Crítica – The Mitchells vs. The Machines

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The Mitchells vs. The Machines pode não ter o título mais catchy de sempre, mas é definitivamente um dos melhores filmes de animação dos últimos anos.

The Mitchells vs. The Machines

Sinopse: “A jovem Katie Mitchell (Abbi Jacobson) embarca numa viagem com os seus pais, irmão mais novo e cão querido para começar o seu primeiro ano no curso de cinema. Mas os planos de fortalecerem laços como família são rapidamente interrompidos quando os dispositivos eletrónicos de todo o mundo ganham vida para gerar uma revolta. Com a ajuda de dois robôs amigáveis, os Mitchells devem agora unir-se para salvarem-se uns aos outros – e ao planeta – da nova revolução tecnológica.”

Quando se trata de decidir se adiciono um determinado filme à minha watchlist, considero vários fatores. Desde género e sinopse até elenco, realizadores e argumentistas, por vezes basta um nome familiar para me convencer a dar uma oportunidade a esse filme. Produtores e/ou executivos estão longe de serem remotamente influentes neste tipo de decisão. No entanto, Phil Lord e Christopher Miller realizaram/escreveram/produziram alguns dos meus filmes de animação favoritos da última década (The LEGO Movies, Spider-Man: Into the Spider-Verse), logo obviamente necessitava de assistir a The Mitchells vs. The Machines, conhecido em tempos como Connected. Mike Rianda tem a sua estreia como realizador, argumentista e ator (dá a voz a Aaron Mitchell, o filho), acompanhado por Jeff Rowe, o outro escritor.

2021 está a tornar-se para ser um ano fenomenal ao nível do cinema. Pelo menos, começa dessa maneira. Adorei em absoluto Soul e Wolfwalkers, mas se este filme da Sony Pictures Animation tivesse saído no ano passado, não tenho a mínima ideia de qual colocaria mais alto no meu Top 10. Rianda e Rowe entregam um argumento brilhantemente original, repleto com personagens incrivelmente relacionáveis e temas muito bem tratados. Não me recordo da última vez que ri em voz alta ao assistir a um filme animado sozinho. Todas as piadas sobre tecnologia são hilariantemente inteligentes, gozando com comportamentos humanos ridículos – mas realistas – sobre defeitos, baixa velocidade e até mesmo falta de Wi-Fi. Chorei de tanta gargalhada, mas também estive perto de soltar algumas lágrimas devido à narrativa principal.

Começando com a protagonista, Katie Mitchell. Como uma jovem com o sonho de se tornar uma cineasta, a personagem de Abbi Jacobson segue um arco bem conhecido sobre não ter amigos, ser considerada “a esquisita” e ter pais – neste caso, mais a figura paterna – que simplesmente não entendem quem ela é, do que ela gosta, ou as razões pelas quais ela adora tanto algo que eles simplesmente não percebem. Embora seja verdade que este enredo não é exatamente novo, não significa que não seja cativante e emocionalmente poderoso quando escrito e desenvolvido eficientemente. Rianda e Rowe fazem de Katie uma personagem extremamente relacionável de uma maneira tão real que é mais difícil não criar uma conexão com a mesma do que o contrário.

Todos nós já nos sentimos deixados de lado ou sozinhos pelo menos uma vez nas nossas vidas. Obviamente, como partilho exatamente a mesma paixão que Katie, é mais fácil para mim sentir precisamente o mesmo que ela quando descobre novos amigos com quem pode falar sobre a arte que mais ama. Ainda não tenho um círculo de amigos com quem me possa encontrar diariamente (fisicamente) para discutir as últimas notícias sobre cinema ou filmes recém-lançados, logo a jornada de Katie tem um impacto mais significativo em mim do que poderá ter em outros espectadores. No entanto, não precisa de ser sobre arte ou um assunto específico. Numa análise geral, Katie sente-se sozinha e deseja seguir os seus sonhos, mas não se sente apoiada pelo seu pai, Rick Mitchell (Danny McBride).

The Mitchells vs. The Machines

Um dos aspetos mais convincentes de The Mitchells vs. The Machines é o facto de Rick e Katie partilharem o mesmo arco – apenas vão em direções diferentes. Enquanto que Katie sente que sair de casa e ir embora para sempre é a melhor solução para todos os seus problemas, Rick acredita que a sua permanência com a família é o caminho mais seguro, um que não contém desilusões e expetativas estragadas que poderiam magoá-la emocionalmente – algo que Rick aprendeu com o seu passado, daí a necessidade de ser excessivamente protetor da sua filha a todo custo. Uma vez que estão em lados opostos do espetro, discussões constantes, mentiras e comentários dolorosos vão afastando-os, levando a uma história maravilhosamente escrita sobre família, amor, amizade e compreensão mútua.

A mãe de Katie, Linda Mitchell (Maya Rudolph), e o seu irmão, Aaron Mitchell (Rianda), servem mais como gatilhos para conversas sinceras com as duas personagens principais, mas também têm a sua própria “viagem” pessoal. Ao passo que Linda sente ciúmes dos seus vizinhos perfeitos do Instagram e envergonhada por mostrar as suas fotos de família, Aaron lida com o seu amor bizarro por dinossauros de uma maneira mais leve e engraçada do que o arco dramático de Katie. Ambas as histórias carregam as suas próprias mensagens adoráveis para transmitir ao público, mas a relação de confronto entre Katie e Rick incorpora questões sensíveis que muitas famílias um pouco por todo o mundo nem chegam a encontrar solução.

Outra caraterística notável deste argumento é como Rianda e Rowe nunca tomam uma posição definitiva sobre qualquer tema. Tentam sempre seguir uma das principais mensagens do filme e apresentar bons pontos para ambos os lados do conflito. Por exemplo, The Mitchells vs. The Machines pode facilmente ser mal interpretado como um ataque à Internet e à tecnologia em geral, mas todos os diálogos são excecionalmente equilibrados. Apesar de comentários existirem sobre o uso do nosso smartphone à mesa de jantar ou durante momentos familiares, bem como o tempo excessivo de ecrã e a dependência excessiva das redes sociais, também se aborda o potencial da nova tecnologia, que pode dar origem a autênticas obras de arte inspiradoras, motivacionais e influentes. Afinal de contas, sem tecnologia os sonhos de Katie seriam totalmente diferentes.

Passando para os elementos mais técnicos do filme, é impossível não comentar o novo estilo de animação. Into the Spider-Verse foi um filme experimental e o seu sucesso pode ter mudado o futuro da animação para sempre. A mistura de uma abordagem mais ilustrativa e desenhada à mão com outra focada no realismo CGI visto na maioria dos filmes de hoje em dia oferece – assim como o próprio filme – um equilíbrio perfeito entre os dois estilos supostamente opostos. Esta mistura permite manter a expressividade e o nível de detalhe extremo do método clássico, mas também o ambiente realista do design 3D/CGI. As sequências de ação são extraordinariamente enérgicas, entusiasmantes e bem impressionantes, no mínimo.

The Mitchells vs. The Machines

A soundtrack do filme (banda sonora de Mark Mothersbaugh) está no ponto, elevando dezenas de cenas com excelentes escolhas musicais que a maioria dos espectadores já nem se recordava. Edição requintada (Greg Levitan) e excelente trabalho de voz de todo o elenco. Não consigo encontrar um único problema com este filme e ficaria extremamente surpreendido – e desapontado – se não se tornar num dos favoritos na próxima temporada de prémios. Crianças e adultos vão divertir-se tremendamente com este filme de ritmo rápido e altamente entretido, enquanto recebem algumas lições de vida valiosas ao longo do caminho. E quem sabe? Talvez este filme inspire famílias a fazer aquela viagem que planeiam há anos…

The Mitchells vs. The Machines pode não ter o título mais catchy de sempre, mas é definitivamente um dos melhores filmes de animação dos últimos anos. Com uma mistura deslumbrante de dois estilos de animação – que podem impactar o futuro deste tipo de filme – Mike Rianda e Jeff Rowe entregam uma história emocionalmente ressoante sobre família, amor e, mais explicitamente, colocarmo-nos no lugar de outras pessoas.

Com personagens incrivelmente relacionáveis, o argumento notavelmente bem escrito atinge um equilíbrio perfeito em todos os tópicos que aborda, apresentando argumentos para ambos os lados sem nunca definir algo como certo ou errado. Os arcos de personagem podem seguir linhas narrativas bem conhecidas, mas a escrita excecional eleva todas as jornadas pessoais, especialmente as de Katie e Rick, filha e pai.

Possuindo um trabalho de voz excelente de todos os envolvidos, a narrativa de ritmo rápido também contém sequências de ação impressionantes e tão coloridas que saltam do ecrã, cheias de energia, emoção e escolhas fantásticas de músicas. É um daqueles filmes incomuns onde não consigo encontrar uma única falha. Uma obra imperdível e hilariante tanto para crianças como para adultos.

The Mitchells vs. The Machines está disponível na Netflix.

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