Apesar da popularidade do género de terror e de jogos como Resident Evil 2, que conquistaram a crítica e os fãs com o seu foco no horror e na ação, é raro encontrarmos projetos como Darkwood. Produzido pela Acid Wizard Studio, Darkwood é um jogo de terror, mas é igualmente uma viagem tensa e surreal por lendas polacas, onde a sensibilidade do leste da Europa é palpável desde o seu design até à forma como desenrola o seu horror. Darkwood é estranho, arrepiante e um dos melhores jogos deste ano.
É difícil falar em Darkwood sem estragar algumas das suas surpresas, mas iremos fazer o nosso melhor. Como um jogo de terror, Darkwood é um jogo mais assente na exploração e na sobrevivência, com a jogabilidade a focar-se na descoberta de novos locais e na recolha de recursos para a construção de novos itens e para a troca com outros sobreviventes.
O jogo coloca-nos numa floresta, onde as raízes cobrem tudo à nossa volta, e com um objetivo muito claro e direto: sobreviver e fugir. Para tal, teremos de explorar, lutar e compreender, através das sequências mais surreais, os mistérios por detrás da floresta e a verdadeira natureza da nossa estranha e peculiar personagem. É um título assustador e não precisa de sustos fáceis para nos manter tensos.
Existe uma estranheza e um foco na peculiaridade que transforma a sua campanha numa viagem inesperada, onde somos confrontados por imagens fortes e por cenários que, à primeira vista, podem ser incompreensíveis devido ao seu horror. A jogabilidade é um pouco lenta e existe uma barra de stamina que limita a corrida da nossa personagem, algo que nos desafia ao longo da campanha, e com a perspetiva de cima para baixo e com uma visão limita, onde só conseguimos ver o que está à nossa frente. Darkwood mantém-nos numa tensão constante onde não sabemos o que nos espera no interior de uma das casas abandonadas ou nas três zonas da floresta que podemos explorar.
A história mantém esta aposta no surrealismo e injeta-lhe ainda uma aura de desconforto através de trupes que costumamos vemos em fábulas ou em histórias de encantar. As descrições são meticulosas e superam qualquer interpretação feita por atores, que Darkwood, muito pela sua produção independente, rejeita, focando-se unicamente em diálogos escritos e em notas que podemos recolher pelos locais.
O jogo dá-nos ainda um leque interessante de personagens que complementam o seu ambiente ao criar um mundo opressivo e à beira do fim, onde o real e o irreal se misturam. As ilustrações, muito detalhadas e em tons de pretos e branco, são o nosso único contato com o mundo do jogo e deixam-nos ver as suas personagens de perto. Esta simplicidade na apresentação dá um tom ainda mais pessoal a Darkwood e cria uma neblina psicológica que é agravada por sequências de sonho e por manipulações visuais onde nos deparamos com cenários onde nada é o que parece.
A tensão mantém-se na jogabilidade e na exploração, com Darkwood a dar-nos um mapa repleto de locais para descobrirmos e com itens para recolhermos. Apesar de não seguir uma estrutura convencional, apostando mais em puzzles visuais e evitando a linearidade do género, Darkwood deixa-nos explorar e descobrir o seu mundo sem nunca perder o fio condutor da narrrativa. A jogabilidade é lenta e o combate é muito ponderado e pausado, restrito pela barra de stamina, mas está construído de forma a encontrarmos algo novo a um ritmo impressionante e a criar um mistério suficientemente palpável para nos motivar a seguir em frente.
É, no entanto, um jogo muito difícil e implacável, e será totalmente normal sentirem-se desorientados e perdidos na floresta durante as primeiras horas. Desde que não comentam riscos desnecessários e prestem atenção ao que está à vossa volta, irão conseguir chegar ao fim.
Darkwood não é inovador no que toca às suas mecânicas, mas consegue equilibrar todos os seus elementos sem desvirtuar o seu ambiente e foco no horror. Para além da sobrevivência, ainda que não precisemos de nos alimentar, podemos construir novos itens e melhorar os nossos equipamentos, como o espaço do inventário. É possível ainda reforçar as habitações e tapar janelas e portas, algo que se torna imprescindível durante as noites.
Por fim, temos a evolução da personagem. Através da preparação de cogumelos e de outros alimentos, podemos criar seringas, e não comida, que nos dão acesso a novas habilidades. Esta preparação é feita no fogão da nossa casa e sempre que tivermos uma seringa cheia, somos transportados para um menu onde podemos escolher uma habilidade positiva, como a possibilidade de sabermos onde estamos no mapa ou vermos mais além, mas também um efeito negativo que limita a nossa personagem. Pode parecer cruel, mas é uma aposta eficaz e que complementa o mundo do jogo.
Apesar do seu foco na exploração, Darkwood divide a sua ação em duas partes – dia e noite. Este ciclo temporal determina a aposta na sobrevivência, com os dias a serem dedicados à recolha de itens e ao avanço da história, e com a noite a obrigar-nos a encontrar abrigo e a fugirmos da escuridão. Durante a noite, não podemos (ou não devemos) sair e explorar, e é absolutamente necessário manter uma fonte de luz sempre ligada para termos alguma proteção.
O mundo de Darkwood transforma-se à noite e é ainda mais perigoso, com alguns dos momentos mais tensos e assustadores a acontecerem durante estas horas. A nossa casa pode ainda ser invadida por inimigos que teremos de eliminar, mas a verdadeira tensão está nos acontecimentos paranormais, onde veremos portas a abrirem sozinhas e cadeiras a deslocarem-se. Ao sentir-mo-nos presos dentro de casa, estes momentos são exponenciados e iremos temer cada vez que o sol cai.
Nada disto seria possível sem o excelente trabalho de som, a cargo de Artur Kordas. Com a visão limitada, que nós achamos ser perfeita para o jogo, é essencial estarmos atentos aos sons que nos rodeiam para compreendermos que perigos poderemos encontrar. A ação é pontuada pela banda sonora, que nos dá um foco interessante em músicas com tons mais graves e em drones, onde a descoberta de novos locais ou a chegada de um perigo iminente dão origem a uma destas composições aterradoras.
Mas no geral, Darkwood foca-se mais no seu ambiente e na construção deste mundo surreal onde o desenho de som parece transmitir-nos a sensação de nojo, de algo pegajoso e nefasto – um pouco como a série Silent Hill.
Darkwood não é um jogo para todos – e ainda bem. Como jogo de terror e sobrevivência, é uma das experiências mais tensas e assustadoras que já encontrámos e um título que merece ser devidamente explorado por todos os fãs do género. Darkwood é diferente e único, algo que se torna claro quando exploramos a sua floresta e descobrimos os segredos por detrás da sua história. Há aqui uma alma muito europeia, um desespero e uma aceitação da morte que só podemos ver em produções mais a leste, dando-nos um olhar sobre um mercado cujos criativos têm muito para oferecer. Não o deixem escapar.
Darkwood
Nota: 8/10
Este jogo (versão para PlayStation 4) foi cedido para análise pela Crunching Koalas.
Estou querendo comprar na PSN esse jogo ps4. Mais não vejo em lugar algum falando se tem legenda em PT. Vc poderia me falar por favor?