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Mais uma aposta sem sabor da Ratalaika Games, desta vez no género de sobrevivência.

Entrar no catálogo da Ratalaika Games é como jogar à roleta: nunca sabemos o que nos pode calhar. Se tivermos sorte e a bolinha calhar no nosso número, temos títulos como Chasing Static, um jogo de terror psicológico, inspirado pelos clássicos do género e com um enorme foco na narrativa. Mas se a bolinha acertar noutro número, e as probabilidades estão sempre contra nós, recebemos algo como God Damn the Garden, que analisei para o Echo Boomer, um jogo insípido, sem um pingo de criatividade e que se esconde por detrás da capa de paródia para justificar a sua falta de qualidade. É a dualidade entre o apoio a projetos que procuram um novo público nas consolas, como Quest of Infamy, e o lançamento de jogos a preços reduzidos e com listas de troféus acessíveis, cobiçados pelos caçadores de conquistas e de troféus, que tornam a Ratalaika Games num interessante caso de estudo.

Com Ultra Pixel Survive, a bola está novamente a rolar à procura de uma casa para repousar, ainda sem saber qual será a nossa sorte. Num primeiro contacto, o título da Gold Skull Studios, agora disponível para as consolas, vem munido de uma experiência familiar. Parte RPG de ação, parte jogo de sobrevivência, Ultra Pixel Survive assume-se como uma versão simplificada de ambos os géneros. Inspirado por Terraria e Kingdom: Two Crowns, a Gold Skull Studios transporta-nos para um ambiente de fantasia 2D sidescroller, onde controlamos um herói que procura sobreviver às hordas de monstros e mortos vivos que o tentam atacar durante a noite. Para sobreviver, o nosso herói tem de explorar os vários biomas em busca de recursos para construir novas armadilhas, edifícios e melhorar as suas ferramentas e armas num loop de jogo que nem sempre é o mais empolgante.

Como jogo de sobrevivência, Ultra Pixel Survive aposta apenas no básico. Temos à nossa disposição uma picareta, um machado e uma espada que utilizamos, respetivamente, para minar rochas, cortar árvores e eliminar os monstros que nos tentam matar. Com um ciclo de dia e noite, a aventura divide-se entre aproveitar as horas mais pacatas do dia para recolhermos recursos, que aplicamos de seguida na construção e na melhoria do nosso equipamento, mas também para caçarmos. A alimentação é essencial, outro elemento clássico e sempre presente nestas experiências de sobrevivência, e Ultra Pixel Survive é bastante simpático com a fome da nossa personagem.

Durante a noite, o jogo altera o seu foco e transforma-se numa luta pela vida, com hordas de monstros a surgirem de ambas as direções enquanto nos tentam eliminar. Com uma barra de stamina, temos de controlar estas hordas enquanto equilibramos as nossas armadilhas, armas especiais – uma para cada personagem – e a nossa energia. Existem vários tipos de inimigos, mas os seus padrões são tão previsíveis e a sua IA tão rudimentar, que só se tornam um perigo devido ao número elevado de criaturas em campo. Pensem em 7 Days to Die, onde o ataque das hordas acontece todas as noites e não apenas de 7 em 7 dias.

A construção de edifícios e oficinas é obrigatória se queremos chegar mais longe, tal como já vimos em tantos outros jogos do género. A nossa personagem melhora os seus atributos de nível para nível, mas o poder da sua espada e das ferramentas só aumenta se construirmos uma serralharia e uma fundição para trabalharmos os materiais necessários. Quanto mais exploramos, mais recursos encontramos, o que significa que mais opções de construção serão desbloqueadas. É uma pena Ultra Pixel Survive ser tão limitado no tipo de recursos disponíveis e na quantidade de zonas que temos para explorar, uma agravante à progressão da campanha. Os cenários são muito idênticos e não existem perigos ou distrações para além desta estrutura de “exploração-recolha-combate”, que é prejudicada por menus nem sempre intuitivos. A acessibilidade dos menus é uma mais valia, mas revela a natureza mobile do jogo ao obrigar os controlos a um só botão. O que é fácil num ecrã tátil não é tão fácil por comando, com a navegação e leitura a serem mais frustrantes devido aos passos que somos obrigados a dar.

Ultra Pixel Survive apresenta várias personagens que podemos desbloquear à medida que progredimos e reunimos mais dinheiro e gemas. Cada personagem tem habilidades e atributos únicos, tal como novas armas que procuram adicionar alguma variedade entre as opções disponíveis. Entre tentativas também podemos utilizar o dinheiro recolhido para melhorarmos os atributos iniciais de cada personagem, com Ultra Pixel Survive a procurar adicionar uma pitada de roguelite à sua fórmula. No entanto, sinto que muitas destas opções são apenas cosméticas e pouco mais. O sistema de combate é muito simples e básico, com uma opção de ataque e uma habilidade especial com cooldown, que pouco adiciona aos confrontos. Os monstros não alteram os seus padrões e vencem apenas pelo seu número, o que transforma cada combate numa sessão de resistência e não de sobrevivência. Com uma base tão aborrecida e pouco impactante, o leque de personagens pouco adiciona à experiência, a não ser criar um maior retention loop através do seu desbloqueio.

A bola começa a abrandar e já conseguimos prever que vai cair numa casa que não tem o nosso número ou a cor certa. Perdemos desta vez. Ultra Pixel Survive não é um jogo horrível, mas é desinteressante e pouco memorável, com a fórmula de sobrevivência a ser utilizada da forma mais básica e segura possíveis. Os elementos estão lá, mas é a sua concretização que transforma a viagem por Ultra Pixel Survive como algo descartável. O preço é acessível, a lista de troféus e de conquistas também e talvez isso atraia a atenção dos jogadores, mas não esperem algo positivo ou memorável.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PR Hound.

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