Borderline funciona dentro das suas próprias ambições, sem grandes pretensões para além de entregar um thriller estilizado e ligeiramente irreverente.
Samara Weaving tornou-se uma presença recorrente no cinema de horror, thriller e ação com um toque de humor negro. De The Babysitter a Ready or Not, passando por Guns Akimbo e Azrael, a atriz australiana tem sido uma espécie de “Final Girl” moderna, abraçando papéis que equilibram violência estilizada e comédia absurda. Não surpreende, portanto, que tenha decidido colaborar com o marido, Jimmy Warden (Cocaine Bear), na sua estreia como realizador de longas-metragens com Borderline.
Com um argumento também assinado por Warden, a história situa-se em Los Angeles dos anos 90, onde Sofia (Weaving), uma estrela pop, vê a sua casa invadida por Duerson (Ray Nicholson), um fã obsessivo que, convencido de que os dois irão casar, orquestra uma realidade alternativa onde tudo gira à volta do seu delírio. A premissa não é propriamente inovadora, sendo uma variação de histórias sobre fãs perigosamente obcecados, deixando o sucesso do filme nas mãos da execução estilística, do elenco e da capacidade de encontrar frescura dentro da previsibilidade.
Não resistirei ao trocadilho que 99% das críticas farão: Borderline é borderline satisfatório. O ritmo acelerado e a curta duração jogam a seu favor, mantendo a energia necessária para que a violência exagerada e o humor negro funcionem sem se tornarem cansativos. Tematicamente e narrativamente, possui desenvolvimentos genéricos e previsíveis, mas sinceramente, existe um certo prazer em acompanhar uma obra que sabe exatamente o que quer ser e não se leva demasiado a sério.
Ainda assim, não posso negar que me diverti durante os cerca de 90 minutos em que Weaving, Nicholson (Smile 2) e companhia se entregam aos seus papéis com uma dedicação louvável. Borderline conta com uma visão clara de Warden, que demonstra pequenos toques de criatividade, especialmente em transições visuais bem coreografadas com um trabalho de montagem, câmara e até trabalhos acrobáticos absolutamente exímios. A banda sonora de Mondo Boys (Red Right Hand) e as escolhas musicais reforçam o tom irreverente da narrativa, contribuindo para a camada cómica geral.
No elenco, Weaving e Nicholson são os maiores destaques, exibindo a soberba expressividade facial e corporal que os carateriza. Weaving brilha ainda mais ao partilhar um momento musical com Alba Baptista (Warrior Nun) – a atriz portuguesa oferece uma performance deliciosamente insana – ao passo que Nicholson, por outro lado, canaliza uma energia caótica e lunática herdada do pai, Jack Nicholson. Eric Dane (Euphoria) cumpre de forma eficaz o papel de segurança privado.
Tecnicamente, Borderline teria beneficiado de mais sequências filmadas sob a perspetiva de Duerson, já que Warden guarda este recurso para o último ato como um trunfo na manga. Não prejudica a experiência, de todo, mas teria tornado a primeira hora mais dinâmica e criativamente estimulante. Assim, os espetadores ficam obrigados a agarrarem-se aos poucos momentos de brilhantismo cinemático e a um elenco que carrega a obra aos ombros.
VEREDITO
Borderline funciona dentro das suas próprias ambições, sem grandes pretensões para além de entregar um thriller estilizado e ligeiramente irreverente. Não traz nada de novo para o cinema, mas a energia do elenco e a realização competente de Jimmy Warden garantem uma sessão divertida para fãs deste tipo de narrativa leve e bem-humorada. Dentro da sua fórmula previsível, cumpre o que promete e mantém-se suficientemente envolvente para justificar a sua curta duração.