado e caótico, até porque na realidade é Dana Margolin quem o pauta, controlando o rumo com a sua voz vulnerável e hipnotizante e o coração a arder, ditando para onde é para ir a seguir.
É certo que este álbum arde em fogo brando praticamente até ao seu desfecho (com “The Rip”), mas pouco deve ao álbum anterior, tendo uma série de músicas fortes e intensas que se vão sucedendo de uma ponta à outra.
Não tinha em mente ir ao Vodafone Paredes de Coura, local onde os Porridge Radio vão atuar em agosto, mas depois de Waterslide, Diving Board, Ladder To The Sky se juntar à playlist já composta por Every Bad, não posso negar que estou tentado.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Back To The Radio
> Birthday Party
> End Of Last Year
> Rotten
> U Can Be Happy It U Want To
> The Rip
Rolling Blackouts Coastal Fever – Endless Rooms
Género: Indie Rock/Jangle Pop
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Os Rolling Blackouts Coastal Fever devem ser uma das bandas de rock mais neutras da atualidade, na medida em que não há nada de mau a apontar, mas também não muito de espetacular a salientar. É como alguém disse e bem há pouco tempo: “Fazem o trabalho deles”.
E a verdade é mesmo essa, pois na sua curta carreira, a banda australiana sempre foi constante. Mesmo constando que há algumas diferenças que vão surgindo de álbum para álbum, inclusive na escrita, que aparenta ter ganho mais foco. Já instrumentalmente, mais concretamente com “The Way It Shatters”, há uma das maiores surpresas da banda, dado que é absolutamente eletrizante.
Resumindo e concluindo, Endless Rooms é um bom álbum, mas ainda não é “o álbum”. Em contrapartida, os rapazes de Melbourne acabaram de começar a sua caminhada num percurso que se espera ser longo e sorridente.
Os Rolling Blackouts C.F. estiveram presentes nesta edição do Primavera Sound no Porto, mas para infelicidade minha, o horário coincidiu a 100% com o da atuação de Beck. Porém, tenho a certeza que não vão faltar oportunidades para os ver ao vivo num futuro próximo.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Tidal River
> The Way It Shatters
> Caught Low
> My Echo
> Dive Deep
Sharon Van Etten – We’ve Been Going About This All Wrong
Género: Indie Rock/Indie Folk
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Sharon Van Etten é uma artista extremamente completa e, provavelmente, teve uma das evoluções que mais me surpreendeu dentro do indie rock, apesar ter iniciado a sua carreira já com estofo de alguém grande. Tudo o que prometeu cumpriu e, em 2019, chegou ao auge com o lançamento do álbum Remind Me Tomorrow, de onde saíram músicas célebres como “Comeback Kid”, “Jupiter 4” ou “Seventeen”, que se sentou confortavelmente no 1º lugar da minha seleção de melhores músicas de 2017.
Volvidos três anos, eis que Sharon Van Etten anuncia o tão esperado novo álbum, com um breve texto a aludir para a importância de escutar os álbuns como um todo, prestando atenção à construção do mesmo e que, por isso mesmo, escolheu não lançar nenhum single até à data de lançamento oficial do seu 6º álbum.
Pessoalmente achei esta decisão sensata e justificada, visto que vivemos tempos nos quais quase tudo é de consumo rápido e descartável em meros dias. Os singles vêm amplificar essa problemática por três razões: A primeira é que podem criar falsas expectativas em relação ao que o álbum tem para oferecer; a segunda é que roubam a capacidade de cada pessoa perceber quais são as músicas com as quais mais se identifica, assumindo que os singles são mais importantes que o resto por terem sido selecionados para o serem; e a terceira é que roubam a magia e o mistério associado a ouvir um álbum na íntegra, pela primeira vez, onde tudo é surpresa e se complementa – isto no caso de ser um álbum e não aquelas produções que mais parecem coletâneas.
É por isso que defendo a posição de Van Etten na hora de marcar uma data e lançar todas as músicas do álbum em simultâneo.
Se, por um lado, Van Etten já mostrou e provou todo o seu valor, por outro ainda tem capacidade e qualidade para continuar a surpreender. Mesmo acreditando que este não é o seu melhor álbum no que toca a surpreender o mundo com algo novo e único, mais uma vez, nem por isso é oco ou desprovido de emoção e vulnerabilidade.
Van Etten volta a oferecer-nos uma performance vocal admirável capaz de convencer até o maior cético. Fora “Mistakes”, a contrastar com o panorama geral, já no fim do álbum cujo o ritmo lembra os trabalhos mais recentes da artista, We’ve Been Going About This All Wrong é um álbum pausado e profundo, coisa que acaba por ser a sua maior virtude.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Darkness Fades
> Anything
> Headspace
> Mistakes
The Smile – A Light For Attracting Attention
Género: Alternative Rock/Post-Punk
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Reconheço valor na carreira de Thom Yorke, seja com os Radiohead, Atoms For Peace, a solo ou com os mais recentes The Smile, mas confesso que não é um género de música que ouça com frequência, apesar de reconhecer toda a qualidade e mérito que Thom Yorke acarta com ele, vá para onde for, faça o que fizer.
Como tal, e não estando muito a par, ouvi A Light For Attracting Attention sem quaisquer luzes de quem estava por detrás dele. Fico feliz por se ter desenrolado dessa forma, pois para além de não o ter ouvido com qualquer expectativa, foi um exercício engraçado pelo contexto em que o ouvi pela primeira vez. Isto porque o meti a rodar como barulho de fundo enquanto conduzia e comecei a pensar para mim próprio: “estes gajos soam exatamente como os Radiohead e são muito bons”. Tendo uma hora de viagem ao volante pela frente, não tinha como pesquisar mais sobre a banda e fui a remoer a ideia de que o Thom Yorke tinha uma sósia vocal até ao Porto.
Para minha surpresa, que não era assim tanta, dado que tinha em mente o facto de Thom Yorke já ter tido outros projetos antes, nada o impedia de começar um novo sob outro nome. Bem, bateu certo!
Fico um bocado reticente por este não ser um trabalho dos Radiohead, que seguramente ia vender muito mais e somar mais um punhado de músicas para o legado destes – aposto que grande parte dos fãs da banda nem sequer faz ideia que esta produção existe -, fico feliz por Thom Yorke, que prova mais uma vez que, independentemente do contexto, consegue sempre vingar e ser bem sucedido. Desta vez teve Jonny Greenwood com ele (também membro integrante dos Radiohead), que acredito que tenha a sua quota de responsabilidade com as semelhanças de identidade com projetos na banda “mãe”, muito mais próximas do que com Atoms For Peace, a meu ver.
Posto isto, este álbum é mais do que essencial, sejam ou não fãs de qualquer trabalho anterior de Yorke.
Caso não estejam a fim de ir ver Metallica e companhia ao NOS Alive, dia 8 de julho, sempre podem ir ver os The Smile ao Coliseu de Lisboa.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> The Same
> You Will Never Work In Television Again
> Pana-Vision
> Thin Thing
> Free In The Knowledge
Outros álbuns a ouvir:
Arcade Fire – WE
Jordana – Face the Wall
Obongjayar – Some Nights I Dream Of Doors
Sigrid – How to Let Go
Tank and the Bangas – Red Balloon
Warpaint – Radiate Like This