Crítica – Fair Play

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Fair Play é uma exploração amor, ambição e dinâmicas de género, carregada de emoções.

Uma das principais razões pelas quais o Sundance Film Festival é tão popular entre cinéfilos é o foco total em histórias inteiramente independentes, frequentemente tratadas por realizadores, argumentistas, atores e muitos outros elementos estreantes que perseguem os seus sonhos. Fair Play foi muito aclamado na edição deste ano do evento, continuando a recolher reações positivas durante o seu calendário festivaleiro. Quando finalmente fez a sua estreia em streaming, abordei-o com expetativas um tanto elevadas, esperando que a primeira longa-metragem de Chloe Domont merecesse o entusiasmo.

Fair Play é uma jornada carregada de emoções que explora a tumultuosa relação de um casal profundamente apaixonado que partilha a mesma carreira. As suas vidas profissionais entrelaçam-se, levando à inveja, ao ciúme e a confrontos exponencialmente explosivos. Domont explora as complexas dinâmicas de género, destacando os preconceitos enfrentados por mulheres bem-sucedidas em vários campos e trazendo para a luz os desafios dos casais que trabalham lado a lado num thriller tenso que culmina num final admitidamente divisivo. Independentemente da posição do espetador em relação a esta conclusão, são o estudo e as mensagens dos temas principais que realmente importam.

O filme apresenta uma história instigante que sublinha as disparidades que as mulheres encontram no seu caminho rumo ao sucesso. Levanta questões essenciais sobre as expetativas impostas às mulheres para que se destaquem para além do comum, a fim de alcançar reconhecimento, enquanto as conquistas dos homens muitas vezes são reconhecidas unicamente com base na sua competência profissional. Num mundo em que as mulheres são continuamente submetidas a padrões de avaliação e julgamento diferentes, Fair Play retrata de forma convincente os desafios que enfrentam. As suas conquistas, mesmo quando notáveis, são frequentemente ofuscadas pelo estereótipo de que as mulheres devem consistentemente ultrapassar o que é esperado – o que leva a comentários e piadas sexistas – para serem vistas como verdadeiramente bem-sucedidas. Domont deixa clara a importância de desmantelar tais preconceitos e da necessidade urgente de reconhecimento igualitário com base no mérito e não no género.

No entanto, o coração e foco central da obra encontra-se nas dinâmicas intricadas dos protagonistas românticos, Emily (Phoebe Dynevor) e Luke (Alden Ehrenreich). À medida que os seus empregos gradualmente têm um impacto na harmonia que outrora era perfeita mas agora se desmorona, emergem as inseguranças enfrentadas pelos casais que seguem o mesmo caminho profissional. Fair Play aborda questões intrigantes sobre o que significa para um homem quando a sua parceira, que partilha as mesmas ambições profissionais, alcança os seus objetivos antes dele, tal como representa o que uma mulher pode sentir quando o seu parceiro começa a tratá-la de forma diferente devido ao novo estatuto.

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Domont mergulha na perspetiva psicológica de tais cenários, retratando as vulnerabilidades e pressões que ambos podem enfrentar: os homens quando se encontram no papel de apoio ou em segundo plano, e as mulheres quando são o sustento da família e estão no comando. A narrativa pinta um retrato vivido e bastante relacionável dos perigos enfrentados pelos casais que partilham um espaço profissional, trabalhando lado a lado ou até mesmo um sob o outro. Serve como um lembrete de que a jornada do amor e ambição muitas vezes está repleta de obstáculos inesperados e Fair Play faz um trabalho louvável ao retratar essas nuances. Isto, até ao final louco…

A fase inicial atrai os espetadores de forma quase sedutora para um mundo de sensualidade e intriga. A dinâmica apaixonante de Emily e Luke serve como um cenário cativante, deixando o público ansioso por descobrir quando as suas ambições profissionais irão, finalmente, interferir na sua ligação pessoal. No entanto, é neste clímax em crescendo que Fair Play sofre uma transformação dramática. O filme abandona a precisão anterior e mergulha de cabeça num mar de caos, libertando as tensões anteriormente controladas. Domont renuncia à subtileza em prol de mensagens explícitas e as personagens tornam-se cada vez mais estridentes. Momentos chocantes desenrolam-se, aparentemente pelo valor de choque, deixando os espetadores com um sentimento de dissonância.

Não é uma reviravolta completamente inesperada e está longe de ser insensata ou ilógica, como muitos espetadores masculinos irão dizer para defender o seu género como se o filme fosse um ataque ao sexo masculino. Hoje em dia, algo como os momentos finais da obra não é realmente surpreendente. O problema está na forma como são introduzidos tópicos altamente sensíveis relacionados com a violência doméstica e o abuso sexual. Domont vira abruptamente para território perturbador e escala situações rapidamente, afetando o equilíbrio geral da narrativa. Fair Play é claramente estruturado a pensar num terceiro ato forte, mas fazer com que ambas as personagens ajam de forma extrema corre o risco de alienar o público, deixando um sabor desagradável e levantando questões sobre a mensagem pretendida pela cineasta.

Tendo tudo em conta, Fair Play não é tão prejudicado como alguns poderão temer. Uma observação final para as prestações dedicadas. Dynevor (Bridgerton) oferece uma interpretação cativante, incorporando a sua personagem com total compromisso e partilhando uma química palpável com Ehrenreich (Solo: A Star Wars Story). Certamente, uma das performances mais memoráveis do ano. O ator também merece elogios, embora ocasionalmente se estique em demasia nas reações exageradas, especialmente à medida que a história e a personagem se tornam progressivamente mais intensas. Ambos transmitem de forma hábil as mensagens temáticas de Domont, contribuindo para uma experiência de visualização extremamente satisfatória que, de facto, justifica o feedback positivo que tem recebido até agora.

VEREDITO

Fair Play é uma exploração amor, ambição e dinâmicas de género, carregada de emoções. Chloe Domont aborda de forma ponderada estes temas, destacando os preconceitos enfrentados pelas mulheres bem-sucedidas, os desafios pessoais dos casais que trabalham no mesmo espaço e as vulnerabilidades inevitáveis que surgem desses cenários. As prestações dedicadas de Phoebe Dynevor e Alden Ehrenreich tornam a experiência de visualização envolvente, enfatizando as mensagens instigadoras da obra sobre as políticas de género e a busca de reconhecimento igualitário com base no mérito e não no sexo. O final dramático e chocante suscitará debates acalorados…

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