Fomos ver Afonso Padilha, E agora? Agora temos uma crítica pronta a ler

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Afonso Padilha trouxe a energia caraterística brasileira para cima de um palco português e para a frente de um público maioritariamente português, ao contrário do que seria de esperar.

O humorista brasileiro Afonso Padilha está em digressão por Portugal com o espetáculo E Agora?, que passa por alguns dos grandes palcos nacionais. Esteve no passado dia 17 de novembro no Teatro Virgínia, em Torres Novas, e eu estive lá, na primeira de duas sessões.

A plateia estava repleta de fãs de comédia, de Afonso Padilha, e dos vários projetos em que o comediante participa. Contudo, há um pormenor que devo apontar, pela positiva surpresa que me causou: esperava uma grande percentagem de público brasileiro, mas, ao contrário do que imaginava, foi o público português que, maioritariamente, encheu aquela primeira sessão. Isto reforça o que tenho vindo a dizer: os portugueses apreciam comédia e há público para stand up comedy em Portugal, público suficiente para encher a mesma sala duas vezes na mesma noite.

Dada a opinião sobre o público, passemos à crítica de E Agora?, a mais recente digressão de Afonso Padilha.

O espetáculo abriu com Denison Carvalho, um comediante brasileiro convidado por Afonso Padilha para fazer a primeira parte de todas as datas em Portugal. Não sei se é por falha minha ou não, mas para mim era um artista desconhecido. Contudo, isso não diz nada da qualidade da performance. O humorista revelou um caráter de estrela, uma presença em palco e uma interação com o público dignas de um espetáculo em nome próprio. Quem sabe se para o ano não está de volta a Portugal, e desta vez é ele quem convida outro comediante para abrir.

Na pequena atuação de cerca de 15 minutos, Denison Carvalho trouxe pouco texto, mas puxou pelo público de uma forma que nunca vi um comediante português a fazer – a comparação é inevitável. O humorista desenvolveu todo um tutorial de como fazer parte da audiência de um espetáculo de stand up comedy – não estou a exagerar: ensina mesmo como nos devemos comportar quando estamos a ver stand up comedy – incentivando à participação do público e chamando “à parte” uma ou outra pessoa, que, de repente, ganharam um papel importante no desenrolar da atuação de Denison.

Afonso Padilha entrou em palco de uma forma calma, revelando o que – acho que todos podemos concordar – não era surpresa para ninguém: nunca tinha estado em Torres Novas. Apesar de nunca ter pisado a cidade, o humorista fez do palco a sua casa e demonstrou uma energia contagiante. Não parou quieto, tomou o palco como seu; e era!

O texto, esse, envolve-se nas experiências de Afonso Padilha, nomeadamente no embate de culturas que viveu recentemente. O humorista andou em digressão pelo Estados Unidos da América e trouxe-nos a sua visão sobre as diferenças culturais entre Portugal, Brasil e os EUA. Dessa digressão resultam largos minutos de humor sobre o (fraco) domínio da língua inglesa. Se foi, ou não, exagero da parte do comediante, isso nunca poderemos saber – apesar da comédia ser isso mesmo: fazer uso do exagero para provocar as gargalhadas que tão bem sabem ouvir. Mas a verdade é que arrancou imensas dessas gargalhadas com este bit sobre a língua inglesa.

Seguem-se bits sobre a vida privada do humorista, sempre com o riso do próprio presente. Não atua de boca trancada, sabe rir de si mesmo e isso acrescenta imenso valor a qualquer espetáculo de humor.

Como disse, a comparação com atuações de humoristas portugueses é inevitável; são energias diferentes, estilos de humor muito semelhantes, mas com algumas diferenças. Afonso Padilha interage constantemente com o público, inserindo a interação no meio dos bits que está a contar, ou até utilizando como introdução a novos bits.

O texto é bom, cumpre a sua missão. Mas um dos pontos mais fortes deste espetáculo é o contacto com o público, e quem acompanha o trabalho de Afonso Padilha também já sabe que é uma das suas grandes qualidades enquanto humorista. Na minha opinião, o texto só pecou por um pormenor: foi demasiado curto. O espetáculo teve cerca de 1h10, já a contar com a atuação de Denison Carvalho e com os inevitáveis desvios do texto e interação com o público. Eu esperava cerca de uma hora de texto de Afonso Padilha, creio não ter acontecido, mas acho que vai ter que ficar para uma próxima vez.

Contudo, na longa lista de humoristas que já tive a oportunidade de ver, o E Agora? de Afonso Padilha leva um sólido 10 em 10.

Afonso Padilha atua em Aveiro ainda hoje, 21 de novembro. Depois segue-se Braga (22 de novembro), Guimarães (23 de novembro), Viseu (24 de novembro), Castelo Branco (25 de novembro) e termina a tour em Lisboa (28 de novembro). Antes da última data europeia, em Lisboa, Afonso Padilha ainda dá um salto a Dublin, na Irlanda, a 26 de novembro.

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