Uma viagem no tempo que irá satisfazer os fãs, mas que pouco ou nada adiciona ao género.
O meu fascínio por simuladores é constantemente desafiado por novos géneros e experiências. Se, por um lado, descobri um interesse particular pela remodelação de casas, protagonizado por House Flipper, por outro, vejo-me a falhar, uma vez mais, na minha ligação à agricultura e às suas tarefas diárias, à repetição e à obrigatoriedade da sua rotina.
Story of Seasons: Friends of Mineral Town, que acaba de chegar à Nintendo Switch, foi a porta de entrada para um género que vi, durante anos, à distância. E ao contrário do que esperava, a porta abriu e fechou tão rapidamente que ainda me bateu no nariz.
Que fique claro desde o início que Friends of Mineral Town foi uma desilusão. Nunca conheci, por dentro, as séries Harvest Moon e Story of Seasons, que partilham o mesmo criador, Yasuhiro Wada, e esta foi a primeira oportunidade que encontrei para cultivar os meus próprios campos e tornar rentável a quinta que o meu avô, pela milionésima vez, me deixou como herança. Este remake/relançamento é uma estreia pessoal que aguardava há muito tempo, cujo fascínio e curiosidade me seduziam à distância, mas deparei-me com um título demasiado simples e mais clássico e rígido do que estava à espera.
Esta ausência de novidades talvez seja uma consequência da sua proximidade ao clássico do GameBoy Advance, do mesmo nome – mas ainda pertencente à série Harvest Moon –, apresentando uma experiência muito destilada desta aventura pelo mundo da agricultura. Os clichés e mecânicas tradicionais do género, em especial de Harvest Moon, estão todos presentes, com a nossa personagem, que pode ser um rapaz ou uma rapariga, a herdar uma quinta que tem de rentabilizar ao longo de um ano. Para tal, é necessário cultivar os campos, criar animais e desenvolver uma relação de amizade – ou amorosa – com os habitantes da cidade.
Com um ciclo de dia e noite, Friends of Mineral Town foca-se na repetição e na realização de tarefas diárias que obrigam os jogadores a tratar do campo e dos animais da sua quinta. Esta é a estrutura que sempre achei tão atraente, a ideia de cultivar diariamente os campos, de regar as sementes e de ver, com o tempo, os frutos do meu trabalho. A existência de vários tipos de sementes, algumas sazonais, motiva a experimentação e a expansão dos terrenos de cultivo, disponibilizando novas técnicas de cultivo e o melhoramento das ferramentas e acessórios.
Há, portanto, uma vontade constante em melhorar e em exponenciar a nossa pequena quinta, em desenvolvê-la e em aumentar o seu tamanho. Existe uma sensação de crescimento ao longo das horas de jogo e é interessante ver a quinta a ficar povoada por animais, que podem navegar livremente, e por novos cultivos, árvores e flores.
Esta era a experiência que procurava, mas o cansaço instalou-se rapidamente. Por mais que quisesse melhorar a quinta e explorar o seu mundo, o jogo parecia determinado em parar o meu progresso e obrigar-me, através dos horários rígidos das lojas e do próprio ciclo temporal – e também da energia limitada da nossa personagem, ainda que existam itens e formas de a melhorar –, a perder um dia de trabalho.
Com algum planeamento, tudo é possível, mas é muito fácil de chegar a meio do dia e não termos mais nada para fazer. Os campos estão regados e os animais estão tratados e alimentados, pelo que não existe nada novo para descobrir. O jogo pede-nos para investigarmos as cavernas em busca de materiais ou que nos mantenhamos envolvidos nos pequenos trechos de estória entre as personagens da cidade – momentos que são desbloqueados à medida que avançamos e visitamos as personagens – mas vi-me a perder o interesse e a curiosidade por este mundo sempre que me via sem tarefas.
A divisão do tempo é agravada, na minha opinião, por uma zona de jogo muito limitada. Apesar de ser familiar, Mineral Town é pequena, pouco interessante e sem grande espaço para a exploração. A existência de festivais e de feriados acaba por quebrar a monotonia, mas não estão suficientemente presentes na campanha. A direção de arte, gráficos e banda sonora também são muito pobres, revelando a sua natureza de baixa produção, especialmente nos efeitos sonoros e na ausência de variedade nas composições musicais. É um produto que, infelizmente, cheira a barato por melhores ideias que apresente.
Estes problemas seriam secundários se Friends of Mineral Town fosse mais empolgante a nível de jogabilidade, mas é novamente prejudicado pelas suas limitações. As mecânicas são acessíveis, é fácil cultivar os campos, cortar árvores ou partir pedras, tal como tomar conta dos animais, mas torna-se aborrecido de jogar. A evolução das ferramentas ajuda muito a quebrar esta repetição, mas se o jogo não vos agarrar de início, como aconteceu comigo, nada irá facilitar a vossa experiência. O mesmo pode ser dito da relação com as restantes personagens, existindo a possibilidade de fazermos pequenas escolhas narrativas e de oferecermos prendas que influenciam o nosso grau de amizade, que fica aquém do esperado.
É difícil criticar um jogo pela ausência de mecânicas quando, na verdade, nunca existiu interesse em ser mais detalhado e profundo do que é. Como está, Friends of Mineral Town é uma boa porta de entrada para os que, como eu, sempre tiveram curiosidade sobre o género e é, sem dúvidas, uma viagem nostálgica para os fãs da série, especialmente para aquele que procuram reviver a estrutura e jogabilidade clássicas de Harvest Moon.
No entanto, é impossível não ver este regresso ao passado como uma oportunidade perdida, onde a monotonia suplanta qualquer pingo de diversão que a jogabilidade se esforça para nos dar. Não consegui não ficar aborrecido e saturado com o jogo apesar de ver as suas qualidades; a vida no campo tornou-se insuportável ao fim de poucas horas. Com quatro estações do ano, há algum desafio e variedade no cultivo das terras, mas é preciso resistência para ver tudo. No final, senti constantemente que devia estar a jogar e a descobrir Stardew Valley e não este regresso a Mineral Town.
Plataformas: Nintendo Switch
Este jogo foi cedido para análise pela Decibel PR.