O primeiro grande evento global gratuito de Pokémon GO pareceu um evento normal, sem grandes surpresas.
Em 2020, por conta da pandemia, a Niantic lançou o primeiro grande evento global para Pokémon GO. Tinha custos, era necessário comprar um bilhete, mas a adesão foi de tal maneira significativa que, nos anos seguintes, foram vários os grandes eventos globais pagos, entre eles a primeira edição do GO Tour, dedicado à primeira geração de Pokémon, e o GO Fest 2022, que analisámos aqui.
Este ano, pela primeira vez, a Niantic retirou o acesso pago a um evento global, e no passado fim-de-semana, 25 e 26 de fevereiro, pudemos participar no GO Tour Hoenn em qualquer parte do mundo, de forma gratuita. No fim-de-semana anterior, 18 e 19 de fevereiro, uma versão presencial do evento decorreu no Sunset Park, em Las Vegas, nos Estados Unidos.
Tal como aconteceu no GO Fest 2022, a comunicação em torno da versão global do evento foi muito fraca, deixando mais dúvidas na cabeça dos jogadores que vontade de jogar. Muito do que se sabia em relação ao que se iria passar nos dias 25 e 26 de fevereiro vinha da parte dos treinadores que estiveram em Las Vegas e que partilharam os testemunhos online. Oficialmente, os jogadores foram informados de muito acerca do GO Tour Hoenn global, mas a comunicação falhou em coisas simples como o funcionamento dos spawns ou dos habitats prometidos, sobre os bónus com que os jogadores poderiam contar, ou até se a jogabilidade seria igual nos dois dias.
Um evento, dois dias iguais
Como treinador Pokémon que sou, pelas 10 horas de sábado reuni-me com um amigo na rota habitual de jogo da minha cidade, e rapidamente pudemos perceber que estávamos longe de ter a mesma experiência do evento presencial, e mais longe ainda de ser um bom evento. Preparem-se que a partir daqui existem muitos conceitos próprios do jogo e do universo dos monstrinhos de bolso.
Quem já participou em eventos deste género sabe que uma das primeiras coisas a fazer é ligar vários incensos, star pieces e lucky eggs. E foi aqui que começaram as surpresas. Nenhum destes três itens – que em situações normais duram 30 minutos –, foi estendido e todos mantiveram a sua duração normal. Também os lures modules continuaram a durar apenas 30 minutos. Noutras ocasiões, como Community Days, muitas vezes duram o dobro, ou até o triplo, do tempo, e seria expectável que num evento como o Go Tour Hoenn isso também acontecesse, mas não. Isto levou a que os jogadores tivessem que gastar as suas pokécoins, e eventualmente algum dinheiro real, para conseguirem aproveitar estes recursos tão importantes para a jogabilidade durante o fim-de-semana. Felizmente, no que diz respeito aos incensos, a Niantic ofereceu alguns – bastava para isso cumprir alguns simples desafios in game.
Mas não era isto que nos iria impedir de passar dois dias atrás de criaturas virtuais, especialmente com o lançamento das versões shiny de alguns Pokémon que ainda não tinham e das versões Primal dos lendários Kyogre e Groudon. Além disso, uma boa surpresa foi a possibilidade de apanhar os lendários Latios ou Latias selvagens – dependendo da versão escolhida, Ruby ou Sapphire -, coisa que nunca acontecera até agora. Outra coisa positiva foi o lançamento da versão shiny do pokémon Kecleon, lançado no jogo muito recentemente. Isto fez com que este bichinho aparecesse muito mais no mapa, sem estar por detrás de qualquer paywall e acessível a todos os jogadores.
Em cada um dos dias, os spawns foram variando conforme o habitat em que estávamos – cada hora equivalia a um habitat diferente, que repetia uma vez ao longo do dia. Um treinador Pokémon, antes deste género de eventos, faz a sua lista de objetivos a cumprir, como quem diz, de bichos específicos que quer apanhar, na sua versão de cor diferente. Contudo, a shiny rate, ou seja, a probabilidade de aparecerem pokémon shiny, esteve muitíssimo baixa, ainda mais que em eventos anteriores. Mas há um pormenor que o pode justificar: o facto de ser um evento gratuito. O acesso ao evento de Las Vegas era através de um bilhete pago que dava diversos bónus, entre eles a shiny rate aumentada. Aqui, ao ser gratuito, a Niantic esclareceu que apenas algumas espécies de pokémon teriam essa probabilidade aumentada. Logo, esta não é, de todo, a minha maior razão de queixa sobre o evento, e apesar de chato, é compreensível.
Claramente o lançamento das versões Primal dos lendários Kyogre e Groudon em raids fizeram muitos jogadores saírem à rua e participar no evento. No entanto, há mais uma questão que tem que ser apontada, e prende-se novamente com a falta de alguns bónus. Notou-se que o principal foco do GO Tour Hoenn foram os raids, porém para participar nos mesmos é preciso ter passes, e apenas um gratuito é cedido diariamente. Tendo gasto esse, começam a utilizar-se os premium, que se podem obter pagando 100 pokécoins, o que equivale a 1€, ou de forma gratuita ao longo do tempo. No caso do evento do passado fim-de-semana, uma special research oferecia-nos dois passes premium, o que era consideravelmente pouco para dois dias de jogo.
Não foram só as versões primal dos lendários que foram lançadas. A premissa de um GO Tour é celebrar uma determinada região da franquia Pokémon e permitir aos jogadores completar a pokédex. Por pouco que essa premissa não podia ser entregue aos treinadores. O pokémon Spinda foi uma das maiores falhas e críticas concretas por parte dos jogadores a nível mundial, considerando que é uma criatura especial e apenas um exemplar foi disponibilizado no evento todo.
Ao fim de cerca 16 horas de jogo…
Assim se passaram oito horas de sábado, e pouco ou nada mais há a acrescentar sobre as oito horas de domingo. Não houve qualquer diferença na jogabilidade de um dia para o outro.
Tenho que confessar duas coisas em relação ao segundo dia de GO Tour: a primeira é que me deixei dormir e pouco joguei durante a manhã, considerando o quão fraco achei o primeiro dia; a segunda é que ainda faltava cerca de hora e meia para o fim do evento e já estava farto, pois havia pouco ou nada de diferente para fazer. Assim sendo, a minha opinião não difere muito de sábado para domingo.
Podemos concluir da seguinte forma: para a Niantic, milhares de jogadores é igual a milhares de dólares. Foi disso que se tratou a versão global do GO Tour Hoenn. Com raids incríveis, Pokémon regionais nos ovos de 10km – não havia, sequer, distância reduzida -, e incensos e lures a durarem apenas meia hora, os jogadores que quisessem aproveitar por completo teriam que gastar dinheiro real, apesar de ser um evento 100% gratuito.
Esperemos que a Niantic não veja no GO Tour, ou quem sabe nos próximos GO Fest, apenas mais uma maneira de arrecadar muito dinheiro de forma fácil. A nível técnico, o jogo funcionou sem qualquer tipo de problema, ao contrário do que aconteceu em eventos anteriores, e algumas surpresas foram agradáveis, mas não o suficiente para ultrapassar a falta de comunicação e de bónus expectáveis neste tipo de evento. As possíveis melhorias para o próximo grande evento gratuito a nível global prendem-se com a disponibilização de bónus, aumento da shiny rate e melhor comunicação por parte da Niantic.