Progressão e carreira desapontantes num jogo de corridas divertido.
Após alguns adiamentos, MXGP 20 foi lançado a 18 de dezembro. No entanto, só chegou às consolas de nova geração já em 2021.
O motocross é um desporto motorizado que tanto pode encantar como passar despercebido. De onde venho, o motocross é uma “doença” partilhada por muitos, sendo até difícil ignorar para aqueles que não são aficcionados. Isto porque Águeda tem um dos circuitos incluídos no calendário do Mundial de Motocross (Crossódromo Internacional de Águeda), sendo inclusive considerado um dos melhores crossódromos a nível mundial, recebendo 25 mil fãs do desporto por ano.
Em MXGP 20, posso garantir que o circuito está bem caracterizado, quer a nível de paisagem de fundo (que sofreu algumas mudanças ao longo dos últimos anos), quer nos detalhes da pista, que são espantosos. Para além de o de Águeda, há mais 19 circuitos (com quatro tipos de terreno distintos) e 68 riders.
A interface dos menus do jogo é relativamente simples, bem como a diversidade dos modos disponíveis, que são bastante escassos. Enumerando-os: Career, Quick Modes (Time Attack, Grand Prix ou Championship), Playground, Multiplayer e Customização.
Enquanto nos Quick Modes é permitido optar por correr pelos melhores tempos, participar num grande prémio ou até embarcar num campeonato – podendo ser este baseado no calendário oficial ou com o calendário personalizável (o que confere um leque bastante completo a quem está a jogar) – o modo de carreira deixa um bocado a desejar.
A par de Tennis World Tour 2, este jogo tem o modo carreira mais básico que já vi. A única diferença para o Championship (em Quick Modes) é haver a opção de escolher um contrato, desbloqueando bónus melhores com base no nível do jogador no jogo (nível esse que pode ser subido nos Quick Modes), e poder consultar a tabela classificativa do campeonato. Para além disso, é possível personalizar a mota e equipamento do vosso avatar, alterar as definições relativamente ao realismo da física da mota e dificuldade de jogo. Mas isto não são propriamente funcionalidades exclusivas do modo carreira.
Para ser franco, fiquei muito desapontado. Quem quer viver um bocado a magia da motocross vai ficar desiludido, visto que não há nenhuma finalidade de progressão para além de ganhar o campeonato. Não há história, não há quaisquer game changers, nem animações que criem envolvimento. Se fosse dado controlo sobre a equipa com a qual assinamos contrato e instalações/mecânicos, fossem introduzidos meios jornalísticos e houvesse alguma finalidade estatística para além de somente ser campeão no final, provavelmente o modo Career ganhava outro brilho. A integração do Playground, que vou falar já de seguida, e restruturação do mesmo para funcionar de forma semelhante ao The Neighbourhood/The City (NBA 2K), poderia trazer mais ânimo e dinamismo a este modo.
O Playground é uma zona relativamente grande baseada na paisagem dos fiordes Noruegueses. É um género de Sandbox para os jogadores andarem a testar a mota e habilidades (em modo endro) sem restrição de pistas. Este modo tem alguns desafios integrados, incluindo três mini-pistas, mas falta-lhe algo. No geral, foi um modo que me surpreendeu e agradou bastante, sendo mais permissivo do que o modo semelhante em WRC 9 ou Isle of Man II, por exemplo. Tivessem incorporado garagens e lojas de equipamento neste modo, bem como um género de lobby para multiplayer, e ficaria brutal.
A jogabilidade e gráficos, na minha opinião, satisfazem bastante (mais a jogabilidade que os gráficos). É entusiasmente poder correr nas pistas disponíveis, com a ajuda de várias câmaras, que ajudam, em muito, a melhorar a experiências. A física da mota está muito bem conseguida, gerando uma adrenalina fantástica durante as corridas. Os gráficos têm bons pormenores, porém, não estão ao nível que estava à espera para a PS5.
Este é o primeiro título de motocross que jogo desde Moto Racer 2, logo é evidente que fico fascinado com a evolução deste desporto motorizado nas consolas. Contudo, com base no que li e vi, acabei por perceber que, a nível gráfico, não houve melhorias notáveis do MXGP 19 para o MXGP 20. O que acho que precisa mais urgentemente de melhorias de forma a tornar a experiência mais envolvente é mesmo a interação da mota com a pista. Mais concretamente no efeito da lama/terra projetada pelas rodas, as marcas da passagem da mota na pista e melhorar a forma como o avatar vai ficando sujo ao longo da corrida (quando cai ao chão, nada muda).
Por fim, há também o Track Editor, que é um modo onde é possível criar uma pista de raiz. Peca por estar restringido a um só cenário com alterações de altitude fixas (se bem que já foi anunciado que irão ser adicionados mais dois cenários em patches futuros). Peca por não ser possível editar secções da pista após testar, sendo que, para isso, temos de apagar tudo o que fizemos após essa secção até chegar ao ponto que queremos editar.
Peca também por não ser possível usar a pista que criámos para nada mais do que a testarmos sozinhos. Não me interpretem mal. Apesar de ser um modo algo limitado em alguns aspetos, permite uma personalização relativamente vasta a nível de curva, saltos e layout da pista, conferindo uma infinidade de resultados finais.
Apesar de já ter assistido a um par de Grand Prix, em Águeda (no quais tive a oportunidade de ver ao vivo o lendário Stefan Everts), nunca fui o maior fã da modalidade. Confesso, ainda assim, que encontrei em MXGP 20 algo que considero muito importante num jogo: o prazer de jogar. Confesso também que o título me trouxe uma vontade enorme de voltar ao Crossódromo Internacional de Águeda, assim que possível.
Posto isto, tenho a dizer que achei o jogo bastante satisfatório a nível de ação e é certinho e direitinho que, à semelhança do WRC 9, vou continuar a jogar pontualmente só pelo prazer que a condução confere. Contudo, não acho MXGP 20 um jogo por aí além, precisamente devido à falta de conteúdo e diversidade do mesmo. Aconselho a comprarem caso não possuam a versão do ano passado e se forem realmente fãs de Motocross. Caso contrário, não acho que compense o gasto.
Disponível para: PlayStation 5
Plataformas: PlayStation 5
Este jogo foi cedido para análise pela TNPR.