Crítica – Boy Kills World

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Boy Kills World encontra o seu palco de espetáculo quando se foca nas suas cenas perigosas e explosão de ação desenfreada que certamente conquistará os aficionados do género.

Não é preciso muito para convencer cinéfilos como eu a ir ao cinema. Aliás, é mais o contrário: são precisas razões muito fortes para me afastar do mesmo. A minha metodologia pessoal de tentar assistir a filmes sem qualquer conhecimento prévio mantém-se extremamente rigorosa, sendo que para Boy Kills World, a presença de Bill Skarsgård (It) foi mais do que suficiente para suscitar interesse numa premissa básica de vingança e um foco claro em ação. A estreia de Moritz Mohr na cadeira de realizador traz um certo fator surpresa, sendo que a história que criou com Arend Remmers – da qual fizeram uma curta-metragem – é agora adaptada para longa-metragem pelo último e Tyler Burton Smith (Child’s Play).

Recentemente, The Fall Guy estreou nos cinemas um pouco por todo o mundo como uma homenagem ao departamento de acrobacias e aos inúmeros duplos que são frequentemente menosprezados e subvalorizados pela indústria. Neste sentido, Boy Kills World é um excelente complemento a esse tributo aos stuntmen e stuntwomen, destacando-se claramente pelas suas sequências de luta recheadas de coreografias longas, complexas e admitidamente exageradas, mantendo a sincronia com o tom naturalmente leve de uma obra que nunca se leva demasiado a sério, apesar da sua classificação etária.

O argumento de Smith e Remmers segue uma história bastante previsível e formulaica guiada pelo arco vingativo do protagonista surdo-mudo sem nome, logo Boy Kills World necessita de diversas camadas de entretenimento para compensar a falta de profundidade do seu enredo e personagens. Sejam os tais combates inspirados por artes marciais ou reviravoltas narrativas admitidamente tontas e que geram mais questões que respostas, Mohr atira tudo o que tem ao grande ecrã num estilo que relembra Sam Raimi (Spider-Man), não fosse o próprio um dos produtores do filme, assim como a sua empresa.

Visualmente, Boy Kills World não é recomendável para os mais sensíveis. A violência encontra-se a níveis extremamente brutais de intensidade ao longo da obra através de sequências exponencialmente mais sangrentas, asquerosas e nauseantes tal a desinibição da cinematografia de Peter Matjasko (Hausen). Desde efeitos sonoros de murros, pontapés e todo o tipo de armas cortantes até à proximidade desconfortável com a pele de personagens a serem arrancadas através de raladores de cozinha – só de escrever sinto arrepios -, os fanáticos por ação desmedida e criativa terão muito por onde se entreter.

O mérito vai naturalmente para a equipa de duplos, nomeadamente Grant Hulley (Escape Room), coordenador de cenas perigosas, e Dawid Szatarski (Black Widow), designer de ação e luta, mas também para Skarsgård e, principalmente, a lenda Yayan Ruhian (The Raid). O primeiro volta a demonstrar que possui uma presença imponente, comunicando exclusivamente através de expressões e gestos, para além de dar a sensação de participar em várias sequências de ação, sendo que Ruhian brilha nas embates mano-a-mano, executando as suas próprias coreografias. Jessica Rothe (Happy Death Day) merece bem mais que um papel superficial cuja face se esconde através de um capacete.

Dito isto, o excesso é capaz de tornar algo impressionante em algo mediano. Boy Kills World sofre do mesmo problema que a saga John Wick – a perda da noção de quando se deve terminar uma sequência de ação. Por mais incríveis que sejam as coreografias e respetivas acrobacias, quando as cenas se prolongam em demasia, as lutas agressivas transformam-se em danças repetitivas e sem o entusiasmo, adrenalina e intensidade de outrora, para além de caírem na armadilha de tornar os “heróis” invencíveis por mais pancadas, facadas e tiros que levem.

No caso de Boy Kills World, este problema é bem maior devido ao seu mundo pouco profundo. Não existem arcos secundários, as tentativas de surpreender o espetador saem ao lado e é uma narrativa demasiado simplista e focada num só personagem – que não é mais do que um rapaz traumatizado pelo passado sem grande capacidade de pensar por si próprio. As ligações humanas para com outras personagens nunca saem da sua base, mesmo após revelações que deveriam alterar por completo as relações que, infelizmente, permanecem superficiais.

VEREDITO

Boy Kills World encontra o seu palco de espetáculo quando se foca nas suas cenas perigosas e explosão de ação desenfreada que certamente conquistará os aficionados do género. A premissa básica de vingança nunca levanta voo narrativo, mantendo-se uma obra tematicamente superficial e pouco desenvolvida, mas as inúmeras sequências de luta coreografadas de forma bem violenta são entretenimento suficiente para agradar à maioria do público. A camada de humor coincide com o tom leve da obra, ficando no entanto um aviso sobre a desinibição total relativamente às doses de sangue, violência e uso criativo de instrumentos do dia-a-dia para combate. A típica recomendação para um fim‑de‑semana sem planos.

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