Através da simplicidade, We Are Football aposta, para já, em ser uma alternativa descontraída de FM, não se levando demasiado a sério.
Análise de: Cláudio Araújo
Mês de junho, o calor aparece, os campeonatos de futebol europeus já estão concluídos e, com campeões coroados, começam as provas de seleções e os preparativos dos clubes para a nova época futebolística. Com um sentido de oportunidade curioso surge We Are Football, o novo simulador de treinador de futebol que pretende oferecer uma alternativa viável aos fãs de FM.
We Are Football é uma experiência agradável e indicada para quem quer jogar um simulador de futebol de forma descontraída, focada na progressão da nossa personagem e clube, sem ter de controlar todos os detalhes tácticos ou seleccionar as opções de conversa com precisão impecável.
O jogo tem um modo tutorial onde treinamos a equipa masculina do Liverpool nas últimas três jornadas do campeonato com o objetivo de sermos campeões, algo que acontece após termos substituído o nosso antecessor, que quase desperdiçou uma enorme vantagem. O tutorial é longo e ensina-nos como navegar dentro do jogo, mas pode ser facilmente ignorado, dado que, nos outros modos de jogo, temos um botão de ajuda em cada ecrã e somos várias vezes incomodados com a aparição de um apito com explicações, ao estilo do clipe animado que existia no Microsoft Office nos anos 90 e início dos anos 2000. É quase arcaico.
Além do modo tutorial, We Are Football oferece dois modos de jogo: o modo “select your own”, que é exatamente igual ao modo tradicional de Football Manager, onde escolhemos o clube que queremos treinar; e um modo carreira, que em nada difere do primeiro modo sem ser no método de escolha de clube. No início deste modo, é-nos realizado um questionário com diversas perguntas relativas ao nosso background e preferências e, com base nas nossas respostas, são-nos apresentados três clubes para assumirmos controlo. Ambos permitem escolher bases de dados masculinas ou femininas para treinar.
Optei pelo segundo modo de jogo. Preenchi o burocrático formulário e, surpresa surpresa, o primeiro clube que me foi sugerido é português, nomeadamente o “Guimarães”. Parece-me interessante o suficiente e um ótimo clube para testar o motor de jogo.
Apesar de complexo em bastantes aspetos, We Are Football tem uma apresentação simples e boa assim que o jogador aprende onde se encontram todas as opções e como funcionam os diversos módulos. A maioria das ações são intuitivas e fáceis de executar, tornando assim o decorrer das semanas bastante rápido.
A gestão é feita à semana, onde percorremos os ecrãs todos que pretendemos e depois vemos a semana a passar à nossa frente, sem interrupções, até ao início da próxima semana ou jogo. Geralmente, cada semana tem pelo menos um jogo ou dois, tal como na vida real.
Esta é a primeira alteração significativa face a FM, o qual tem um estilo de gestão híbrida, isto é, em que podemos gerir algumas componentes dia a dia, como as conferências de imprensa, e outras à semana ou ao mês, como as sessões de treino.
O módulo tático é bastante simples. Demasiado na minha opinião. Existem alguns templates de estilos de jogo, tais como futebol atacante com passes curtos, ataque controlado, defensivo com bolas longas, diversas opções de pressão e contrapressão e uns sliders para a definição da frequência de dribles, mergulhos, contra-ataques, jogo mais pelas alas ou interior, entre outros. No entanto, não existem instruções individuais para os jogadores, sendo as mesmas substituídas por cartas de talentos com forças e fraquezas, as quais depois podem ser vistas numa espécie de árvore. É fácil perceber qual a nossa melhor equipa, no entanto, a falta de licenças para nomes de jogadores reais faz com que não consiga criar laços com os jogadores.
Curiosamente, e no sentido oposto ao módulo tático simplista, existe um módulo de jogadas, o qual nos permite criar jogadas bastante precisas e elaboradas num ambiente quase de laboratório. Estas jogadas denominam-se por “special moves” e devem ser treinadas ao longo da semana para poderem ser utilizadas durante o jogo. Infelizmente, não é possível verificar se estas jogadas são de facto utilizadas ou se podem ser melhoradas, uma vez que não existe um motor 2D ou 3D de jogo.
Outra área bastante complexa está relacionada com a gestão do clube. O jogo está cheio de opções, tais como “mães dos jogadores sub-19 lavam as camisolas em casa” ou “café grátis”, que permitem gerir pequenas quantidades de dinheiro, mas, muito honestamente, parecem mais um simulador de contabilidade do que de futebol, não gerando qualquer entusiasmo. Felizmente, podem ser ignoradas.
Existem também outras opções mais relacionadas com aspetos do jogo que vão além dos treinos e tácticas, tais como ajustar a densidade da relva para complementar o nosso estilo de jogo ou melhorar as infraestruturas de acesso ao estádio e respetivos transportes públicos. É um conceito interessante que tenta gerar alguma fidelização aos clubes que treinamos e que tenta simular um aspeto da gestão desportiva que ocorre para lá dos ecrãs televisivos. Porém, será que é isto que o público-alvo de We Are Football pretende jogar? Ou preferirá dedicar tempo a afinar o plano de treinos para espremer o máximo potencial da grande promessa que acabou de contratar?
Outro nível de separação entre o treinador e o manager consiste no facto de existirem dois calendários: um com as atividades da equipa principal, onde estão representados os treinos, a deslocação para o estádio e outros aspetos logísticos; e um calendário pessoal, onde marcamos atividades com os adeptos, festas, exercício físico e negociação de contratos com patrocinadores.
Por falar em negociações, todas as negociações parecem bastante básicas, simples e fáceis de explorar para obter um bom negócio. No ecrã de negociações temos acesso ao número de alterações que podemos fazer e rondas negociais – basta sermos bastante agressivos e segurar a nossa posição durante as rondas negociais, cedendo talvez um pouco na última ronda, e tudo deverá correr de feição. As negociações com clubes e jogadores são ligeiramente mais difíceis que com patrocinadores.
Durante a elaboração desta análise foi efetuado um patch ao jogo onde, entre diversas alterações, é suposto tornar as negociações mais difíceis e exigentes. Pessoalmente não notei qualquer diferença.
Outra alteração interessante face a FM é podermos visualizar e passear livremente pelo nosso estádio, centro de treinos e museu em 3D, sendo que os dois primeiros são altamente personalizáveis (inclusão de bancadas no estádio, mais campos de treino, entre outros) a troco de dinheiro. O museu não pode ser alterado, mas, no caso do clube, que treinei a representação dos troféus é bastante fiel.
Felizmente em We Are Football existem muito menos conversas com jogadores e imprensa que em FM, o que poderia ser aproveitado para dedicarmos mais tempo à criação de tácticas ou scouting de jogadores. No entanto, dada a simplicidade destes módulos, isso não acontece.
Por fim, resta apenas referir que, ao longo do jogo, vamos evoluindo enquanto treinadores, o que nos permite melhorar os nossos talentos da mesma forma que os jogadores, com boosts que permitem utilizar certas opções morais e acelerar o desenvolvimento dos nossos jogadores. Este elemento de RPG é uma adição interessante ao jogo e a sua gestão poderá fazer diferença ao longo da época.
Resumindo, We Are Football tem uma abordagem simplista ao nível de futebol e complexa ao nível da gestão de clube que aposta em vertentes diferentes da concorrência, mas acaba por descurar as principais componentes de um simulador de treinador de futebol, que são a definição táctica, o motor de jogo e o licenciamento.
Não deixa de ser uma experiência agradável e indicada para quem quer jogar um simulador de futebol de forma descontraída, focada na progressão da nossa personagem e clube, sem ter de controlar todos os detalhes tácticos ou seleccionar as opções de conversa com precisão impecável. No entanto, We Are Football não é, de todo, a melhor opção para quem se quer aventurar num simulador de gestão futebolística.
Disponível para: PC, Xbox One, PlayStation 4 e Nintendo Switch
Jogado na PC
Cópia para análise cedida pela Dead Good Media.