Crítica – Road House

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Road House mantém o argumento superficial e formulaico, mas as mudanças narrativas e novas personagens mais cativantes tornam o remake numa visualização mais satisfatória.

Nunca fui fã da obra original de 1989 protagonizada por Patrick Swayze, sendo que uma nova visualização recente não alterou esse sentimento. Logo, este remake de Road House tinha vários elementos a seu favor: um elenco liderado por um dos meus atores favoritos de hoje em dia, Jake Gyllenhaal (Nightcrawler), assim como a maior atriz portuguesa do momento, Daniela Melchior (The Suicide Squad); uma narrativa aberta a múltiplas mudanças para melhor; e uma evolução cultural e tecnológica significante na área de stunts que possui um peso muito maior na indústria atual.

Road House segue a premissa-base do filme em que se baseia: um ex-lutador de UFC, Dalton (Gylenhaal), é contratado pela dona de um bar para controlar a violência e estragos constantes a este local popular de Florida Keys. A diferença principal passa por, em vez de ser Dalton a trazer os problemas maiores devido a despedir o filho de alguém perigoso, o próprio arquipélago já possuía complicações sérias com um chefe da máfia local, cabendo a Dalton salvar não só o bar, mas também a comunidade das ilhas que tão bem o receberam. Realizado por Doug Liman (Edge of Tomorrow) e redigido por Anthony Bagarozzi (The Nice Guys) e Charles Mondry (estreia), os ingredientes para um bom serão cinéfilo caseiro encontravam-se em cima da mesa…

E cumpriram-se os requerimentos básicos de entretenimento. As alterações narrativas do remake são bem-vindas, nomeadamente a introdução de novas personagens – assim como a maior conexão pessoal e emocional entre elas – que trazem uma energia extremamente cativante para uma história admitidamente genérica e tematicamente superficial -, e existe espaço para explorar traumas do passado, tornando-os em momentos de aprendizagem e aceitação dos nossos defeitos para sermos melhores seres humanos, mas Road House nunca intenciona ser esse tipo de filme mais pesado.

É uma sessão de cinema leve focada em ação e guiada por atores carregados de charme, levando a uma química global entre o elenco de louvar – o press tour tem sido muito divertido de acompanhar. Gyllenhaal é previsivelmente fantástico como Dalton, entregando uma prestação mais subtil que Swayze – este passava mais uma sensação de cool – mas com o mesmo poder de agarrar a atenção do espetador, trazendo até um certo mistério sobre o que o protagonista realmente pensa e sente sobre o seu trabalho e as pessoas à sua volta. O seu romance com Ellie (Melchior) contém a paixão intensa necessária, mas peca por falta de maior desenvolvimento, acabando por, infelizmente, cair na armadilha de tornar a personagem feminina numa formulaica “mulher bonita que se apaixona pelo herói” e até numa “donzela em apuros” – Melchior merece muito, mas muito mais do que este tipo de papéis.

No entanto, o grande destaque de Road House vai para Conor McGregor na sua estreia em longas-metragens. Ao longo da última década, temos visto vários membros da WWE transitar para Hollywood com grande sucesso (Dwayne Johnson, John Cena, Dave Bautista), mas todos vinham de um espaço de entretenimento onde, para todos os efeitos, já eram atores. Já McGregor é um dos maiores lutadores de UFC de sempre e vem de um ambiente seriamente violento onde não é suposto falhar um único soco ou pontapé para um local onde tem de… fingir que entra em várias lutas de bar. O agora ator surpreende tudo e todos ao interpretar brilhantemente um autêntico psicopata, Knox, que não quer saber de nada a não ser andar à porrada. O facto de McGregor ser conhecido também pelo seu constante trash talk ajudou a que incorporasse parte da sua experiência profissional neste papel de lunático, altamente elevando os níveis de adrenalina da obra.

Relativamente às sequências de ação, sinto-me dividido com o tratamento das mesmas. Por um lado, quando a câmara se foca na coreografia de lutas violentas e sangrentas, mesmo com uma mistura de pans rápidos e CGI algo inconsistente, Road House consegue ser envolvente e entusiasmante. Por outro lado, algum excesso de estilização destas set pieces leva a alguma confusão visual ocasional, “escondendo” por vezes o trabalho fenomenal da equipa de stunts. No geral, cumpre com o propósito principal de entreter os espetadores sem nunca cometer o erro de querer ser demasiado sério – várias sequências entram no campo de “dumb fun” que encaixam que nem uma luva neste filme.

Nota final para escolhas, no mínimo, interessantes de músicas para acompanhar a ação, assim como a localização lindíssima onde Road House foi filmado. Tendo em conta a dependência cada vez maiores de efeitos visuais dos grandes blockbusters de hoje em dia, existe um prazer especial em assistir a uma obra onde tudo à volta dos atores é real, com sets construídos de raiz e um ambiente onde, com certeza, foi tremendamente divertido de se trabalhar.

VEREDITO

Road House mantém o argumento superficial e formulaico, mas as mudanças narrativas e novas personagens mais cativantes tornam o remake numa visualização mais satisfatória. O elenco liderado por um Jake Gyllenhaal em excelente forma – em todos os sentidos – possui uma química invejável, sendo que o grande destaque cai surpreendentemente na estreia cinematográfica de Conor McGregor, infundindo o filme com uma energia intensa e verdadeiramente louca. As sequências de ação sofrem ligeiramente de algum excesso de estilização, mas cumprem com o seu propósito básico. Um foco maior no desenvolvimento de personagem, nomeadamente no romance central, era bem-vindo, mas não deixa de ser uma agradável sessão caseira.

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