Uma das primeiras apostas para o PlayStation VR2 é uma viagem até à galáxia muito distante de Star Wars, que, apesar da repetição, é um satisfatório shooter que tira partido de algumas das melhores novidades do novo periférico da PlayStation 5.
Com o lançamento do PlayStation VR2, a PlayStation 5 recebeu um tsunami de “novos” jogos. De exclusivos, a lançamentos de estreia, passando também por atualizações de jogos VR lançados para outras plataformas de realidade virtual já existentes. E um desses casos foi Star Wars Tales from the Galaxy’s Edge Enhanced Edition, desenvolvido pela ILMxLAB originalmente para o Oculus Quest.
Enquanto que, para muitos jogadores, esta será a porta de entrada em Star Wars Tales from the Galaxy’s Edge, a Enhanced Edition propõe uma versão “definitiva” deste projeto, com novos conteúdos e um revamp visual conseguido pelo folgo da PlayStation 5. E mesmo sem tendo jogado ou conhecido o original, Tales from the Galaxy’s Edge impressiona.
Foi a minha primeira experiência em VR e, mesmo com um início de jogo passado numa sala industrial a bordo de uma nave estelar suja e velha, assim que olhei em meu redor e peguei na ferramenta multiusos, que me ajudaria a abrir portas na minha jornada futura, não consegui não esboçar um enorme sorriso. Algo na ambiência, na atmosfera, na música e na estética gritava Star Wars. Sentia-se mesmo autêntico.
Por momentos senti-me transportado para uma galáxia muito longínqua, ainda que tivessem passado somente alguns segundos. Esta sensação de autenticidade não é por acaso, não fosse a própria Lucasfilm a supervisionar o projeto, ou não fosse também o jogo inspirado numa das mais recentes atrações dos parques da Disney na América do Norte, Galaxy’s Edge.
Tales from the Galaxy’s Edge é assim, em parte, um “theme ride park game” e uma demonstração técnica das capacidades da realidade virtual em dispositivos modernos, resultando num divertido jogo, ainda que por vezes repetitivo e pequeno, tendo-me deixado no fim até com vontade de jogar mais. Neste jogo entramos no corpo de um técnico de reparação de dróides, que acaba por ser um “herói relutante” após se despenhar em Batuu, o planeta onde Galaxy’s Edge toma lugar e onde aparentemente a Millenium Falcon esteve estacionada entre o Episódio 6 e 7 da saga principal. Conhecemos um novo elenco de personagens, que vai crescendo ao longo desta aventura de 10 horas, onde encontramos caras conhecidas como C-3PO e R2-D2, e partimos em aventuras por diferentes áreas investigando ruínas, grutas, aldeias, pântanos e complexos industriais em busca de artefactos e colecionáveis, ao mesmo tempo que combatemos fações inimigas, caçadores de prémios, droids e até a First Order.
Tales from the Galaxy’s Edge é, essencialmente, um shooter na primeira pessoa que seria no mínimo banal num formato tradicional em 2D, mas que se torna realmente especial em ambiente VR e nas capacidades de interação com as personagens e o mundo. Por exemplo, entrar no bar que serve de hub central e interagir com o gigante Seezelslak de seis olhos é algo difícil de exprimir por palavras ou através de imagens convencionais. A escala que o VR produz, juntamente com as texturas e tridimensionalidade do espaço e das personagens, acompanhados por uma excelente animação e acting, elevam esta experiência a um novo patamar. E é algo que ao longo do jogo se repete, com outros membros do elenco. Outro exemplo disso é a oportunidade de percebermos o quão grande o R2D2 é “na vida real”.
Apesar da temática, Tales from the Galaxy’s Edge é um jogo algo bipolar, pois tanto é incrível… como é frustrante, em várias dimensões. Um dos grandes destaques positivos do jogo é a sua jogabilidade enquanto shooter e na navegação. O jogo joga-se com uma enorme naturalidade com recurso aos comandos Sense do PlayStation VR2, onde podemos pegar em objetos dinâmicos com as duas mãos, aceder ao inventário no nosso cinto, pegar em duas armas em simultâneo e atirar granadas depois de as ativar nas mãos de forma tão natural como respirar.
O sistema de tiro é quase perfeito para este tipo de jogo. Extremamente intuitivo, tanto a apontar como a disparar, faz-nos sentir que somos um verdadeiro Han-Solo, especialmente quando temos uma DL-44 nas mãos para fazer deliciosos headshots. Os combates frequentes são frenéticos, caóticos e fazem-nos sentir poderosos, especialmente se ajustarmos a dificuldade e os modos de assistência, porque, por defeito, Tales from the Galaxy’s Edge pode ser um pouco imperdoável.
Para além do shooting, temos connosco um scanner que nos permite cumprir objetivos secundários, bem como a tal ferramenta que comentei no início, que, através de pequenos “mini-jogos” ambientais, podemos abrir caixas com recursos, portas para avançar nos níveis e outros objetivos menores, como arranjar os nosso droids favoritos de Star Wars.
Tales from the Galaxy’s Edge dá-nos uma liberdade de controlo e movimento enormes com suporte de roomscale e serve de um excelente exemplo do que é possível fazer em jogos first-person de ação. Nem tudo é tão interativo como um Horizon Call of the Mountain, ou não se debruça em mecânicas de escalada, mas, nesta fase de lançamento, é um excelente complemento para a experiência do PlayStation VR2.
O suporte dos comandos Sense é muito bem conseguido, com o comando a replicar alguns gestos das nossas mãos graças às superfícies hápticas, e contamos com os gatilhos adaptativos que reagem de forma diferente às diferentes armas do nosso arsenal, com indicações de quando ficam descarregadas. Os comandos Sense dão também resposta numa outra variedade de ações, como com o uso da nossa ferramenta ou na interação com outros itens de interesse no jogo, como um Light Saber numa sequência muito breve do jogo.
Já o headset também brilha, com o suporte de eyetracking e de técnicas de foveated rendering que garantem uma imagem pristina e de alta qualidade; e o suporte de áudio 3D é muito bem conseguido através de fones e com a vibração háptica que nos insere dentro dos momentos mais caóticos com pequenas vibrações em explosões ou tiros que passam resvés da nossa cabeça.
No lado menos bom da barricada, temos o problema da repetição do jogo que evoca o sentimento de que Tales from the Galaxy’s Edge é, no fim do dia, mais uma tech demo do que um jogo completo. Com uma campanha de 10 horas, Tales from the Galaxy’s Edge conta com algumas missões secundárias que nos colocam na pele de outras personagens deste universo, como a de uma Padwan ou do icónico IG-88, mas a jornada acaba por ser feita por ambientes relativamente semelhantes, confrontos redundantes e repetitivos – apesar de divertidos – e, no fim, deixa-nos a sensação de que poderia haver mais para explorar em Batuu. Fosse isso uma nova aventura em novos níveis, a introdução de sequências que dessem uso a novas formas de jogar ou, até, poder visitar a Millenium Falcon que podemos observar por uma das janelas.
Ainda assim, Star Wars Tales from the Galaxy’s Edge Enhanced Edition é uma viagem merecida a juntar às experiências de realidade virtual nesta janela de lançamento do PlayStation VR2, capaz de explorar bastante bem as capacidades do novo periférico. E sabe especialmente melhor se forem fãs deste universo.
Cópia para análise cedida pela PlayStation Portugal.