Crítica – Fight Club

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Um dos filmes mais memoráveis e icónicos da história do cinema, mas também um dos mais polémicos.

Fight Club

Sinopse: “Um homem deprimido (Edward Norton) que sofre de insónia encontra um estranho vendedor de sabão chamado Tyler Durden (Brad Pitt) e rapidamente se encontra a viver na sua casa suja de Tyler depois do seu apartamento perfeito ser destruído. Os dois homens entediados formam um clube subterrâneo com regras rígidas e lutam contra outros homens que estão fartos das suas vidas mundanas. A sua parceria perfeita desgasta-se quando Marla (Helena Bonham Carter), uma colega de um grupo de apoio, atrai a atenção de Tyler.”

O novo filme de David Fincher, Mank, chega em breve à Netflix, seis anos após a sua última película, Gone Girl. Assim, esta semana, encontro-me a rever cinco filmes do próprio. Se7en foi o primeiro e, agora, é altura para um dos filmes mais culturalmente impactantes dos anos 90, Fight Club.

Esta é outra revisualização de outro clássico do cinema, um que nunca fui capaz de adorar como a maioria das pessoas. Quando este filme saiu, em 1999, os críticos ficaram extremamente divididos e o mesmo falhou nas bilheteiras. Com o tempo, ganhou o estatuto de “filme de culto” através do lançamento de DVD, mas ainda é considerado uma peça muito controversa do cinema. Logo, nada de novo, tendo em conta que é Fincher que está no comando.

Apesar de ser a minha terceira ou quarta vez a vivenciar esta história, nunca mudei de opinião sobre a mesma, o que é algo incomum na minha experiência enquanto amante de cinema. Normalmente, depois de várias sessões, os meus pensamentos gerais sobre um filme variam ligeiramente, mas Fight Club é uma das poucas exceções. Acredito que a minha opinião permanece intacta desde a primeira vez. Gosto imenso do filme, mas não o adoro. Como este é um caso especial, começo com o que ainda me incomoda após tantas visualizações, algo que também raramente faço nas meus artigos, visto que deixo sempre os aspetos negativos para o fim.

Sem spoilar nada, existe um plot twist vital no filme que apenas consigo apreciar pela sua execução, mas nunca pelo seu impacto na narrativa. O argumento de Jim Uhls conta com a amizade das personagens principais para levar a história para a frente e, ao longo dos primeiros dois atos, Fincher deixa dicas não tão subtis para uma revelação gigante, que eventualmente desencadeia o início do terceiro ato. Este grande ponto de enredo é brilhantemente executado e não deixei de me sentir incrivelmente fascinado pela sua entrega, tanto em termos de diálogo como das prestações dos atores.

No entanto, o impacto em qualquer espetador minimamente focado e observador encontra-se próximo de zero devido às evidências claras que apontavam para este desenvolvimento.

Fight Club

Bom, não quero soar como aquele estereótipo de cinéfilo que diz “adivinhei o twist antes da sua revelação, logo é tudo horrível”. Tal como insinuo acima, continuei totalmente cativado durante todo o terceiro ato. No entanto, o tempo de execução de Fight Club está longe de ser curto e Fincher passa muito tempo a construir uma ideia que perde o seu factor surpresa ainda antes do ponto médio do filme. Muda a perspetiva do protagonista e leva o espetador por um caminho previsível, mas muito interessante, estabelecendo um final poderoso e significativo. Mesmo assim, não sinto que o tempo gasto nos primeiros dois atos tenha sido satisfatoriamente compensado no final… pelo menos não na sua totalidade.

O segundo ato também tem um curto período onde perde um pouco de energia devido a algumas sequências repetitivas e a uma quantidade desnecessária de flashbacks. Mais uma vez, sinto que Fincher não confiou completamente no público daquela altura, ao contrário do seu procedimento em Se7en. Neste, Fincher entregou a maior responsabilidade à imaginação do espetador, deixando as cenas de assassinato para o público imaginar nas suas mentes. Em Fight Club, essa ambiguidade e diálogo implícito ainda estão presentes, certo, mas, mesmo antes do terceiro ato, já existem várias tentativas em explicar em demasia trechos da narrativa que gostaria que ficassem mais vagos.

Não se preocupem, não tenho mais pontos negativos. E não se esqueçam: gosto mesmo muito deste filme. Obviamente, Fincher e Uhls criaram uma história carregada com temas subjacentes e comentário social. Desde toda a teoria do consumismo à componente mais psicológica do estado mental da personagem de Edward Norton, todas as mensagens são perfeitamente comunicadas ao público. Também passei por um momento na minha vida onde gostaria de ser outra pessoa, alguém que já tinha realizado todos os seus sonhos com sucesso e com um sentimento esmagador de cumprimento. Lidar com a incapacidade de nos tornarmos nesse “eu perfeito” pode-se tornar um processo excruciante, triste e deprimente, variando drasticamente de pessoa para pessoa.

Fight Club aborda a saúde mental e a aceitação das pessoas de quem estas são realmente de uma maneira inovadora, capturando perfeitamente as emoções de Edward Norton e transmitindo os seus pensamentos através de uma das melhores narrações da história do cinema. A sua visão sobre o mundo do consumismo é, sem dúvida, interessante, e desempenha um papel importante no clímax do filme.

Apesar dos problemas descritos acima, o argumento de Uhls é tremendamente bem escrito, elevando as conversas entre Norton e Brad Pitt (Ad Astra, Once Upon a Time in Hollywood), que são notavelmente cativantes. Previsível ou não, a história principal é maravilhosamente executada por Fincher, que continua a demonstrar os seus impressionantes atributos técnicos.

Mais uma vez, a fase de pré-produção é provada aqui como sendo tão importante como qualquer outra etapa do processo de filmmaking. A dedicação de Fincher aos seus filmes é palpável e visível no ecrã através de todos os aspetos técnicos. Desta vez, Fincher trouxe Jeff Cronenweth como diretor de fotografia e ambos trabalharam juntos para não só criar a atmosfera desaturada e realista que Fincher tanto adora, mas também para entregar as cenas de luta brutalmente violentas e sangrentas, que mantêm os níveis de entretenimento no patamar mais alto.

Fight Club

Com uma edição limpa, consistente e coerente de James Haygood, o filme flui muito bem apesar do seu longo tempo de execução. A banda sonora dos The Dust Brothers é bastante alternativa, o que se adequa à narrativa não convencional.

Por último, mas não menos importante, Edward Norton e Brad Pitt. Sei que é incrivelmente clichê escrever que os dois atores partilham uma química impecável, mas Norton e Pitt são mesmo fenomenais. Em duas prestações fisicamente exigentes, ambos entregam interpretações dignas de prémios e que marcaram as respetivas carreiras.

Pitt oferece um dos seus papéis mais subvalorizados, sendo extremamente engraçado durante todo o filme, mas também fantasticamente badass, carregando as suas sequências de luta de forma tão espetacular como faz com os seus diálogos. Por outro lado, ver Norton a dar 500% é uma experiência incrível. Não tenho palavras para descrever uma interpretação tão emocionalmente convincente, repleta com momentos poderosos de personagem. Uma palavra final de apreço para Helena Bonham Carter (Enola Holmes), que também tem uma performance excecional.

No fim, Fight Club é, e provavelmente continuará a ser, o filme mais controverso de David Fincher por muito, muito tempo. Com uma realização e execução absolutamente brilhantes, Fincher utiliza o argumento cativante, complexo e não convencional de Jim Uhls para abordar temas como consumismo, comportamento da sociedade e saúde mental, transmitindo na perfeição mensagens significativas, mas bastante polémicas.

Mais uma vez, o filmmaking em exibição é tecnicamente fenomenal, não contendo quaisquer falhas. Desde as já registadas cinematografia e produção artística autênticas à banda sonora única, todas fluem soberbamente através de uma edição extraordinária.

Infelizmente, não pertenço ao grupo de pessoas que amam totalmente Fight Club. O uso excessivo (e, por vezes, desnecessário) de flashbacks não ajuda, mas é o enorme build-up cheio de pistas demasiado explícitas para um plot twist importante (mas nada surpreendente) que acaba por arruinar parcialmente a minha visualização.

Também gostaria que o guião desenvolvesse alguns pontos de enredo de uma maneira mais ambígua, mas Brad Pitt e Edward Norton elevam tanto o filme com as suas prestações ridiculamente impressionantes que estes pequenos problemas não me impedem de recomendar seriamente um dos filmes mais memoráveis e icónicos de sempre.

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