Crítica: Kingdom of the Planet of the Apes

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Kingdom of the Planet of the Apes é uma adição intrigante à saga, repleta de paralelismos fascinantes e uma exploração instigante do legado de Caesar, apesar da falta de profundidade nas motivações de algumas personagens.

O reboot da década passada à enorme saga Planet of the Apes é frequentemente mencionado em debates sobre as melhores trilogias do século e, pessoalmente, não podia estar mais de acordo. Apesar de Rise of the Planet of the Apes de Rupert Wyatt (The Escapist) não pertencer ao mesmo patamar de Dawn e War de Matt Reeves (The Batman), a história que atravessa os três filmes tem os ingredientes narrativos, temáticos e de entretenimento ideais para uma saga de sucesso inegável, para além do uso verdadeiramente impressionante de captura de movimentos Com Wes Ball (The Maze Runner) ao leme e argumento de Josh Friedman (War of the Worlds), as expetativas não podiam estar mais altas para um dos filmes mais antecipados do ano, Kingdom of the Planet of the Apes.

Várias gerações após o reinado de Caesar, os primatas tornaram-se a espécie dominante e vivem harmoniosamente, ao passo que os humanos foram reduzidos a viver na sombra. Enquanto um novo líder tirânico constrói o seu império, um jovem macaco embarca numa viagem que o levará a questionar os ensinamentos que recebeu sobre o passado e a tomar decisões que vão definir o futuro dos símios e dos humanos. Esta é a sinopse oficial de Kingdom of the Planet of the Apes e mantenho-a inalterada, pois desejo que todos os leitores experienciem a obra no cinema sem qualquer surpresa menor estragada – e acreditem em mim, evitem ver mais do que o primeiro trailer.

O mês de maio traz-nos duas obras ligadas a filmes vencedores de muitos prémios e avassaladoramente adorados por uma vasta maioria de críticos e público geral: Furiosa, como prequela/spin-off a uma das melhores obras de ação da história do género, Max Max: Fury Road; e Kingdom of the Planet of the Apes como uma sequela longínqua à última – e a minha favorita – parcela da trilogia anterior. Inevitavelmente, tanto críticos como espetadores cairão ou na armadilha de esperar algo exatamente igual ou superior a obras que podem muito bem ser as suas favoritas de sempre, ou no logro oposto e entrar com uma mentalidade negativa pré-definida para não gostar de nada do que vai passar no grande ecrã por razões frequentemente externas ao filme em si.

Pessoalmente, como alguém que teve a sorte de entrar no cinema sem qualquer tipo de conhecimento visual, sonoro ou narrativo prévio, Kingdom of the Planet of the Apes é uma obra, acima de tudo, interessante. Como sei que a comunidade cinéfila vive – de forma pouco saudável – de comparações constantes, despacho já a afirmação de que Dawn e War continuam no tal patamar distinto. Dito isto, Ball entrega um trabalho com uma visão clara, repleto de temas instigantes, simbolismo importante e aspetos técnicos verdadeiramente incríveis.

O legado de Caesar teve um impacto tal na evolução da sua espécie que se transformou numa figura bíblica. Naturalmente, com o decorrer dos largos anos após a sua Era, as suas palavras, ideais e morais são deturpadas e geram diferentes interpretações da sua liderança. Enquanto alguns tentam seguir as suas “leis”, outros tentam aproveitar-se das mesmas para os seus próprios interesses. O ciclo da vida e as teorias conhecidas da evolução da natureza encaixam na mensagem de que “a história repete-se” e Kingdom of the Planet of the Apes deixa isso claro através da ligação quase inevitável entre religião e guerra.

Owen Teague (Bloodline) entrega uma excelente interpretação do jovem protagonista, Noa, que atravessa a típica “jornada de herói” previsível, mas cativante e muito bem executada. Pelo seu caminho de auto-descoberta, encontra Raka (Peter Macon), um orangotango sábio e conhecedor da história verdadeira de Caesar. Noa aceita os ensinamentos do “professor” Raka e incorpora os ideais de Caesar ao longo do filme, gradualmente tornando-se num personagem cada vez mais completo e, principalmente, em alguém que os espetadores querem ver suceder na sua missão pessoal.

Freya Allan (The Witcher) representa uma personagem humana que vou deixar sem nome, pois é a partir da sua introdução na narrativa que Kingdom of the Planet of the Apes realmente começa a tornar-se fascinante devido às conexões inteligentes com a trilogia anterior. Desde a primeira vez que um primata falou –  o famoso “NO!” de Caesar – ao objetivo desta espécie em encontrar a sua própria casa, os paralelismos de Ball são os melhores momentos do filme, colocando os humanos numa posição e perspetiva semelhante à dos símios no passado. Não são meros piscar de olhos, mas sim pontos de enredo e revelações genuinamente cativantes que contribuem imenso para o desenvolvimento de personagem.

Dito isto, é nesta secção mais temática que Kingdom of the Planet of the Apes contém alguns problemas. Kevin Durand (The Strain) dá voz e corpo a Proximus, um antagonista com uma motivação algo superficial e pouco memorável para alguém com uma visão totalmente distinta daquilo que Caesar defendia. Após tantas lições – que se tornam ocasionalmente demasiado pesadas em exposição já conhecida pelo público – sobre o primata mais importante de sempre, seria de esperar, pelo menos, um diálogo que aprofundasse a perspetiva igualmente interessante de Proximus sobre os ensinamentos de Caesar.

Em Dawn, os espetadores perceberam o porquê do ódio de Koba pelos humanos através de várias interações, cada vez mais intensas e provocadoras, com Caesar. Apenas após estes vários confrontos é que Koba decide tomar medidas pelas próprias mãos. Em Kingdom of the Planet of the Apes, o argumento de Friedman fica-se por apenas desenvolver esta componente mais filosófica no arco de Noa, acabando por deixar Proximus como um vilão esquecível, apesar da boa prestação de Durand.

Um problema semelhante acontece com a personagem de Allan. A atriz demonstra todo o seu talento nato que a tornou numa das atrizes jovens mais interessantes do momento, conseguindo uma expressividade tremenda e uma performance física também de louvar. Infelizmente, algumas decisões de personagem parecem confusas e até contraditórias com o que a mesma comunica através de gestos ou fala. O seu último diálogo em Kingdom of the Planet of the Apes deixou um sabor bastante amargo que espero melhorar com o tempo e futuras parcelas – assumindo que a personagem regressará.

Virando para os aspetos técnicos, é difícil não destacar a qualidade novamente impressionante do trabalho de motion-capture. Kingdom of the Planet of the Apes consegue distinguir-se visualmente das obras anteriores, aproveitando a cinematografia belíssima de Gyula Pados (The Maze Runner) para mostrar as paisagens deslumbrantes deste novo mundo, mas mantendo aqueles planos fechados íntimos entre os primatas. A banda sonora de John Paesano (Daredevil) acompanha bem o enredo e as sequências de ação energéticas, mas não atinge as notas e melodias imersivas e comoventes de Michael Giacchino – é inacreditável o quanto a música deste último consegue transformar mortes de personagens ou imagens bonitas em algo muito mais emocionante.

Pessoalmente, as expetativas foram cumpridas, pois Kingdom of the Planet of the Apes continua o legado de Caesar de uma forma que realmente justifica maior exploração. Existem mensagens importantes para se transmitir, temas complexos para se estudar e um protagonista fantástico para se seguir. Posso não ter saído do cinema totalmente apaixonado por esta nova aventura, mas estarei na fila para a estreia do próximo filme.

VEREDITO

Kingdom of the Planet of the Apes é uma adição intrigante à saga, repleta de paralelismos fascinantes e uma exploração instigante do legado de Caesar, apesar da falta de profundidade nas motivações de algumas personagens. A exploração de temas importantes como religião, guerra e perspetivas distintas sobre figuras bíblicas originam as fases mais imersivas de uma obra que demora a acertar o seu ritmo. Com uma visão clara de Wes Ball e prestações fantásticas, as animações impressionantes contribuem tremendamente para uma experiência visualmente hipnotizante. Para os fãs da saga, é uma continuação que merece ser acompanhada com interesse, prometendo mais reflexões morais sobre a evolução da natureza e o ciclo inevitável da vida.

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