Meses depois do seu lançamento na Nintendo Switch, Travis Strikes Again: No More Heroes chega finalmente ao PC e PS4 naquela que é a sua versão completa. Agora com dois DLCs incluídos, o jogo de ação arcada tenta reconquistar, uma vez mais, os fãs do género e os seguidores devotos de Suda51 e da sua Grasshopper Manufacture. Infelizmente, o estúdio esqueceu-se novamente de trazer consigo uma campanha mais variada e divertida do que aquela que volta a oferecer.
Não é a primeira vez que nos cruzamos com Travis Strikes Again. Em fevereiro, tivemos a oportunidade de analisar a versão Switch, quando ainda era exclusiva da consola da Nintendo, e ver em primeira mão esta análise/paródia da indústria dos videojogos através do humor e irreverência de Goichi Suda.
Apesar de não ser o regresso há tanto esperado pelos fãs, que só acontecerá em 2020 com No More Heroes III, Travis leva-nos não só numa viagem pela história dos videojogos, mas também pela própria psique da comunidade e da indústria que o criou, com os seus sete níveis a refletirem estilos e inspirações de diferentes eras dos videojogos. Desde aventuras gráficas até a jogos arcada, Travos Strikes Again tem um pouco de tudo, naquele que é o seu grande ponto de venda.
Como seria de esperar, a campanha mune-se de um surrealismo incontornável e de um estilo visual colorido, berrante e cheio de personalidade. Basta olhar para Travis Strikes Again para percebermos que se trata de um jogo de Suda51, com as suas mudanças de estilos e referências/homenagens à indústria que influenciam cada um dos níveis do jogo. A narrativa, a sua reflexão sobre a história e futuro dos videojogos, a sua sensibilidade estilística e os diálogos que quebram a ilusão do jogo são os grandes destaques de um jogo que não sabe, por vezes, ser um jogo, oferecendo aos jogadores uma campanha repetitiva e demasiado longa para o que procura construir.
No seu cerne, Travis Strikes Again é um jogo de ação cooperativo com um enorme foco no combate. Com dois tipos de ataques, várias habilidades e uma evolução por níveis, o jogo tenta dar-nos vários motivos para regressarmos e explorarmos tudo o que tem para oferecer, mas esquece-se de injetar a criatividade da sua história na jogabilidade.
Travis Strikes Again peca ao ser um dos jogos de ação, top-down, mais simples que podem encontrar no mercado, dividindo os seus níveis por pequenas arenas repletas de inimigos que culminam no confronto contra os bosses. E o jogo resume-se a isto: níveis lineares, com alguns colecionáveis, cheios de inimigos fáceis de derrotar e com padrões simples que se repetem ao longo de uma campanha que se torna num borrão na memória de tão semelhante que é.
Por mais estilos e homenagens que possa colocar no nosso caminho, Travis Strikes Again nunca deixa de ser o mesmo jogo de ação repetitivo que encontramos no primeiro nível. É certo que existem pequenas mecânicas que são introduzidas ao longo da campanha, e que são únicas para cada nível, mas a base continua a ser a mesma. Iremos lutar contra os mesmos inimigos do princípio ao fim, algo que não consigo compreender e defender por mais que compreenda o design caraterístico de Suda51.
A transição para o PC e PS4 podia ter trazido novos níveis e uma maior sensação de escala, mas o jogo continua a refletir a sua natureza handheld, algo que é incontornável.
A edição completa é acompanhada por dois DLCs, Black Dandelion e Bubblegum Fatale, quatro personagens jogáveis, sete níveis e muita ação cooperativa, mas fica o aviso: venham pela história e não fiquem pela jogabilidade.
Travis Strikes Again não é um mau jogo, mas sim um título que não se destaca e que não nos dá motivos para regressarmos e continuarmos a explorar os seus segredos e a colecionar as suas t-shirts honestamente estilosas – que são protagonizadas por alguns dos títulos independentes mais conceituados dos últimos anos, como Hotline Miami e Hyperlight Drifter.
É um jogo só para fãs e para aqueles que não conseguem esperar pela chegada de No More Heroes III.
Travis Strikes Again: No More Heroes Complete Edition
Plataforma: PC e PlayStation 4
Este jogo (versão PS4) foi cedido para análise por Decibel-PR
A repetição e falta de inventividade na jogabilidade acabam por prejudicar uma história repleta de homenagens e com uma análise mordaz ao estado atual da indústria dos videojogos.