Música: Álbuns essenciais (setembro 2022)

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Uau, que mês estrondoso, setembro!

Este ano, a certa altura decidi deixar de incluir álbuns de ★★★½ na seleção analisada e parte dos de ★★★★ também deixaram de constar. Daí as minhas seleções, que outrora incluíam sempre entre 13 e 18 álbuns, e passaram a incluir apenas 12 como número fixo. Em setembro, pela primeira vez em 2022, volto a incluir 14 álbuns em análise e sete álbuns na secção de “outros álbuns a ouvir”, que também é um recorde absoluto, fazendo deste o mês em que incluí mais álbuns na lista dos que merecem ser ouvidos (21!)

Deixando a análise de dados e estatística, que curiosamente é o meu trabalho do dia-a-dia para além deste hobby da escrita, vamos ao que interessa. Setembro foi belo e amarelo, mas já lá vai – há mais tempo do que gostaria, porque significa que estou bastante atrasado na escrita deste artigo. Mas foi belo porque a música que trouxe com ele foi tão ou mais bela.

Alex G e Rina Sawayama, que apresentaram novos singles em Portugal este ano, estiveram ambos à altura do “prometido”. Houve algumas bandas e artistas promissores a justificar o burburinho, como foi o caso de Noah Cyrus e Jockstrap. Outros a explodir como foi o caso de Sudan Archives e Sampa The Great. No entanto, este foi o mês da redenção de bandas que estiveram separadas, como foi com os Yeah Yeah Yeahs e Suede, ou até de artistas que apenas precisavam de um pequeno empurrão ,como foi o caso de Santigold. Depois disto pergunto: que é que há para não gostar, em setembro? Até digo mais… Comecem a fazer scroll e a procurar o que “há para gostar”.

[Álbuns essenciais de agosto]

Alex G – God Save The Animals

Alex G God Save The Animals metacritic

Género: Experimental Pop/Indie Folk

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Durante vários anos, Alexander Giannascoli parecia imparável e insaciável na produção musical, mas foi só em 2019 que conseguiu materializar todo o seu talento num álbum marcante e intemporal (do qual saiu “Gretel”, uma das melhores músicas e videoclip mais inesperado do ano), conseguindo fazer do “experimental” a palavra de ordem numa desordem e imprevisibilidade, que o colocaram nas bocas dos grandes meios de comunicação musicais.

God Save The Animals não só mantém a carreira de Alex G no auge em que este a deixou há 3 anos, como como prova que House of Sugar não foi obra do acaso nem um rasgo esporádico de genialidade. Neste álbum, que consegue ser ainda mais diverso que o anterior a nível de géneros, tudo parece funcionar bem.

Os céticos defendem que o artista se esconde muito por detrás da música e pouco dá de si, através de um exercício preguiçoso e simplista de escrita. Ainda que consiga perceber a ideia por detrás destes pontos de vista, uma coisa é certa, Giannascoli continua fiel a ele mesmo. Isto é, com escrita direta e disfuncional, recheada de pensamentos espontâneos, mas decifráveis. Basta que seja feita uma leitura de entrelinhas, que estes acabam por se tornar tão claros como a água mais cristalina.
Tive a oportunidade de assistir ao concerto de Alex G no Vodafone Paredes de Coura 2022 e senti que o setup foi feito para a música que apresentou.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> After All
> Runner
> No Bitterness
> Blessing
> Miracles

Beth Orton – Weather Alive

Beth Orton Weather Alive

Género: Folktronica/Trip Hop

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Depois de um início de carreira em meados dos anos 90, que lhe valeu um Brit Award e uma série de nomeações, Beth Orton abrandou e acabou por eclipsar a carreira que deixou de ter álbuns assinaláveis, ao nível de Trailer Park (1996) ou Central Reservation (1999), tendo-se inclusive afastado dos géneros que a caracterizavam como o Folktronica. Infelizmente, foram precisos mais de 20 anos para voltar a ouvir outra grande produção da artista britânica -, apesar dos álbuns lançados até aqui, que sempre tiveram o seu quê de beleza intrínseca.

Aos 51 anos, Beth Orton compila oito músicas com uma produção instrumental belíssima, ainda que relativamente nua, com algumas nuances do Trip-Hop que a viu nascer (“Forever Young” é um bom exemplo do que me refiro). Estas oito faixas trazem consigo a visão da artista em relação ao que a rodeia e o que isso a faz sentir, num exercício de escrita fabulosa. Um álbum muito bom, quase perfeito, que pode trazer Beth Orton de volta (se não o fizer, já valeu a pena, de qualquer das formas).

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Weather Alive
> Friday Night
> Forever Young

Crack Cloud – Tough Baby

Crack Cloud Though Baby

Género: New Wave/Experimental

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Tough Baby é o segundo álbum dos Crack Cloud e, apesar de não estar a nível de Pain Olympics (2020), continua a ser uma exposição fiel ao que a banda pretende oferecer: caos.
À medida que vamos avançando no álbum e achamos que estamos a descobrir um padrão, desenganamo-nos com a música seguinte que contrasta rigidamente com a anterior e com a seguinte. É também irrefutável que a extensão da música que partilha o nome com o álbum justifica esta máxima de imprevisibilidade.

Não tenho nada contra nenhuma faixa em concreto, adoro praticamente todas, mas não posso deixar de reconhecer que esta mistura caótica de géneros, ritmos, tempos e sonoridades não ajuda a fazer deste um álbum pleno no meio de tanto caos. Se não soubesse que estava a ouvir uma sequência de músicas pertencentes ao mesmo álbum/banda, provavelmente acharia que o algoritmo do Spotify tinha decidido dar-me uma série de músicas aleatórias.

Em todo o caso, Tough Baby é um daqueles álbuns que me dá gosto ouvir, mas não o consigo achar mais do que “bom”.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Costly Engineered Illusion
> Please Yourself
> Tough Baby

Freddie Gibbs – $oul $old $eparately

Freddie Gibbs oul old eparately

Género: Hip Hop

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Há dois anos, Freddie Gibbs lançou Alfredo que, a par de Bandana (2019), foi um dos seus álbuns de colaboração mais caprichados, com uma série de performances estrondosas como de Rick Ross ou Tyler The Creator. Este mês lançou o seu 5º álbum a solo e, mais uma vez, ficou aquém das expectativas criadas pelos dois projetos com Madlib e pelo com The Alchemist.

$oul $old $eparetely, apesar de ter alguns triunfos e capturar algumas composições musicais clássicas, parece menos refinado e objetivo. Não há o mesmo sentido de propósito que senti com Alfredo – que até constou na minha seleção de melhores álbuns desse ano – e nem tão pouco surpreende a nível lírico.

Nota positiva para a colaboração com Offset e Kelly Price que, à sua maneira distinta, conseguem transmitir grande energia.

Terminando o álbum, fica a sensação de que cumpre, mas não surpreende – ainda não foi desta que Freddie Gibbs provou o que consegue fora de um álbum colaborativo.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Couldn’t Be Done (ft. Kelly Price)
> Pain & Strife (ft. Offset)
> Too Much (ft. Moneybagg Yo)
> Dark Hearted

Jockstrap – I Love You Jennifer B

Jockstrap I Love You Jennifer B

Género: Experimental Pop/Electropop

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Acima falei de como a imprevisibilidade pode prejudicar a sanidade de qualquer álbum e, agora, tenho a oportunidade para vos apresentar um álbum ao qual a imprevisibilidade jogou a favor e fez dele uma pedra preciosa, que de certo que vai constar na coroa de melhores álbuns de 2022.
Jockstrap é um dupla encabeçada por Georgia Ellery (vocais, violino e guitarra) que também é violinista e vocais secundários nos Black Country, New Road, e Taylor Skye (produção e mistura eletrónica). Após um conjunto de singles entre 2018 e 2020, é lançado (finalmente) o álbum de estreia dos Jockstrap, e é tudo e muito mais do que aquilo que poderíamos ter pedido.

I Love You Jennifer B contém nele irreverência juvenil, criatividade envolta em divagação e plenitude sem origem. A grande sensação que fica é que este é um produto com orientação claramente ligada com o género Pop, todavia, a composição musical surge envolta em arranjos mais complexos e delicados em simultâneo.

A empurrar no mesmo sentido temos a voz suave e sussurrada de Ellery, que não só ganhou espaço em Ants From Up There, como demonstra ter capacidade para muito mais. Caso decida servir-se deste projeto e estabelecer-se como a ótima vocalista que é, em parceria com a inventividade de Skye, estou certo que o futuro vai sorrir a esta dupla.

Se chegarmos a “Concrete Over Water” sem estar convencidos, dificilmente a deixamos mantendo o mesmo sentimento. Se tal acontecer, é ouvir o álbum outra vez. Caso estejam convencidos, vão conseguir apreciar a balada que é “Glasgow” e a loucura desmedida em “50/50” – que surge mais desconectada do resto do álbum, mas permite a Skye brilhar e mostrar o que ainda está para vir.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Neon
> Jennifer B
> Greatest Hits
> Concrete Over Water
> Glasgow
> 50/50

Noah Cyrus – The Hardest Part

Noah Cyrus The Hardest Part

Género: Country-Soul/Acoustic Pop

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De todas as surpresas que tive em 2022, The Hardest Part foi a maior. Até então, nem sequer fazia ideia que havia mais alguém talentoso na família Cyrus.

O melhor de The Hardest Part é ser um álbum direto e sincero. Através de um construção melódica acústica deveras agradável (a pender para o Folk) e de uma escrita sensível e vulnerável, Noah consegue expor e decompor assuntos e pensamentos contra os quais teve de lutar e aprender a lidar ainda em muito tenra idade.

Qualquer um pode dizer o que bem entender e se calhar até “vender” uma versão deturpada do que realmente aconteceu, mas a verdade é que, após algum trabalho de pesquisa mais aprofundado, foi-me possível concluir que este álbum reflete na totalidade o que tem sido a vida de Noah ao longo dos últimos anos. Também não tenho dúvidas nenhumas do valor de tudo o que a jovem artista diz, isto porque, apesar de ter passado por muitas lutas de forro psicológico, foi para além disso. O olhar para dentro e perceber o que ajuda especializada pôde fazer por ela não se limitou a esperar até sarar quaisquer feridas internas que possa ter.

Noah Cyrus tem apenas 22 anos, mas age como se já tivesse mais, pois para além de abraçar toda a ajuda que tem recebido, decidiu dar algo de volta com a música. Em 2019, com o lançamento do single “Lonely”, lançou também produtos associados ao single e doou todos os fundos conseguidos à The Jed Foundation, cuja missão é proteger a saúde emocional e prevenir o suicídio adolescente e de jovens adultos. Mais tarde juntou-se à app Depop e colocou muita da sua roupa à venda para fazer novas doações à The Jed Foundation.

Sem ter a ver com a parte mais emocional e psicológica, mas que dá uma ideia do quão genuína é Noah, vale a pena salientar outras atitudes que tem tido ao logo da sua juventude. Em 2013, a artista usou o seu aniversário para angariar fundos para banir o uso de carruagens puxadas a cavalo em Nova Iorque. Mais recentemente, deu a cara para uma campanha da PETA contra a dissecação de animais na escola e deu o seu apoio a favor do boicote dos parques aquáticos SeaWorld.

Esta segunda parte pouco tem a ver com a sua música, mas diz muito sobre o seu carácter. Em relação à música, acho que não é necessário dizer muito mais. The Hardest Part foi a parte mais difícil e está concluída com sucesso, que foi o início de carreira de uma artista com tanto para dar em cima da palco e nos bastidores. Agora é esperar para ver o que Noah Cyrus via fazer a seguir.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Noah (Stand Still)
> Ready to Go
> Mr. Percocet
> Unfinished
> Noah (Stand Still) [ft. Billy Ray Cyrus]

Rina Sawayama – Hold The Girl

Rina Sawayama Hold The Girl

Género: Electropop/Dance Pop

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Rina Sawayama que, através do seu álbum de estreia (em 2020), revolucionou a perceção da maleabilidade do Pop enquanto género, está de volta.

As expectativas eram muitas, mas infelizmente Sawayama afastou-se do género que a fez explodir e a diferenciou. O Nu-Metal ficou esquecido, dando lugar a batidas de pop e eletropop dançantes. Consigo ver valor nisto dado que, após ver Rina Sawayama ao vivo no NOS Primavera Sound, foi-me possível constatar que ela é uma performer incrível, logo este álbum acaba por ir ao encontro do que a artista almeja.

Li que este álbum se aproxima ao Future Nostalgia de Dua Lipa e, apesar de o achar mais expressivo e com um ritmo mais elevado, consigo perceber o ponto de vista. Digo isto porque acredito que Hold The Girl tem potencial para melhorar os ânimos num dia mais parado e incendiar pistas de dança, sem nunca perder o sentido de mensagem que Sawayama gosta de incluir nas suas músicas e faz com extrema qualidade.

Mais importante que produzir músicas para se manter relevante é produzir música que signifique algo para o artista, e nesse campo Rina Sawayama é exímia, oferecendo mais um álbum muito bom – 2 em 2!

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Hold That Girl
> This Hell
> Catch Me In The Air
> Hurricanes
> Phantom

Sampa the Great – As Above, So Below

Sampa the Great As Above So Below

Género: Hip Hop

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Da Zâmbia para o mundo, Sampa the Great é uma das artistas mais promissoras a despontar do continente africano. Em 2019 entrou de rompante na vida de quem aprecia Hip Hop com The Return, álbum pré-pandemia que, para além de impactante, foi deveras elucidativo a nível de mensagem.

As Above, So Below encontra muita da sua força na performance, nas referências e colaborações, o que é legítimo. Para além disso, Sampa Tembo apoia-se nas letras para celebrar a força da herança cultural com a qual cresceu, dando origem a uma ótima produção com faixas muito importantes, como é o caso de “Never Forget” em colaboração com Chief 187, Tio Nason e Mwanjé.

Embora encontre imenso valor neste álbum, noto um hibridismo melódico entre a cultura e o mainstream. Este ponto é bastante subjetivo, dependendo muito de como o artista se apresenta ao mundo. Tenho como exemplo Burna Boy, que trouxe o melhor do Afrobeats e Dance Hall com African Giant (2019), e logo após esse álbum decidiu enveredar pelo Pop para se estabelecer, perdendo quase tudo o que o diferenciava.

Sampa, apesar de estar muito longe disso, aproxima-se ligeiramente com este álbum. Em todo o caso, as raízes continuam bem patentes e o hibridismo jogou lindamente a favor de As Above, So Bellow, que é provavelmente o melhor álbum de hip-hop do ano.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Lane (ft. Denzel Curry)
> Never Forget (ft. Chief 187, Tio Nason & Mwanjé)
> Mask On (ft. Joey Bada$$)
> Bona
> Tilibobo

Santigold – Spirituals

Santigold Spirituals

Género: Alternative Dance/Electronic

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Provavelmente muitos de vocês não se lembram (ou nunca prestaram a devida atenção), mas entre 2008 e 2012, Santigold foi a maior powerhouse da indústria musical de Alternative Dance e Dubtronica, com faixas recheadas de toques, torções e surpresas de deixar uma pessoa atónita por descobrir novas sonoridades.

Subitamente perdeu o brilho e, por sua vez, espaço de mercado. Lançou mais dois álbuns, mas dificilmente encontraram um single que os suportasse, e Santigold eclipsou-se…

Após quatro anos em hiato quase absoluto (poucas colaborações fez durante esse período de tempo), Santigold fez-se independente de editoras e juntou uma equipa de criativos de luxo em torno dela, tais como Rostam Batmanglij (o génio por detrás dos Vampire Weekend), Boys Noize (que dispensa apresentações), Nick Zinner (guitarrista dos Yeah Yeah Yeahs que também lançaram álbum este ano) e pescou ainda as colaborações de Illangelo, Lido ou SBTRKT – pode-se dizer que resultou, em parte.
Apesar de Spirituals não estar ao nível de Santigold (2008) e Master of My Make-Believe (2012), é facilmente o melhor álbum desde o segundo. Num clima sonoro a que Santigold sempre nos habituou, Spirituals tem o potencial para tirar o pó da carreira da artista norte-americana.

A única reserva que me impede de dar mais de 4 estrelas a este álbum acaba por ser o mesmo motivo que levou a grande parte da crítica a não atribuir uma nota de excelência. Santigold usou Spirituals para quebrar correntes e soltar-se do que atrasou a sua carreira durante 10 anos (algo bem patente nas letras de algumas músicas que denotam residiência), mas o problema é que, com esta explosão, houve um pouco de dualidade no álbum. Temos faixas muito fortes e faixas que existem sem acrescentar grande valor “extra” ao álbum.

Em todo o caso, é um álbum que entretém e mais do que bom para barulho de fundo a dar ritmo às tarefas quotidianas.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> My Horror
> Nothing
> High Priestess

Sudan Archives – Natural Brown Prom Queen

Sudan Archives Natural Brown Prom Queen

Género: R&B/Electro

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Se Brittney Parks, por detrás de Sudan Archives, já tinha brilhado com o seu álbum de estreia Athena (2019), Natural Brown Prom Queen faz dela a estrela mais incandescente do universo R&B mesclado com música eletrónica. A particularidade das estrelas mais incandescentes é que é difícil passarem despercebidas, e serve o exemplo da estrela para fazer uma analogia com as música presente neste álbum, isto é, difíceis passarem despercebidas.

Este é um daqueles álbuns “1 num milhão” que trazem algo novo e inesperado, que prova que há artistas que conseguem oferecer muito mais do que talento vocal. Com o álbum de estreia, Parks suportou-se no talento vocal como a sua maior virtude, de onde surgiu a música “Confessions”, que constou no meu top de melhores músicas de 2019. Com este álbum, Parks vai bem para além disso, apresentando um repertório recheado de afirmações corajosas daquilo que a inventividade musical deve ser. Acima falava dos anos de ouro de Santigold, mas digo com certeza que Parks conseguiu compilar o mesmo padrão de qualidade e quantidade num só álbum. Diria que Sudan Archives é um projeto que se aproxima a passos largos de FKA Twigs, o que por si só já diz muito sobre a qualidade da artista.

Neste álbum não há duas músicas parecidas, mas todas elas sequenciam-se de forma perfeitamente olhada, fazendo deste álbum uma vitória saliente, quer para a carreira de Sudan Archives, quer para o R&B, que se continua a provar ser um dos géneros mais elásticos de todos.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Home Maker
> NBPQ (Topless)
> Selfish Soul
> OMG BRITT
> Copycat (Broken Notions)
> TDLY (Homegrown Land)

Suede – Autofiction

Suede Autofiction

Género: Alternative Rock/Post-Rock

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Começo por questionar o leitor: já podemos considerar os Suede um “banda de velhos”?
Os rapazes de Londres, que começaram em 1989, viram grande parte do seu sucesso a acontecer entre 1993 e 1997, anos em que acumularam nomeações e prémios como quem acumula talões de compras na carteira.

Pouco depois desse período de sucesso abundante, os Suede perderam o foco e qualidades, que deram lugar a dúvidas e muita confusão. No meio de tanta incerteza, a banda decidiu avançar para a produção de um novo álbum sem saber sequer o que queriam dele, resultando no fracasso de produção que foi A New Morning (2002), com o qual o sol nunca chegou a brilhar. O investimento foi avultado e o sucesso comercial desse álbum não chegou sequer para cobrir o investimento feito. A decisão recaiu para uma separação, um ano depois.

Foram sete anos de hiato, até que em 2010 se deu a reunião, que deixou muitos fãs felizes, mas reticentes. A verdade é que os The London Suede voltaram mais experientes e encontraram-se, não replicando o sucesso que tiveram outrora, mas mostrando-se sempre consistentes nos três álbuns que produziram após a separação.

Autofiction foi o primeiro álbum que me encheu as medidas desde Dog Man Star (1994) e julgo que isso já diz muito sobre este álbum. Num disco em que a música de abertura “She Still Leads On Me”, inspirada na falecida mãe de Brett Anderson, descreve de forma comovente antigas memórias e sentimentos, há muitos momentos auto-biográficos. No entanto, o vocalista descreve este álbum como uma mistura entre essa realidade documentada e a ficção, daí o nome “Autofiction”. Anderson recorre à saga Senhor dos Anéis como analogia ao conteúdo deste álbum, defendendo que, apesar de ter fantasia associada, não é por isso que deixa de conter muitas verdades humanas associadas.

A nível instrumental, diria que só me vêm à cabeça os Future Islands, não restando dúvidas que os Suede nunca pareceram tão rejuvenescidos e desformatados (desde os primeiros álbuns).

Talvez tenha sido por isso achei este álbum tão cativante e especial, pois aconteceu o extremo oposto do que se verificou em 2002. Fica o desejo dos melhores sucessos para os Suede.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> She Still Leads Me On
> The Only Way I Can Love You
> The Boy On The Stage
> Shadow Self
> What Am I Without You?

The Afghan Whigs – How Do You Burn

The Afghan Whigs How Do You Burn

Género: Psychedelic Rock/Alternative Rock

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Podia copiar e colar aqui o que escrevi sobre os Suede, a nível biográfico, e não deixava de fazer todo o sentido. A grande diferença é que, enquanto os Suede se perderam após a editora ter terminado, os The Afghan Whigs tiveram uma disputa feia com a deles.

A par dos Suede, temos aqui outra prova viva que a dita “música de antigamente” continua a ser produzida e continua a trazer truques interessantes que facilmente continuariam a cativar quem dela gosta. Basicamente, em setembro tivemos álbuns ideais para quem gosta de Rock clássico, se se quiserem voltar a apaixonar pelo género.

How Do You Burn é o 9º álbum de estúdio dos The Afghan Whigs e é o melhor álbum que lançam em muito tempo, deixando a sua marca nos charts em vários países europeus, tais como Espanha, Bélgica, Suíça, Alemanha, Escócia e, claro, Reino Unido.

O mais me impressiona é o mistério envolvo em cada faixa, nas quais surpreendentemente são sempre explorados novos caminhos em territórios mais do que trilhados ao longo dos últimos 40/50 anos.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> I’ll Make You See God
> The Getaway
> Catch A Colt
> Please, Baby, Please
> A Line Of Shots

The Beths – Expert In A Dying field

The Beths Expert In A Dying field

Género: Indie Rock/Indie Pop

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Passo por tantas bandas/artistas mensalmente que por vezes quase me esqueço de algumas sobre as quais já escrevi. Em 2020, com Jump Rope Gazers, escrevi: “Destacam-se as melodias suaves, que rapidamente cativam quem procura serenidade na música e sela o encanto de todos os fãs de ocasião que The Beths já tinham, apaixonando ainda mais os que vieram para ficar”. E com este álbum, não só me relaciono com esse sentimento, como acho que os The Beths se começam a tornar mais relevantes e impactantes a cada álbum.

Não digo isto com leviandade, porque o som alegre e jovial ao longo de praticamente todo o álbum é o clássico “traiçoeiro” truque do Indie Pop/Indie Rock, onde o instrumental nos faz despenalizar o peso das letras e absorver a mensagem de bom grado sem pensar muito nela. A maior parte das vezes isto acontece por que nos relacionamos com essas mensagens, coisas que acontecem muito em Expert In A Dying Field. Seja por sermos a geração com mais habilitações inúteis, a ansiedade e medo de não estar à altura de com quem nos gostávamos de rever, à interminável saudade por vivermos depressa demais e tudo parecer efémero, entre muitos outros devaneios.

A voz de Elizabeth Stokes soa, por vezes, um pouco homogénea e hipnotizante, mas nem isso descredibiliza a produção musical da banda, visto que neste álbum há de tudo, desde baladas com ambiente de Bedroom Pop, guitarradas a ritmo alucinante características do Pop Rock (que foram as que mais me fizeram vibrar), brincadeiras típicas do Indie Pop, mas sobretudo o espírito do Indie Rock.

Expert In A Dying Field é um álbum completo, tocante, diverso e cativante que, apesar de ter Indie Rock escrito “na testa”, consegue distanciar-se dos clichês do género. Em 2020 também disse “Uma carreira a começar, mas que promete trazer muitas coisas boas ao panorama Indie” e, para já, não falhei.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Expert In A Dying Field
> Silence Is Golden
> When You Know You Know
> A Passing Rain
> I Told You I Was Afraid

Yeah Yeah Yeahs – Cool It Down

Yeah Yeah Yeahs Cool It Down

Género: Dance Punk/Synth-Pop

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A palavra “saudade” é modesta para descrever o sentimento que se exaltava em mim sempre que me lembrava ou ouvia falar dos Yeah Yeah Yeahs ao longo da última década. Foram, durante a minha adolescência, uma das bandas que mais ouvi, que sempre me prendeu pela irreverência e pelo poderio de Karen O.

Com Mosquito (2013), um álbum que, para além de “Sacrilege”, só trouxe desilusão, desapareceram do mapa e nem custou muito a aceitar tal facto, pois às vezes é melhor parar e recuperar de mazelas do que continuar e só piorar a situação.

Cool It Down chega para aquecer o meu coração com um conjunto pequeno de canções que me enchem a alma, tal é a mística ainda presente no seio da banda. Desaceleraram e deixaram de querer surpreender a cada esquina, no entanto o efeito é o oposto, pois continuam a surpreender. Agora mais pela escrita, que em algumas das faixas presentes no álbum é mais caprichada e profunda, mas também pelas sonoridades deslumbrantes e sentidas. Ao ouvir este álbum sinto-me a entrar numa loja de doces e a sair com oito sacos de gomas, um para cada dia da semana. E ainda sobra.

Ainda que peque por ser curto, deixando dúvidas se a banda regressou a um nível que vai ser capaz de manter, ou se isto não passa apenas de um esforço prolongado para construir este álbum, que fez a espera de 13 anos por material de qualidade compensar.

De qualquer das formas, hoje estou feliz porque os Yeah Yeah Yeahs estão de volta e estão de volta ao nível do qual nunca deveriam ter saído.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Spitting Off the Edge of the World
> Wolf
> Burning
> Different Today

Outros álbuns a ouvir:
> BjörkFossora
> Death Cab for CutieAsphalt Meadows
> Joshua RedmanLongGone
> Marlon WilliamsMy Boy
> MegadethThe Sick, The Dying… and the Dead
> Oliver SimHideous Bastard
> The Mars VoltaThe Mars Volta

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