Crítica – The First Omen

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The First Omen possui vários problemas narrativos e uma conclusão demasiado segura, mas merece ser visto no grande ecrã.

Não sei até que ponto The Omen (1976) é considerado um clássico, mas a verdade é que foi um dos filmes mais rentáveis do ano respetivo, possui uma das bandas sonoras mais memoráveis dessa década – tanto que venceu mesmo um Óscar, algo raríssimo tendo em conta o género – e, claro, gerou várias sequelas e ainda um remake ao longo destes anos todos. The First Omen é a sexta obra da franquia e, como o título indica, é uma prequela ao filme original. Uma estreia em longas-metragens por parte da realizadora Arkasha Stevenson, que também co-escreve o argumento juntamente com Tim Smith e Keith Tomas (Firestarter).

Margaret Daino (Nell Tiger Free) é uma jovem americana enviada para Roma de forma a começar uma vida devota para com a igreja, mas encontra freiras com comportamentos estranhos que a levam a descobrir uma conspiração assustadora cujo objetivo passa por procriar o mal personificado. Como fã tremendo do trabalho da atriz em Servant, a sua presença era o maior elemento atrativo de The First Omen, também devido à desilusão geral dos outros filmes na saga.

Assim, não podia estar mais satisfeito por poder recomendar The First Omen a todos os fãs do género. Encontra-se bem longe de ser perfeito devido a vários problemas narrativos, mas é tecnicamente soberbo e, em termos de prestações, não se pode pedir mais a Tiger Free – que nome fantástico, já agora. O elenco contribui imenso para a atmosfera de suspense e mistério que engloba a obra, com Bill Nighy (Living), Sônia Braga (Bacurau) e até uma cena de abertura curta mas extremamente eficiente de Charles Dance (Game of Thrones) a elevarem um argumento admitidamente simples.

No entanto, Tiger Free entrega uma das performances mais transformativas e hipnotizantes do ano. Da mesma maneira que Toni Colette (Hereditary), Lupita Nyong’o (Us) e Florence Pugh (Midsommar) foram ignoradas durante as temporadas de prémios respetivas devido ao bias conhecido sobre o género de horror, Tiger Free provavelmente também será menosprezada, e até esquecida, quando chegarmos ao fim do ano. Mas não se deixem enganar: diga-se o que se disser acerca de The First Omen, o filme contém uma prestação principal absolutamente inesquecível.

A atriz britânica já tinha demonstrado em Servant a sua capacidade impressionante de capturar medo e pavor como ninguém, criando um ambiente genuinamente assombroso e até misterioso em seu redor, como se houvesse algo mais por detrás da sua personagem. Em The First Omen, começa por parecer uma mera rapariga inocente e devota à igreja, mas, à medida que a obra progride, Tiger Free é obrigada a ir buscar tantos elementos complexos que perfazem uma performance, culminando num take longo ininterrupto no terceiro ato onde a atriz se entrega totalmente ao seu papel através de movimentos corporais insanos, sons assustadores com alternância do tom de voz e uma interpretação brilhante de… bem, terão de ver para compreender.

Tecnicamente, a produção sonora destaca-se através do seu som envolvente. Sussurros provenientes não se sabe bem de onde, personagens que aparecem do nada.. The First Omen tem os típicos jumpscares, mas para além de não ser nenhum jumpfest, estas sequências em particular são surpreendentemente eficientes devido a um excelente trabalho de montagem (Bob Murawski, Amy E. Duddleston) e de câmara (Aaron Morton). A banda sonora de Mark Korven (The Lighthouse) vai buscar bocados do tema principal da obra original, mas é igualmente capaz de se distinguir e ser a sua própria versão.

Dito isto, os holofotes técnicos viram-se para o departamento de efeitos práticos e maquilhagem. The First Omen possui algumas das cenas mais grotescas e nojentas do ano, tanto que fez um casal atrás de mim no cinema sair da sala já perto do fim. Sejam perspetivas horrorosas de partos – a ansiedade da gravidez é, sem dúvida, um tema predominante numa obra que aborda vários tópicos femininos – ou sequências a envolver recém-nascidos, Stevenson não quis deixar escapar a oportunidade de escrever o seu nome na história cinéfila de 2024 e foi bem-sucedida.

Infelizmente, apesar de The First Omen ser daqueles filmes que vai ficando melhor e melhor à medida que o tempo passa, não consegue fugir a alguns problemas narrativos. Um dos meus maiores pet peeves pessoais do cinema encontra-se no início do filme. Não compreendo a utilidade ou necessidade de uma obra iniciar a sua história mostrando uma cena que é suposto acontecer mais tarde. A não ser que o objetivo seja ludibriar ou confundir os espetadores de propósito de forma a que um eventual twist tenha mais impacto, 99% das vezes esta decisão criativa arruína qualquer fator surpresa, acrescenta uma previsibilidade frustrante e até problemas de ritmo, visto que o filme demora a chegar a esse ponto de conexão com a cena em concreto.

No caso de The First Omen, em termos cronológicos, a cena, de facto, deve acontecer no início do filme. Mas a forma como é filmada permite perceber imediatamente o que está a acontecer e a quem está a acontecer, tornando uma determinada revelação no terceiro ato em algo desapontante. Para além disso, à medida que o enredo se desenrola, certas decisões narrativas retiram importância a uma personagem secundária, especialmente tendo em conta o tempo de ecrã alocado à mesma. A obra acaba por se atrapalhar nas teias da conspiração que tenta construir e escolhe uma conclusão segura – claramente à busca de mais filmes para a franquia – ao invés de um fim mais corajoso, narrativamente coerente e, consequentemente, mais impactante.

VEREDITO

The First Omen possui vários problemas narrativos e uma conclusão demasiado segura, mas merece ser visto no grande ecrã devido aos efeitos práticos grotescos, à atmosfera assombrosamente bem construída e a uma das prestações mais memoráveis e transformativas do ano através de Nell Tiger Free. A estreante Arkasha Stevenson claramente deixa a sua marca numa obra tecnicamente sublime que facilmente se torna na melhor parcela da franquia a seguir à obra original. Deixem-se cair na tentação e recebam o mal incarnado. Não se vão arrepender.

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