Crítica – Voyagers

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Voyagers possui uma fórmula bem-sucedida de ficção científica e leva-a por um caminho de desenvolvimento desinteressante, nada surpreendente e frustrantemente genérico.

Voyagers

Sinopse: “Com o futuro da humanidade em perigo, um grupo de homens e mulheres jovens, criados com inteligência superior e supressão de impulsos emocionais, embarcam numa expedição para colonizar um planeta distante. Mas quando descobrem segredos perturbadores sobre a missão, desafiam o seu treino e começam a explorar as suas naturezas mais primitivas. À medida que a vida na nave se torna um caos, são consumidos pelo medo, luxúria e fome de poder.”

Quando me perguntam pelo meu género favorito, costumo responder com um clichê irritante: “gosto de todos os tipos de filme”. Embora seja verdade, tendo a adorar ficção científica e um par de outros géneros mais do que os restantes. Defendo que sci-fi é uma das fontes mais criativas do cinema, em parte devido ao potencial infinito do seu storytelling. Desde a vida extraterrestre à exploração do espaço profundo, o nosso mundo sabe tão pouco do que está para além do planeta Terra, o que torna o género numa estrutura perfeita para ficção imaginativa e única. Voyagers apresenta um elenco interessante, mas Neil Burger está por trás da desapontantemente oca saga Divergent, logo não consegui deixar de entrar para este filme com expetativas muito baixas.

Mesmo antecipando uma visualização difícil, nunca pensei que Voyagers seria candidato a um dos piores filmes do ano. A premissa geral está longe de ser inovadora, mesmo com a variação não-tão-original que coloca no conceito de “colonização de outro planeta”. Ainda assim, é considerada uma fórmula porque funcionou em imensas ocasiões, mas simplesmente não resulta neste filme. O grupo de jovens criados sem acesso ao mundo exterior podia ter recebido um arco inventivo, mas em vez disso, segue um caminho de desenvolvimento de personagem incrivelmente genérico, maçador e preguiçoso. O caos e a confusão desencadeados por uma única pessoa – que, por coincidência, incorpora literalmente tudo o que existe de errado com a nossa sociedade – é tão extremamente forçado como totalmente ridículo.

Voyagers

Aliás, até levanta questões lógicas sobre a premissa do filme. Obviamente, pessoas podem nascer no mesmo lugar com a mesma educação, valores morais e tudo o que vem com o crescimento do ser humano e, mesmo assim, desenvolverem personalidades distintas. No entanto, Burger não demonstra as motivações que levam algumas personagens a desafiar a autoridade e a questionar o seu propósito. Tudo acontece porque precisa de acontecer. Personagens agem irracionalmente porque o enredo o exige. A maior parte do desenvolvimento da história é oferecida através de diálogos absurdamente infantis, onde uma personagem pergunta repetidamente “porquê?” a alguém que possui sempre algum tipo de resposta.

O argumento de Burger mal sobrevive devido à falta de qualquer caraterística entusiasmante. Desde um subplot obviamente enganador à narrativa principal frustrantemente previsível, o filme não contém surpresas. O trabalho de edição (Naomi Geraghty) terrivelmente agitado e abrupto transforma uma visualização já complicada num período que chega a ser irritante. Adicionem imagens estranhamente misturadas de eventos aleatórios da vida em pontos completamente arbitrários do tempo de execução e Voyagers torna-se um filme muito difícil de desfrutar genuinamente. Sem qualquer conexão entre cenas, a missão principal perde-se nos primeiros minutos enquanto que as personagens não conseguem completar algo semelhante a um arco.

É ironicamente engraçado como Isaac Hempstead Wright (Bran Stark em Game of Thrones) continua a tendência de não fazer nada de relevante num filme ou série de televisão. Infelizmente, nem mesmo o elenco salva este desastre. Tye Sheridan (Dark Phoenix), Lily-Rose Depp (Crisis) e Fionn Whitehead (Dunkirk) esforçam-se imenso com os guiões pobres, mas algumas falas são verdadeiramente cringe-worthy. A personagem de Colin Farrell (The Gentlemen) sofre uma das inúmeras más decisões de Burger, terminando como mais um componente esquecível do filme. O final chega muito rápido, algo que atesta o ritmo demasiado apressado.

Voyagers

Nestes casos em que tenho dificuldades em encontrar pontos positivos nos dois pilares de qualquer filme – história e personagens – viro-me para os elementos técnicos. No entanto, Voyagers é um dos raros filmes situados num só local que não consegue ter suspense nem deixar os espectadores claustrofóbicos, apesar de muitas tentativas falhadas. Desde a banda sonora surpreendentemente comum (Trevor Gureckis) ao trabalho de câmara pouco enérgico (Enrique Chediak), não existe um único aspeto que possa levar comigo como um pensamento de “pelo menos isto foi fantástico”. A cenografia parece futurista o suficiente para uma nave espacial, mas, mais uma vez, não é nada que os espectadores nunca tenham visto antes.

Voyagers possui uma fórmula bem-sucedida de ficção científica e leva-a por um caminho de desenvolvimento desinteressante, nada surpreendente e frustrantemente genérico. O argumento de Neil Burger falha em entregar uma história criativa e cativante com personagens convincentes, oferecendo o completo oposto.

Desde o terrível trabalho de edição ao desenvolvimento de enredo extremamente preguiçoso, passando por diálogos cringe-worthy e misturas de imagens aleatoriamente estranhas e irrelevantes, é difícil encontrar um aspeto positivo num filme tão oco. Apesar de maior parte do tempo de execução ser focado numa única localização, os níveis de suspense são próximos de zero. Os temas narrativos são claros desde o início, mas a execução de quase todos os pontos de enredo e de ações de personagens sai incrivelmente forçada.

A cenografia é o único componente técnico digno de alguma apreciação. Nem um elenco talentoso consegue superar os guiões horríveis. Candidato a um dos piores filmes do ano.

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