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Conheçam a família Park: a imagem da riqueza aspiracional. E a família Kim, rica em esperteza de rua, mas não muito mais. Seja por acaso ou destino, estas duas casas são reunidas e os Kims veem uma oportunidade de ouro. Com tudo planeado por Ki-woo (Choi Woo-shik), as crianças Kim instalam-se rapidamente como tutores dos Parks. Rapidamente se forma uma relação simbiótica entre as duas famílias. Os Kims fornecem serviços de luxo “indispensáveis”, enquanto os Parks pagam-lhes por isso. Quando um intruso parasita ameaça o mais recente conforto dos Kims, uma batalha selvagem pelo domínio surge, ameaçando destruir o ecossistema frágil entre os Kims e os Parks.

Sim, eu sei. Estou atrasado até dizer chega. Não tenho nada para oferecer sem ser a minha opinião pessoal. Teses e horas de vídeos já foram criadas, interpretando e explicando Parasite (Parasitas) a um nível tão profundo que não consigo realmente escrever nada de novo. No entanto, partilho aqui a minha experiência até porque seria uma falha tremenda por parte de alguém que se considera um crítico de cinema.

Tinha este filme na minha lista desde o verão passado, mas continuei a adiar a sua visualização, subestimando o meu tempo. Por isso, não, não estou apenas a assistir a esta peça porque ganhou a estatueta de Melhor Filme nos Óscares. Sempre planeei vê-la.

Já agora, sim, também adoro o filme como a grande maioria e não, não estou a escrever isto por estar a “seguir a manada”. Bong Joon Ho simplesmente entrega um dos melhores filmes de 2019 e consegue roubar, sem dúvida, um lugar no meu Top 10. Gostei muito do que Bong fez com Okja e sou um grande fã de Snowpiercer.

Parasite (2019)

Portanto, Parasite (Parasitas) não é apenas “mais um” filme sul-coreano. É realizado e co-escrito por alguém que já vem provando a sua valia há algum tempo. Apesar de defender que Sam Mendes merecia ganhar o Óscar de Melhor Realizador pelo seu trabalho em 1917, estou mais do que feliz que um filme estrangeiro tenha finalmente arrecadado o prémio máximo e que filme para o fazer!

Pode ser descrito como uma dramédia negra, mas penso que sátira social é mais adequado. As diferenças entre os ricos e os pobres são lindamente mostradas no ecrã exclusivamente através de visuais. Existe tão pouca exposição, algo que é uma das razões pelas quais Parasite (Parasitas) tem um dos melhores argumentos de 2019. O equilíbrio entre ter de explicar algo ou deixar ambíguo é perfeito. Durante toda a duração, Bong Joon Ho coloca a câmera mesmo em cima da cara dos atores para que o público possa entender o que essa personagem está a sentir pelas suas expressões faciais, que explicarão as suas ações mais tarde.

Há uma sequência que, certamente, terá sido fortemente discutida nos últimos meses. Está a chover e Bong partilha intermitentemente o ecrã para demonstrar como a família rica está a lidar com tal situação, contra o bairro pobre de onde a família Kim vem. A cinematografia é extraordinária, a banda sonora é inesquecível, a edição é suberba… Tudo sobre esta sequência é tecnicamente impecável e carrega uma mensagem emocionalmente poderosa. Algo surpreendente e bonito de se olhar para uns, pode ser um desastre horrível para outros.

É um filme que tem de balançar muitos tons. Em apenas dez minutos, o tom passa de divertido para dramático, para suspense, para assustador, para tragédia absoluta… e tudo parece incrivelmente realista. É um dos meus maiores elogios a Parasite (Parasitas): nunca senti que era ficção. Nunca pensei “isto é demais, isto nunca ocorreria”. Mesmo no terceiro ato, onde a narrativa toma algumas decisões ousadas, tudo faz sentido com o que tinha sido mostrado até então. Desde ações chocantes de personagens até pontos surpreendentes de enredo, o argumento de Bong e Han Jin-won é excelente.

Parasite (2019)

Todo o elenco é fantástico, mas Song Kang-ho é o grande destaque, na minha opinião. O seu papel enquanto pai da família Kim é brilhante. Estou honestamente surpreendido por não ter sido nomeado para Melhor Ator noutras cerimónias. Criei uma conexão com a família de tal forma que o final teve um grande impacto em mim. É difícil negar que a escrita é o que faz de Parasite (Parasitas) o fenómeno pelo qual tantas pessoas se apaixonaram, inclusive a minha pessoa.

Tecnicamente, não tenho quaisquer defeitos a apontar. É um daqueles filmes que acredito firmemente em não ter virtualmente alguma falha. Estou apaixonado pela música, fiquei de boca aberta várias vezes com a cinematografia impressionante e a edição é perfeita. Seja qual for o género que a história decide explorar, é sempre divertida e extremamente cativante. A comédia é muito inteligente e ri-me bastantes vezes. As histórias dramáticas mantiveram os meus olhos sempre focados no que estava a acontecer. Mesmo quando mergulha brevemente no território de horror, tem mais suspense e é mais assustador do que a maioria dos filmes desse género hoje em dia.

Parasite (Parasitas) surpreendeu-me genuinamente. Com tantas pessoas a elevá-lo a um nível ridiculamente alto, as minhas expetativas eram bastante moderadas. No entanto, adoro tanto ou mais como todos os outros. Sei que assistir tão tarde pode fazer algumas pessoas questionarem a minha opinião, mas nunca adoraria um filme só porque “devo” ou porque outras pessoas também o adoram. Merece todos os prémios que recebeu, especialmente os relativos ao argumento.

É uma das melhores histórias originais dos últimos anos e está escrita de forma brilhante, com história visual em vez da exposição em excesso. Uma mensagem emocionalmente ressoante está presente durante todo o tempo de execução e os vários tons são equilibrados na perfeição.

Tecnicamente fantástico: cinematografia, banda sonora, edição… tudo é absolutamente perfeito. Nada é colocado sem propósito. Nem uma única linha de diálogo é desperdiçada. Bong Joon Ho é um cineasta fenomenal, que se preocupa com a arte e tudo o que vem com ela. Colocou verdadeiramente o seu coração e alma neste projeto e seria uma pena se alguém não assistir a este filme magnífico só porque é em língua estrangeira. Por favor, não cometam tal erro…

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