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Apesar dos seus picos de intensidade, Trepang2 é mais previsível e menos focado do que deveria ser.

Se Dusk e Ion Fury almejaram revitalizar o género de ação na primeira pessoa ao voltarem os ponteiros do relógio para trás, até à era dourada de Quake e Duke Nukem 3D – onde o foco incidia sobre o level design e a movimentação face a arenas amplas de combate, tal como a adição sempre intrigante de elementos de horror –, Trepang2 procura servir de catalisador para outro revivalismo dentro do género. Com mecânicas de câmara lenta, complexos industriais e uma pitada de ficção científica alimentada por conspirações corporativas e cultos secretos, o título da Trepang Studios ignora os anos 90 e bebe diretamente da fonte que alimentou F.E.A.R. e os shooters da sétima geração de consolas. Um regresso à experiência que a Monolith deixou incompleta e sem legado, agora com Trepang2 a encontrar um público, ainda que seja uma tentativa mais interessante do que propriamente revolucionária.

Isto porque Trepang2 funciona melhor em pequenas doses e não quando tentamos ir a fundo nas suas mecânicas e campanha. É divertido destruir uma sala inteira enquanto ativamos a câmara lenta para exponenciarmos uma granada que desintegra uma equipa inimiga, ao mesmo tempo que manobramos duas shotguns em Akimbo enquanto deslizamos pelos destroços e partículas que ainda estão a voar à nossa volta. As inspirações no cinema de ação de Hong Kong, muito popularizado por John Woo no ocidente, são facilmente identificáveis porque foram as mesmas bases para F.E.A.R. e as suas sequelas, tal como a incontornável influência de Max Payne e do trabalho da Remedy. As armas têm impacto, os efeitos são satisfatórios e a banda sonora enaltece a destruição que conseguimos causar com tão poucos meios – não temos muitas armas à disposição, o que não é um problema a longo prazo devido à eficácia do armamento que temos disponível -, onde a jogabilidade acessível, reduzida a um punhado de mecânicas – slide, corrida, disparar -, é enaltecida pela cadência desenfreada e caótica de certos confrontos.

Mas num todo, Trepang2 perde a sua força e verve caótica em pouco tempo. Nas consolas, a jogabilidade não se traduz da melhor forma para o comando, com a mira a não ser tão precisa como deveria ser, ainda mais quando não temos um sistema de zoom como na maioria dos títulos do género. Isto faz com que grande parte dos combates sejam reduzidos a uma chuva de balas que nem sempre atingem o seu alvo. É visualmente estimulante e muito empolgante quando começamos a campanha de Trepang2, mas a rigidez dos movimentos torna-se impossível de ignorar e as semelhanças com F.E.A.R., que são maioritariamente positivas, acabam por criar algum transtorno no que toca à AI dos inimigos. Não existe uma indicação de estratégia, muito menos de adaptabilidade às nossas ações, um choque mecânico e psicológico que surge devido às semelhanças e homenagens entre Trepang2 e o famoso título da Monolith.

A própria estrutura da campanha assenta demasiado na repetição, no regresso constante a uma base que tem pouco a oferecer aos jogadores, fora a personalização das armas (que pode ser feita durante as missões) e da personagem, tal como uma zona de treino. A base serve para escolhermos a próxima missão e para pequeníssimos momentos narrativos que poderiam ser mais fluídos e integrados numa campanha mais linear, mas Trepang2 procura dar uma certa liberdade de escolha que muitos irão apreciar através das missões secundárias – que, por sua vez, são absolutamente limitadas no seu formato de arena. Mas o regresso constante à base, a necessidade de esperarmos entre loadings curtos para ativarmos uma missão e regressarmos novamente ao helicóptero não adiciona nada positivo ao ritmo de jogo. Um problema que se mantém presente no level design pouco imaginativo no que toca à disposição de certas arenas de combate, ainda que a adição de objetos destrutíveis seja uma escolha acertada para este tipo de jogo de ação.

Mas assim é Trepang2: divertido em doses pequenas, um pouco desapontante quando tentamos puxar mais pela sua jogabilidade. Talvez precisasse de jogar numa dificuldade acima da normal, talvez apenas seja um problema de feeback físico através do comando da PS5. Talvez sejam tantas outras possibilidades que justifiquem o quanto esperava mais de Trepang2, um jogo que julgava divertido e que aqui é apenas moroso com alguns picos de intensidade. Resta-lhe ser o início de algo, de um novo revivalismo a uma era agora também ela clássica.

Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela Team17.

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