Crítica – The Iron Claw

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The Iron Claw oferece uma exploração cativante de como uma paixão geracional pode transformar-se numa obsessão doentia e o seu impacto numa família lendária, elevada pela força de prestações poderosas e determinadas.

Como alguém que cresceu fã de wrestling, mas com pouco conhecimento das gerações pré-WWE, incluindo a lendária família Von Erich, estava certamente interessado no que um filme biográfico baseado nesta última poderia adicionar ao meu gosto pelo desporto de entretenimento. Nunca tinha visto um filme de Sean Durkin (The Nest) antes de The Iron Claw, por isso, pessoalmente, os principais elementos atrativos da obra eram, sem dúvida, o tópico central e o elenco, que, sem dúvida, receberá algum tipo de reconhecimento na atual temporada de prémios.

Um dos temas mais instigantes do filme encontra-se na exploração de como paixão se pode transformar em obsessão doentia, ainda mais quando passada de geração em geração e impulsionada pelo peso de uma educação rígida. The Iron Claw é uma história trágica que traz para a mesa os problemas de saúde mental, a pressão avassaladora e a asfixiante falta de liberdade que acompanham o fardo de dar continuidade a um legado familiar, neste caso, no mundo do wrestling profissional. Durkin navega cuidadosamente a linha delicada entre a busca pela paixão e o perigoso decair para obsessão, pintando um retrato do preço que se cobra tanto aos indivíduos como às suas famílias.

The Iron Claw vai para lá dos limites do ringue, usando-o como metáfora para a mais ampla experiência humana. Durkin retrata a viagem de uma família não apenas pelas suas lutas internas, mas por uma maldição geracional perpetuada pelas expetativas extremamente rigorosas e exigências inflexíveis de figuras patriarcais. O cineasta enfatiza que a procura incessante pela grandeza frequentemente vem a um custo profundo. À medida que a narrativa se desenrola, as personagens lidam com a pressão implacável de manter um legado, uma obrigação que se infiltra em todos os aspetos das suas vidas. O “dever” torna-se um vício psicológico, espremendo a alegria das suas conquistas e deixando-as presas num ciclo interminável de performance em troca de aprovação.

Outro detalhe admirável de The Iron Claw é a sua mensagem em volta da autenticidade do wrestling profissional. Ao reconhecer a natureza encenada das lutas, a obra destaca veementemente os riscos reais, o custo físico e as lesões suportadas pelos lutadores. Ao fazer isso, desmonta a conceção errada de que os resultados predeterminados diminuem de alguma forma a destreza atlética e a coragem necessárias para executar as acrobacias impressionantes que definem o desporto. As sequências no ringue são habilmente filmadas para emular o estilo dinâmico e envolvente tanto das transmissões televisivas como da experiência ao vivo.

O compromisso louvável do elenco em realizar as suas próprias stunts não só acrescenta realismo, mas também ajuda a capturar a essência da profissão fisicamente exigente. The Iron Claw mistura de forma engenhosa a teatralidade das lutas com a intensidade crua e dura dos desafios físicos enfrentados pelos wrestlers – não apenas no ringue, mas também no treino -, criando uma atmosfera imersiva que agradará tanto a entusiastas do desporto como ao público geral.

As poderosas prestações do elenco são cruciais para o sucesso do filme. Zac Efron (Baywatch), Jeremy Allen White (Fingernails), Harris Dickinson (Triangle of Sadness) e Stanley Simons (Superior) formam uma equipa coesa que incorpora brilhantemente a química fraternal no centro da família Von Erich. A representação de Holt McCallany (Nightmare Alley) como o pai, uma figura que empurra os seus filhos a alcançar feitos maiores, aumenta a complexidade da narrativa, sendo que o seu personagem demonstra a tenacidade e a resiliência necessárias para subir no exigente mundo do wrestling profissional, proporcionando um contraste vívido com as tragédias que assolam a família.

Muitos espetadores provavelmente ignorarão a interpretação subtilmente impactante de Maura Tierney (The Report), mas a atriz fornece uma performance matizada das consequências da mencionada obsessão com laços familiares. E, finalmente, Lily James (The Dig), com mais tempo de ecrã do que o esperado, injeta charme refrescante em The Iron Claw, proporcionando um contraponto doce ao ambiente musculado e masculino da casa Von Erich. Todos juntos, o elenco eleva a obra para lá da sua história centrada no wrestling, transformando a mesma num estudo das relações humanas e dos efeitos negativos de paixões desenfreadas.

No entanto, The Iron Claw cai numa armadilha típica do subgénero das biopics desportivas, pois várias imprecisões históricas deixam uma marca clara na obra. Desde alterar motivações por detrás de eventos-chave até à estranha exclusão de certos membros da família, estes desvios da realidade transparecem como enfeites desnecessários projetados para conformar o filme às convenções de contar histórias de Hollywood. Na procura por impacto dramático, Durkin sacrifica parte da verdade vital para que filmes deste tipo transcendam as limitações do seu género. Um erro notável envolve uma tragédia significativa ser atribuída, em parte, à ausência de uma alma romântica e respetiva família, elementos que a figura real realmente possuía. Além disso, a omissão de qualquer referência ao problema generalizado de drogas de aumento de desempenho em desportos como este parece ser uma negligência deliberada que, apesar de esperada, não ajuda o problema geral.

VEREDITO

The Iron Claw oferece uma exploração cativante de como uma paixão geracional pode transformar-se numa obsessão doentia e o seu impacto numa família lendária, elevada pela força de prestações poderosas e determinadas. Apesar de algumas imprecisões e omissões questionáveis que pontuam a narrativa, Sean Durkin consegue encorajar a reflexão sobre o delicado equilíbrio entre sucesso e tragédia na busca por um legado familiar. Sequências de wrestling bem executadas trazem algum valor de entretenimento para o grande ecrã, mas a história profundamente triste no centro da obra torna-o, no geral, uma visualização difícil.

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