Uncharted: Legacy of Thieves Collection – “Grandiosidade a partir de um começo humilde”

- Publicidade -

Os únicos dois jogos de Uncharted lançados na geração da PlayStation 4 podem ser os únicos que precisam para apreciar esta saga, agora num pacote com uns extras de imersão para a nova geração de consolas.

Começo com dois desabafos pessoais. O primeiro é que não sou grande apreciador da forma como a Sony tem feito alguns dos seus relançamentos e remasterizações, seja em coleções ou “Director’s Cut”. Numa geração onde temos plataformas e sistemas de atualizações orgânicas com custos reduzidos para os consumidores, reedições a preços (quase) de lançamentos fazem-me torcer o nariz, e mesmo a existência das atualizações por um valor ainda que simbólico já se revela também um pouco anti-consumidor para aqueles que já adquiriram alguns títulos no passado.

O segundo desabafo é que nunca fui o maior fã de Uncharted, mas não poderia deixar de destacar Uncharted 4: A Thief’s End e a sua expansão/spin-off Uncharted: The Lost Legacy como os meus absolutos favoritos dessa saga e até do catálogo de exclusivos da PlayStation. Adoro-os. Por isso, foi delicioso revisitá-los, agora, relançados na Uncharted: Legacy of Thieves Collection, uma coleção remasterizada nativamente para a PlayStation 5 e que irá chegar em breve ao PC, marcando a estreia de Nathan Drake e companhia fora de uma plataforma da PlayStation.

Apesar do meu reparo inicial, se gostaram destas novas aventuras de Drake, ou nunca tiveram a oportunidade de as experienciar, seja na Playstation 4 (onde também tem lançamento) ou na PlayStation 5 onde encontramos algumas vantagens técnicas, não consigo não recomendar mais dois dos jogos mais marcantes e emocionantes da geração passada.

Uncharted 4: A Thief’s End, no seu todo, é quase uma alegoria ao icónico lema da saga: “Sic Parvis Magna”, ou ”Grandiosidade a partir de um começo humilde”. Depois de uma sólida trilogia com uma escalada de eventos e situações épicas pelas quais Nathan Drake passou, esta aventura reduz a sua absurdidade em troca das coisas pequenas, elevando o risco pessoal e emocional das personagens que apresenta ao mesmo tempo que tira partido dos valores de produção e avanços tecnológicos de uma “nova geração” (passagem da PlayStation 3 para a PlayStation 4), com sequências fantásticas e visuais de cortar a respiração.

Lembro-me de jogar Uncharted 4: A Thief’s End como entrei nos anteriores títulos da saga, um jogo de ação e exploração reminiscente de filmes de Indiana Jones e jogos de Lara Croft, com aquela identidade própria de blockbuster dos videojogos. Em suma, um pouco de brainless fun. E lembro-me de ficar completamente apaixonado pelas personagens e pelas suas relações, de forma que nunca tinha acontecido antes.

Apesar da produção conturbada, que resultou da saída de Amy Hennig da Naughty Dog, Josh Scherr e Neil Druckmann tiveram a oportunidade de apresentar duas simples questões: Porque é que o Irmão de Drake aparece e precisa de ajuda? E porque é que Nathan esconde o seu passado e motivações a Elena? Dois dos grandes pilares emocionais de um jogo que, removendo todo o seu espetáculo, continuam a ser as forças motoras que nos levam a embarcar numa jornada de pequenas catarses emocionais – apenas com diálogos e por vezes sem isso. É de uma exploração, expansividade e desenvolvimento de personagens como se vê pouco em videojogos; um meio de entretenimento onde a interatividade e o espetáculo são, por norma, especialmente em produções destas, aquilo que mais importa.

Revisitar Uncharted 4: A Thief’s End foi uma autêntica delícia. Já o tinha jogado antes (mais do que uma vez), mas a sua revisitação, já com certos elementos esquecidos, foi como voltar a resolver um puzzle narrativo, onde o encaixe das peças e a saudade de ver interações – como a deliciosa dinâmica entre Nathan e Elena, ou a divertida relação de irmãos entre Sam e, novamente, Nathan – fizeram-me crer que são, sem dúvida, os maiores tesouros do jogo.

É graças à sua narrativa e desenvolvimento de personagens que podemos dizer que Uncharted 4: A Thief’s End envelheceu bastante bem. Foi um excelente jogo na altura em que saiu e continua a sê-lo. É melhor do que antes? Não necessariamente. Apresenta-se em melhor forma? Sem dúvida.

É claramente um jogo da geração passada, algo que se torna evidente para quem passou uma centena de horas a platinar o jogo seguinte do estúdio, The Last of Us Part 2, ironicamente lançado na mesma geração.

Uncharted 4: A Thief’s End é, conceptualmente, um jogo bastante simples, mas uma evolução do legado do estúdio que começou humildemente (wink wink) com Crash Bandicoot. É um título de aventura e exploração relativamente linear, sem progressão de personagem ou grandes alterações mecânicas do início ao fim, mas que se solidifica entre os melhores dentro do seu género graças às oportunidades de misturar e remisturar ambientes, pontos da história e tomar riscos com sequências mais scripted e outras tantas que mudam a forma como jogamos, ao mesmo tempo que nos coloca um enorme peso de urgência em cima, provando como os jogos podem ser imersivos e cinemáticos. Um desses exemplos é a já bem conhecida fuga em Madagáscar, mas também momentos menos reconhecidos, como proteger Elena num elevador em ascensão enquanto uma horda de inimigos nos ataca.

As animações e a sua fluidez, o trabalho em efeitos de sombras (de baixa resolução) ou a iluminação das personagens durante o jogo, já mostram sinais da “idade”, apesar de, no geral, Uncharted 4: A Thief’s End passar muito bem por um jogo da geração corrente, especialmente com os ajustes desta conversão. Disponível também na PlayStation 4 (simplesmente como um pacote de dois jogos), na PlayStation 5 os jogadores encontram exatamente o mesmo jogo, com a exceção de uma resolução aumentada, no modo Qualidade, que aponta para os 4K nativos a 30FPS; o modo Desempenho, que aponta para os 1440p a 60FPS; e por fim, para quem tiver um ecrã compatível, um modo de Desempenho secundário de 1080p a 120FPS.

Eu sentei-me confortavelmente de comando na mão a 60FPS e nunca mais olhei para trás. Aumentando a resolução, ganha-se um pouquinho de mais claridade se tivermos com os olhos em cima do ecrã a fazer comparação direta olhando para textos, mas, fora isso, a diferença é tão impercetível que o ganho em fluidez é uma vantagem incrível.

Visualmente, Uncharted 4: A Thief’s End é absolutamente fantástico, mas confesso que não encontrei uma melhoria muito grande face ao jogo original na PS4, com exceção na resolução e fluidez. Ao olho do jogador casual será simplesmente delicioso. Contudo, como já apontei, destacam-se facilmente os pequenos defeitos, com destaque nas sombras em baixa resolução.

Passando para a segunda metade do pacote, com Uncharted: The Lost Legacy, a minha cabeça quase que rebentou. Começando agora pelos visuais, a Naughty Dog revela-se aqui um estúdio composto por magos, porque o salto visual é tão elevado que se aproxima perigosamente de um The Last of Us Part II.

Este jogo, que acabou por ser um spin-off standalone, larga Drake e coloca-nos na pele de Chloe Frazer, antiga parceira de Drake, numa jornada para encontrar A Presa de Ganesh, um cobiçado artefacto mitológico. E para isso junta-se a uma inesperada parceira, Nadine Ross, apresentada no jogo anterior.

Com um divertida dinâmica, também Uncharted: The Lost Legacy faz um excelente trabalho a desconstruir duras personagens que não tiveram no passado o devido tempo de antena. Aqui, o mais interessante é ver como a Naughty Dog testou as águas para o seu projeto seguinte.

Ainda que The Last of Us Part II não tenha concretizado o seu “open world”, é extremamente evidente ver o ADN do jogo todo aqui. Desde a complexidade quase desnecessária, mas extremamente bem-vinda dos cenários ricos em detalhe, às técnicas de renderização do motor de jogo, à iluminação, às animações melhoradas, a lista não tem fim. Na verdade, é quase tudo subtil, mas sente-se.

É uma porção do pacote um pouco mais pequena, mas que faz todo o sentido surgir com Uncharted 4 num todo. Só tenho pena é que, enquanto remasterização, Uncharted 4: A Thief’s End não tenha adoptado as claras melhorias técnicas que Uncharted: The Lost Legacy apresentou no seu lançamento em 2017.

Tal como Uncharted 4: A Thief’s End, também Uncharted: The Lost Legacy recebe todas as melhorias de fidelidade visual, com os três modos presentes e, algo que ainda não mencionei, suporte para DualSense e um espetacular uso de áudio 3D.

Na versão PlayStation 5, os jogadores poderão também tirar partido de algumas novidades desta geração. O DualSense não é usado em toda a sua capacidade, mas tira partido dos gatilhos responsivos, com resistência nas mecânicas de shooting, e da vibração háptica, tremendo em diferentes capacidades dependendo por onde as nossas personagens navegam.

Quanto ao áudio, não tenho palavras para descrever o quão bom é, especialmente com recurso a um par de auscultadores como os Sony Pulse 3D para a PlayStation 5, que permitem tirar partido de uma resolução sonora incrível, dinâmica e cheia de profundidade, resultando em acústicas extremamente reais. Explorar ruínas, selvas ou zonas urbanas neste jogo é absolutamente incrível. Dos sons mais pujantes aos mais subtis, é de uma imersão espetacular, da qual gostava de ver mais vezes assim replicada noutros jogos.

Agora, voltando ao início. Uncharted: Legacy of Thieves Collection é uma fantástica coleção, pacote/relançamento, o que lhe quiserem chamar, que vê apenas removido o seu lado multijogador. É bom e aprecio este tipo de atualizações para a nova geração, algo que poderá ter sido motivado pelo futuro lançamento e otimizações para o PC. É de facto estranho olharmos para este pacote a 49,99€, quando é recorrente encontrarmos ambos os títulos em promoções ou disponíveis em serviços como o PS Plus Collection. E torna-se ainda mais obtuso quando os jogadores que adquiriram Uncharted 4: A Thief’s End via PS Plus não podem fazer a atualização de 10€.

Quanto aos restantes jogadores, se compraram um dos jogos anteriores e são fãs o suficiente para mais uma aventura, 10€ não irá doer (até porque desbloqueia logo a coleção por inteiro). Para os que nunca jogaram, Uncharted: Legacy of Thieves Collection é a melhor porta de entrada que podem encontrar.

Uncharted: Legacy of Thieves Collection tem lançamento na PlayStation 5 a 28 de janeiro e chegará ao PC, via Steam e Epic Games Store, durante o ano de 2022.

Recomendado

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PlayStation Portugal.

- Publicidade -

Deixa uma resposta

Introduz o teu comentário!
Introduz o teu nome

Relacionados