Band of Horses no Coliseu de Lisboa – Aula de Equitação num picadeiro semi despido

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Já não nos motivam como nos primeiros anos. Mas ainda sabem dar um bom concerto.

Não será motivo de grande discussão reconhecer que o Coliseu dos Recreios é a mais emblemática sala de espectáculos do país. Normalmente está reservada para os grandes, ou para bandas em pico de forma. Raras são as vezes em que a casa não está cheia. Mas ultimamente tal não tem acontecido. Wolf Alice, Cut Copy e, esta semana, os Band of Horses, são apenas três exemplos onde se viu meia casa ou menos. Erro de casting? Excesso de oferta? Efeitos da inflação? Sala a preço de saldo? Não sabemos. Mas não deixa de ser desconcertante entrar numa sala nos 25% de ocupação, como pareceu no caso dos Band of Horses.

Também reconhecemos que casas cheias não são garantia de grandes concertos. E se a casa para ver os Band of Horses não esteve cheia, isso não foi impedimento para, na nossa opinião, a banda dar o melhor dos quatro concertos que já deu por cá. O último álbum, Things Are Great, editado já este ano, recuperou um pouco da sonoridade original da banda, e foi o pretexto para mais uma digressão europeia, cuja última paragem foi precisamente Lisboa.

À hora marcada (e aplaude-se a pontualidade, coisa nem sempre valorizada por cá), a banda surge em palco ao som de “Every 1’s a Winner”, dos Hot Chocolat, numa, achamos nós, clara declaração de intenções. E, apesar de não serem muitos, todos os que marcaram presença sairam vencedores.

Os Band of Horses nunca atingiram o patamar de notoriedade de outras bandas americanas surgidas nos anos 00. Um punhado de discos pouco conseguidos (carregados de uma Americana inconsequente) retiraram a banda de um patamar mais mediático. Mas a banda de Ben Bridwell, o único membro constante dos Band of Horses, até teve um início bastante prometedor, com dois excelentes primeiros álbuns (especial destaque para Everything All the Time, de 2006, à data catalogado com o selo Best New Music da Pitchfork). Ambos continuam a alimentar boa parte do alinhamento dos seus concertos. Do primeiro ouvimos, por exemplo, a belíssima slide guitar de “The First Song”, com a característica voz pouco afinada de Ben a marcar presença. Do segundo, não faltou “Is There a Ghost”, com o seu gentil dedilhar inicial a culminar numa descarga de energia, numa das melhores canções da banda. Pelo meio, num claro regresso às origens, o novo single “Warning Signs” também não desiludiu (elogie-se a excelente acústica ao longo do concerto).

Ben Bridwell sempre soube personificar o nosso imaginário de camionista americano da camisa de flanela, boné dobrado, e barba mal cuidada. Mas sempre simpático. Vai apresentando entre canções os restantes elementos da banda (Ryan Monroe nas teclas, Creighton Barrett na bateria, Matt Gentling no baixo e Brett Nash na guitarra – todos, sem exceção, parecem divertir-se em palco) e de agradecer o facto de ali estarmos. Como retribuição, serve-nos uma das melhores sequências do concerto: passamos do imaginário de “The Great Salt Lake”, para o desamor de “No One’s Gonna Love You”, daí para a velhinha “Islands on the Coast” (com o seu galope domesticado), e depois para a casamenteira “Marry Song” (numa versão mais eléctrica do que em disco). Não há como sair desapontado.

Destaque para o bonito dueto country-rock entre Ben Bridwell e Ryan Monroe (outro dos elementos mais antigos). Difícil não convidar a cara metade para dançar (e foram vários os que o fizeram). Damo-nos conta que os Band of Horses são o exemplo perfeito de banda para ambos os elementos do casal gostarem.

Antes do cerimonial habitual do falso encore, um silêncio respeitoso antecedeu a sua grande canção (apenas interrompido por um ou outro atrasado mental). Isso e dezenas de telemóveis empunhados no ar (mais do que aplausos, medimos hoje a popularidade de uma canção pelo número de ecrãs no ar). “The Funeral” é uma daquelas grandes canções, feita de crescendos e decrescendos, num cavalgar de bateria a culminar numa descarga de guitarras. Bem bonito.

Para o encore ficou guardada uma interessante versão de “Never Tear Us Apart” dos INXS, e “The General Specific”, que nos transportou para um saloon do velhinho wild wild west, com tambourine e piano saltitante incluídos.

Não são a melhor banda do mundo. Também já não nos motivam como nos primeiros anos. Mas ainda sabem dar um bom concerto. Tinham razão – saímos todos vencedores.

Fotos de: João Padinha

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