Rise of the Ronin

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Apesar de ter uma premissa narrativa interessante e dinâmica, Rise of the Ronin não entrega uma história digna de prémios ou de grandes elogios. Já o seu combate distingue-se pela profundidade e diversão, voltando a demonstrar onde a Team Ninja é realmente excelente.

Naquele que parece ser um ano atípico para a PlayStation, onde o seu catálogo é composto por exclusivos de estúdios parceiros – como Final Fantasy VII Rebirth, que tivemos o mês passado, ou Stellar Blade, que se aproxima – a tecnológica nipónica pica o ponto em março com uma nova viagem ao mundo dos samurais, através de Rise of the Ronin.

Desenvolvido pela Team Ninja – os mestres da ação e de desafios que nos trouxeram a saga Nioh, Wo Long e Ninja Gaiden -, Rise of the Ronin é uma nova experiência para o estúdio, num jogo com um mundo mais expansivo que os antecessores e, também, mais acessível, tanto a nível de dificuldade, como em opções para tornar o jogo mais satisfatório e jogável por jogadores com menos destreza e habilidades.

Rise of the Ronin leva-nos até ao Japão, numa era de samurais e ninjas, o período Bakumatsu, que historicamente ditou o fim dos xogunatos, com o impacto da atividade de nações ocidentais naquele país, que já internamente se encontrava em conflito. Este pano de fundo embrenha-se na história principal de Rise of the Ronin, que nos coloca na pele de um protagonista sem nome, apenas identificado como Lamina Gémea, metade de um par de irmãos adotado por uma mestre em combate que, após uma missão inicial de infiltração e assalto, se veem separados e com destinos opostos.

A nossa missão enquanto “Protagonista”, como é indicado no códice do jogo, é procurar o paradeiro do nosso irmão – ou irmã, dependendo de quem escolhemos na criação da personagem – seguindo pistas, participando em missões e criando aliados e inimigos, colocando-nos assim o fardo às costas de poder mudar o rumo da história do Japão de formas bem interessantes.

Dois dos pilares narrativos de Rise of the Ronin são a sua autenticidade histórica e a sua narrativa dinâmica. Rise of the Ronin tenta ser autêntico na sua representação histórica da era, durante o século XIX, mas com alguma liberdade criativa para apimentar a ação, como por exemplo as habilidades das personagens dignas de medalhas olímpicas, ou o recurso a gadgets tecnológicos impossíveis naquela época.

Já a sua narrativa dinâmica também tenta muita coisa, mas destaca-se positivamente por dois elementos. Um deles torna Rise of the Ronin num autêntico RPG, onde a nossa viagem flui em função das nossas decisões, que impactam severamente os eventos do jogo. Para além disso, graças à quantidade de aliados que podemos recrutar através de missões e eventos neste mundo, é mesmo possível que dois jogadores tenham experiências completamente diferentes, oferecendo assim uma rejogabilidade enorme. Tudo é, em teoria, fantástico, e em momentos chave faz-se sentir. Com o jogo a avisar-nos que ações podem mudar o rumo da história, ou com decisões tomadas que nos deixam com aquele sentimento de “e se tivesse feito isto ou aquilo de outra forma?” E é excelente.

No entanto, a entrega nem sempre é a melhor. E tem a ver com a escrita pretensiosa do jogo e de decisões de storytelling que não fazem grande sentido ou que não têm qualquer impacto emocional. Ao longo da minha jornada em Rise of the Ronin, foram várias as vezes que fiquei a olhar para o ecrã como um burro a olhar para um palácio. Vi personagens a serem raptadas e, na sequência seguinte, a surgirem sãs e salvas sem qualquer explicação lógica. Foi-me dito que personagens secundárias simplesmente morreram off-screen – com a mesma energia do Poochie dos Simpsons que tem que regressar ao seu planeta –, mas talvez o mais grave tenham sido os momentos mais importantes para o nosso protagonista, que nunca surtiram qualquer impacto emotivo, em parte devido à direção seca e à falta de embalo narrativo. As coisas simplesmente acontecem e deixam-nos frequentemente a questionar se não faltou algo – uma cinemática, um diálogo ou, até, uma missão.

Parte destes problemas de Rise of the Ronin também são da responsabilidade da apresentação visual do jogo. Esta aposta da Team Ninja está longe de se apresentar como um jogo digno da “nova geração” – que já não é assim tão nova -, parecendo uma remasterização de um jogo de lançamento da PlayStation 4. Com o seu registo visual a puxar pelo fotorrealismo e com uma direção artística que nos recorda com facilidade de Ghost of Tsushima, Rise of the Ronin fica muitos furos abaixo dessa aposta da Sucker Punch.

A paleta de cores é carregada em tons escuros, os ambientes são visualmente muito ruidosos, há uma grande falta de perceção de profundidade e, até, pouca variedade de ambientes, sendo quase tudo cidades, vilas e campos em redor sem grande esplendor visual. O impacto da componente visual de Rise of the Ronin faz-se sentir na grande maioria das interações com NPCs e outras personagens, com animações arcaicas e um voice-acting pobre. Mesmo o nosso protagonista, apesar de entregar alguma urgência com escolhas de diálogo, é maioritariamente silencioso, o que não ajuda nada em manter-nos investidos na trama do jogo. Salvo raras exceções, somos presenteados com cinemáticas mais bem produzidas, em tempo real, onde já ouvimos e vemos a nossa personagem a falar e atuar, mas são esporádicas, relevando assim os possíveis constrangimentos desta produção.

Felizmente, Rise of the Ronin tem mais do que a sua história mal-amanhada ou visuais arcaicos para nos manter investidos, e há muito para gostar neste jogo de samurais. Se alguma vez se questionaram como é que Assassin’s Creed poderia ser se o seu palco fosse o Japão, seria certamente Rise of the Ronin, com a vantagem de que não iria usar os clichés de game design em mundo aberto da Ubisoft.

Ao longo não de uma, mas de múltiplas regiões que vão desbloqueando à medida que avançamos na história, Rise of the Ronin está populado de atividades e de missões secundárias para nos entreter e experimentar diferentes perfis de combate e de personagem. Entre pontos de interesse, com lojas, vendedores, pontos de atualização de armas e até de repouso, encontramos diferentes atividades e desafios que vão de corridas contra o tempo com o nosso glider, desafios em zonas de tiro, a simples aldeias dominadas de rufias para libertar – um pouco como em Ghost of Tsushima. Há ainda missões pequenas, para ajudar habitantes e até interações com adoráveis gatos e cães, que nos recompensam com recursos e equipamentos.

Não é propriamente um mundo muito rico e diverso, mas suficientemente populado para nos desviarmos do nosso caminho dourado quando atravessamos um distrito a cavalo. Mas talvez o mais importante seja mesmo a falta de pressão que Rise of the Ronin nos dá, focando-se sempre nos objetivos principais e deixando estas portas abertas, a convite, para a descoberta, o que é ótimo, porque nos permite degustar as diferentes dimensões do jogo ao nosso ritmo.

Foi assim que ganhei admiração pelo combate de Rise of the Ronin. Admito que, inicialmente, não estava muito convencido, com o jogo a revelar rapidamente as suas falácias neste departamento, como a forma inconsistente com que os ataques dos inimigos são telegrafados ou a ausência de cancelamento de ataques – deixando-nos expostos frequentemente a investidas inimigas –, mas, através da tentativa e erro com atividades secundárias, a curva de aprendizagem foi rapidamente reduzida. E, por isso, comecei a nunca negar um resgate de um camarada ou de uma vila, à medida que me deslocava para o objetivo seguinte.

Rise of the Ronin tem um combate que bebe, obviamente, das apostas mais desafiantes da Team Ninja, mas a melhor comparação que posso fazer é de uma mistura entre o combate de Sekiro: Shadows Die Twice – com animações complexas e o seu sistema de quebra de proteção para um golpe final -, com o de Ghost of Tsushima, pela profundidade de oportunidades através das melhores poses para um combate.

Dependendo do grau de confiança, de destreza e de preparação do jogador, Rise of the Ronin pode ser tão pausado e metódico como caótico e visceral. Em combates mais complicados, há a necessidade de estudarmos bem os movimentos dos inimigos e encontrar o momento certo para o contra-ataque. Já noutros combates com múltiplos inimigos, uma abordagem de hack-and-slash pode ser a melhor solução.

O combate fica mais profundo quando equacionamos a oportunidade de usar itens para melhorar o desempenho temporariamente; quando o jogo nos convida a explorar novas habilidades desbloqueadas na sua skill tree; ou até a melhorar as estatísticas dos vários tipos de lâminas ao nosso dispor, que vão recebendo novas poses de ataque e ataques especiais. Em cima disso, temos a possibilidade de combinar os nossos combos com armas de fogo e, em alguns casos, a oportunidade de trocar de personagem, para aqueles camaradas que vamos conhecendo e recrutando para a nossa equipa. Contudo, admito que a quantidade de opções e de ações em tempo real podem ser, por vezes, atrofiantes e a razão para falhar combates.

Apesar da sua natureza “souls-like”, o combate de Rise of the Ronin coloca o desafio à frente da dificuldade, oferecendo uma panóplia de opções de acessibilidade para que até os jogadores menos confiantes possam desfrutar desta experiência. Para além de três níveis de dificuldade afinados, que vão de uma experiência menos exigente com combates mais curtos, para uma experiência mais severa e impiedosa, onde as recompensas a nível de experiência são maiores, os jogadores podem ainda explorar afinações como o aumento de vida recuperada através de medicina, redução da perda de Ki (a nossa stamina), entre outras opções mais direcionadas para o resto da experiência do jogo, como o número de loadouts disponíveis ou a venda/desmantelamento automático do equipamento que colecionamos.

Há muita opção para explorar em Rise of the Ronin, mas onde mais tempo perdi foi a afinar a minha personagem. Pois Rise of the Ronin oferece um sistema de personalização de personagem extremamente profundo e impecável, que pode ser acedido durante a história.

Com exceção do género da nossa personagem, é possível editar tudo sobre a mesma. A sua aparência visual, desde cara, forma, altura, idade, penteados de diferentes tons e comprimentos, pelo que a Team Ninja não se poupou em permitir que o jogador crie o seu protagonista à imagem que quiser. Para além disso, há também uma vasta quantidade de equipamentos e de roupas, tanto japonesas como ocidentais, onde podemos criar um ninja das sombras, um samurai honrado ou, até, um agente secreto de capa comprida. Pelo menos para as aparências.

E a recompensa de toda esta personalização é extremamente gratificante, pois não só o nosso avatar define a nossa personalidade e aparência, tanto em sessões co-op, como nos jogos de outros jogadores – com um sistema online assimétrico, onde o nosso avatar popula outros mundos –, como ainda temos um surpreendente e profundo modo de fotografia, com sistema de 3 luzes e até ajuste do olhar da nossa personagem.   

De facto, só é pena que Rise of the Ronin não seja um jogo mais bonito, que justifique a pausa e captura dos seus ambientes ou momentos mais dramáticos da ação. Mesmo com os seus três modos de jogo – Desempenho, Qualidade e Ray-Tracing -, a diferença visual ao trocar é, francamente, impercetível, mas com efeitos severos a notarem-se na entrega fluída da experiência. No modo Ray-Tracing, não é claro que efeitos visuais sejam aplicados e a qualidade de imagem (resolução) é afetada. O modo qualidade pode ser descrito da mesma maneira. Já o que me deixou mais confortável foi o modo de desempenho, onde o frame-rate a 60FPS é o mais sólido. Todos estes modos contam com FPS desbloqueados, mas não recomendo a sua utilização, por não apresentarem uma fluidez constante, mas sim uma experiência quebrada e com subtis, mas irritantes flutuações.

Dentro do seu género, Rise of the Ronin não é marcante. Mas pode ser para a Team Ninja, que se aventura neste espaço de RPGs de ação em mundo aberto, com elementos de role-play que parecem ser esquecidos pela meia dúzia de outros jogos em que se inspira. Se o ambiente e período em que Rise of the Ronin se passa são ótimos, os visuais nem sempre lhe fazem justiça. E embora a história não seja bem entregue, o seu formato ramificado é interessante. Mas acima de tudo, é no combate onde Rise of the Ronin brilha, revelando-se mais um testamento de que a Team Ninja é a verdadeira mestre da ação.

Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.

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