Crítica – The Social Network

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O que surge da parceria de dois cineastas perfecionistas e meticulosos? Uma obra magnífica do cinema!

The Social Network

Sinopse: “Em 2003, um estudante de Harvard e génio de computadores, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), começa a trabalhar num novo conceito que eventualmente se transforma na rede social globalmente conhecida como Facebook. Seis anos depois, é um dos bilionários mais jovens de sempre, mas Zuckerberg descobre que o seu sucesso sem precedentes leva a complicações pessoais e legais quando acaba por receber dois processos, um envolvendo o seu melhor amigo (Andrew Garfield).”

Cá estamos com a quarta crítica de um filme de David Fincher esta semana, em preparação para Mank, realizado pela mesma pessoa que entregou filmes fenomenais como Se7en, Fight Club, Zodiac e outros. Agora, é hora de The Social Network, cuja premissa pode ser resumida em “história sobre a criação do Facebook”.

Passaram-se 10 anos desde o seu lançamento e o verdadeiro Mark Zuckerberg já defendeu que a maior parte do filme é baseado em eventos e conversas fictícias. A verdade é que este filme nunca foi publicitado como uma história verdadeira, mas sim como uma adaptação do livro de Ben Mezrich de 2009, The Accidental Billionaires. The Social Network é um filme como qualquer outro, não um relato detalhado do que aconteceu na vida real.

Dito isto, este é facilmente um dos melhores argumentos adaptados de sempre. Aaron Sorkin, o homem por trás de um dos melhores filmes de 2020 (The Trial of the Chicago 7), demonstra os seus atributos de escrita talentosos em The Social Network, provando que é um dos argumentistas mais meticulosos a trabalhar hoje em dia. Se têm acompanhado os meus artigos anteriores, há um par de elogios que continuo repetidamente a reconhecer em Fincher: a sua atenção extrema aos detalhes e a sua dedicação impressionante à narrativa que quer contar.

Então, o que acontece quando se juntam dois dos cineastas mais perfecionistas da história do cinema? Surge das suas mentes brilhantes um candidato a “melhor do ano”, digno de inúmeros prémios.

The Social Network

Não existe muito sobre o que discutir para além da narrativa em si, visto que esta é, de longe, o aspeto que marca The Social Network. Jeff Cronenweth, que trabalhou previamente em Fight Club, traz uma das marcas registadas de Fincher, o visual e sensação realistas através da sua simples, mas poderosa, cinematografia. A banda sonora original de Trent Reznor e Atticus Ross encontra-se repleta com pequenos efeitos que se assemelham a sons de computador, tornando-a bastante viciante ao mesmo tempo que aumenta a energia do filme nas sequências mais entusiasmantes.

Finalmente, tal como em Zodiac, o trabalho de edição (Angus Wall, Kirk Baxter) é absolutamente perfeito e é, definitivamente, o componente técnico que melhor ajuda o argumento de Sorkin a brilhar devido à sua estrutura.

Durante todo o tempo de execução, a história é contada através de linha temporal não linear, misturando a criação do Facebook em si (ideias, planeamento, programação) com os problemas legais futuros que Mark Zuckerberg enfrenta. Esta estrutura permite um par de horas excecionalmente cativante e tremendamente entretido, nunca deixando o ritmo baixar ou ter uma sequência sem algum tipo de evento. O protagonista é acusado de roubar o conceito dos gémeos Winklevoss (ambos interpretados por Armie Hammer), mete-se em problemas com o seu melhor amigo, Eduardo Saverin (Andrew Garfield), sobre a monetização do site, e Sean Parker (Justin Timberlake) funciona parcialmente como gatilho para grande parte do caos que acaba por sobrecarregar a vida de Zuckerberg.

O aspeto mais surpreendente que Sorkin e Fincher conseguiram com The Social Network é o sucesso em fazer o espetador sentir-se investido numa personagem principal que é um “asshole” total, um adjetivo com muito peso no filme. Jesse Eisenberg é notável como uma destas personagens que as pessoas “adoram odiar” (não é por acaso que o verdadeiro Zuckerberg não gostou do filme, visto que o próprio é retratado como um amigo desprezível). Eisenberg tem uma maneira única de falar e maneirismos distintos que são perfeitos para esta personagem. Garfield e Timberlake também são formidáveis, incorporando as suas personagens sem esforço.

Mais uma vez, comparando com Zodiac, The Social Network também é uma narrativa guiada por diálogo, mas esta última ressoou um pouco mais comigo devido à minha área de trabalho.

The Social Network

O único problema que tenho envolve a família Winklevoss. Armie Hammer é excelente como os gémeos, tal como Max Minghella como Divya Narendra, mas este subplot desvia-se ocasionalmente da história principal, perdendo o interesse durante esses momentos curtos. Existe inclusive uma corrida de barco a remo que parece desnecessária, mas admito que é lindamente filmada e acompanhada por uma música fantástica.

Apesar deste pequeno passo em falso, Fincher continua a impressionar-me com os seus métodos enquanto realizador, forçando os atores a provar o seu valor, fazendo-os repetir os seus diálogos rapidamente e implementando takes longos sempre que possível.

Resumindo, The Social Network é mais uma obra magistral do cinema, desta vez entregue não por um, mas por dois cineastas magníficos. David Fincher e Aaron Sorkin empregam o seu perfecionismo mútuo e meticulosidade para criar uma narrativa extraordinariamente envolvente. Possuindo uma estrutura não linear, mas tremendamente eficaz, os dois pilares de qualquer filme – história e personagens – são maravilhosamente construídos, chegando mesmo ao ponto de fazer o espetador sentir-se investido num protagonista desprezível, mas fascinante.

Jesse Eisenberg brilha numa prestação que definiu a sua carreira, mas Andrew Garfield e Justin Timberlake também sobem ao nível necessário de dedicação, lidando com os diálogos rapidíssimos e takes ininterruptos perfeitamente. Tecnicamente, um trabalho de câmara excelente oferece uma atmosfera realista, uma banda sonora viciante aumenta os níveis de entusiasmo e a edição sem quaisquer falhas torna as mudanças em linhas temporais incrivelmente suaves e consistentes.

Apesar de um desvio ocasionalmente desnecessário e irrelevante numa pequena linha narrativa secundária, The Social Network é outra adição brilhante à filmografia de Fincher.

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