Até ver, o melhor mês do ano, com muitas afirmações e regressos de peso.
Um resumo rápido: o mais perto de estreias que tivemos foi Romy (ex-The XX), que uniu forças com o emergente Fred Again e finalmente lançou um álbum completo em nome próprio. Bons regressos de CHAI, James Blake, Lydia Loveless, Margo Cilker e Royal Blood.
Ótimos regressos de Corinne Bailey Rae, Laufey e Slow Pulp. Excelentes regressos de Mitski, Olivia Rodrigo, Róisín Murphy e Yeule.
Reforço: melhor mês do ano.
CHAI – CHAI
Género: Experimental Pop/Indie Dance
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CHAI (álbum em nome próprio) representa uma declaração entusiasmante de uma banda que forja o seu próprio caminho enquanto, em simultâneo, presta homenagem às suas raízes, sem se prender a um som específico. Cada faixa deste álbum é uma afirmação ousada, evidenciando versatilidade musical e amor pela herança cultural.
O pop presente neste álbum é afinado, sincero e desafiador, com a capacidade de iluminar um dia cinzento. Demonstra também que, mesmo num dia cinzento, o céu é o limite para CHAI. Enquanto continuarem a criar registos tão descontraídos e positivos como este, vai continuar a valer a pena meter olhos e ouvidos nas japonesas.
CHAI é ligeiramente diferente do álbum anterior, WINK (2021), que apresentava alguns grooves mais leves. Neste vemos a banda japonesa a marcar um ritmo próprio cheio de energia, consolidando este álbum como um produto de pop efervescente.
A banda sabe o que vale, onde está e o que pode dar. Fruto disso temos um álbum sónico, corajoso e contagiante, reafirmando o poder do quarteto e celebrando aquilo que deve ser a alegria e vitalidade musical.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> MATCHA
> From 1992
> PARA PARA
> We The Female!
> LIKE, I NEED
Corinne Bailey Rae – Black Rainbows
Género: R&B/Jazz/Garage Rock
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Ainda se lembram de “Put Your Records On”, de Corinne Bailey Rae? Ao fim de 17 anos, está uma artista diferente, mas o produto final é notável – o seu melhor desde 2006.
O mais recente álbum de Corinne Bailey Rae chama-se Black Rainbows e oferece uma experiência musical magnífica, que percorre o garage rock, jazz e até mesmo hardcore (nada a ver com o Neo Soul/R&B que caracterizavam a sua música). Este trabalho é uma obra única e conceptual que se destaca de tudo o que a artista já produziu, superiorizando-se a álbuns anteriores como The Sea (2010) ou The Heart Speaks in Whispers (2016), dos quais quase ninguém se lembra.
Apesar da sua singularidade, Black Rainbows consegue ser tão pessoal quanto os primeiros três álbuns de Bailey Rae. Com ele, o regresso da artista é ainda mais impressionante, sendo um dos regressos mais impressionante deste ano.
Black Rainbows, em última instância, representa o salto de Bailey Rae como uma compositora em busca de liberdade artística, sem se ralar minimamente com as expectativas de género musical ou até formatos musicais adaptados à rádio.
Este trabalho marca uma nova fase na carreira da artista, e apesar de algumas mudanças não apagarem da memória o que Bailey Rae foi no passado, não há comprometimento com elas. Mudanças abruptas ou não, este álbum é surpreendentemente coeso, marcando uma nova fase na carreira de Corinne Bailey Rae.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Red Horse
> New York Transit Queen
> Peach Velvet Sky
James Blake – Playing Robots Into Heaven
Género: Electronic/Soul
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De todos os álbuns de James Blake, este é o mais experimental e menos objetivo, mas não destorce a identidade do artista, nem elimina, por completo, a sua essência. Playing Robots Into Heaven marca mais uma jornada musical de contrastes e exploração, da parte de um artista deveras especial.
A evolução musical de Blake remete-nos para alguns dos seus trabalhos mais antigos e enigmáticos. À semelhança desses anos, considero que consegue recapturar a criatividade que distinguiu imediatamente o seu trabalho do panorama Electronic do Reino Unido, na altura em que se lançou na música. Apesar daquele toque sentimental do costume, Blake consegue continuar a produzir sonoridades de uma beleza arrepiante, criando um álbum menos acessível, mas intrigante e original.
A visão singular de Blake brilha através da produção de música eletrónica eletrizante e inovadora. Apesar de ser menos convencional, a nível sonoro, o álbum é equilibrado, fundindo melodias que quase se podem aplicar à pista de dança com devaneios introspetivos, apresentando as ambições de Blake. Posto isto, estou certo que este álbum não vai ser o favorito de muita gente, mas conhecendo o artista, não tenho dúvidas que reflete com exatidão a sua posição atual – neste caso nostálgico, mas já com a cabeça no futuro.
Neste álbum, o ecossistema sonoro prospera mais quando funde sons aparentemente discordantes, fazendo o artificial parecer orgânico, como em “Tell Me” ou “Fall Back”, por exemplo. E ainda que faltem momentos mais intensos espalhados pelo álbum, isso não o prejudica em muito.
É James Blake, sem tirar nem pôr. O das frases belas, o das texturas incríveis e o das experiências sonoras constantes. Indiscutivelmente talentoso como cantor, compositor e produtor, sendo esta produção elegante e um lembrete dessas suas qualidades.
Playing Robots Into Heaven é uma incursão interessante, independentemente das falhas. Blake perde-se e encontra-se num mar revolto, composto por vários estilos, onde descobre as suas forças em tempo real, parecendo que ainda tem muito para dar.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Loading
> Tell Me
> I Want You To Know
Laufey – Bewitched
Género: Jazz Pop/Traditional Pop
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Quase exatamente um ano depois, Laufey volta a deslumbrar com o seu Jazz Pop cativante.
Em Bewitched, Laufey apresenta, uma vez mais, o seu talento multifacetado de forma encantadora, combinando arranjos orquestrais ricos em detalhes, fruto da sensibilidade musical da artista. Como violoncelista e aluna do Berklee College of Music, difícil é sermos apanhados em contrapé, mas não é difícil cair no feitiço musical da artista.
A meu ver, não acho que este álbum marque um avanço significativo, mas tenho a certeza que consolida o talento de Laufey, confirmando-a como mais do que uma jovem promissora. Quando comparado com Everything I Know About Love, considero que falta alguma inventividade, mas ainda assim, Bewitched é mais uma exposição da voz cristalina e do carisma que Laufey tem, sem parecer fazer qualquer esforço.
As 13 faixas originais deste álbum, que na sua generalidade desafiam décadas, quase parecendo homenagens às influências da artista (especialmente “While You Were Sleeping” e “Lovesick”), são de tal forma compostas e interpretadas que acredito que facilmente se tornarão intemporais.
Em contraste com seu álbum de estreia, Bewitched é mais constante e tem mais garra. Vai além de fazer Jazz como um hobbie, servindo de veículo para expor as fantasias e ambições de Laufey e deste lado, posso dizer que percebi tudo alto e em bom som.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Dreamer
> Lovesick
> From The Start
> Bewitched
Lydia Loveless – Nothing’s Gonna Stand In My Way Again
Género: Alternative Country
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Depois dos percalços que originaram um álbum algo tremido, em 2020, Lydia Loveless reinventa-se, usando a sua inabalável resiliência e emerge como uma artista experiente e cativante. Ao longo de Nothing’s Gonna Stand in My Way Again, cujo o título diz muito, mostra uma luta contínua através de escrita elaborada.
Este álbum acaba também por ser um testemunho da maturidade que Loveless ganhou, solidificando a sua posição como cantora e compositora.
Loveless lança, assim, um álbum catártico que dá prioridade à jornada, durante a qual navega pela dor emocional e stress mental, mas sempre com a força de quem aprendeu com o sofrimento e se viu obrigada a criar camadas para subsistir. Uma vontade obstinada de transcendência, expressando o desejo em superar os desafios com os quais é confrontada e ir além dos aspetos dissociativos do eterno ponto intermédio da vida.
Este álbum representa o regresso de Loveless ao auge da sua arte, conferindo uma experiência poderosa, emotiva e musicalmente sofisticada ao ouvinte. Loveless demonstra também que a perceção que deixou em 2020 relativamente às suas fontes criativas estava errada, dado que, neste novo álbum, a artista prova que continua a conseguir gerar um calor substancial através da sua música.
Em essência, este álbum é uma conquista notável, mostrando o seu crescimento e evolução artística, enquanto mantém um núcleo cru e autêntico. Nothing’s Gonna Stand In My Way Again destaca-se como um novo ponto alto na sua discografia, pelo que esperemos que continue com esta motivação.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Runaway
> Feel
> French Restaurant
Margo Cilker – Valley of Heart’s Delight
Género: Americana/Country Folk
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Valley of Heart’s Delight é um sucessor digno do álbum de estreia de 2021, Pohorylle, que impulsionou a carreira de Margo Cilker. O primeiro ponto a assinalar é o de a sua escrita ter melhorado a olhos vistos, com um discurso requintado um pouco por todo álbum.
Esta jornada musical começa com “Lowland Trail”, uma mistura sólida de folk com country, mas é nas duas faixas que se seguem que Cilker mostra o quando evoluiu. “Keep It on A Burner”, com um instrumental envolvente e descontraído em chama lenta, e “I Remember Carolina”, uma chiclete musical com um jogo de palavras encantadoramente astuto.
Este álbum (de 11 faixas) é muito satisfatório no que toca a composição musical. A escrita acessível e algo familiar para o público-alvo complementadas pela genialidade de Margo Cilker que abre o seu coração e cria um mundo seu, aberto a quem queira entrar – seja para quem já fugiu de algo em busca de mais excitação ou simplesmente para quem escolheu ficar.
Valley of Heart’s Delight confirma Margo Cilker como uma compositora notável, distanciando-se da pressão que há dentro do género e triunfando artisticamente.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Lowland Trail
> Keep It On A Burner
> I Remember Carolina
> With The Middle
Mitski – The Land Is Inhospitable and So Are We
Género: Art Pop/Chamber Pop
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Mitski destaca-se no seio dos artistas que exploram um espaço musical de teor mais reflexivo, melancólico e introspetivo. Neste álbum, a cantora nipo-americana não só se destaca pela sua habilidade lírica emotiva, como também pela coragem renovada ao perseguir o potencial do seu talento.
As melodias subtis de The Land Is Inhospitable and So Are We emergem de mansinho da escuridão, brilhando mais intensamente quando lhes é dado tempo e espaço, especialmente quando as ouvimos no silêncio da noite, sozinhos. E nesse silêncio da noite vamos ter a companhia de Mitski, que aborda temas como a desilusão, o isolamento, os relacionamentos desfeitos e os excessos, destacando-se pela habilidade incomparável em dar poder às suas melodias – uma abordagem muito pessoal e única.
Ouvido como deve ser, este é um álbum extraordinário – a maior obra-prima da carreira da artista – diferenciando-se através de uma auto-observação abstrata. Basicamente um meio para um fim, que a artista usa para atribuir significado ao que sente, como que um convite para tentar novamente. The Land Is Inhospitable and So Are We serve, também, para Mitski apresentar a sua faceta mais pacífica, esperançosa e amorosa, num álbum tematicamente audacioso e coeso, construindo um mundo próprio em torno da identidade musical da artista.
Dentro da sua categoria, a ousadia musical acaba por ser recompensada, resultando num trabalho de uma beleza imensurável e cativante. E enquanto Mitski pinta o seu mundo em vários tons de pastel, que representam esta nova faceta musical, presenteia-nos com uma diversidade temática e musical impressionante.
Rendido é dizer pouco, face a esta jornada musical onde Mitski captura a essência da vulnerabilidade humana, fazendo dela uma obra-prima coesa e multi-facetada. E, enquanto o faz, redefine sua identidade artística, estabelecendo um marco assinalável na sua carreira.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Bug Like An Angel
> Heaven
> My Love Mine All Mine
> Star
Olivia Rodrigo – GUTS
Género: Pop Rock/Pop
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Em 2021, aquando do lançamento de Sour com o qual fiquei um bocado de pé atrás face ao mediatismo que teve, disse: “Acredito que (…) tenha um futuro brilhante pela frente, dada a sua capacidade de storytelling, à qual dá uso para expor episódios amargos da sua vida (…) de forma doce”, e a minha intuição não me falhou.
O segundo álbum de Olivia Rodrigo representa um ousado passo em frente para a artista (de apenas 20 anos), revelando o seu verdadeiro poder, amplitude e versatilidade. GUTS tem nele contido as músicas mais ambiciosas, íntimas e algo confusas da jovem cantora, que balançam entre um pop-punk explosivo e baladas poderosas (como “Logical”). Com isto, Rodrigo demonstra sua sagacidade, raiva e angústia, enquanto capta e emana a essência de uma autêntica estrela do rock.
Acho que Olivia Rodrigo olhou para esta produção como uma desintegração incisiva do caos e desapontamento da juventude, namoro e fama e, sem querer, conseguiu algo semelhante ao que Lorde conseguiu com Melodrama (se bem que não ache que GUTS esteja no mesmo nível).
Inevitavelmente, este é um álbum que fala com muitas das pessoas que o ouvem, sendo mais relacionável com quem está a atravessar uma fase semelhante à da cantora, mas tendo a flexibilidade para transcender gerações com sua narrativa comovente, espiritualmente volátil e sonoramente carregada. Isto vem dar força à autocrítica de Rodrigo, transformando ansiedades em letras que cortam a fundo enquanto abraçam uma confusão libertadora.
A clareza lírica é consistente e inteligente, transmitindo uma sinceridade adolescente genuína, na qual Rodrigo navega pelas áreas cinzentas de emoções intensas. Enquanto isso, o álbum oferece uma visão franca e honesta do que é ser-se uma jovem envolta na fama, através da exposição da natureza consumidora, abusiva e isoladora fruto dessa mesma fama precoce.
Para finalizar, não tenho dúvidas quando digo que este álbum é bem mais consistente do que SOUR. A escrita de Rodrigo tornou-se mais precisa, trazendo mais impacto à autocrítica e, apesar de possíveis sobreposições temáticas, o álbum apresenta um retrato fascinante da vida de Rodrigo, agora mais madura e autêntica.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> All-american bitch
> vampire
> making the bed
> get him back!
> love is embarrassing
Róisín Murphy – Hit Parade
Género: Dance-Pop/Art Pop
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Depois de um concerto excêntrico e extremamente divertido no Super Bock Super Rock deste ano, eis que o tão esperado álbum é lançado – uma criação magistral, que destaca a voz calorosa e carismática de Róisín Murphy.
Hit Parade, produzido em parceria com DJ Koze – que tomou 2018 de assalto com Knock Knock e se afirmou como um dos produtores House do momento – que usa a sua mestria de produção para produzir um disco que perpetua uma mistura de géneros e influências altamente sofisticadas. A dupla faz Hit Parade funcionar, transbordando originalidade e, ser querer, quase puxa a brasa à sardinha na corrida para as listas de álbuns do ano.
Este álbum pode ser descrito como alegre e misterioso, oferecendo vislumbres ocasionais típicos de uma autobiografia, contrastando em muito com o seu trabalho anterior, que andou na minha lista de melhores do ano em 2020, Róisín Machine.
Analisando mais a fundo, pode-se dizer que é uma produção que demonstra que Murphy se divertiu bastante a fazê-la (chegado a ser contagiante). Dotado de batidas excêntricas, exibe a versatilidade da artista, que já se estende há décadas. Ainda que considere Róisín Machine superior, Hit Parade merece toda a atenção que está a ter e deve ser celebrado pela sua peculiaridade.
Até a ligeira inconsistência musical, onde os momentos de genialidade são contrapostos por algumas faixas menos cintilantes, é ofuscada pela destreza vocal de Murphy. Hit Parade é uma peça musical fascinante e desigual, com brilhantismo suficiente para o tornar numa adição fantástica à discografia de Róisín Murphy.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> CooCool
> The Universe
> Hurts So Bad
> Fader
> You Knew
Romy – Mid Air
Género:Dance/Electronic
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Longe vão os anos de glória dos The XX e, apesar de nenhum dos membros se ter expandido e superiorizado a banda em popularidade – nem Jamie XX, nem Romy, nem Oliver Sim (apesar do sucesso do álbum Hideous Bastard, lançado no ano passado) – vão havendo lançamentos cativantes aqui e ali. Tivemos de esperar algum tempo pelo álbum de Romy, mas acabou por ser recompensadora. Mid Air é um desses lançamentos cativantes, uma obra que reflete a apreciação sincera que a artista nutre pela música eletrónica, demonstrando as suas habilidades na hora de criar sonoridades envolventes, que despertam em nós emoções intensas.
Este álbum, composto por onze faixas alegres e ponderadas, é uma clara homenagem à inesquecível era da música Dance das décadas de 1990 e 2000, que atinge o seu pico na colaboração da cantora com o produtor Fred Again.
Alongando-me no teor de álbum, creio que é isso mesmo que o caracteriza: uma experiência musical indispensável para aqueles que vivem numa busca constante por hinos eletrónicos mais sentimentais ou músicas que exprimam emoções – muitas vezes difíceis de verbalizar. A mensagem central de “Mid Air” gira em torno da importância dos sentimentos e da partilha de conexões, tendo o poder de permanecer impregnada na nossa memória.
Olhando para as letras dos temas que aparentam ser extremamente pessoais, fica a sensação de que este álbum é o género de uma carta de amor ao próprio amor nas suas mais variadas formas. Ao longo dessa carta de amor, destaca-se a habilidade de Romy em unir música animada a letras melancólicas. A vulnerabilidade genuína transmitida nas canções confere uma profundidade adicional à experiência auditiva.
Muitos pontos positivos, mas por vezes fica a sensação de que falta alguma alguma da tensão característica da escrita de canções de Romy nos tempos de The XX. Colmatado este pequeno detalhe e estou certo que esta demanda de Romy pelo universo da música Dance, que já combina sons nostálgicos com uma vulnerabilidade autêntica, tem tudo para viagem musical a solo de Romy em algo ressonante e memorável.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Love Her
> The Sea
> One Last Try
> Strong (ft. Fred Again..)
> She’s On My Mind
Royal Blood – Back To the Water Bellow
Género: Hard Rock/Garage Rock
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Dois anos depois de Typhoons (2021), álbum no qual a banda se aventurou e perdeu algum brilho e consistência, há uma sensação a pairar no ar de que os antigos Royal Blood podem estar de regresso às origens. Pois bem, é verdade que Back To The Water Below apresenta um registo de rock semelhante ao do primeiro álbum, que trouxe reconhecimento à banda.
No universo do rock, onde a longevidade é conquistada através de uma dedicação e criatividade incansável, Kerr e Thatcher mostram que, ao contrário do que se pensava, ainda estão na luta, dedicando-se inteiramente a este lançamento. Embora o álbum não revolucione o género, nem supere o álbum de estreia, amplia com sucesso os horizontes musicais da banda.
Back To The Water Below é um regresso triunfante para os Royal Blood, que honram os seus instintos e o resultado está à vista: um panorama musical fértil, num álbum com uma série de músicas de alta qualidade do início ao fim.
A sua duração não passa em muito os 30 minutos, mas a experiência curta que o álbum oferece faz mossa. Os temas sobre marés crescentes e ondas de responsabilidade desenvolvem uma jornada imersiva, fazendo deste o lançamento mais abrangente na carreira dos Royal Blood. Embora não atinja o auge do álbum de estreia (Royal Blood, de 2014), Back To The Water Below destaca-se como a melhor produção da banda desde então. Há margem para melhorias, mas é preciso admitir que este é um passo na direção certa.
Independentemente das suas fragilidades, Back To The Water Below é um regresso da banda à excelência do rock, assegurando que o que foi conseguido com o álbum de estreia não foi sorte e ficando já preparado o terreno para o que virá de seguida nesta jornada musical.
Até deixou mais água na boca para os ver ao vivo do que a que tinha quando os vi em 2022.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Mountains At Midnight
> Sinner In The Dark
> Pull Me Through
> How Many More Times
Slow Pulp – Yard
Género: Alt-Rock/Shoegaze
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Se existe um movimento renascentista dentro do universo indie para colocar o Shoegaze no lugar onde merece estar, com o álbum Yard são os Slow Pulp lideram esse movimento. Acolhedor e familiar, este álbum serve de companhia inesperada, mas estimada, ao longo de todas as vezes que o decidirem ouvir.
Ainda a meio da reprodução deste álbum, já estava curioso sobre qual será o próximo salto criativo da banda, pois parece que fizeram batota e encontraram este álbum numa capsula do tempo, enterrada há 20 anos.
Ao passarem pelas dores do crescimento juntos, os Slow Pulp evoluíram no sentido em que lidam habilmente com o desconforto, extraindo fragmentos de beleza do tecido monótono desse mesmo desconforto. Ao longo de Yard, a sinceridade proveniente da perspicácia da banda, age como um abraço apertado nos momentos em que vida mais nos pressiona.
Recheado de nuances de um country-folk simples e direto, a banda destaca-se através do uso de elementos como a guitarra “pedal steel” ou a harmónica, criando uma atmosfera muito única. Ao empregar estas camadas sonoras, não só continuam a capturar a essência do shoegaze de forma fiel, como tornam reconfortante a realização que “decisões” são parte integrante da vida.
Há muita influência do Country-Folk, mas a base é o Alt-Rock recheado de hooks fortes e impulsivos (semelhante ao dos anos 90), não só destacam a evolução da banda, como proporcionam um regresso sólido com composições envolventes e impactantes.
Agora resta esperar para perceber como tudo isto se vai materializar em performances ao vivo, que aguardo com expectativa…
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Doubt
> Cramps
> Slugs
> MUD
Yeule – Softscars
Género: Noise Pop/Ambient Pop
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Que surpresa fantástica, depois de Glitch Princess no ano passado, sermos presenteados com novo material em 2023.
Softscars é a mais recente obra de Yeule e assinala uma ousada evolução na panorama sonoro da artista. Este álbum capta e entrelaça de forma quase perfeita muitos dos detalhes que tornaram Glitch Princess um dos melhores álbuns de 2022, e estou certo que quem prestou atenção a esse album vai encontrar elementos familiares.
Mesmo nos momentos mais sombrios, profundos e intensos, Softscars proporciona uma experiência emocionante, com hiper riffs e melodias envolventes, como que a persuadir-nos a aumentar o volume. A sonoridade, de certa forma, espelha a progressão da vida de Yeule e o seu estado de espírito atual, unindo o Alt-Rock a nuances eletrónicas, criando uma paisagem emocional crua e honesta, mas sem nunca deixar dissipar o mistério que envolve o seu mundo.
O ponto central do álbum são emoções amplas e universais, tingidas pelo peso da experiência de se ser adulto, tornando-o numa bela e constante jornada através do tempo e espaço. Yeule, sustentada por uma camada de distorção consistente e uma aceitação da melancolia da atmosfera que a envolve, encontra o porto seguro perfeito para a sua voz criativa e destemida, que lhe confere uma presença mais física e versátil – quase que nos faz sentir que é tangível acharmos que a conhecemos.
Softscars não é apenas um avanço. Trata-se, na verdade, de um grande salto para Yeule, exibindo o quanto a sua escrita melhorou no espaço de uma ano, bem como a construção sonora, que está mais arrojada. Embora perceba que não seja para o ouvido de toda a gente, é o trabalho mais acessível da artista, que se destaca como a expressão mais honesta e autêntica da visão dela até o momento.
A música, pautada pela mistura de sons digitais, guitarras elétricas e acústicas, complementa esta nova abordagem humanista recém-adotada por Yeule na composição de músicas. Em contraste com o pop fragmentado de Glitch Princess, Softscars reconstrói o seu universo, colocando remendos em lacunas, adicionando um charme único ao álbum.
Já a voz de Yeule, está mais flexível e sensual do que antes, que acrescenta um traço final numa pintura já lindíssima.
Em essência, Softscars é, até ver, o êxtase sonoro de Yeule. Um testemunho assombroso de sua audácia artística e uma exploração cativante de paisagens emocionais que desconhecíamos, mas podemos dar-nos por afortunados por finalmente as podermos conhecer.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> x w x
> sulky baby
> ghosts
> dazies
> inferno
Outros álbuns a ouvir:
> Anjimile – The King
> Chapelle Roan – The Rise and Fall of a Midwest Princess
> Icona Pop – Club Romantech
> Jeff Rosenstock – Hellmode
> Jorja Smith – Falling or Flying
> Kylie Minogue – Tension
> Nation of Language – Strange Disciple
> The National – Laught Track
> Tirzah – Trip9love…???
> V – Layover