De uma forma ou outra, música nunca falta, mas este ano foi qualquer coisa. Voltaram os concertos e, com eles, muito do que aparece nesta seleção ganha um sabor especial.
É verdade. Após dois anos sem música ao vivo, 2022 foi o ano de voltar a ouvir música com força. Não fui ao MEO Kalorama e Super Bock Super Rock por falta de disponibilidade, mas, ainda assim, consegui assistir a 72 concertos, em quatro países diferentes – 14 dos quais foram de artistas presentes nesta seleção (e 16 da seleção de 2021).
Para 2023, 19 dos artistas que contribuíram para algumas das melhores músicas presentes neste top já têm presença marcada para alguns dos maiores festivais de verão do ano. Aproveito para fazer serviço público, deixando uma nota debaixo da “entrada” do artista em causa, de forma a saberem onde poderão vê-lo ao vivo. Está na hora de sair de casa e vibrar com o melhor do que o mundo da música nos tem para oferecer.
Quanto ao processo de seleção para este top, posso dizer que foi duro. Muito por ter andado a correr atrás do prejuízo nos artigos de álbuns essenciais e ter decidido (à última da hora) refazer o meu primeiro top de sempre, o das 50 melhores músicas de 2012, que passou a 100.
Cheguei ao fim sem ter definido quem iria ficar em primeiro, mas a indecisão final prendeu-se com duas músicas, ambas muito fortes, que definiram 2022. Qualquer uma delas poderia ter ficado em 1º, mas segui o meu instinto e ficou decidido após meia hora a ouvir e a re-ouvir.
Espero que desfrutem das músicas contidas nesta seleção e encontrem três coisas: Algo que já conheçam, algo que não sabiam que conheciam e algo que não conheciam, mas ficaram a gostar.
Ah, o link para a playlist no Spotify (organizada) pode ser encontrado no fim do artigo.
100º Amber Mark – What It Is
[Análise do álbum “Three Dimensions Deep”]
99º Suede – She Still Leads Me On
[Análise do álbum “Autofiction”]
98º The Blaze – The Dreamer
>>> MEO Kalorama, Lisboa
97º Freddie Gibbs – Couldn’t Be Done (ft. Kelly Price)
[Análise do álbum “$oul $old $eparately”]
96º Father John Misty – Q4
[Análise do álbum “Chloe and the Next 20th Century”]
95º Dehd – Bad Love
[Análise do álbum “Blue Skies”]
94º Placebo – Beautiful James
[Análise do álbum “Never Let Me Go”]
93º Sharon Van Etten – Anything
[Análise do álbum “We’ve Been Going About This All Wrong”]
92º The Smile – The Smoke
[Análise do álbum “A Light For Attracting Attention”]
91º Stella Donnelly – How Was Your Day
[Análise do álbum “Flood”]
90º Bartees Strange – Wretched
[Análise do álbum “Farm To Table”]
89º Sudan Archives – Selfish Soul
[Análise do álbum “Natural Brown Prom Queen”]
88º Katy J Pearson – Talk Over Town
[Análise do álbum “Sound Of The Morning”]
87º Oliver Sim – Hideous (ft. Jimmy Somerville)
86º Soul Glo – Gold Chain Punk (whogonbeatmyass?)
85º Arlo Parks – Softly
>>> Primavera Sound, Porto
84º Cass McCombs – Belong To Heaven
[Análise do álbum “Heartmind”]
83º The 1975 – Oh Caroline
[Análise do álbum “Being Funny In A Foreign Language”]
>>> Super Bock Super Rock, Meco
82º TSHA – OnlyL (ft. NIMMO)
[Análise do álbum “Capricorn Sun”]
81º Carly Rae Jepsen – Western Wind
[Análise do álbum “The Loneliest Time”]
80º Brockhampton – Brockhampton
[Análise do álbum “The Family”]
79º Arctic Monkeys – Body Paint
[Análise do álbum “The Car”]
>>> NOS Alive, Lisboa
78º Lizzo – About Damn Time
[Análise do álbum “Special”]
>>> NOS Alive, Lisboa
77º FLO – Cardboard Box
76º Jean Dawson – Three Heads*
[Análise do álbum “CHAOS NOW*”]
75º Stormzy – Mel Made Me Do It
74º Let’s Eat Grandma – Levitation
[Análise do álbum “Two Ribbons”]
73º Porridge Radio – The Rip
[Análise do álbum “Waterslide, Diving Board, Ladder To the Sky”]
72º RM – Still Life (ft. Anderson .Paak)
[Análise do álbum “Indigo”]
71º Maggie Rogers – That’s Where I Am
[Análise do álbum “Surrender”]
>>> Primavera Sound, Porto
70º PUP – Cutting Off The Corners
[Análise do álbum “The Unraveling of PuptheBand”]
>>> Primavera Sound, Porto
69º BABYMETAL – Monochrome
68º Sampa The Great – Never Forget (ft. Chef 187, Tio Nason & Mwanje)
[Análise do álbum “As Above So Bellow”]
>>> Super Bock Super Rock, Meco
67º Dry Cleaning – Don’t Press Me
[Análise do álbum “Stumpwork”]
>>> Vodafone Paredes de Coura, Paredes de Coura
66º Charli XCX – Beg For You (ft. Rina Sawayama)
[Análise do álbum “Crash”]
65º Laufey – Fragile
[Análise do álbum “Everything I Know About Love”]
64º Rolling Blackouts Coastal Fever – The Way It Shatters
[Análise do álbum “Endless Rooms”]
63º Nilüfer Yanya – anotherlife
[Análise do álbum “Painless”]
62º The Beths – Expert In A Dying Field
[Análise do álbum “Expert In A Dying Field”]
>>> Primavera Sound, Porto
61º MUNA – Anything But Me
[Análise do álbum “Muna”]
60º First Aid Kit – Out Of My Head
[Análise do álbum “Palomino”]
59º Just Mustard – Still
[Análise do álbum “Heart Under”]
58º Alt-j – Happier When You’re Gone
[Análise do álbum “The Dream”]
57º Kendrick Lamar – Die Hard (ft. Blxst & Amanda Reifer)
[Análise do álbum “Mr. Morale & The Big Steppers”]
>>> Primavera Sound, Porto
56º Florist – Red Bird Pt. 2 (Morning)
[Análise do álbum “Florist”]
55º Confidence Man – Holiday
54º Danger Mouse – Belize (ft. MF DOOM)
[Análise do álbum “Cheat Codes”]
53º ROSALÍA – Hentai
[Análise do álbum “Motomami”]
>>> Primavera Sound, Porto
52º Plains – Problem With It
[Análise do álbum “I Walked With You A Ways”]
51º Beabadoobee – The Perfect Pair
[Análise do álbum “Beatopia”]
50º Beyoncé – Alien Superstar
[Análise do álbum “Renaissance”]
49º Big Thief – Simulation Swarm
[Análise do álbum “Dragon New Warm Mountain I Believe In You”]
48º Ghost – Darkness At The Heart Of My Love
[Análise do álbum “Impera”]
47º Aldous Harding – Fever
[Análise do álbum “Warm Chris”]
46º Nas – 30
[Análise do álbum “King’s Disease III”]
45º Noah Cyrus – Noah (Stand Still) [ft. Billy Ray Cyrus]
[Análise do álbum “The Hardest Part”]
44º Fred Again.. – Danielle (Smile On My Face)
>>> Primavera Sound, Porto
43º Beach House – New Romance
[Análise do álbum “Once Twice Melody”]
42º The Weeknd – Less Than Zero
[Análise do álbum “Dawn FM”]
41º Horsegirl – Anti-Glory
[Análise do álbum “Versions Of Modern Performance”]
40º Julia Jacklin – Lydia Wears A Cross
[Análise do álbum “Pre Pleasure”]
39º FKA Twigs – Oh My Love
[Análise do álbum “Caprisongs”]
>>> Primavera Sound, Porto
38º Tomberlin – Happy Accident
[Análise do álbum “I Don’t Know Who Needs To Hear This…”]
37º WILLOW – Split
[Análise do álbum “COPINGMECHANISM”]
36º Hurray For The Riff Raff – Pierced Arrows
[Análise do álbum “Life On Earth”]
35º Rina Sawayama – This Hell
[Análise do álbum “Hold The Girl”]
>>> NOS Alive, Lisboa
34º Vince Staples – MAGIC (ft. Mustard)
[Análise do álbum “Ramona Park Broke My Heart”]
33º Kevin Morby – This Is A Photograph
[Análise do álbum “This Is A Photograph”]
32º Nilüfer Yanya – The Dealer
[Análise do álbum “Painless”]
31º Harry Styles – As It Was
[Análise do álbum “Harry’s House”]
30º Black Country, New Road – The Place Where He Inserted The Blade
[Análise do álbum “Ants From Up There”]
>>> Super Bock Super Rock, Meco
29º Mitski – Love Me More
[Análise do álbum “Laurel Hell”]
28º Pusha T – Diet Coke
[Análise do álbum “It’s Almost Dry”]
>>> Primavera Sound, Porto
27º Weyes Blood – It’s Not Just Me, It’s Everybody
[Análise do álbum “And In The Darkness, Hearts Aglow”]
26º Yeah Yeah Yeahs – Wolf
[Análise do álbum “Cool It Down”]
25º Angel Olsen – All The Good Times
[Análise do álbum “Big Time”]
>>> NOS Alive, Lisboa
24º SZA – Ghost In The Machine (ft. Phoebe Bridgers)
[Análise do álbum “S.O.S.”]
23º Nova Twins – Antagonist
[Análise do álbum “Supernova”]
22º Caroline Polachek – Welcome To My Island
21º Taylor Swift – Anti-Hero
[Análise do álbum “Midnights”]
20º Kae Tempest – More Pressure (ft. Kevin Abstract)
[Análise do álbum “The Line Is A Curve”]
19º Wet Leg – Angelica
[Análise do álbum “Wet Leg”]
18º Megan Thee Stallion – Plan B
[Análise do álbum “Traumazine”]
17º Soccer Mommy – Shotgun
[Análise do álbum “Sometimes, Forever”]
16º Phoenix – Tonight (ft. Ezra Koenig)
[Análise do álbum “Alpha Zulu”]
15º Bad Bunny – Neverita
[Análise do álbum “Un Verano Sin Ti”]
14º Fontaines D.C. – I Love You
[Análise do álbum “Skinty Fia”]
13º Alvvays – Belinda Says
[Análise do álbum “Blue Rev”]
>>> Primavera Sound, Porto
12º Alex G – Runner
[Análise do álbum “God Save The Animals”]
11º ROSALÍA – Saoko
[Análise do álbum “Motomami”]
>>> Primavera Sound, Porto
10º Jockstrap – Concrete Over Water
[Análise do álbum “I Love You Jennifer B”]
>>> Primavera Sound, Porto
9º Yeule – Bites On My Neck
[Análise do álbum “Glitch Princess”]
8º Denzel Curry – Walkin
[Análise do álbum “Melt My Eyes See Your Future”]
7º NewJeans – Ditto
6º SZA – Kill Bill
[Análise do álbum “S.O.S.”]
5º Sudan Archives – Home Maker
[Análise do álbum “Natural Brown Prom Queen”]
4º Kendrick Lamar – N95
[Análise do álbum “Mr. Morale & The Big Steppers”]
>>> Primavera Sound, Porto
3º Nilüfer Yanya – Midnight Sun
[Análise do álbum “Painless”]
A par de Kendrick Lamar, Nilüfer Yanya foi a grande artista do ano. Com o seu segundo álbum, Painless, confirmou o que já se desconfiava após Miss Universe (2019): o quão completa e brilhante é. Yanya não se limita a gravar música – vai muito para além disso, numa conjunção entre sonoridades e arranjos ímpares e um alcance vocal em metamorfose constante, que a permitem fazer algo novo, aprazível e quase sempre impressionante.
É difícil encontrar uma música inconsequente da artista, principalmente pelo engenho e criatividade que tem na hora de escrever as suas canções. Prova disso é eu ter incluído três músicas da sua autoria nas 100 finais.
“Midnight Sun”, segundo a artista, é uma música sobre reconhecer o sentimento de se ser deitado abaixo, mas sem desistir da vontade de resistir, fazendo da confiança que temos em nós a nossa muleta para lutar de volta. A letra insinua que existe uma luz que nos guia através de escuridão e o ritmo faz alusão à beleza da capacidade de confrontação e necessidade de rebelião.
Se “Midnight Sun” fosse a música número 1 do ano, o “prémio” não seria mal entregue.
2º Steve Lacy – Bad Habit
[Análise do álbum “Gemini Rights”]
O sucesso imediato de Steve Lacy não é obra do acaso e, quando falei do seu novo álbum, referi todos os seus feitos no mundo da música enquanto produtor. Talento nunca foi algo escasso e, ainda que o álbum não faça justiça a “Bad Habbit”, é uma obra prima.
Por detrás de um instrumental e ritmo viciante, está uma letra que reflete sobre uma atração a alguém e o que poderia ter desabrochado dessa atração caso ele tivesse tido coragem de ser frontal e sincero sobre o que sentia para com essa pessoa.
“Bad Habit” rapidamente ascendeu ao topo de vários charts e tornou-se num sucesso comercial instantâneo (de forma meritória) e, apesar da falta de credibilidade da maioria desses charts, pode-se dizer que desta vez justifica-se o burburinho.
1º Ethel Cain – American Teenager
[Análise do álbum “Preacher’s Daughter”]
“American Teenager” foi o 3º single no álbum de estreia de Ethel Cain (Preacher’s Daughter) e foi o tiro mais certeiro da sua carreira, musicalmente e a nível de mensagem passada. Isto vem provar o quão inteligente e atenta é Cain, ainda que por vezes passe a sensação de “deslocada”.
Criada no seio da verdadeira comunidade americana, cresceu rodeada de temáticas clichés como o NASCAR, cheerleading e rock n roll. Porém, não foi preciso muito tempo até se aperceber que o sonho que é vendido é falso, citando que “precisamos” mais do nosso vizinho do que o país precisa de “nós”.
Assim nasceu esta música, que transporta toda a frustração sobre o que ser adolescente nos Estados Unidos deveria ser, mas nunca foi, não é e dificilmente será. Uma sátira genial a um dos países mais hipócritas, a nível político.
A título de curiosidade, Ethel Cain leva o que defende tão a peito, que não pode deixar passar em branco o facto de Barack Obama ter incluido esta mesma música na sua lista pessoal de músicas do ano.