The Instigators aproveita o seu elenco de luxo para cativar espetadores, mas excelentes prestações por si só não são suficientes para construir um filme memorável e satisfatório.
Doug Liman é conhecido por ter iniciado a saga protagonizada por Jason Bourne com Bourne Identity, mas talvez ainda mais por aquele que é frequentemente considerado como um dos melhores filmes de ação da década respetiva, Edge of Tomorrow. Infelizmente, desde esse ano de 2014 que o cineasta tem andado inconsistente com os seus trabalhos, conseguindo obras razoavelmente satisfatórias como Locked Down e Road House, mas também desastres como The Wall e Chaos Walking. De qualquer das maneiras, mantenho-me fã e confiante no seu regresso à ribalta, pelo que as expetativas para The Instigators eram bem positivas.
Com um elenco de luxo e um argumento redigido por Chuck Maclean (City on a Hill) e Casey Affleck (Manchester by the Sea) – que também lidera a obra com Matt Damon (Oppenheimer) – The Instigators conta a história de Rory (Damon) e Cobby (Affleck) como parceiros relutantes. Um pai desesperado e um ex-criminoso, respetivamente, são forçados a assaltar um político corrupto e, quando o plano corre mal, envolvem-se numa confusão caótica, sendo perseguidos não só pela polícia, mas também por burocratas malucos e chefes de organizações criminais vingativos.
O típico filme de “heist”, portanto. Normalmente, este tipo de obras possuem caraterísticas básicas comuns, sendo o tom escolhido – ou o respetivo balanço entre tons distintos – a grande diferença de filme para filme. The Instigators tem o elenco certo, a química correta e o humor seco e eficiente necessário, em que as constantes interações provocadoras entre Rory e Cobby são os momentos mais divertidos e cativantes da obra. Damon e Affleck jogam um com o outro com uma naturalidade fascinante, apesar da dependência extrema desta componente prejudicar a obra a longo-prazo, tornando as conversas inconsistentes e até excessivas.
No entanto, como referido acima, o importante era acertar o tom e, aqui, Liman demonstra algumas dificuldades. The Instigators não aparenta acertar no tom absurdo e ridículo desde o início, não dando a sensação de que a obra não é para se levar demasiado a sério. O primeiro ato até causa alguma intriga relativamente ao passado de ambos os protagonistas, mas tirando um ou outro momento mais bem-humorado e sarcástico, não existem indicações suficientes para preparar a mudança tonal subsequente que acaba por ser abrupta e confusa.
É difícil perceber o real intuito do filme: se o objetivo era ser apenas um filme de heist inconsequente e engraçado com um tom leve ou uma história de redenção pessoal. The Instigators falha em ambos ao não conter entretenimento suficiente para agarrar os espetadores – todos os pontos de enredo caem à frente uns dos outros sem grande organização ou lógica – nem oferecer conteúdo rico aos personagens que retrata, sendo as revelações bastante superficiais e sem temas a explorar ou mensagens de valor a transmitir. Mesmo as poucas sequências de ação pecam por falta de energia e inovação, levando a uma visualização bastante monótona.
O maior feito de The Instigators foi conseguir contratar tantos atores fenomenais para representar papéis cliché e vazios. Hong Chau (The Whale) dá um ar da sua graça como a psicóloga que se vê envolvida no caos dos dois protagonistas, tentando ajudá-los através de diálogos repetitivos sobre “e como é que isto te fez sentir?” Michael Stuhlbarg (The Shape of Water) liberta umas quantas asneiras ao lado do seu compincha Alfred Molina (Spider-Man: No Way Home). E Ron Perlman (Hellboy) aproveita muito bem todos os minutos de ecrã que lhe são oferecidos.
VEREDITO
The Instigators aproveita o seu elenco de luxo para cativar espetadores, mas excelentes prestações por si só não são suficientes para construir um filme memorável e satisfatório. O humor sarcástico do banter entre Matt Damon e Casey Affleck tenta elevar um heist flick superficial, formulaico e com entretenimento inconsistente, mas a missão torna-se impossível devido à falta de maior controlo tonal. Nem é um estudo profundo sobre redenção pessoal, nem um filme com entretenimento barato suficiente para convencer um público a espalhar a palavra. Desilusão.