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A realizadora e argumentista Greta Gerwig (Lady Bird) apresenta uma versão de Little Women (Mulherzinhas) que se baseia não só no romance clássico de Louisa May Alcott, como também nas notas deixadas pela autora. Esta história vai-se desdobrando no alter ego da autora, Jo March (Saoirse Ronan), à medida que esta leva a sua vida real para a sua obra ficcional. Na opinião de Gerwig, a adorada história das irmãs March – quatro jovens determinadas a viver a vida à sua maneira – é intemporal e oportuna.

A 92ª edição dos Óscares ocorre daqui a uma semana e Little Women (Mulherzinhas) faz parte dos poucos lançamentos de 2019 que só agora (2020) estão a ser exibidos em Portugal. Desejo assistir a todos os nomeados para Melhor Filme antes da cerimónia, não apenas para oferecer as minhas previsões honestas, mas também para ter um Top 10: Melhores Filmes de 2019 mais completo em relação ao número de filmes vistos. Bem, a adaptação de Greta Gerwig do famoso livro não é capaz de roubar um lugar do meu Top 10, mas definitivamente vale uma menção honrosa.

Tem existido muita polémica em torno da categoria de Melhor Realizador, não só nos Óscares. A falta de um nomeado feminino em algumas cerimónias de prémios gerou algum descontentamento e muitos consideram o trabalho de Gerwig mais do que suficiente para garantir mais nomeações, especialmente nos Óscares. Portanto, vou tentar ser o mais educado, respeitoso e justo possível.

Little Woman

Embora eu concorde que Gerwig faz um ótimo trabalho enquanto realizadora deste filme, continuo a defender que os cinco realizadores masculinos nomeados para o respetivo Óscar fizeram ainda melhor. Mesmo removendo Todd Phillips (Joker) da equação (o que eu aceito inteiramente), escolheria, sem sombra de dúvida, Noah Baumbach (Marriage Story) como o seu substituto.

Sendo assim, será que de repente tornei-me misógino? Será que dou preferência a homens quando envio as minhas próprias escolhas para, por exemplo, os prémios da associação de críticos da qual faço parte (OFTA)? Parece-me exagerado. É só uma opinião humilde.

Deixando essa discussão de lado, vamos focar-nos nos aspetos positivos de Little Women (Mulherzinhas), uma vez que são imensos! Geralmente, romance não é um propriamente um género o qual costumo adorar efusivamente, mas gostei bastante desta adaptação do famoso livro de Alcott. Vou começar com o elenco, pois como não?

Com uma equipa impressionante de atores, sabia que ia receber algumas prestações incríveis. Todas as personagens têm muito tempo de ecrã, mas Saoirse Ronan é claramente a protagonista como Jo. É a irmã “diferente”, aquela que genuinamente não quer seguir as “regras” de ser uma mulher no século XIX. Quer ter um trabalho que adora e ser independente sem ter que ser uma dona de casa que simplesmente casou com um homem rico. Quer ser recordada. Saoirse incorpora essa personalidade como se fosse dela e adiciona outra prestação brilhante à sua carreira de atriz.

No entanto, Florence Pugh é o grande destaque enquanto Amy. Sem quaisquer dúvidas, Pugh é a atriz mais surpreendente deste último ano. Exibição física fantástica em Fighting with my Family, uma das melhores performances de 2019 em Midsommar e o papel mais complexo da sua carreira em Little Women (Mulherzinhas). Como a história está continuamente a recuar e a avançar no tempo, todos têm que interpretar duas versões da mesma personagem, mas Amy é a que mais muda.

Como uma Amy jovem, infantil, imatura e brincalhona, Pugh oferece alguns dos momentos mais engraçados de todo o filme. Verdadeiramente hilariante. Enquanto uma Amy adulta, já é mais ponderada, responsável e está prestes a seguir uma das “regras” da sociedade em relação às mulheres: casar com um homem rico.

Little Woman

Eliza Scanlen carrega um arco emocional como Beth e a melhor sequência passado-presente é totalmente devido à sua personagem. Emma Watson é Meg, a irmã mais velha que todos admiram, já que ela parece ser perfeita. Como tal, o seu arco passa por algumas demonstrações de como as suas imperfeições fazem dela um modelo a seguir para as suas irmãs.

Timothée Chalamet também é um dos destaques como Laurie, um vizinho que se aproxima da família March, mas não vou aprofundar muito sobre a sua história. Laura Dern (Marmee March) e Meryl Streep (Aunt March) são perfeitas como sempre. Todos os arcos de personagem são excecionalmente desenvolvidos. Com um tempo de execução a ultrapassar por pouco as duas horas, é notável o nível de detalhe, complexidade e profundidade que as personagens possuem.

Não posso abordar todas as personagens profundamente visto que são tantas, mas tentei o meu melhor para dar uma opinião geral das principais. Claramente, os arcos de Jo, Laurie e Amy são os melhores. No entanto, a história da personagem de Emma Watson parece muito superficial e muito simples em comparação com as das suas irmãs. Não parece que tenha passado por qualquer mudança ao longo dos anos e parte da sua história parece um pouco forçada. O arco de Beth também pode ser simples, mas como está associado a um ponto de enredo emocionalmente poderoso, entende-se o seu pouco tempo de ecrã.

O método de storytelling de fazer transições passado-presente funciona na maior parte das vezes. Existem alguns momentos “costurados” de forma sublime, dando ao espetador uma sensação de realização, testemunhando o início e o fim de uma pequena história que aconteceu no passado e, mais tarde, no presente em outras circunstâncias.

No entanto, algumas sequências ou arrastam-se em demasia ou carecem de maior investimento emocional. Como Little Women (Mulherzinhas) ultrapassa a marca das duas horas, encontrei-me algo entediado durante certas histórias que não me conseguiram cativar.

Little Woman

Num filme com tantas personagens, é bastante comum que seja dado um maior foco a apenas algumas. É impossível denominar alguém de protagonista se meia dúzia de personagens têm tanto ou mais tempo de ecrã ou relevância para a narrativa. Infelizmente, isto traz quase sempre o problema do filme não ser capaz de fascinar o público com todos os arcos de personagem. Além disso, algumas transições passado-presente são tão abruptas que perturbam o ritmo por serem um pouco confusas.

Apesar disso, Greta Gerwig faz um excelente trabalho ao equilibrar essas linhas temporais e um ainda melhor ao opor os tons contrastantes de cada período e torná-los consistentes.

Tecnicamente, Yorick Le Saux entrega uma cinematografia belíssima, Alexandre Desplat contribui com uma banda sonora subtil e eficiente, mas o guarda-roupa é a grande “estrela” por ser extremamente realista com o período em que se passa a narrativa. As cores presentes em todo o filme contam uma história apenas por elas, bem como a cenografia, por isso, não deixem de olhar à volta em todos os planos largos, pois há muito para ver por detrás dos atores.

No final, Little Women (Mulherzinhas) não faz o suficiente para garantir um lugar no meu Top 10 de 2019, mas a adaptação de Greta Gerwig do clássico livro de Louisa May Alcott merece todas as nomeações de argumento que tem vindo a receber. Como esperado, todo o elenco é fenomenal, mas Saoirse Ronan, Florence Pugh e Timothée Chalamet não só entregam as melhores performances do filme como as suas personagens carregam os arcos mais emocionalmente convincentes. Com tantas pessoas, é notável o nível de detalhe, complexidade e profundidade que cada personagem possui.

No entanto, algumas histórias não são tão cativantes como outras e o ritmo sofre um pouco com essas narrativas menos interessantes, o que derruba o filme em alguns momentos. As transições passado-presente são, na sua maioria, bem tratadas, mas algumas são demasiado confusas e abruptas. Os tons contrastantes de cada período de tempo são consistentes durante toda a duração e o guarda-roupa rouba o “holofote técnico”.

No geral, Little Women (Mulherzinhas) é um bom romance, por isso, se gostam do género, não vejo razões pelas quais não deverão desfrutar desta peça.

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