Análise – Boomerang X (Nintendo Switch)

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A Devolver continua a apostar em projetos independentes únicos e Boomerang X é mais uma vitória para o seu catálogo em crescimento.

Uma boa ideia: é o que basta para termos um videojogo inesquecível. E quando falo em boas ideias não quero que confundam com ideias inovadoras ou originais, mas sim com conceitos que enaltecem o seu contexto e efetividade num videojogo. A originalidade é cada vez mais um mito, uma armadilha para jovens e velhos artistas que procuram destacar-se numa área cada vez mais competitiva, que mina ideias fortes em prol da tentativa de surpreender os jogadores com algo nunca antes visto: mas uma ideia inovadora não é obrigatoriamente boa ou inesquecível.

Boomerang X não é um jogo original, longe disso. É uma mescla de conceitos e de escolhas de design que refletem de peito aberto as suas influências, mas é um título focado, condensado até ao seu significado mais primitivo, onde uma só ideia, uma só mecânica, carrega em si uma campanha viciante, desafiadora e, arrisco-me a dizer, inesquecível para os fãs do género.

Uma só ideia. Reforço que é o que basta para termos um jogo mecanicamente forte e desafiante e, no caso de Boomerang X, essa ideia é a utilização inventiva de um bumerangue ao longo de vários níveis e arenas de combate. Com o bumerangue, a DANG! conseguiu criar um videojogo com um ritmo perfeito, onde o desbloqueio de habilidades e o crescendo da dificuldade criam um cocktail viciante que não conseguimos largar sem tentar “mais uma vez”. Com um design de níveis progressivamente mais arrojado, expandindo a sua verticalidade para desafiar o jogador a dominar a utilização do bumerangue – misturando plataformas altas, vários níveis de ação e ainda armadilhas ambientais, como poços sem fim e zonas envenenadas – a curta duração dos confrontos fomenta esta necessidade de nos mantermos em jogo, alimentando inteligentemente a curiosidade dos jogadores em saberem qual será a habilidade que irão desbloquear de seguida e que tipo de inimigos irão encontrar na próxima zona.

Boomerang X

Este ritmo frenético, quase arcade e clássico – que a Devolver Digital nos tem habituado, como demonstram lançamentos como Disc Room, My Friend Pedro e Ape Out -, é alimentado pela versatilidade do bumerangue que controlamos. Todas as ações nascem da utilização do bumerangue e todos os níveis são construídos em torno das suas habilidades, demonstrando um foco que nunca deixa de ser refrescante num projeto desta natureza. O jogo começa por nos ensinar a atirar o bumerangue e a chamá-lo de volta, mas rapidamente descobrimos o seu potencial ao percebermos que podemos atingir mais do que um inimigo em simultâneo ao utilizar estrategicamente esta arma: nunca se esqueçam que o bumerangue regressa sempre ao seu utilizador.

Não só existe espaço para o jogador experimentar e perceber como e quando deve atirar o bumerangue, como o jogo nunca perde a oportunidade de adicionar uma nova funcionalidade que muda por completo o ritmo da ação e da própria movimentação em combate. É um sistema tão coeso e de betão que só peca nos seus pormenores.

No decorrer da campanha, o nosso bumerangue ganha a habilidade de nos teletransportar, mas também de pararmos no ar, abrandar o tempo, realizar ataques mais destrutivos e de área – como uma espécie de shotgun de energia e um tiro concentrado sempre que eliminamos vários inimigos de uma só vez –, entre outros, com o desbloqueio destes novos poderes a acontecerem entre zonas de destaque. Esta progressão é acompanhada por um leque de inimigos que exponenciam a versatilidade destas habilidades e que desafiam continuamente os jogadores a dominarem todas as mecânicas para se manterem em movimento e longe do perigo. Quando ganhamos a habilidade de nos transportarmos para a posição do bumerangue, o jogo adiciona inimigos com pontos fracos que nos obrigam a movimentarmos ao longo dos níveis à procura do ângulo perfeito.

O mesmo acontece quando podemos utilizar ataques de área e encontramos grupos numerosos de inimigos ou então monstros gigantes e com vários pontos fracos. Se aliarmos esta variedade de confrontos e de desafios ao estado de vitória, que não requer a eliminação de todos os inimigos, mas apenas de um punhado de inimigos identificados por uma aura amarela e um círculo por cima dos seus modelos, percebemos como Boomerang X é tanto um jogo de destreza mecânica, como de estratégia, pedindo aos jogadores que sejam inteligentes nas suas abordagens e que tenham sempre consciência do que está à sua volta para não perderem os pontos de defesa (que desbloqueamos ao longo da campanha).

Boomerang X

A movimentação é fluída e intuitiva, e o mapeamento dos controlos nunca é confuso ao ponto de exigir uma enorme e desnecessária destreza por parte dos jogadores. Boomerang X mantém-se simples, até quando adiciona novas habilidades, e pede apenas que sejamos curiosos e capazes de combinar as suas várias mecânicas ao longo dos combates. Um dos destaques é, sem dúvidas, o seu motor de física. Dependendo do ângulo do bumerangue, da sua velocidade e da inércia quando o capturamos em movimento, a nossa personagem movimentar-se-á de acordo com a força da arma, o que significa que é tão importante saber para onde apontamos, como a forma como apontamos.

Este sistema é muito sólido e surge naturalmente através da jogabilidade e das nossas abordagens em combate – será difícil não ter consciência do motor de física quando somos obrigados a enfrentar inimigos voadores e em constante movimento –, mas sinto que se pode tornar frustrante devido ao ricochete do bumerangue pelos cenários. É mais uma camada no desafio e estratégia do jogo, mas é igualmente irritante transportarmo-nos para uma zona do nível inesperada apenas porque o bumerangue saltitou entre as superfícies. Uma pequena crítica pessoal.

Boomerang X é um jogo de ação arcade que merece a vossa atenção e é mais uma excelente aposta da Devolver Digital num mercado cada vez mais implacável. A DANG! não se preocupou com a fanfarra e reduziu tudo ao mínimo, a uma mecânica central, e trouxe consigo uma campanha cheia de personalidade que não procura exigir demasiado do vosso tempo e paciência. É desafiante, é profundo mecanicamente, apresenta um design de níveis muito sólido e um estilo visual de fácil leitura e pouco invasivo ou confuso. Que se lixe a originalidade.

Nota: Muito Bom - Recomendado

Disponível para: PC e Nintendo Switch
Jogado na Nintendo Switch
Cópia para análise cedida pela Cosmocover

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