Crítica – A Quiet Place Part II

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A Quiet Place Part II é “menos” do que o seu antecessor em quase todos os elementos, mas continua a ser uma das melhores sequelas do género de horror.

Sinopse: “Após os acontecimentos mortais ocorridos na sua casa, a família Abbott (Emily Blunt, Millicent Simmonds, Noah Jupe) terá agora de enfrentar os terrores do mundo exterior enquanto continua a lutar em silêncio pela sobrevivência. Forçados a aventurarem-se no desconhecido, rapidamente percebem que as criaturas que caçam pelo som não são as únicas ameaças que se escondem para lá do caminho de areia.”

Se estão a ler este artigo, então provavelmente também perderam uns minutos com a minha opinião sobre A Quiet Place de 2018. Se assim for, sabem o quanto adoro este primeiro filme. Uma peça de horror de baixo orçamento com um conceito único que surpreendeu tudo e todos, acabando por se tornar num dos melhores filmes do ano respetivo, bem como uma das melhores histórias de horror originais das últimas duas décadas.

Agora, reconheço que John Krasinski criou algo que pode muito bem vir a ser “the next big thing” no que toca a franchises de horror. No entanto, isso não significa que apoie tal decisão. Artisticamente, preferia muito mais que esta narrativa gerasse apenas uma película, mas sei perfeitamente que, se um filme original for tremendamente bem sucedido na bilheteira – especialmente um que requer pouco dinheiro para fazer -, conversas sobre sequelas irão inevitavelmente surgir.

O único grande problema pessoal com o primeiro filme foi, de facto, o seu final. É uma conclusão admitidamente badass, mas que, ao mesmo tempo, também pareceu um apelo a Hollywood para continuar a história. Não esperava este tipo de fim para um projeto pessoal tão guiado pelas personagens, mas, com toda a honestidade, prefiro ter uma sequela de A Quiet Place do que o 10º filme de SAW ou a continuação da interminável saga Fast & Furious. Dito isto, as minhas expectativas mantinham-se bastante elevadas devido ao envolvimento ainda mais impactante de Krasinski neste filme. Com crédito individual de argumento e, desta vez, com apenas alguns minutos de presença no ecrã, Krasinski teve mais tempo para se concentrar no seu papel técnico principal, entregando, novamente, uma realização magistral.

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Considero A Quiet Place Part II inferior ao seu antecessor em muitos aspetos, mas os níveis extremos de suspense gerados pela realização impecável de Krasinski continuam a ser o ponto alto desta saga. A sequência de abertura lindamente filmada (cinematografia de Polly Morgan) estabelece os limites de tensão incrivelmente elevados para as cenas subsequentes com os monstros, todas exigindo aos espectadores que sustenham a respiração durante largos minutos. Estes momentos de deixar os nervos à flor da pele são elevados ainda mais por prestações fenomenais – já lá chego -, mas Krasinski demonstra um excelente conhecimento da arte de filmmaking, usando os seus melhores atributos em favor do filme. Com uma atmosfera de fazer roer as unhas e de jumpscares eficazes, as personagens encontram algumas manobras de evasão imaginativas para fugir aos monstros.

Infelizmente, este último componente leva-me a um dos problemas principais com esta sequela. O primeiro filme introduz as criaturas de forma impiedosa e letal nos primeiros minutos, onde se torna claro que se alguém fizer o mais pequeno barulho e se um monstro estiver por perto, a morte é certa. Existe uma hipótese mínima de sobrevivência e o final emocionalmente ressoante também atesta este aspeto fundamental de todo o conceito à volta das “bestas caçadoras de som”. No entanto, durante toda a sequela, incluindo o início fantástico, é como se os espectadores testemunhassem monstros diferentes. Se o primeiro filme já possuía algumas questões lógicas, esta sequela aumenta o número de nitpicks pessoais.

Quase todos conseguem fugir durante imenso tempo antes das criaturas se aproximarem – tanto que acreditava firmemente que o filme voltaria à sequência de abertura para explicar como é que as personagens principais escaparam a um ataque específico. Os protagonistas sobrevivem a situações absurdamente improváveis devido ao famoso plot armor pesado. Até várias decisões de personagens/narrativas são altamente dúbias, particularmente o gatilho que inicia o terceiro ato. Depois do filme original, onde tudo parece surpreendentemente realista e longe de disparates sem sentido, saltar para a continuação da mesma história e ter de desligar o cérebro constantemente é um pouco dececionante, especialmente porque o argumento mantém-se incrivelmente focado nas personagens.

Quase todos os elementos desta sequela contêm menos impacto emocional do que a peça anterior, mas está longe de ser uma grande desilusão. De facto, tendo em conta a competição do género, A Quiet Place Part II até pode ser uma das melhores sequelas de horror de sempre. Em primeiro lugar, os atores são absolutamente magníficos. Emily Blunt (Evelyn) e Cillian Murphy – alguém que não antecipava ter tanta importância e tempo de ecrã – trazem a sua experiência para um filme onde os “miúdos” são quem realmente brilha. Noah Jupe (Marcus) e Millicent Simmonds (Regan) roubam os holofotes aos colegas mais renomados, apresentando performances impressionantes que certamente garantirão várias nomeações para prémios até ao fim do ano.

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O foco em explorar profundamente as personagens reforça a ligação emocional com os espectadores, fazendo com que todas as cenas carreguem um certo gravitas. Os dilemas éticos são muito bem abordados através da personagem de Murphy, Emmett, que cria uma conexão inesperada com Regan. Esta última destaca-se como uma rapariga surda corajosa, inteligente e altruísta, que deverá inspirar imensas pessoas por todo o mundo – de relembrar que Simmonds, também surda na vida real, traz uma autenticidade brutal ao seu papel. Tal como o filme original, a maioria dos diálogos são executados por linguagem gestual, por isso, a narrativa também é desenvolvida através de storytelling visual. Mais uma vez, Krasinski sabe perfeitamente quando e como contar ao público algo exclusivamente através da câmara, muitas vezes apenas silêncio puro, mantendo a atenção dos espectadores no ecrã durante todos os segundos.

Ao longo da sequela, existem vários pormenores e callbacks visuais ao primeiro filme que apreciei bastante, tais como um determinado objeto numa prateleira ou uma frase repetida. O final tem menos peso emocional do que os últimos minutos chocantes do original, mas o último ato inteiro será considerado uma das conclusões mais impecavelmente editadas do ano. Michael P. Shawver necessita de montar e ir trocando entre duas sequências excruciantemente tensas em locais completamente diferentes com personagens importantes que enfrentam o mesmo nível de perigo. A ação é apresentada sem problemas, permitindo ao público desfrutar genuinamente dos últimos momentos do filme sem uma edição irritantemente agitada. A banda sonora de Marco Beltrami é verdadeiramente cativante e arrepiante durante a totalidade deste ato.

A Quiet Place Part II é “menos” do que o seu antecessor em quase todos os elementos, mas continua a ser uma das melhores sequelas do género. Desde a sequência de abertura arrebatadora e frenética – maior parte filmada em takes longos e ininterruptos – até um dos finais mais impressionantemente editados dos últimos anos anos, John Krasinski mantém uma atmosfera incrivelmente tensa e repleta de suspense durante todo o tempo de execução, algo que se está a tornar uma espécie de “marca registada” da sua carreira enquanto realizador.

Relativamente à história, as personagens continuam a ser o foco principal da narrativa. Apresentando dilemas emocionais e desenvolvimento de personagem ousado, as crianças têm um impacto surpreendente no argumento. Cillian Murphy e Emily Blunt são excelentes, mas Noah Jupe e Millicent Simmonds são absolutamente excecionais, especialmente a última. No entanto, os monstros são representados de uma forma muito menos ameaçadora e letal, levando a muitas decisões de enredo questionáveis, bem como a situações absurdas de sobrevivência. Para além disto, faltam revelações significativas e ideias criativas no que toca ao world-building desta nova franchise.

No geral, é um filme com menos peso emocional que o original, o que não significa que seja uma desilusão, mas esperava mais desta sequela. Mesmo assim, recomendo vivamente que assistam no cinema. Afinal de contas, a maioria do público e da própria crítica tem desfrutado imenso deste filme…

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