Black Widow homenageia lindamente a icónica Natasha Romanoff, que finalmente recebe o filme a solo que sempre mereceu, digno do seu legado inesquecível. Uma despedida emotiva a uma heroína que inspirou milhões de espectadores.
Sinopse: “Neste thriller de espionagem repleto de ação, Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), também conhecida como Black Widow, enfrenta o lado mais sombrio da sua vida, quando surge uma perigosa conspiração ligada ao seu passado. Perseguida por uma força que tudo fará para a derrotar, Natasha tem de lidar com o seu historial enquanto espia e com as relações desfeitas que deixou pelo caminho, muito antes de se tornar uma Avenger.”
Isto pode vir como um choque, mas apesar de vivermos num mundo onde os espectadores estavam acostumados a receber vários filmes da Marvel todos os anos, Black Widow é o primeiro do Marvel Cinematic Universe (MCU) nos últimos dois anos. Literalmente, a última vez que os fãs se sentaram no cinema para assistir a conteúdo da MCU foi para Spider-Man: Far From Home, lançado a 2 de julho de 2019. Este encerrou uma história global que durou para lá de uma década, conhecida agora como a Infinity Saga. A Phase Four atual é a primeira a incluir séries de televisão e, até agora, duas já estrearam e terminaram (WandaVision, The Falcon e the Winter Soldier), enquanto que Loki tem o seu episódio final na próxima semana. Portanto, as expetativas estavam tão altas quanto podiam.
Se existe uma personagem em toda a saga da MCU que, sem dúvida, merecia um filme a solo, Natasha Romanoff é a única escolha certa – perdão, Hawkeye (Jeremy Renner). Os fãs têm vindo a exigir um filme de origem para este membro dos seis Avengers originais desde o início do universo e, apesar de não ser uma introdução a uma nova personagem ou mesmo uma prequela em si sobre os primeiros dias da protagonista, é perto o suficiente. Cate Shortland (Berlin Syndrome) não teve uma tarefa fácil, visto que a missão principal deste filme é homenagear uma heroína icónica que impactou e inspirou uma geração. Os espectadores querem saber mais sobre Natasha e ter algumas respostas sobre a sua backstory misteriosa e intrigante, mas, acima de tudo, o público deseja uma homenagem respeitosa a uma heroína digna.
Missão cumprida. O argumento de Eric Pearson (Godzilla vs. Kong) pode seguir um caminho pouco surpreendente – a identidade de Taskmaster é facilmente decifrada muito antes da marca dos 60 minutos -, levando a mais um vilão oco e cliché, mas lida com as personagens femininas com o cuidado e admiração que merecem. Desde a necessidade emocional de Natasha em encerrar uma fase sombria do seu passado aos sentimentos complexos de Yelena Belova (Florence Pugh) em relação à sua “irmã” e à sua “família”, ambas as personagens recebem um tratamento maravilhoso. A interpretação de Scarlett Johansson (Avengers: Endgame) da heroína favorita dos fãs será difícil de esquecer, por isso, o público deve realmente apreciar a imensa sorte que tem em poder ver a mesma a incorporar, uma última vez, o papel que dominou ao longo dos anos.
Johansson é absolutamente fenomenal novamente como a Avenger sem super-poderes mais famosa, mas Pugh (Little Women) continua a impressionar-me sempre que a encontro numa nova obra. Defendo firmemente que Johansson tem o holofote principal em si, mas Pugh chega muito perto de o roubar. Uma prestação notável de uma das atrizes mais talentosas da geração dos anos 90, que espero que permaneça na MCU tempo suficiente para se tornar num dos principais rostos da franchise. O seu potencial é ilimitado, Kevin Feige! O resto do elenco é igualmente sublime. David Harbour (Stranger Things) interpreta a personagem engraçada obrigatória da Marvel com uma eficiência hilariante, enquanto que Rachel Weisz (The Favourite) traz a sua fantástica experiência para representar uma personagem mais interessante.
Tal como mencionado acima, apesar de não ser um filme de origem dito “normal” para os padrões da Marvel, não deixa de conter uma exploração aprofundada da vida de Natasha como uma Black Widow. Shortland demora o tempo necessário a preparar o terreno para a narrativa primária, empregando um ritmo adequadamente lento durante o primeiro ato e aumentando ligeiramente ao longo do tempo. Tenho dificuldades em recordar-me de uma cena que seja completamente irrelevante. Todos os minutos exibidos no ecrã parecem trazer algo para transmitir ao público, mesmo durante as cenas de ação e nos créditos de abertura excecionais (dignos de vários prémios). Pearson aborda como cada membro da “família” lidou com esta fase das suas vidas, tornando-se, em última análise, o enredo mais emocionalmente enriquecedor.
Cada personagem tem sentimentos diferentes sobre o tempo que passaram juntos, algo que tem um impacto forte ao longo do filme, resultando num payoff satisfatório. Não sei como o resto das pessoas vão categorizar este filme, mas Black Widow não deve ser comparado diretamente com qualquer outra longa-metragem da MCU. Apesar das semelhanças na estrutura narrativa, não é realmente um filme de origem, nem possui os mesmos objetivos. Shortland é capaz de entregar uma peça única de storytelling dentro de uma franchise cheia de fórmulas (de sucesso), algo que seriamente não antecipava. É o melhor elogio que posso oferecer a este filme: consegue ser algo diferente, apesar de não contar uma história inovadora.
Em termos de ação, sinto-me contente com o que os coordenadores de stunts e os artistas de efeitos visuais criaram. As sequências de luta coreografada carregam tremenda energia e entusiasmo, apesar da edição ocasionalmente agitada (Leigh Folsom Boyd, Matthew Schmidt) e alguma shaky cam. Um trabalho excecional de stunts faz com que os espectadores sintam cada contato, elevando a ação no geral. Algumas cenas possuem bastante CGI, mas nunca chega a ultrapassar o seu limite, mantendo uma qualidade excelente durante todo o tempo de execução. O terceiro ato apresenta duas sequências incrivelmente fascinantes, terminando o filme em alta. Como de costume, a banda sonora de Lorne Balfe (The Tomorrow War) é essencial para gerar essa atmosfera épica à volta das set pieces gigantes.
Black Widow homenageia lindamente a icónica Natasha Romanoff, que finalmente recebe o filme a solo que sempre mereceu, respeitador e digno do seu legado inesquecível. Cate Shortland e Eric Pearson constroem mais uma longa-metragem da MCU que realmente não se compara a nenhum dos outros filmes de origem, examinando profundamente o passado sombrio da protagonista e a sua complexa “família” através de narrativas distintamente convincentes.
Scarlett Johansson brilha uma última vez, interpretando o papel mais impactante da sua carreira, mas Florence Pugh chega muito perto de roubar os holofotes, entregando uma prestação absolutamente fantástica. Possuindo sequências de ação de alto entretenimento e maioritariamente bem filmadas, a narrativa principal segue um caminho sem surpresas, bem como um vilão genérico, mas os enredos emocionalmente poderosos sobre as motivações pessoais de Natasha e os sentimentos complexos de Yelena mantêm o filme cativante.
O final é tão satisfatório quanto desejava que fosse. Uma despedida emotiva a uma heroína que inspirou milhões de espectadores.
Black Widow pode ser visto nos cinemas e no Disney+ a partir de 9 de julho.