Crítica – Cocaine Bear

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Cocaine Bear cumpre precisamente com aquilo que promete: um urso absolutamente insano a espalhar caos sangrento, nojento e visualmente chocante ao mesmo tempo que comete ações inacreditavelmente ridículas.

Existem inúmeros fatores que fazem com que espetadores decidam ir ao cinema ou premir “play” num serviço de streaming para assistir a um filme recente. Hoje em dia, é raríssimo vermos um público conquistado exclusivamente por uma simples premissa, mas Cocaine Bear é bem capaz de ser essa obra incomum. O título não engana: o argumento de Jimmy Warden inspira-se numa (muito curta) história verídica e transforma-a por completo numa espécie de slasher animal envolvido num ambiente de comédia negra. Elizabeth Banks aventura-se pela terceira vez na realização, mas será que consegue lidar com uma premissa tão maluca?

Acredito na teoria de que o objetivo principal de qualquer filme deve ser cumprir com o tipo de entretenimento que vende. Se Cocaine Bear é sobre um urso que acidentalmente fica viciado em cocaína e entra numa espiral de matança sem fim, enquanto espetador desejo assistir a isso mesmo. A campanha de marketing foi tão vasta e insistente que era difícil chegar a esta semana de estreia sem nunca ter ouvido falar no mesmo, mas a verdade é que a Universal Pictures não enganou ninguém: tudo o que publicitou e prometeu durante meses é entregue sem quaisquer restrições.

Cocaine Bear é das mais puras definições de “dumb fun” que podem existir. Para quem desconhece a história original em que o filme se inspira: em 1985, dois traficantes de droga viram-se obrigados a despejar 40 sacos de cocaína enquanto tentavam fugir num avião que tinha peso a mais. Um urso preto encontrou um destes sacos, ingeriu cerca de 35kg do produto e, obviamente, morreu de overdose. O argumento de Warden agarra nesta história e expande-a de forma propositadamente absurda ao fazer uma simples pergunta: “e se o urso ficasse viciado em cocaína?”

Banks não me impressionou, de todo, nos seus primeiros dois filmes enquanto realizadora (Pitch Perfect 2, Charlie’s Angels). No entanto, merece imensos elogios sobre Cocaine Bear, sendo que o primeiro vai para a sua capacidade de perceber que esta história não nasceu para ser uma obra-prima memorável e tematicamente rica. A cineasta nunca tenta fazer do seu filme mais daquilo que este realmente é: puro entretenimento-pipoca que requer imensa suspensão da descrença. Os espetadores não vão pagar bilhete para ver personagens humanas a interagirem entre si, mas sim para assistir a um urso descontrolado a desventrar as mesmas.

Sendo assim, o facto de não haver um arco de personagem com lições essenciais ou uma narrativa com temas sensíveis e profundos não impacta muito a desfrutação da obra. Dito isto, Banks e Warden podiam, de facto, ter feito um maior esforço para evitar a plasticidade barata da vasta maioria das suas personagens. Cocaine Bear literalmente utiliza-as como “carne para canhão”, o que parece ter afetado alguns atores que deixam a desejar com as suas prestações.

Keri Russell interpreta Sari, uma mãe cuja filha e respetivo amigo se encontram escondidos do urso. A atriz sofre um bocado com o balanço entre ter de misturar sentimentos pesados – filha em perigo de morte – e o ambiente mais cómico de toda a situação. A sua seriedade contrasta com a leveza de outras performances, mas nunca chega a um ponto incomodativo. O’Shea Jackson Jr. destaca-se, assim como os jovens atores Christian Convery – hilariante – e Brooklynn Prince. Palavra de apreço e respeito para a última prestação do falecido Ray Liotta.

urso do po branco echo boomer 3

Pessoalmente, considero a atmosfera irrealista e tonta que permeia todo o filme vital para o sucesso do mesmo. Desde a quantidade de gore e sangue presente nas mortes à criatividade violenta e brutal das mesmas, não consigo imaginar espetadores a saírem desiludidos de uma obra que cumpre com o que promete. Os efeitos visuais do urso são mais competentes do que antecipava, sendo que são muito poucos os momentos em que o animal precisaria de uns retoques – afinal de contas, a maior fatia do orçamento foi para a Wētā FX.

Resumindo, é muito fácil de concluir se Cocaine Bear é para vocês ou não. Se não têm problemas em suspender a vossa descrença e em abraçar a absurdidade propositada da premissa, este filme tem tudo para vos entreter durante praticamente uma hora e meia – apesar do primeiro ato perder demasiado tempo com personagens insignificantes. Se estas misturas complexas entre situações sérias e comédia ridícula não encaixa bem com a vossa preferência de géneros, então talvez seja melhor evitar a ida ao cinema.

VEREDITO

Cocaine Bear cumpre precisamente com aquilo que promete: um urso absolutamente insano a espalhar caos sangrento, nojento e visualmente chocante ao mesmo tempo que comete ações inacreditavelmente ridículas. Uma obra propositadamente absurda, mas carregada com entretenimento-pipoca puro onde personagens, temas ou até sentido lógico são elementos insignificantes. Quando existe um urso descontrolado viciado em cocaína à solta, nada mais importa a não ser colocar o animal na frente do grande ecrã durante o maior tempo possível. Uma visualização perfeita para fãs de gargalhadas parvas.

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