God Damn the Garden

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Vocês sabem que tipo de jogo God Damn the Garden é.

Já não é a primeira vez que caio na armadilha da Ratalaika Games e a culpa é minha. Talvez tenha o coração demasiado grande, talvez seja uma questão de curiosidade ou apenas uma busca por compreensão, mas o resultado é quase sempre o mesmo. A Ratalaika Games promete uma coisa, eu penso que vou ter outra e saímos os dois enganados. A culpa é minha, eu sei, já devia saber como funciona este nosso jogo de interesse, que dura há mais anos do que aqueles que quero admitir, mas fascina-me o modelo de lançamento e a escolha de catálogo de uma editora que aposta, acima de tudo, em projetos independentes, quase sempre produzidos por uma só pessoa ou por uma equipa pequeníssima, dando-lhes a oportunidade de chegar a um mercado mais vasto nas consolas e restantes plataformas. Mas o sistema está quebrado.

God Damn the Garden, como a maioria dos videojogos editados pela Ratalaika Games, chega às lojas digitais com um preço convidativo, acessível o suficiente para arriscarmos na sua compra se a curiosidade for suficientemente aguçada. Pensamos, “o que podemos perder?”, e quando nos apercebemos já é tarde de mais. Existe outro elemento importante neste modelo de lançamento, que não se encontra disponível na Nintendo Switch, que é a aposta numa lista de achievements/troféus tão fácil de completar que muitas vezes nem necessitamos de concluir a campanha dos jogos para termos o doce sabor da vitória no nosso perfil. Cria-se, assim, o cocktail perfeito para agarrar um público muito restrito, mas igualmente fiel, capaz de ignorar os problemas objetivos de um videojogo em prol de popularidade digital e uma satisfação momentânea.

Não quero desvalorizar por completo o trabalho presente em God Damn the Garden, mas neste contexto, a sua qualidade não interessa sequer. O que interessa são os elementos que descrevi em cima, este ponto de equilíbrio entre um preço acessível e uma enorme facilidade no que toca à conquista de achievements, e como God Damn the Garden existem muitos mais. A única diferença é que God Damn the Garden é um jogo de ação na primeira pessoa, de exploração, onde temos de recolher sementes para destruir inimigos – que são uma mistura entre criaturas cósmicas e peluches de brincar – e eliminar três bosses para concluirmos a campanha. Entre bosses, temos áreas idênticas e com pouca personalidade, 13 colecionáveis e ainda personagens com quem podemos interagir ou então eliminar para termos um final menos positivo – ou será que existe diferença fora da conquista de um novo troféu?

God Damn the Garden tem pouco para oferecer. A campanha é muito curta, naquela é uma das suas maiores virtudes, e suas as mecânicas são desinteressantes, desde o sistema de mira até ao design dos níveis, onde existem poucos motivos para chegarem ao final da campanha. Fico feliz pelo designer ter conseguido publicar o seu projeto, que vem munido de alguma ironia na sua escrita e no tratamento das personagens descartáveis, mas não consigo deixar de pensar na moralidade destes lançamentos. Eles sempre existiram, é verdade, mas estão a multiplicar-se através da acessibilidade dos serviços digitais, ao ponto de termos videojogos tão idênticos que já os reconhecemos pelos títulos ou imagens de destaque.

E sabem o que é mais irónico? Se mudarem o nome de “God Damn the Garden” para outro qualquer ao longo do texto, de certeza que a minha crítica encaixar-se-á a outro jogo editado pela Ratalaika Games. Que mundo incrível.

Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela PR Hound.

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