Crítica – Westworld (3ª Temporada)

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A terceira temporada acontece imediatamente após os eventos da segunda, com Dolores (Evan Rachel Wood) a escapar de Westworld com os cores de alguns hosts, incluindo Bernard (Jeffrey Wright). A morar em neo-Los Angeles, em 2058, Dolores desenvolve uma relação com Caleb (Aaron Paul) e aprende como seres artificiais são tratados no mundo real. Entretanto, Maeve (Thandie Newton) encontra-se noutra parte do parque Delos, baseada na Itália Fascista durante a Segunda Guerra Mundial.

Nota: Esta crítica é baseada nos primeiros quatro episódios da temporada, que nos foram disponibilizados pela HBO. A opinião final após ter visto toda a temporada segue no final do artigo.

A HBO obteve um grande fracasso com a temporada final de Game of Thrones, mas a qualidade das suas séries de TV não pareceu sofrer com isso. Westworld é uma das maiores/melhores séries do estúdio e, na minha opinião, é a que atualmente ocupa o trono que GOT governou durante vários anos. Jonathan Nolan e Lisa Joy criaram uma narrativa extremamente complexa, repleta com twists alucinantes e um desenvolvimento de personagens verdadeiramente notável. A terceira temporada promete ser totalmente diferente, tendo em mente o final da última, logo as expetativas são, sem dúvida, muito altas…

Westworld

Embora seja verdade que Westworld carrega twists de fazer cair o queixo, as temporadas anteriores diferem uma da outra no que toca a este aspeto. Na primeira, os twists servem a história, mas na segunda, parece que a história servia os twists. Isto resultou em alguns episódios “menos bons”, devido à perda de tensão e de um ritmo bem equilibrado, ocasionalmente perdendo o interesse de quem vê. Além disso, a maioria dos twists eram tão antecipados que os últimos episódios tiveram falta daquele soco poderoso para nos deixar inconscientes.

A terceira temporada volta ao básico. O final da última funciona quase como um reboot da série em relação ao seu ambiente, regras e até mesmo às personagens. A maior parte da série decorre no mundo real até ao quarto episódio, mas há algumas sequências em locais familiares. O plano de Dolores parece simples, mas sendo isto Westworld, a última metade da temporada trará provavelmente algumas surpresas, por isso, mantenham os olhos bem abertos.

Não posso aprofundar sobre o que cada personagem está a fazer, mas de acordo com os trailers, escrever que Bernard e Maeve têm um papel essencial nesta temporada não deve ser recebido como um choque. Ambos possuem dois arcos muito intrigantes e estou, sem dúvida, interessado em descobrir como irão ligar-se ao enredo de Dolores. Caleb não tem muito tempo de ecrã nestes episódios. No entanto, recebe um passado bem escrito e a sua história pessoal não só conta ao público tudo sobre ele, mas também demonstra como o mundo real funciona.

O meu maior elogio à primeira metade desta temporada vai para a estrutura de cada episódio. Todos começam e terminam com algo impactante. Sempre que um começa, fico imediatamente cativado pelo que está a acontecer e todos os finais deixam-me com uma curiosidade extrema para assistir ao próximo. Felizmente, tinha o botão “próximo episódio”, mas será definitivamente interessante ver como os fãs irão reagir à semana de espera pelo (ótimo) episódio seguinte. Ao longo de cada capítulo, a história flui naturalmente sem aquelas narrativas confusas, exageradas e cheias de twists da segunda temporada.

Westworld

Até agora, é um plot principal bastante simples, mas os mistérios por decifrar ainda carregam aquela aura de imprevisibilidade, o que faz da terceira temporada a estrutura perfeita para entregar um final fenomenal e chocante. As prestações do elenco continuam a ser espetaculares com todos a darem tudo de si. Para já, os meus destaques são Tessa Thompson (Charlotte Hale) e Evan Rachel Wood. Ed Harris (William) também entrega uma performance excelente, mas as duas mulheres são absolutamente incríveis, especialmente Thompson. Tecnicamente, os episódios avaliados ainda eram um trabalho em desenvolvimento, mas a produção e a qualidade visual da HBO são impressionantes como sempre.

Assim, Westworld regressa com uma estrutura perfeita para explodir a mente de todos os fãs mais uma vez. O mundo real é visualmente impressionante, todas as personagens recebem uma história muito intrigante, mas os primeiros e últimos minutos de cada episódio são inegavelmente fantásticos.

Todos os episódios conquistam a atenção do espetador de forma instantânea e os finais deixam todos ansiosos pelo próximo episódio. Tessa Thompson é o destaque absoluto, mas Evan Rachel Wood continua a provar as suas habilidades magníficas enquanto atriz. Aaron Paul deverá ter mais tempo de ecrã na última metade da temporada, mas até agora, tanto ele como Caleb são muito bons.

Ritmo excelente, tensão gerada brilhantemente em relação ao mistério central e diálogos maravilhosamente escritos. Quatro episódios, nada verdadeiramente negativo a apontar. Só desejo uma segunda metade tão boa ou melhor que a primeira.

Opinião Final: Ironicamente, o quinto episódio (o primeiro depois dos quatro iniciais que foram entregues à imprensa) tornou-se rapidamente num dos capítulos mais divisivos não só da temporada, mas de toda a série. Realizado por Anna Foerster, o episódio inteiro é filmado através de vários géneros. De filme noir a romance, o espetador vê a história desenrolar-se pelos olhos alucinatórios de Caleb, que foi drogado. É, sem dúvida, uma experiência estranha que polarizou opiniões, mas felizmente, desfrutei bastante.

Tecnicamente, a série brilha durante toda a temporada, e Ramin Djawadi prova, mais uma vez, que é um dos melhores compositores no ativo. Banda sonora fenomenal em todos os episódios, mas Djawadi sobe o nível no quinto.

A maioria das personagens (três podiam ter recebido um tratamento muito melhor) obtêm uma conclusão incrivelmente eficiente e emocionalmente satisfatória dos seus arcos. Tessa Thompson demonstra que realmente é a MVP da temporada e a sua personagem é, definitivamente, a melhor escrita. Caleb, como esperado, tem mais tempo de ecrã na segunda metade da temporada e também muito mais impacto nas decisões narrativas. Apesar do seu arco ser dos mais simples e facilmente previsíveis, Aaron Paul entrega um ótimo trabalho ao elevar a sua personagem. Finalmente, Evan Rachel Wood leva Dolores a outro nível nos últimos episódios. Rouba os holofotes no final com uma prestação digna de prémios e o seu desenvolvimento de personagem possui uma estrutura notável.

No entanto, os últimos episódios seguem um caminho tão previsível que acabam por ser um misto de satisfação e desilusão. Um deles faz de uma revelação óbvia uma espécie de plot twist alucinante com um build-up tremendo, o que acaba por fazer com que o episódio respetivo careça de tensão e emoção verdadeiras. Depois, Maeve é, sem dúvida, a personagem menos desenvolvida da temporada, infelizmente. Passou de ser uma badass que controlava todos os hosts para ser uma marioneta sem objetivos ou motivações claras. O seu arco de personagem é inconsistente e o seu diálogo não parece encaixar-se na sua persona. O episódio final tenta despachar-se a corrigir as suas falhas, mas é tarde demais e acaba por sobressair como uma tentativa desesperada de dar-lhe algo genuinamente convincente.

As outras duas personagens que não possuem um arco realmente impactante são Bernard e William. Ambos servem como dispositivos insignificantes de exposição para a história principal e acabam exatamente assim: personagens pouco memoráveis numa temporada que não as usou, de todo. O primeiro supostamente tem um papel vital no plano de Dolores, mas a sua narrativa está constantemente a ser empancada por um MacGuffin frustrante. O último começou como um mistério clássico de Westworld, “humano-ou-host?”, bastante interessante, mas, mais uma vez, a personagem de Ed Harris serve apenas de objeto para oferecer informações ao espetador. Os últimos episódios ainda parecem dar uma luz à personagem, mas a season finale apaga-a num ponto de enredo não tão chocante quanto isso e, honestamente, um pouco preguiçoso.

No final, a terceira temporada de Westworld ainda se encontra longe da sua estreia quase-perfeita em termos de qualidade, mas é bem superior à última. Com uma narrativa surpreendentemente linear e menos twisty, Jonathan Nolan e Lisa Joy colocaram os hosts num mundo real inacreditavelmente louco e o caos veio a seguir. A maioria das personagens recebe arcos excelentes (se um pouco previsíveis demais), especialmente Dolores, Caleb e “Charlotte”. Infelizmente, Maeve é extremamente inconsistente durante toda a temporada, ao passo que Bernard e William não têm histórias genuinamente cativantes ou até impactantes.

Os últimos episódios são tão satisfatórios como dececionantes devido à disparidade de tratamento em relação ao guião de cada personagem e os plot twists de marca registada já não carregam aquela aura de surpresa (quase todos tornam-se razoavelmente claros nos primeiros episódios).

No entanto, não deixa de ser uma temporada excelente, repleta com imensa ação, diálogos excecionais e uma banda sonora épica de Ramin Djawadi. Tecnicamente, é fenomenal como esperado da (provavelmente) série principal da HBO pós-Game of Thrones. Espero que a próxima temporada seja ainda melhor…

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