Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 serve de sequela a um excelente remake, arriscando pouco, mas preservando e oferecendo aquilo que os fãs pediam: mais um Tony Hawk’s Pro Skater para os tempos modernos.
Há três sinais claros que me assustam com a passagem do tempo ao jogar Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4, e não incluo os visuais modernos. São eles: o facto de serem dois jogos originalmente lançados há mais de 20 anos; o facto de já não ter a mesma destreza da altura; e o reconhecimento de que, apesar de terem sido dois jogos que ocuparam dezenas e dezenas de horas na altura em que saíram… a minha memória está difusa. Não sendo claro se aquilo de que me lembro destes jogos é correto ou não.
O que sei é que Tony Hawk’s Pro Skater 3 foi o meu cartão de apresentação a Motörhead, com o uso de “Ace of Spades” na banda sonora da demo original, incluída num dos CDs de demos da PlayStation 2. Enquanto fã acérrimo do jogo antecessor no PC e na PlayStation 1, controlar Tony Hawk ao som de Motörhead no icónico nível introdutório chamado Foundry foi um daqueles momentos em que senti que estava a jogar algo verdadeiramente next-gen na altura. Apesar disso, não foi em Tony Hawk’s Pro Skater 3 que investi muito do meu tempo, mas sim na sua sequela, Tony Hawk’s Pro Skater 4, com uma cópia que pertencia ao meu irmão e que, eventualmente, se perdeu numa troca de empréstimos mal sucedida. Ainda assim, dos quatro primeiros jogos do lendário skater, lembro-me de pouco ou nada.
Serve esta introdução mal-amanhada de projeção nostálgica para afirmar aquilo que sinto em relação a relançamentos sob a forma de remakes ou remasters, especialmente os bem executados: são oportunidades. Oportunidades de servir de porta de entrada a jogadores para uma determinada série; oportunidades de reviver aventuras passadas; e oportunidades de preencher estas lacunas na nossa memória – por vezes com efeitos positivos, relembrando-nos do melhor; outras vezes revelando que aquilo que achávamos bom era afinal produto do seu tempo. Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 não cai, felizmente, neste último caso, mas sim no anterior. Não é só uma coleção de jogos – é uma coleção de sentimentos, numa espécie de máquina do tempo para aquela época mais simples, que se reflete na excelente tradução visual e mecânica deste remake – que serve também como sequela direta de Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2, igualmente excelente.
Qualquer comentário feito a Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 pode ser feito, de forma superficial, a Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4. O conceito é exatamente o mesmo: uma compilação de dois jogos num só pacote, com duas campanhas distintas que preservam todos os objetivos originais, num jogo único recriado de raiz para plataformas modernas, com as suas vantagens e alguns sacrifícios. Adicionalmente, a jogabilidade entre as duas compilações é extremamente parecida, e os visuais – suportados pelo mesmo motor de jogo, o Unreal Engine – seguem exatamente a mesma linguagem de design e direção artística. Removendo da equação o facto de contarem com conteúdos substancialmente diferentes (neste caso com níveis distintos), ambas as compilações parecem ser duas fatias do mesmo bolo, com um claro potencial de um dia, se a Activision assim o entender, serem relançadas numa espécie de Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2 + 3 + 4.
Se isto parece um comentário negativo, não é, de todo, o meu objetivo. Na realidade, é uma das maiores qualidades de Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 – uma sequela perfeita, no sentido em que entrega exatamente aquilo que os fãs da compilação anterior pediam: o mesmo tratamento, com o melhor que nos trouxe. Para mim, este é um daqueles jogos difíceis de criticar. Isto é, de me debruçar sobre o que funciona bem ou mal, no que poderia ser expandido ou reduzido. Tenho as minhas pequenas notas, como é óbvio, mas que se tornam extremamente redundantes ou insignificantes quando o aspeto principal do jogo é tão bem executado – neste caso, o fator do divertimento.
Tal como o seu antecessor, tal como nos jogos originais, Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 é um enorme vício que devora o nosso tempo. Muito graças ao seu loop de objetivos que incluem o clássico apanhar as letras S-K-A-T-E, fazer truques específicos, interagir com objetos nos níveis, acumular pontos ou, simplesmente, explorar à procura de zonas secretas. E em cima disso temos uma jogabilidade superficialmente descomplicada, de ações intuitivas e úteis, aliadas a uma mobilidade extremamente afinada – uma característica que distingue as verdadeiras experiências árcade do realismo das simulações que jogos concorrentes e outras apostas mais recentes tanto exploram, acabando por alienar jogadores mais casuais. E não é necessário ser veterano ou jogador old-school para ficar logo em sintonia com o jogo. Mesmo mantendo a natureza dos originais, a jogabilidade sente-se “certa” – o que é uma conquista brutal, considerando que este é um remake completo, com uma jogabilidade refinada e adaptada aos comandos modernos, mas que se sente tal e qual como os antigos.
É quando os desafios começam a aumentar e a pedir mais do jogador que o meu tempo com Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 me comecei a lembrar que já não tenho a mesma destreza de antigamente. Mesmo com a memória muscular intacta, os tempos de ação e reação já não são os mesmos. Uma reação cruel, mas realista, que felizmente a Activision e a equipa da Iron Galaxy parecem ter previsto – ao apostar em opções de acessibilidade, chamadas Game Modes, mais do que no jogo anterior.
Entre uma série de toggles – que se aproximam mais de cheat codes – que impedem quedas e falhas de truques, encontramos duas excelentes opções que servem tanto para treino como para tirar mais do jogo. Uma delas é a possibilidade de jogar o jogo a metade da velocidade, em slow motion. É uma opção que não é naturalmente recomendável para jogar “a sério”, mas que pode ser útil para aprender truques, combos ou até explorar os níveis em busca das melhores rotas. Para mim, não há melhor tutorial do que um jogo deixar-nos experimentar livremente, e esta opção – que posteriormente desativei – é das melhores formas de pôr este dinossauro confortável com a velocidade real do jogo. Já os mais corajosos podem até optar por acelerar o jogo até ao triplo da velocidade.
Já a segunda opção, que optei por manter ativa, é um ajuste à filosofia de design: a possibilidade de explorar os níveis para lá dos tradicionais 2 minutos. Por defeito, Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 oferece o acesso aos níveis em sessões de 2 minutos – sendo na realidade uma novidade para Tony Hawk’s Pro Skater 4 -, mas permite que os jogadores explorem e completem os níveis com tempos mais longos: 5, 10 ou até 60 minutos. Contudo, os campeonatos permanecem com um minuto por ronda, onde temos de dar tudo.
Recheado de desbloqueáveis e itens para gastar créditos, o loop central do jogo preserva também a acumulação de pontos para melhorar as habilidades dos nossos skaters, aumentando o valor de repetição por personagem – oferecendo sempre mais motivos para pegar no comando. Mas não seria um comentário a um jogo Tony Hawk’s Pro Skater sem mencionar algo tão inerente à sua natureza como a banda sonora. Sim, temos Motörhead, juntamente com mais uma seleção de bandas e músicas dos jogos originais. No entanto, se esperam toda a experiência nostálgica, ficarão desapontados ao encontrar uma seleção muito reduzida de temas de regresso, entre as quais “96 Quite Bitter Beings” dos CKY, “My Adidas” de Run-DMC ou “Amoeba” de Adolescents. Não quer dizer que o resto da banda sonora seja má ou pior que a dos jogos originais – pelo contrário, inclui nomes mais atuais como IDLES, 100 Gecs, Fontaines D.C., KennyHoopla, Travis Barker, Run the Jewels e muitos mais. No fundo, ajusta o jogo à cultura moderna, tratando este elemento como uma sequela da essência dos jogos e tornando-se mais uma montra para a descoberta musical, com um melhor algoritmo do que muitos serviços de streaming.
Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 é um pacote fantástico. Não só por incluir mais dois jogos extremamente bem-sucedidos da lendária franquia, ou por responder aos pedidos mínimos dos fãs, mas por evocar todos os elementos dos jogos originais – com um toque de modernidade equilibrado, capaz de agradar tanto a novos jogadores como a quem já não se lembrava muito bem de como pegar num skate. E tudo com uma excelente dose de diversão.
Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela Activision.