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The Card Counter é uma narrativa orientada pelo protagonista e focada num arco de redenção assustadoramente cativante, elevado por uma prestação soberba de Oscar Isaac.

Sinopse: “Redenção é o jogo longo. Este thriller de vingança conta a história de um ex-militar interrogador tornado jogador de cartas assombrado pelos fantasmas de decisões anteriores.”

Duvido que algum cinéfilo não reconheça Paul Schrader, mas de qualquer forma, este é o argumentista por detrás de filmes como Taxi Driver, Raging Bull e, mais recentemente, First Reformed. Portanto, The Card Counter era definitivamente um dos meus filmes mais antecipados dos últimos meses do ano, embora não possa afirmar que Schrader seja um dos meus cineastas favoritos. Ainda assim, mesmo que as pessoas ignorem o famoso escritor-realizador, o elenco estelar chama a atenção de qualquer amante de cinema. Oscar Isaac (Dune) não só se tornou um dos atores mais populares da atualidade, mas também um favorito pessoal, logo apenas a sua presença faria-me sempre investir no filme.

Arcos de redenção. Dilemas morais. Protagonistas complexos. A filmografia de Schrader encontra-se repleta destes atributos e o seu trabalho mais recente não foge desta linha. The Card Counter segue o personagem de Isaac, William, um homem misterioso que não faz nada mais nada menos do que jogar cartas indefinidamente. Seja blackjack ou poker, William só quebra a sua filosofia de jogo modesta, segura e de baixo risco, quando La Linda (Tiffany Haddish) e Cirk (Tye Sheridan) aparecem na sua vida. A partir daí, os espetadores acompanham uma narrativa em camadas sobre um protagonista a tentar redimir-se de pecados do passado, que frequentemente são descritos exclusivamente através de uma narração assustadoramente cativante.

Não sou particularmente um fã de narração como mecanismo de desenvolvimento de personagem, mas, neste caso, William ser o narrador é como ouvir os seus próprios pensamentos. Tendo em conta os segredos chocantes e brutais que o personagem guarda, a narração acaba por servir como acesso exclusivo à mente do protagonista. No entanto, tal método leva a alguns problemas de ritmo e sequências repetitivas. O primeiro ato é um pouco pesado em exposição e explicação dos jogos de cartas, o que será avassaladoramente confuso para pessoas que não têm qualquer conhecimento sobre este tipo de jogos ou que não encontram interesse nos mesmos. Obviamente, blackjack e poker não são o foco da narrativa, mas oferecem eventos que, em última análise, movem o enredo para frente.

Considero The Card Counter um filme guiado pelo protagonista no sentido em que, se os espetadores não criarem uma conexão com o mesmo, toda a obra cai por terra. Se não se importarem com o passado de William ou não acharem o personagem interessante de alguma forma ou feitio, será um desafio tirar prazer deste filme. Felizmente, o seu arco de redenção é fortemente convincente e os flashbacks trazem uma surpreendente camada de crueldade e violência que leva a desenvolvimentos inesperados. Sinceramente, não antecipei como o terceiro ato se desenrola, o que serve como um elogio a um filme que, por vezes, se perde nos dois primeiros atos, como se Schrader não soubesse exatamente o que queria alcançar.

The Card Counter

O filme é lindamente filmado por Alexander Dynan, que trabalhou com Schrader no seu último filme. Com atores tão notáveis, monólogos e diálogos longos são executados na perfeição num só take ininterrupto, tentando constantemente puxar os espetadores para este mundo complexo. Tiffany Haddish (On the Count of Three) surpreende como La Linda, uma mulher que muda gradualmente a filosofia de jogo de William. Haddish oferece a prestação mais genuína de todas. Willem Dafoe (The French Dispatch) é pouco utilizado como Major John Gordo, um personagem crucial com pouco tempo de ecrã e frequentemente visto através de efeitos de câmara estranhos.

Tye Sheridan (Voyagers) prova que, dado o projeto certo, é uma das jovens estrelas mais brilhantes de Hollywood. No entanto, apesar da sua performance convincente, Cirk parece muito um personagem que está simplesmente a passear com o protagonista. A sua introdução é estranhamente apressada, com o seu passado completo explicado numa única fala, sem ninguém lhe perguntar nada. Durante todo o tempo de execução, Cirk está sempre ao lado de William, mas os espetadores têm que esperar até ao final para obter algum tipo de recompensa emocional, que é honestamente fraca demais para o que provoca. No entanto, The Card Counter é, na verdade, uma história focada no protagonista, logo não é tão surpreendente que personagens secundárias não recebam tanta atenção.

Assim, chego ao melhor atributo de todo o filme: o próprio Oscar Isaac. Não posso negar que me tornei um fã incondicional do ator, mas a sua prestação subtil e contida torna-o num candidato a vários prémios – apenas nomeações, não consigo imaginá-lo a vencer nas cerimónias mais importantes. Isaac navega entre um homem atencioso e responsável e uma presença quase ameaçadora e aterrorizante de uma forma hipnotizante. Com Dune e Scenes from a Marriage, sem esquecer o casting para Moon Knight, 2021 foi definitivamente um ano de sucesso para este ator impressionante. Que continue a receber novos projetos entusiasmantes.

The Card Counter é uma narrativa orientada pelo protagonista e focada num arco de redenção assustadoramente cativante, intensamente elevado por uma prestação soberba de Oscar Isaac. O ator termina o seu ano notável interpretando um personagem complexo e misterioso com o qual os espetadores se devem relacionar para que realmente possam desfrutar da narrativa em camadas de Paul Schrader.

Dos flashbacks eficazes e narração rica aos desenvolvimentos finais inesperados do enredo, o realizador-argumentista aborda os sentimentos de culpa e responsabilidade moral de uma maneira algo enrolada com alguns problemas de ritmo. Apesar de um primeiro ato bastante expositivo e muito centrado em informações sobre jogos de cartas, este é um filme imperdível desta próxima temporada de prémios. Fantasticamente filmado, performances excelentes e uma história que ficará com os espetadores depois de terminar.

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