Crítica – Ghosted

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Depois de Knives Out, Chris Evans e Ana de Armas voltam a reencontrar-se numa aposta para a Apple TV+ que é uma autêntica catástrofe.

Dois duos de argumentistas responsáveis por sagas de ação e comédia incrivelmente populares – Deadpool, Zombieland, MCU’s Spider-Man. Um elenco repleto com algumas das maiores estrelas de Hollywood – Chris Evans, Ana de Armas, Adrien Brody e inúmeros cameos de arregalar os olhos. O realizador de Rocketman. Um dos compositores mais cobiçados da indústria. Recordo-me dos tempos em que um filme ser produzido por tantos cineastas e artistas talentosos costumava ser um factor positivo importante nas expetativas dos espetadores. Bem, Ghosted é dos maiores desastres dos últimos anos.

Muitos cinéfilos defendem que a pior experiência que uma obra pode oferecer ao seu público é deixar o mesmo sem nada para pensar. Costuma-se dizer algo do género “mais vale um mau filme que provoque algum tipo de reação na audiência do que uma obra que deixe os espetadores indiferentes sem nada para discutir”. Pessoalmente, filmes que me deixam extremamente frustrado com o potencial e talento desperdiçados são os que mais me impactam negativamente.

Ghosted tinha tudo para ser uma excelente obra. Condições ideais que muitos cineastas procuram a carreira inteira e não conseguem. Se esta obra fosse um filme original indie criado por artistas que mal conhecemos ou até que nunca ouvimos falar, com um orçamento minúsculo e apenas com a intenção de tentar seguir a paixão pelo cinema, provavelmente nem estaria a escrever um artigo sobre o mesmo. No entanto, quando uma obra é realizada, escrita, produzida, representada, filmada e “composta” por alguns dos nomes mais populares de Hollywood, a frustração apodera-se de quem acaba de assistir a um dos piores filmes do ano.

O argumento de Rhett ReesePaul WernickChris McKenna e Erik Sommers é a desilusão principal de Ghosted, um filme que até tem uma premissa interessante e com o potencial de ser uma aventura cheia de momentos para soltar gargalhadas e ficar boquiaberto com as sequências de ação impressionantes. Infelizmente, quando a única cena memorável de todo o filme está relacionada com um aspeto externo ao mesmo – cameos contínuos que já se sabiam de antemão que iam acontecer – sem qualquer ligação à história em si…

É genuinamente chocante passar praticamente duas horas sem esboçar um único sorriso com um guião redigido por pessoas que deixaram audiências inteiras a chorar de tanto rir com obras passadas. Ghosted peca por uma falta de originalidade gritante, tanto na sua narrativa genérica, previsível e desprovida de quaisquer surpresas, como nas suas piadas ao nível daquele tio que fica mais solto depois de ingerir uma certa quantidade de álcool. Evans e Armas aparentam estar a representar pela primeira vez nas suas vidas, tal a dificuldade de ambos em entregar as suas falas de forma convincente.

É impossível imaginar que o elenco em questão não tem qualquer química, mas os aspetos técnicos de Ghosted são tão inacreditavelmente terríveis que afetam as prestações de todos os envolvidos. A montagem de Chris Lebenzon, Jim May e Josh Schaeffer é, sem dúvida, o maior destaque técnico negativo. Arruina totalmente as sequências de ação com cortes incompreensíveis e transforma diálogos simples em pura confusão audiovisual: personagens ainda a falar já com a boca fechada e a repetirem movimentos que já tinham feito no frame anterior são dos erros mais amadores possíveis.

Com uma montagem destas, tudo o resto descamba. A cinematografia de Salvatore Totino não se consegue focar em nada, apesar da coreografia de luta também ser lenta e pouco entusiasmante. Os efeitos visuais deixam imenso a desejar, parecendo mesmo incompletos. Não se sabe a fatia do orçamento atribuída para este departamento, mas ou não foi suficiente ou apressaram o que nunca deve ser apressado. Finalmente, a banda sonora de Lorne Balfe nem se nota, visto que Ghosted é mais composto por músicas pop aleatoriamente espalhadas pelo meio da ação do que por música instrumental. 

O enredo principal encontra-se carregado de conveniências de fazer revirar os olhos e, mesmo desligando o cérebro durante todo o tempo de execução, alguns pontos narrativos fazem tão pouco sentido que custa simplesmente tolerar e aceitar os vários desenvolvimentos ilógicos. Há uns anos atrás, ficaria genuinamente surpreendido com Ghosted ser a desilusão monumental que é. No entanto, hoje em dia, este tipo de projetos recebem “luz verde” mais vezes do que deviam, sendo que a única surpresa é mesmo o facto de continuar a cair na armadilha de acreditar que estes filmes poderão ser uma boa aposta.

VEREDITO

Ghosted é um autêntica catástrofe. Quando os únicos momentos memoráveis de toda a obra são os inúmeros cameos totalmente desconetados da história em si, pouco mais se pode dizer sobre o filme. Efeitos visuais, ação e argumento são uma autêntica confusão, ao ponto de afetarem as prestações e química de um elenco de renome. Um dos piores trabalhos de montagem dos últimos anos. Um dos maiores e mais frustrantes desperdícios de talento à frente e por trás da câmara. Muito, muito onde do status de “tão mau que é bom”.

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