Crítica – “A Favorita” (The Favourite)

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Início do século XVIII. A Inglaterra está em guerra com os franceses. Não obstante, corridas de patos e comer ananás continuam a crescer como atividades comuns. Uma frágil Queen Anne (Olivia Colman) ocupa o trono e a sua amiga íntima, Lady Sarah Churchill (Rachel Weisz), governa o país no seu lugar, enquanto se preocupa com os problemas de saúde e o temperamento inconstante de Anne. Quando uma nova criada, Abigail Masham (Emma Stone), chega, o seu charme chama a atenção de Sarah.

Sarah recebe Abigail debaixo da sua asa e Abigail vê uma oportunidade para retornar às suas raízes aristocráticas. À medida que as políticas da guerra se tornam mais pesadas e demoradas para Sarah, Abigail preenche o vazio deixado como nova companheira da rainha. Os fortes laços de amizade dão-lhe uma hipótese de cumprir com as suas ambições e não existe mulher, homem, política ou coelho que possa interferir no seu caminho.

A Favorita (The Favourite no original) é um dos filmes mais galardoados do ano passado, recebendo várias nomeações em dezenas de cerimónias de prémios e ganhando um monte delas (é a segunda longa-metragem mais premiada de 2018, atrás de Roma).

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Esta película é um exemplo clássico de uma “tradição” dos Óscares. Muitos membros da audiência fazem a sua missão de ver todos os nomeados para o Óscar de Melhor Filme antes da respetiva noite, mas há sempre uma película que o público tem dificuldade em entender o porquê de tanto alarido. Por que é que críticos por todo o mundo adoram o que audiências apenas consideram um filme “okay”, mesmo contendo uma história longa, esquisita e (para alguns) aborrecida?

Bem, em primeiro lugar, é tecnicamente uma obra-prima. Mais concretamente, todos os aspetos técnicos são dignos de reconhecimento. A produção e a cenografia são uma delícia para os olhos. A banda sonora é pouco habitual para um filme de época como este, mas estranhamente funciona, visto que eleva continuamente a tensão entre as três personagens principais e ajuda a história a fluir com um ambiente sempre conspícuo e traiçoeiro. Até a cinematografia e as combinações com a luz de velas oferecem algumas cenas bem elegantes.

No entanto, e preparem-se para serem surpreendidos, é o guarda-roupa que rouba o espetáculo de todos os outros atributos.

Não é devido ao ser bonito ou apropriado para o período de tempo correspondente. Quase todos os filmes que se aventuram por estas épocas têm um guarda-roupa irrepreensível, mas apenas alguns podem descrever um arco de uma personagem através dele. Menos ainda são capazes de incorporar o argumento inteiro como este Oscar-bait faz. As protagonistas têm caminhos distintos, mas todos terminam de forma semelhante.

Uma forma de entender a história é através do que elas vestem, visto que representam perfeitamente a evolução que cada personagem passa por. Estas camadas de storytelling mantêm o filme interessante, mas os métodos incomuns do realizador Yorgos Lanthimos, mais o guião de Tony McNamara e Deborah Davis, vão desagradar algumas audiências.

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Lanthimos não oferece histórias formulaicas e, certamente, não os filma de uma forma normal, pelo que o público não vai gostar muito deste filme. O seu estilo único traz um tom, ritmo e técnicas de filmmaking que as pessoas não estão acostumadas a assistir. Felizmente, há mais do que apenas elogios técnicos. Três prestações magníficas e poderosas de Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz, levam a história para “porto seguro”.

Estas três atrizes merecem todas as nomeações que receberam até agora. Colman oferece uma prestação hilariante e emocionalmente pesada ao mesmo tempo, interpretando Anne. Uma rainha incrivelmente frágil, com um passado chocantemente traumático, cujo amor e carinho estão a ser manipulados por Abigail e Sarah.

A maioria dos risos que A Favorita dá provêm de Anne e do seu comportamento mesquinho para com os seus servos. Colman entrega-se de corpo e alma ao seu papel, adicionando mais um desempenho fantástico para a sua carreira esplêndida. Weisz é simplesmente perfeita. O arco de Sarah é o oposto de Abigail em quase todos os sentidos e Rachel é extremamente precisa naquilo que deseja transmitir para o ecrã. Ela não tem um momento claro em que brilha como Stone ou Colman, mas é uma prestação consistente e robusta de uma atriz que precisava de um regresso a um grande filme.

No entanto, é Emma Stone que brilha com uma inacreditável variedade de emoções e expressões. A sua performance em La La Land é incrível, mas como Abigail é excecional. A atriz lida com a mudança de personalidade da sua personagem com uma transição impecável e a única razão pela qual ela provavelmente não vai ganhar o Óscar é devido à campanha de apoio a Regina King (If Beale Street Could Talk). Abigail é a personagem que move a história para a frente, tentando roubar o lugar de Sarah perto da rainha. As suas manobras inteligentes e manipuladoras são extremamente cativantes, bem como a sua vontade em ganhar o amor de Anne.

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Tecnicamente, A Favorita é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano passado. A impressionante produção e cenografia, mais a banda sonora viciante, definitivamente elevam o filme, mas o guarda-roupa conta uma história inteira através dos vestidos das personagens durante toda a sua duração. O argumento é notavelmente bem escrito, repleto de diálogos complexos e vários twists, que levam as personagens através de arcos agitados.

No entanto, o filme parece um pouco longo demais e a história deixa cair os seus níveis de interesse durante a transição do segundo para o terceiro ato.

Se são simples membros de audiência que vão ao cinema para comer pipocas enquanto são entretidos, A Favorita dificilmente irá fazer-vos comer o balde inteiro; por outro lado, se assistem a filmes com um olhar mais analisador e souberem dar valor aos seus atributos técnicos, então irão ficar tão maravilhados quanto eu.

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