Crítica – Ricky Stanicky

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Ricky Stanicky aproveita a mistura de humor leve, mensagens simples mas sinceras e uma narrativa agradável para proporcionar entretenimento amplo, assim como um testemunho às complexidades do crescimento pessoal e da natureza humana.

Peter Farrelly é um cineasta estranhamente controverso. Digo estranhamente, pois estamos a falar do realizador e argumentista de obras muito populares como Dumb and Dumber ou o muito premiado Green Book – mantenho o meu potencial hot take que é das melhores dramas-comédias da última década -, mas a perceção que tenho da opinião geral sobre Farrelly não é tão positiva como esperada. Pessoalmente, o seu sentido de humor encaixa perfeitamente no tipo de comédia que mais aprecio, logo encontrava-me naturalmente entusiasmado para Ricky Stanicky.

A premissa assemelha-se a tantas outras que cativaram audiências um pouco por todo o mundo – nomeadamente a saga The Hangover. Ricky Stanicky é o título do filme e também de um amigo imaginário inventado por um trio de amigos de infância como alguém que pudessem usar para levar com as culpas dos seus maus comportamentos ou servir de desculpa para fugir a eventos desinteressantes. Essencialmente, um bode expiatório para tudo o que não agradasse a Dean (Zac Efron), Wes (Jermaine Fowler) e JT (Andrew Santino). Eis que circunstâncias inevitáveis levam as respetivas famílias a querer conhecer Ricky e obrigam os amigos a contratar Rod (John Cena), um ator desconhecido, alcoólico e falido para dar vida a um personagem com décadas de mentiras complexas.

Através deste último parágrafo, é possível antecipar uma história estruturalmente e narrativamente previsível. Ricky Stanicky não surpreenderá nenhum espetador, mas dificilmente não deixará a vasta maioria com um sorriso de orelha a orelha à saída do cinema – ou, neste caso, no sofá de casa. Farrelly volta a cumprir com a promessa de um filme leve e extremamente entretido, mas sem deixar de passar uma mensagem importante, apesar de simples e pouco arriscada, sobre o impacto da força de vontade na mudança e evolução pessoal.

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Ricky Stanicky aborda de maneira bem explícita o quanto seres humanos complicam a sua capacidade de serem boas pessoas. Seja o participar em atividades de voluntariado, ser simpático para alguém ou até deixar vícios para trás – este último ponto é evidentemente mais complexo do que outros -, muitas pessoas simplesmente “fingem” que é impossível serem melhores versões delas próprios para não terem de atravessar uma fase de mudança que inclui assumir os erros do passado e as “fraudes” mentais que marcaram as suas vidas.

Ricky é, para todos os efeitos, o grande protagonista desta história, apesar do personagem de Efron possuir mais tempo de ecrã e ser claramente a face do filme. No entanto, Ricky Stanicky fica marcado pela prestação de Cena (The Suicide Squad) que entrega a sua melhor prestação da carreira. Sim, leram bem, não é exagero. O facto de representar um personagem cujo trabalho é representar outro personagem, tornando-se impressionantemente no “melhor ator do mundo” contra todas as expetativas, coloca Cena na posição ideal para “dar tudo” sem parecer forçado ou irracional. É uma performance completa que demonstra a evolução fenomenal do ator e que comprova não só o seu timing cómico excecional, mas também o seu alcance dramático subvalorizado.

Efron (The Iron Claw) continua também a provar que os tempos de High School Musical e até Baywatch estão para trás, com mais uma interpretação autêntica e uma química fantástica com o resto do elenco. Aliás, é precisamente essa química que eleva Ricky Stanicky a um patamar de entretenimento acima da média, fazendo das suas quase duas horas de duração constantemente cativantes, apesar de desnecessárias. Nota também para a prestação igualmente hilariante de William H. Macy.

Farrelly, como todos os cineastas, tem as suas qualidades e defeitos, mas o balanço tonal é um aspeto que considero ser a sua “imagem de marca”. Certamente que vários cinéfilos poderão discordar totalmente comigo, mas nunca senti nos seus filmes recentes aquelas transições abruptas entre momentos mais sérios e cómicos. A montagem nas suas obras costuma cumprir com o propósito cuidadoso de manter o filme num ritmo constante, abraçando a improbabilidade e, perdoem-me o termo, “parvoíce” dos seus enredos engraçados mas instigantes.

Sendo assim, não entendo a opinião divisiva sobre o cineasta. Por exemplo, Green Book foi incrivelmente bem recebido por audiências pelo mundo fora, assim como críticos. Foi um sucesso de bilheteira inegável. Venceu inúmeros prémios, incluindo o Óscar de Melhor Filme. No entanto, a maioria das interações online com o filme no seu centro são habitualmente negativas… Um verdadeiro caso de estudo, mas pessoalmente, continuo interessado no que quer que Farrelly faça a seguir.

VEREDITO

Ricky Stanicky aproveita a mistura de humor leve, mensagens simples mas sinceras e uma narrativa agradável para proporcionar entretenimento amplo, assim como um testemunho às complexidades do crescimento pessoal e da natureza humana. A prestação destacada de John Cena, juntamente com um elenco coeso e dinâmico, eleva a obra para além do seu enredo convencional, destacando a habilidade de Peter Farrelly em criar histórias que ressoam com o público através da gargalhada e da reflexão. Apesar das opiniões divergentes sobre as contribuições de Farrelly para o cinema, o seu talento para equilibrar comédia com elementos temáticos mais profundos é novamente colocado em cima da mesa para todos apreciarem, uns mais que outros. Recomendável para todo o tipo de espetadores.

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